terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Marxismo e democracia

Por Adelson Vidal Alves



Em 1847, Marx e Engels escreveriam um curto, porém, valoroso documento, que entraria para a história como um dos mais importantes textos da idade moderna e contemporânea: o Manifesto Comunista. Os dois jovens alemães dariam aos trabalhadores, pressupostos científicos para a construção de uma nova sociedade, bem diferente daquelas que viviam, na qual sofriam pesadas jornadas de trabalho e exploração de sua força criativa. No manifesto, estavam claros os caminhos e os sujeitos sociais que deveriam construir os alicerces desta nova sociedade, a sociedade socialista, um novo ordenamento social onde não haveria alienação, exploração e desigualdade, tão presentes no capitalismo.
            Nos seus escritos de juventude, Marx e Engels colocavam a queda do capitalismo como algo inevitável. As contradições do modo de produção do capital, o aparecimento de uma classe operária homogênea e ampla, assim como o empobrecimento das massas levariam, fatalmente, à derrota do capitalismo e à instalação da “ditadura do proletariado”, regime de Estado onde os trabalhadores tomam e controlam a máquina Estatal com o intuito de firmar mecanismos de transição para a sociedade comunista, momento no qual o Estado desaparece e com ele todas as contradições de uma ordem social dividida em classes.
Marx morreu e não chegou a ver suas ideias serem usadas como referência em um grande fato histórico, a Revolução Russa de 1917. Contrariando as previsões do próprio, um país atrasado e predominantemente camponês, a Rússia, se transformou, no início do século XX, no primeiro a reivindicar o status de socialista nos moldes teóricos do marxismo.
Tendo que enfrentar as dificuldades da revolução coube à um grande teórico russo, Vladimir Lênin, pensar e teorizar sobre a transição socialista numa realidade extremamente adversa.
O contexto socioeconômico, assim como a geopolítica mundial, foram elementos decisivos para que o líder bolchevique teorizasse os rumos do socialismo russo, tendo como característica central, a consolidação de um partido e um governo disciplinado e totalmente centralizado. Era a “ditadura do proletariado”.
O conceito marxista de “ditadura do proletariado” não está presente no Manifesto e foi pouco desenvolvido por Marx. Em Lênin, ele ganha traços fortes e literais, testemunhadas na famosa frase do pensador bolchevique “A ditadura do proletariado está acima de qualquer lei”.
Mesmo que de forma inconsciente, Lênin estabeleceria aí as bases de sustentação de um regime tirano que se iniciaria após sua morte, quando Stalin assume a direção da já então URSS. Mesmo que Lênin não seja Stalin (o próprio Lênin chegou a alertar em carta, antes de sua morte, o perigo de Stalin chegar ao poder!) seu pensamento, exposto mais abertamente em sua obra Que fazer, defendia restrições à democracia e à consolidação de organizações revolucionárias de corte militar e centralizada.
Da sua morte até 1953, a URSS, sob a ditadura Stalinista, ficou conhecida como um regime de terror, perseguição e cultos doentios à personalidade. Fala-se em mais de 10 milhões de camponeses mortos nos famosos planos quinquenais. O desprezo pela democracia seria mais tarde o principal fator de desintegração do bloco socialista soviético em 1991.
O debate teórico em meio à ditadura de Stalin, praticamente desapareceu com os expurgos do governo. Trotsky e sua oposição de esquerda faziam críticas duras à burocratização da revolução, mas tampouco propunham a democracia como ingrediente fundamental no êxito socialista. Coube ao comunista italiano, Antônio Gramsci, desenvolver um corpo teórico que, a partir de Marx e Lênin, enriquecia o ideário marxista e mostrava os caminhos para a construção de uma nova ordem social sob a perspectiva da democratização.
Em seus apontamentos carcerários, Gramsci, ainda que sem citações diretas, vai criticar duramente o regime de Stalin. Em uma nota dos cadernos intitulada “estatolatria”, o pensador sardo vai defender a construção de um socialismo a partir de bases consensuais. Argumentava assim, que a visão predominante de que o Estado, pela via unicamente coerciva, jamais seria capaz de concluir os caminhos para uma nova ordem social que superasse os ditames do capital.
Nesta mesma nota, Gramsci vai dizer que em paises com pouco ou nenhuma tradição democrática (como no caso da Rússia Czarista) um tempo de ditadura forte do Estado se torna necessário:
"Todavia, essa ‘estatolatria’ não deve ser deixada a seu livre curso, não deve, em particular, tornar-se fanatismo teórico e ser concebida como ‘perpétua’; deve ser criticada [a fim de que se crie] uma complexa e bem articulada sociedade civil, na qual o indivíduo singular se autogoverne"  [1].

O posicionamento de Gramsci, exposto de forma clara numa carta de 1926, na qual o comunista italiano irá criticar a coletivização da agricultura e defender a NEP, como forma de obter consenso dos camponeses para o projeto da classe operária, tem a ver com sua teoria de “Estado ampliado”.
Superando Marx, Gramsci vai dizer que o Estado não é apenas o monopólio legal da violência por parte das classes dominantes, “O comitê executivo da burguesia” como descrito no Manifesto comunista. A partir de 1870, é observado a criação de uma ampla rede de movimentos sociais e organizações de livre associação, que vão se tornar a expressão de um novo espaço de luta, a “sociedade civil”. Nesta, a coerção é substituída pelo consenso e a força pela hegemonia. Gramsci vai então demonstrar que o socialismo só poderia vingar nas sociedades “ocidentais” (realidades onde a sociedade civil estivesse desenvolvida) pela via de uma longa “guerra de posição”, quando se chega ao poder por mecanismos de consentimento. É a partir daí e principalmente depois do fim do Stalinismo e a abertura para a leitura de autores heterodoxos do marxismo, que se começa a estabelecer a democracia como fator determinante na vitória do socialismo sobre o capitalismo.
Como dizem os comunistas italianos, “a socialização dos meios de produção deveria estar alinhada com a “socialização da política”.
Se em Lênin e Marx, a democracia é termo pouco utilizado, levando-se em conta as condições das lutas sociais de seu tempo (um Estado forte e violento contra pequenas vanguardas revolucionárias), com Gramsci e outros autores, a democracia passa a ser o caminho natural do socialismo, testemunhado em experiências interessantes como o Chile de Allende e com os partidos do chamado eixo “Eurocomunista”.

NOTA:

[1] Cadernos do cárcere, "Estatolatria". Nota redigida em abril de 1932.


CRÉDITOS:

Revisão textual: Regina Vilarinhos

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Não desejarei Feliz Natal

Por Adelson Vidal Alves



Cansei do Natal!
E antes que me chamem de ranzinza, mal humorado, pessimista ou mesmo hipócrita, deixem-me dizer que assim como me dou o direito de não ler as tantas mensagens natalinas que chegam, que apesar de bem intencionadas, são em sua maioria chatas e previsíveis, também entenderei se não quiserem prosseguir com a leitura deste texto. Caso optarem em seguir adiante, não me responsabilizo pelo trauma ou o choque que posso causar.
Pois bem, o Natal é uma festa pagã, incorporada ao calendário cristão e que por sua vez se incorporou ao calendário capitalista. Nesta data, o consumismo encontra seu ápice. Nos Shoppings, as pessoas batem cabeça, estouram cartões de crédito. Nas famílias e empresas, pipocam confraternizações regadas a bebidas e comida em abundância. As crianças são iniciadas no ritual sagrado do consumismo do deus mercado, sendo bombardeadas diariamente pelo marketing hipnótico da mídia comercial.
Pelas ruas os abraços e cumprimentos fantasiam uma sociedade solidária, e as campanhas filantrópicas realizadas anualmente despertam a sensibilidade dos burgueses que calam sua consciência "adotando" uma criança de orfanato. Nada mais medíocre que os milionários atores globais cantarolando um novo dia que sua emissora cotidianamente impede que nasça na realidade. E o que falar dos cantores consagrados da indústria cultural, repetindo refrões fáceis que ganham ecos de jovens que, de tão alienados, parecem zumbis sob efeito alucinógeno?
Até acho bonitinho os enfeites e cartõezinhos que ora lembram Jesus, ainda que Papai Noel seja mais lucrativo. Mas me enojam os sermões estúpidos e mesquinhos de auto-ajuda, que saem de gente como Arnaldo Jabor ou Pedro Bial, como se papagaios globais tivessem algo a ensinar sobre "como fazer do mundo um lugar melhor para se viver".
De fato, o Natal me faz triste. E olha que não me incomodo com tradições, até porque costumo me entupir de chocolate na Páscoa e não dispenso uma peixada na Sexta-feira Santa. Mas o Natal de fato estourou minha paciência! Talvez por motivos muito mais emocionais e íntimos do que uma tese racional e coerente.
Não desejarei Feliz Natal. E, por favor, não passem pela rua com olhar de piedade, nem me deixem de oferecer uma bela taça de vinho. Afinal, não sou um profeta anti-natalino, nem quero estragar a alegria que brota sinceramente do coração de tanta gente. Se não desejo Feliz Natal é porque do meu íntimo não sinto esta vontade e é de minha pessoa jamais fazer algo simplesmente por fazer.

Revisão textual: Regina Vilarinhos



terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Mensagem de Natal a Presidenta Dilma

Por Adelson Vidal Alves



Exma Presidenta da República Dilma Roussef,

              A senhora, como seu antecessor, são oriundos das lutas populares. Ainda que em trincheiras diferentes, faz parte da história de ambos a luta por um Brasil mais justo e democrático. Bem sabes que a história do país que ora governa é de total expropriação de nossos recursos. Primeiro, com os europeus e depois com as potências capitalistas, o nosso povo enriqueceu quem nunca pegou em uma enxada, e nossas classes dominantes tem laços umbilicais com os exploradores internacionais, tendo uma vida luxuosa à custa do silêncio frente a tanto sofrimento alheio.             
             Os governos que se sucederam sempre foram aliados dos poderosos e privilegiados deste país. Nosso serviço público essencial foi vendido a custo de banana, nossos suados impostos foram transferidos para mãos de banqueiros internacionais, nosso parque industrial foi desmontado e os direitos básicos constitucionais completamente desrespeitados.           
            O seu partido na oposição denunciou todas estas mazelas. Foi firme em combater o aprofundamento do neoliberalismo, que poderia ter trazido consequências ainda mais trágicas. O povo brasileiro se cansou desta gente hipócrita, que pedia votos com uma mão e entregava nossa riqueza com outra. O PT, então, chegou ao governo em 2002 com Lula, e pela primeira vez na história deste país, gente de baixo ascendeu à parte mais alta de nossa República. O Brasil se comoveu em esperança.           
           Vão-se nove anos da administração petista, e, assim como Papai Noel, as promessas de campanha do seu partido não vieram. Neste Natal que se aproxima, a mesa farta de alguns irá se confrontar com  a de 16 milhões de brasileiros que vivem em situação de extrema pobreza, com o déficit habitacional nacional de mais de 7 milhões, e a vida dura de 4,8 milhões de pessoas, que estão acampadas à beira de estradas, esperando terra para plantar           
          Pois é presidenta, infelizmente os presentes natalinos do seu governo só chegaram para os credores internacionais, que abocanharam 43% de nosso PIB, enquanto para a Educação mal chegou aos 2%. Foram presenteados também os 3% de latifundiários no Brasil, que ocupam com seus latifúndios 53% das terras cultiváveis em nosso território.           
          O seu governo, presidenta, como o de Lula, preferiu dar dinheiro ao agronegócio ao invés de incentivar um modelo de agricultura que põe na mesa 60 dos 100 pratos de comida que chegam aos lares brasileiros. Seus aliados do agrobussines, desmatam, envenenam e exportam para ganhar os dólares que dão a eles vida fácil.            
         Presidenta, cadê os 10 milhões de empregos prometidos? A reforma agrária? O salário mínimo decente, que a senhora tanto combateu nos seus primeiros meses de governo. Segundo o DIEESE, ele é quatro vezes menor do que manda a constituição. Cadê a firmeza para se impedir a aprovação de um código florestal, que anistia desmatadores e abre espaço para mais desmatamento? Cadê o compromisso com as comunidades indígenas, ao permitir a construção de uma obra faraônica como Belo Monte, sem ao menos debater com o povo que te fez mandatária do país?            
         Querida presidenta, neste Natal, espero que o menino Jesus ilumine seu espírito e lhe dê sabedoria e sensibilidade, para que no próximo ano, a ceia natalina chegue a todos os brasileiros. Para isso, a senhora terá que rever seus aliados políticos e se alinhar com quem de fato sempre esteve ao seu lado e de seu antecessor, o povo Brasileiro.

Revisão Textual: Regina Vilarinhos

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Juventude(s), um ser social de direitos

Por Adelson Vidal Alves


As políticas públicas de Juventude, entendidas como ações integradas de governo com ações específicas direcionadas aos jovens, são muito novas no Brasil. Pouco mais de 10 anos. Para se concretizar, o governo brasileiro fez um recorte temporal que considerou jovem todos aqueles que se enquadram na faixa etária de 15 a 29 anos. Uma metodologia simplificada, levando em conta que a diversidade comportamental e de demandas nos jovens que ocupam esta faixa de idade, são enormes, e a compreensão do ser “jovem” comporta uma série de particularidades que variam de acordo com a história, lugar, religião, cultura, classe social, orientação sexual etc.
A complexidade do ser social juvenil nos leva a empregar o termo “juventudes” como maneira de reconhecer a pluralidade de visão de mundo, comportamento e relações sociais que se enquadram neste momento da vida.
A juventude é um período de nossa existência que articula transformações físicas, biológicas, psicológicas, sociais e culturais, ou seja, há transformações no corpo, na estrutura de pensamento, nas formas de se comportar frente novas responsabilidades.  É um momento extremamente dinâmico e mutável, levando em conta que a sociedade entende este período como uma fase de transição para a vida adulta. O momento onde se define que futuro terá, a situação social que ira viver junto a família que irá construir, a vida profissional etc. Dessa forma, os jovens sofrem pressões diversas, que incutem o pensamento de que é este o momento crucial para estabelecer o sucesso ou fracasso como ser humano, olhado quase sempre pelo prisma do status quo.
 O olhar da sociedade sobre os jovens quase nunca leva em conta as enormes desigualdades existentes. Um jovem pobre e com pais totalmente ausentes em sua formação juvenil e rodeado por uma realidade social excludente e perigosa está em um ponto de partida bem diferente de um jovem com condições econômicas estáveis, que lhe dão a tranqüilidade e estabilidade para traçar um futuro de acordo com suas próprias opções.
O jovem em situação de exclusão não escolheu seu destino, tem as condições de vivência impostas por uma realidade social marcada por relações de extrema exploração, onde se constrói uma realidade desigual e injusta.
É assim que deve entrar o Estado com o papel de elaborar políticas públicas de caráter inclusivo, e que garanta as potencialidades do ser social juvenil. Respeitando suas particularidades individuais e culturais.
Em Volta Redonda, desde 2005 há um esforço do governo Municipal em trabalhar políticas públicas de juventude. O pioneirismo regional da cidade do aço lhe proporcionou a oportunidade de trabalhar ações publicas de juventude em conjunto com a própria juventude organizada. Foi criada a Coordenadoria da Juventude, que organizou 6 fóruns anuais de debates, 2 conferências Municipais e vários seminários com temáticas de interesse juvenil. Está estabelecido na estrutura política do Município o Orçamento Participativo Jovem, uma iniciativa que garante a participação dos jovens na decisão de como utilizar os recursos do município.
No plano legal, foi aprovada em 2011 através da lei 4661, a Política Municipal de juventude, uma articulação intergovernamental que visa dar coesão as políticas de Estado para a juventude, além de garantir em forma de lei as responsabilidades do governo frente as demandas juvenis.
As políticas sociais também avançaram. Quase 400 jovens se formaram no PROJOVEM URBANO, um centro de qualificação profissional prepara jovens para o mercado do trabalho, além é claro de um esforço conjunto que gerou milhares de primeiros empregos só no ano de 2011.
São avanços consideráveis, mas ainda é pouco. É preciso uma integração governamental maior, a ampliação das políticas sociais de redistribuição de renda, maior atenção ao protagonismo juvenil, mais atenção as situações de gênero e sexualidade, que exigem olhar diferenciado, e principalmente a construção de uma rede legal de proteção social aos jovens em situação de risco.
O êxito desta iniciativa depende da correta compreensão do governo frente os desafios de trabalho junto a juventude, assim como a participação mais efetiva dos jovens nas esfera política. Trata-se de um caminho longo e cheio de desafios, mas os primeiros passos foram dados, e é nosso dever seguir neste rumo, aprofundando as mudanças e melhorando a qualidade de vida de nossa juventude.

CRÉDITOS:

Revisão textual: Regina Vilarinhos

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Adeus ao Trabalhismo.

Por Adelson Vidal Alves

                SINAIS DE DECADÊNCIA: Carlos Lupi e Renato Soares, nada carismáticos, estão longe de ser lideranças trabalhistas como Brizola e Juarez Antunes.

                Entre as balas que dificilmente o abateriam e as declarações de amor a presidenta Dilma, o ex-Ministro do Trabalho, Carlos Lupi, colocou, ainda que de forma desconfortável, o PDT no centro da política brasileira. O partido que prometeu sair junto com seu filiado e dirigente, caso as denúncias de corrupção fragilizassem o ministro, voltou atrás e manteve apoio ao governo de Dilma.
              Em Volta Redonda, o ambiente também tem esquentado. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Renato Soares, chamou de "Sem vergonha" os dirigentes trabalhistas que o antecederam na direção atual no qual participa, e mesmo que entrando pela janela, ratificou em convenção realizada no último sábado, 3 de setembro, o domínio completo da nova legenda pelos metalúrgicos que hoje controlam o sindicato da categoria.
             Tantos desarranjos parecem colocar não só o PDT em xeque, mas até mesmo a ideologia trabalhista, que em meio às mutações do mundo do trabalho, parece estar sem chão para se sustentar. Pior, depois da morte de Brizola percebe-se a falta de uma liderança nacional que seja pólo aglutinador da ideologia, um fator histórico e fundamental na sustentação do trabalhismo brasileiro.
              Primeiro com Getúlio Vargas, depois com Jango e até recentemente com Brizola, a ideologia que foi gerada na era varguista e instrumentalizada na forma de partido no período de redemocratização de 1945, parece sobreviver muito mais do saudosismo, ora brizolista, ora getulista, do que de uma sólida base político-teórica que dê conta das mudanças estruturais da realidade do trabalho no mundo contemporâneo.
              O PTB, berço originalmente partidário do trabalhismo, foi criado por Vargas como forma de solidificar sua concepção conciliadora dos conflitos do trabalho. As conquistas dos trabalhadores do período varguista, tão exaltado pelos trabalhistas, custaram a perseguição e cooptação do movimento operário. Mais tarde, ao voltar do exílio, Brizola reorganiza o "novo" trabalhismo, rompendo com o PTB, então na mão de Ivete Vargas e que já se tornara um partido fisiológico. Restou então ao velho “Caudilho” organizar um novo partido sob a inspiração do trabalhismo, o PDT.
               Figura forte na política nacional, Brizola teve razoável êxito eleitoral em seus primeiros pleitos, vindo a ser governador duas vezes pelo Estado do Rio de Janeiro. Logo depois, sua referência foi perdendo força na medida em que o PT ganhava a base social dos trabalhadores, o que fez os trabalhistas brasileiros declinarem sucessivamente nas eleições, até o óbito de sua então estrela maior, Leonel Brizola, no ano de 2004, quando a situação definitivamente se agravou.
              O PDT pós-Brizola abrigou gente como Wagner Montes, Miriam Rios e ainda hoje conta em seus quadros com Paulinho da Força Sindical, deputado e representante de uma central, que atualmente dirigida pelo partido,  foi ponto de apoio nos desastrosos anos de ouro do neoliberalismo brasileiro.
             O oportunismo dos novos dirigentes do PDT em Volta Redonda, assim como o teatro patético de um dos seus principais quadros nacionais, não só são exemplos de decadência ideológica do partido, como mais um ponto de apoio aos que, como eu, argumentam que o trabalhismo é um pensamento anacrônico nos dias atuais, e que com a militância que hoje tem, dificilmente sairá desta encruzilhada.


CRÉDITOS:

Revisão textual: Regina Vilarinhos

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Ecologia e Socialismo

Por Adelson Vidal Alves

          


          Os dramas sociais da humanidade convivem nos tempos atuais com o drama ambiental. As catastrofes naturais cada vez mais constantes estão diretamente ligados ao padrão de produção e consumo do sistema capitalista. A busca excessiva pelo lucro atropela todas as formas de proposta de convivência mínima entre os homens e o meio ambiente.
           A então candidata presidencial Marina Silva no ano de 2010, abusou em campanha eleitoral da temática ambiental, tornando-se assim quase uma ícone nas questões relacionadas a luta ecológica. De fato, suas propostas demontraram correta preocupação em relação a saúde da biosfera, mas o que chama a atenção em todo o seu discurso é o fato de seu posicionamento estar restrito ao que se chamou de "desenvolvimento sustentavel", uma espécie de capitalismo verde. Marina e tantos outros, mesmo que com boas intenções, acham ser possivel resolver o problema do planeta sem questionar as relações de produção hegemonizadas pelo capital.
          Por outro lado, há marxistas que reduzem a questão ao afirmar que basta fazer a revolução socialista e todos os problemas estarão resolvidos. É por isso que muitos pensadores contemporâneos de esquerda vem cada vez mais chamado atenção para uma articulação entre o socialismo e a ecologia, o que veio a ser conhecido como Ecossocialismo.
          De forma genérica o ecossocialismo seria o esforço de pensar transformações materiais, culturais e econômicas de carater socialista ao lado de uma concepção de mundo que levasse em conta as demandas ambientais do mundo moderno, afinal, para se fazer uma revolução no mundo é preciso que o mundo permaneça existindo.
          Apesar de todo o alarme mundial quanto as questões ecológicas, as reivindicações do ecossocialismo encontram barreiras até mesmo entre os socialistas. É paradoxal que o maior ataque a legislação ambiental dos últimos anos tenha vindo de um dito comunista, Aldo Rebelo (PC do B), que em aliança com o agronegócio estão propondo uma reforma no código florestal, que abre espaço para mais devastação, assim como anistia aos desmatadores. Nos assusta também o fato do governo Dilma, teoricamente abarrotado de gente que um dia se disse socialista, propor obras de significativo impacto ambiental, como o Belo Monte e a transposição do Rio São Francisco, o primeiro para beneficiar empreiteiras e a segunda para enriquecer os fazendeiros do ramo de crustáceos e frutas tropicais. Não podemos esquecer que o veneno dos transgênicos teve porta aberta pelo governo Lula, inclusive enquanto Marina era Ministra do Meio Ambiente.
         Impossível resolver a questão da sobrevivência do globo sem se repensar uma revolução integral, econômica, cultural e ética. Precisamos de novas formas de sociabilidade, de valores, de cuidado com a natureza e um compromisso humano com a vida na terra. Enquanto houver capitalismo este dialogo é impensável.


sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O movimento Negro e o mito da raça

Por Adelson Vidal Alves

            
             No inicio do século XIX, por ocasião da vinda família real portuguesa para o Brasil, alguns artistas que compunham a comitiva de Dom João VI sugeriram ao mesmo a importação de modelos europeus, argumentando que os nativos de nossa terra não serviriam para elaboração de seus trabalhos, numa visão clara de inferiorização dos modelos de matrizes africanas que aqui estavam.
            Em 1933, o sociólogo Gilberto Freire publicou seu grande clássico Casa Grande e Senzala. Polêmico, o livro critica a idéia de desqualificação da mestiçagem, ao mesmo tempo que insinua que a negritude era incorporada nos mestiços de forma subalterna, perdendo assim, suas particularidades. Por fim, Freire tinha por interesse demonstrar que no Brasil a “mistura racial” criou um ambiente de vivência cordial entre as raças.
            Na Alemanha Nazista, as leis de Nuremberg levaram ao extremo a Eugenia, proibindo matrimônios e relações sexuais entre alemães e as chamadas “raças inferiores”.
           Pode parecer estranho, mas há algo em comum entre estes três relatos. Nenhum deles poderia se sustentar se nestes períodos históricos estivessem cientificamente claro, como nos dias de hoje, de que os seres humanos não se dividem em famílias raciais. O avanço da genética jogou por terra a tese de que a cor da pele ou traços estéticos de um ser humano possa ser base de separação racial entre os homens.
           Entretanto, o “mito da raça” sobrevive, ganhando cada vez mais espaços institucionais, e de forma paradoxal, o principal agente desta luta é o chamado movimento negro, que se dizem organizar na luta por igualdade racial.
            O ano de 1978 é apontado por especialistas como o inicio de organização do movimento negro no Brasil, quando um grupo de manifestantes protestaram nas escadarias do teatro de São Paulo contra a morte de um operário negro na delegacia de policia e a expulsão de 4 atletas negros de um clube paulista. Daí em diante, através de várias oscilações reivindicativas, o movimento cresce e consegue significativa projeção no ano de 1988, exatamente no centenário da abolição, momento em que a deputada Benedita da Silva leva para a assembléia constituinte demandas do movimento. Nesta ocasião, se incorpora a constituição brasileira leis de corte racial. Mesmo que houvesse divergências dentro das várias entidades racialistas que surgem com mais força neste período, o setor hegemônico que prevalece são exatamente aqueles que defendem a inclusão de órgãos de caráter racial nos espaços estatais. Desta forma, podemos perceber que em várias esferas governamentais surgem organismos de governo compostos por negros na intenção de pensar políticas públicas de categoria racial.
            As lideranças do movimento trabalharam em cima do discurso de que as estatísticas mostravam uma clara desigualdade social entre negros e brancos. Sem a mínima preocupação de ser reducionista na simples divisão racial brasileira entre brancos e negros, o movimento vai começar a bater forte na tecla de políticas públicas que garantam formas privilegiadas de ascensão do negro na esfera social. A inspiração vem basicamente dos EUA, particularmente durante a gestão do presidente Nixon que patrocinou o conhecido “Plano Filadélfia” no final da década de 1960, que dava privilégios aos negros no ingresso ao mercado de trabalho. Hoje sabemos que apesar da óbvia ampliação de negros no mercado formal, os Estados Unidos convivem nos dias atuais com uma cultura segregacionista.
            Sem querer desqualificar por completo os números de instituições sérias que atestam a excussão social negra, devemos adotar uma postura crítica a certos discursos de linha de frente do movimento negro. Muitos deles mostram que a renda dos brancos é quase o dobro da renda dos negros. Pois bem, o cientista político César Benjamim em seu belo artigo Racismo não, republicado no livro Bom combate, demonstra que a alta renda dos chamados brancos se explica pelo fato de que a grande concentração de renda está nas mãos de milionários e bilionários da chamada cor branca. Com tanta renda e propriedade na mão de poucos brancos, numa metodologia de divisão per capta da renda, é claro que os brancos, considerados minoria por estas estatísticas, irão ter seu padrão de vida mais alto do que a dos negros. Todavia numa analise mais profunda podemos chegar a conclusão que no Brasil vigora uma pequena elite econômica privilegiada no topo da pirâmide social, convivendo com uma ampla maioria na base excluída de serviços básicos do Estado, estes não são apenas negros. No Brasil a pobreza tem todas as cores.
            Seja como for, é fato que entre as décadas de 1990 e inicio do século XXI, particularmente na gestão petista no poder central do país, as políticas raciais ganharam significativa força institucional. O governo Lula criou uma secretaria para tratar assuntos raciais, apoiou programas de qualificação profissional direcionados as chamadas comunidades afrobrasileiras, além é claro do incentivo da criação de cotas raciais em várias universidades públicas.
            Parece bizarro, mas houve momento em que o deputado Vicentinho (PT-SP) propôs um projeto de lei que oficializava o “Hino a Negritude”, composição do professor Eduardo de Oliveira. O deputado petista justificou o projeto como sendo uma forma de lembrar a importância da cultura negra na formação da identidade brasileira. Contudo,  a letra do hino enaltece a raça negra no estilo de quem historicamente sempre quis fazer prevalecer a cultura opressora. Nos versos “Levantado no topo dos séculos, mil batalhas viris sustentou, este povo imortal QUE NÃO ENCONTRA RIVAL..” percebe-se claramente que a idéia não é valorizar um aspecto cultural de matriz africana na construção do cenário brasileiro, pelo contrário, a auto-exaltação da negritude ignora a faceta multicultural de nossa formação nacional, quebrando assim o esforço histórico da criação de laços fraternais dentro de uma nacionalidade culturalmente plural. Hitler teria feito algo parecido em relação a raça ariana.
            Por fim, chegamos ao ponto alto e recente da “racialização” do Estado brasileiro. Em 2010 foi aprovado o Estatuto da Igualdade Racial. Em sua proposta original, a igualdade republicana era totalmente ignorada.  Falava-se de cotas para apresentações culturais, incentivos fiscais a empresas que contratassem e negros e pasmem, criava uma política de saúde especifica a comunidade negra, como se houvesse na anatomia humana cromossomos raciais. O texto foi aprovado com modificações, mas ainda sim firma o caminho desastroso da construção de um Estado brasileiro “racialista” e “segregador” que ao invés de centrar ações universalizadoras faz opção por dividir a nação em paradigmas de raça, conforme padrões de séculos passados.
            Neste 20 de novembro, dia da Consciência Negra, é dever de cidadãos refletirmos os caminhos que devemos seguir como nação, seja para fortalecermos o espírito de igualdade republicana ou para manter os preconceitos de segregação que atormenta nossa história

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Os excluídos contra o capitalismo

Por Adelson Vidal Alves



           Marx no século XIX pensava que os operários fabris seriam os coveiros do sistema capitalista. Para o pensador alemão a socialização da produção e o avanço das forças produtivas criaria uma ampliação do proletariado, assim como a degradação da vida social dos mesmos, o que criaria as condições para uma revolução social contra o sistema do capital.
          Hoje, no século XXI, constatamos que Marx errou. O operariado diminuiu e a luta dos trabalhadores fez avançar vários direitos trabalhistas e uma elevação global de sua renda. Entretanto, a reorganização do capitalismo impôs uma reestruturação produtiva que abriu espaço para o aprofundamento da exploração da mais valia relativa e assim uma profunda metamorfose do ser social do trabalho.
         Os sindicatos e as entidades de classe perderam força, o mundo do trabalho se diversificou e fragmentou, novos paradigmas de luta como as questões raciais e de gênero surgiram no horizonte e o sistema econômico global criou uma multidão de excluidos, desorganizados politicamente mas que cada vez mais vão reagindo a sua situação. A esquerda parece incapaz de compreender tamanha mudança. Se agarra dogmaticamente a jargões ultrapassados, faz análises conjunturais sob conceitos que já não dão conta de nossa nova realidade, e pior, se organizam anacronicamente para a luta. O resultado é que as novas forças sociais emergentes do anticapitalismo vão buscando formas inovadoras de luta. Pelas redes sociais, em novos movimentos sociais ou mesmo em pequenos grupos debate, em comum o fato de rejeitarem as formas hierarquizadas e burocratizadas dos partidos políticos.
          Na Europa, onde a esquerda sempre foi forte, esta não consegue ser a voz destes novos excluidos do capitalismo globalizado. Os rejeitados do capitalismo global mostram uma capacidade incrível de auto-organização, mas pecam grosseiramente no momento de criar alternativas a ordem estabelecida, ou seja, aplicam golpes ao capital, mas não conseguem articular um novo modelo societal.
          Os partidos políticos ainda são os grandes organizadores universais da construção de um novo poder, mas precisam se reinventar para acolher a demanda democrática dos novos atores sociais anti-capital.
         Diante de uma  crise econômica corremos o risco de em meio as fragmentações e fragilidades do capitalismo sofrermos uma derrota política e ideológica que refaça a organização da exploração e bloqueie a construção de um mundo mais solidário e humano.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A ocupação da USP

Agradeço a meu amigo Jorge Gonzaga, o Gim, por ter repassado este importante relato de uma menina que presenciou todo o episódio da reintegração de posse na USP. Sem a pretenção de ser a verdade absoluta dos fatos pelo menos deve servir para mostrar o outro lado da moeda que a grande midia não quer mostrar.




Por Shayene Metri, terça, 8 de Novembro de 2011 às 23:10

Cheguei na USP às 3h da manhã, com um amigo da sala. Ia começar o nosso 'plantão' do Jornal do Campus. Outros dois amigos já estavam lá. A ideia era passar a madrugada lá na reitoria, ou pelas redondezas. 1) para entender melhor a ocupação, conhecer e poder escrever melhor sobre isso tudo. 2) para estarmos lá caso a PM realmente aparecesse para dar um fim à ocupação.
Conversa vai, conversa vem. O tempo da madrugava passava enquanto ficávamos lá fora, na frente da reitoria, conversando com alunos da ocupação. Alguns com posicionamentos bem definidos (ou inflexíveis), outros duvidando até das próprias atitudes. A questão é: os alunos estavam lá e queriam chamar atenção para a causa (ou as causas, ou nenhuma causa)...e, por enquanto, era só. Não havia nada quebrado, depredado ou destruído dentro da tão requisitada reitoria (a única marca deles eram as pixações). A ocupação era organizada, eles estavam divididos em vários núcleos e tinham medidas pra preservar o ambiente. Aliás, nada de Molotov.
Mais conversa foi jogada fora, a fogueira que aquecia se apagou várias vezes e eu levantei a pergunta pra alguns deles: e se a PM realmente aparecesse lá logo mais? Seria um tiro no pé dela? Ela sairia como herói? Os poucos que conversavam comigo (eram uns 4, além dos amigos da minha sala) ficaram divididos. "Do jeito que a mídia está passando as coisas, eles vão sair como heróis de novo", disse um. "Se ele vierem vai ter confronto e isso já vai ser um tiro no pé deles", disse outra. Mas, numa coisa eles concordavam: poucos acreditavam que a PM realmente ia aparecer.
Eu achava que a PM ia aparecer e muito provavelmente isso que me fez ficar acordada lá. Não demorou muito e, pronto, muita coisa apareceu. A partir daí, meu relato pode ficar confuso, acho que ainda não vou conseguir organizar tudo que eu vi hoje, 08 de novembro.
Muitos PMs chegaram, saindo de carros, motos, ônibus, caminhões. Apareceram helicópteros e cavalaria. Nem eu e, acredito, nem a maior parte dos presentes já tinham visto tanto policial em ação. Estávamos em 5 pessoas na frente da reitoria. Dois estudantes que faziam parte da ocupação, eu e mais 2 amigos da minha sala, que também estavam lá por causa do JC. Assim que a PM chegou, tudo foi muito rápido:

os alunos da ocupação que estavam com a gente sugeriram: "Corram!", enquanto voltavam para dentro da reitoria. Os dois amigos que estavam comigo correram para longe da Reitoria, onde a imprensa ainda estava se posicionando para o show. Eu, sabe-se lá por qual motivo, joguei a minha bolsa para um dos meninos da minha sala e voltei correndo para frente da reitoria, no meio dos policiais que avançavam para o Portão principal [e único] da ocupação.
Tentei tirar fotos e gravar vídeos de uma PM que estava sendo violenta com o nada, para nada. Os policiais quebravam as cadeiras no carrinho, faziam questão do barulho, da demonstração da força. Os crafts com avisos dos estudantes, frases e poemas eram rasgados, uma éspecie de símbolo. Enquanto tudo isso acontecia, parte da PM impedia a imprensa de chegar perto da área, impedindo que os repórteres vissem tudo isso. Voltando para confusão onde eu tinha me enfiado: os PMs arrombaram a porta principal, entraram (um grupo de mais ou menos 30, eu acho) e, logo em seguida, fecharam o portão. Trancaram-se dentro da reitoria com os alunos. Coisa boa não era.
Depois disso, o outro grupo de PMs,que impedia a mídia de se aproximar dessas cenas que eu contei , foi abrindo espaço. Quer dizer, não só abrindo espaço, mas também começando (ou fortalecendo) uma boa camaradagem para os repórteres que lá estavam atrás de cenas fortes e certezas.
"Me sigam para cá que vai acontecer um negócio bom pra filmar ali agora", disse um dos militares para a enxurrada de "jornalistas".
A cena era um terceiro grupo de PMs, arrombando um segunda porta da reitoria, sob a desculpa de que queria entrar. O repórter da Globo me perguntou (fui pra perto deles depois da confusão em que me meti com os policiais no início): "os PMs já entraram, não? Por que eles tão tentando por aqui também?". Respondi: "sim, já entraram. E provavelmente estão fazendo essa cena pra vocês terem algum espetáculo pra filmar"
A palhaçada organizada pelos policiais e alimentada pelos repórteres que lá estavam continuou por algumas horas. A imprensa ia contornando a reitoria, na esperança de alguma cena forte. Enquanto isso, PM e alunos estavam juntos, dentro da Reitoria, sem ninguém de fora poder ver ou ouvir o que se passava por lá. Quem tentasse entrar ou enxergar algo que se passava lá na Reitoria, dava de cara com os escudos da tropa de choque, até o fim.
Enquanto amanhecia, universitários a favor da ocupação, ou contra a PM ou simplesmente contra toda a violência que estava escancarada iam chegando. Os alunos pediam para entrar na reitoria. Eu pedia para entrar na reitoria. Tudo que todo mundo queria era saber o que realmente estava acontecendo lá dentro. A PM não levava os estudantes da ocupação para fora e o pedido de todo mundo era "queremos algo às claras". Por que ninguém pode entrar? Por que ninguém pode sair?
Enquanto os alunos que estavam do lado de fora clamavam para entrar, ouvi de um grupo de repórteres (entre eles, SBT): "Não vamos filmar essas baboseiras dos maconheiros não! O que eles pedem não merece aparecer". Entre risadas, pra não perder o bom humor. Além dos repórteres que já haviam decidido o que era verdade ou não, noticiável ou não, tinham pessoas misturadas a eles, gritando contra os estudantes, xingando. Eu mesma ouvi muitas e boas como "maconheirazinha", "raça de merda" e "marginal" .
Os estudantes que enfrentavam de verdade os policiais que faziam a 'corrente' em torno da Reitoria eram levados para dentro. Em questões de segundos, um estudante sumia da minha frente e era levado pra dentro do cerco. Para sabe-se lá o que.
Lá pras 7h30, depois de muito choro, puxões e algumas escudadas na cara, comecei a ver que os PMs estavam levando os estudantes da ocupação para dentro dos ônibus. Uma menina foi levada de maneira truculenta, essa foi a única coisa que meu 1,60m de altura conseguiu ver por trás de uma corrente da tropa de choque. Enquanto eu tentava entrar no cerco, para entender a história, a grande mídia já estava lá dentro. Fui conversar com um militar, explicar da JC. Ouvi em troca "ai, é um jornal da usp. De estudantes, não pode. Complica".
Os ônibus com os alunos presos saíram da USP. Uma quantidade imensa de outros alunos gritavam com a PM. Eu e os dois amigos da minha sala (aqueles da madrugada) pegamos o carro e fomos para a DP.
Na DP, o sistema era o mesmo e meu cansaço e raiva só estavam maiores. Enjoo e dor de cabeça, era o meu corpo reagindo a tudo que eu vi pela manhã. Alunos saiam de 5 em 5 do ônibus para dentro da DP. Jornalistas amontoados. Familiares chegando. Alunos presos no ônibus, sem água, sem banheiro, sem comida, mas com calor. Pelo menos por umas 3h foi assim.
Enquanto a ficha caia e eu revisualizava todo o horror da reintegração de posse, outras pessoas da minha sala mandavam mensagens para gente, de como a grande imprensa estava cobrindo o caso. Um ato pacífico, né Globo? Não foi bem isso o que eu vi, nem o que o JC viu, nem o que centenas de estudantes presenciaram.

Enfim, sou contra a ocupação. Sempre tive várias críticas ao Movimento Estudantil desde que entrei na USP. Nunca aceitei a partidarização do ME. Me decepciono com a falta de propostas efetivas e com as discussões ultrapassadas da maioria das assembléias. Mas, nada, nada mesmo, justifica o que ocorreu hoje. Nada pode ser explicação pra violência gratuita, pro abuso do poder e, principalmente, pela desumanização da PM.
Não costumo me envolver com discussões do ME, divulgar textos ou participar ativamente de algo político do meio universitário. Mas, como poucos realmente sabem o que aconteceu hoje (e eu acredito que muita coisa vai ser distorcida a partir de agora, por todos os lados), achei que valeria a pena escrever esse texto. Taí o que eu vi.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O movimento operário em Volta Redonda

Por Adelson Vidal Alves



No próximo dia 9 de Novembro completa-se 23 anos da morte brutal de 3 operários na histórica Greve da Companhia Siderúrgica Nacional, a CSN. A data se tornou marco de resistência operária e colocou Volta Redonda entre as cidades que lutaram bravamente contra as politicas perversas do Governo de José Sarney.
Mais de duas décadas depois muita coisa mudou no movimento operário da cidade do aço, e infelizmente, a memória da bravura de nossos trabalhadores a cada dia que passa fica mais ameaçada. Nossos jovens mal conhecem o episódio de 1988 e se desenvolvem dentro de uma cultura que praticamente elimina diariamente o imaginário de uma cidade berço da industrialização brasileira e palco de um dos mais violentos conflitos de classe da Nova Republica.
A década de 1990 significou uma inflexão no perfil classista da luta operária, momento que a Força Sindical vence as eleições do Sindicato dos Metalúrgicos e daí em diante estabelece um sindicalismo de negócios e conciliação. Em 1993 a CSN é privatizada, demite mais de 15000 funcionários e a igreja progressista, ponto de apoio aos movimentos trabalhistas, faz uma guinada eclesial conservadora com o Bispo Dom João Maria Messi. Os partidos de esquerda e os outros movimentos populares desapareceram ou sofreram metamorfoses ideológicas e assim sociedade civil voltaredondense se fragiliza e abre um ciclo de "despolitização" de toda a população, assim como um recuo dramático nas lutas sociais.
Os elementos que permitiram uma cultura de resistência nos movimentos sociais da década de 80 foram afetados pela derrota ideológica do ideário progressista, cedendo espaço para a hegemonia do neoliberalismo e seus valores de individualismo e competição. Os governos sucessivamente eleitos trabalharam duro na diminuição dos espaços públicos de debate, na consolidação do “pensamento único” e a na derrota das utopias alternativas ao domínio do capital. Volta Redonda não escapou a todo este processo e minguou anos de marasmo político-ideológico.
Uma luz, contudo, surgiu no ano de 2006. A nível internacional percebia-se certo esgotamento da hegemonia liberal e o aparecimento de novas alternativas se firmaram no plano institucional. Em Volta Redonda, o sindicalismo metalúrgico de resultado da Força Sindical sofreu derrota importante para as forças populares que construíram um amplo leque de alianças de caráter progressista. A vitória de Renato Soares, colocou teoricamente fim a uma era de 14 anos na cidade do aço de uma prática sindical em harmonia com o capital e abriu expectativa para um novo ciclo da luta operária em Volta Redonda.
Hoje, 5 anos depois desta vitória histórica, Renato Soares retrocedeu as práticas conciliadoras de seu antecessor pelego. Repetiu o autoritarismo e golpes eleitorais, se afastou das bases, se deleitou nas vantagens do conforto de gabinete, oferecidos pelos recursos volumosos da entidade, e pior, se assanhou na possibilidade de aumentar seu poder político candidatando-se a prefeito.
A mosca azul picou Soares, a ponto inclusive de devolver o Sindicato aquela mesma central sindical que ajudou a privatizar a CSN.
O 9 de Novembro deste ano repetirá a festança minguada do sindicalismo pelego e desconsiderará por completo a valorosa história da luta de classes.
Há de se travar uma luta pela memória dos trabalhadores, construindo espaços culturais e educacionais que resgate o imaginário operário, retorne ao trabalho de base, crie um novo foco de oposição a atual direção do Sindicato dos Metalúrgicos, além de um esforço acadêmico maior de nossos intelectuais no estudo da temática.
           Parafraseando Marx “a história se repete: primeiro em forma de tragédia (vitória da Força Sindical em 1992) e depois em forma de farsa (vitória de Renato Soares)”. Assim caminha o movimento operário de Volta Redonda.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

UMA NOTA: II Conferência Estadual de Juventude e a voz do Interior do Rio

Por Adelson Vidal Alves

           Participei neste fim de semana da II Conferência Estadual de Juventude do Rio de Janeiro. A exemplo da primeira faltou-se organização, democracia e cumprimento a horários, assim como maior rigor em questões organizativas que abriu espaços para credenciamentos duvidosos.
           Entretanto algo de novo emergiu das bases conferenciais. A capital carioca, sempre acostumada a ditar as regras e arrogantemente se posicionar como tuteladora do interior Fluminense, pode sentir na pele como nunca a organização dos municipios do Iiterior, que foram fiéis da balança na composição das chapas de delegados a nacional.
          Apesar da pressão das burocracias partidárias os delegados dos municipios do interior compreenderam a particularidade de suas demandas locais, quase nunca olhadas pelos delegados dos seus respectivos partidos, e assim se aliaram a um grande bloco de municipios que democraticamente consolidou a voz do interior na Conferência Nacional.
          A Conferência serviu também como alerta ao governo Estadual, reprovado em todos os aspectos de sua governança. Mesmo as juventudes organizadas em torno de partidos com base no governo apoiaram moções de repudio a Cabral e sua politica de segurança e educação.
          O saldo foi algo extremamente positivo e abre um novo ciclo na politica de Juventude Fluminense. Contaremos com a juventude organizada e com a compreensão dos governos para a concretização de um novo tempo juvenil no interior do Estado.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Orlando Silva e a retórica do golpismo

Por Adelson Vidal Alves

           
           A denúncia do desvio de mais de 20 milhões de reais no Ministério dos Esportes criou mais uma crise política no Governo Dilma. A acusação do Policial militar João Dias ferreira na revista Veja de que o próprio Ministro dos Esportes Orlando Silva comandava um esquema de desvio de verba em beneficio do PC do B logo caiu na mídia como mais um tema constrangedor de corrupção no governo da presidenta petista.
           O Ministro se apressou em prestar esclarecimentos no congresso nacional, afirmando não haver provas contra ele. No plenário um grupo de militantes do PC do B se adiantavam em garantir a inocência de Orlando e acusar mais uma vez a mídia de golpista e agir contra a estabilidade do governo.
            Não há provas contra o Ministro, assim como se presume não haver contra Maluf, Sarney, Antonio Palloci, João Paulo Cunha, livres da justiça inclusive para voltar aos cargos públicos. Há de se lembrar que ainda hoje o presidente Lula diz não haver provas da existência do mensalão.
            Não há duvidas do caráter parcial da mídia, principalmente em relação a revista Veja, historicamente empenhada em perseguir partidos e movimentos populares. Também não se questiona o uso político por parte da oposição e desta mesma imprensa como forma de ferir o governo de Dilma, que assim como o de Lula não nutrem simpatia alguma. Daí imaginar que um belo dia o senhor Dias acordou e montou sozinho toda uma história de garagens, ONGs e dinheiro desviado com o unico fim de se vingar das cobranças de devolução de mais de 3 milhões de reais que o Ministro cobra do PM, é no mínimo ingenuidade.
           Os dirigentes e militantes do PC do B invocam a negritude do Ministro, as raizes nordestinas assim como sua opção ideológica como forma de justificar uma injusta perseguição das "elites" a Orlando Silva. Em outras stuações cobraram investigação e punição, desta vez se antecipam a justiça quanto a inocência do Ministro.
           Com ou sem imprensa golpista, é fato que a cada dia se torna nu a sistematização da corrupção estatal que só vai parar em revistas de direita ou em jornais conservadores pela ausência de uma reforma política forte e democrática que de fato poderia inibir a ações de agentes públicos avarentos e comprometidos com beneficios próprios.
          Orlando Silva deve sim esclarecer as denuncias, e os governistas abandonarem a paranóia da imprensa golpista e cobrar ética de quem fora do poder tanto gritou e hoje se vitimiza como contra-discurso. Se Orlando silva é culpado ou inocente a sociedade precisa saber, através dos fatos e investigações, bem longe da retórica golpista do governo e da politicagem hipócrita da opósição e da imprensa.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Teologia da Libertação, O cristianismo que o Papa detesta

Por Adelson Vidal Alves

                



             Em meados da década de 1960 surge na América Latina uma interessante proposta de vivência de fé. Na base da igreja católica emergiram formas de religiosidade que colocavam os pobres como centro da prática evangélica. Neste momento aparece uma nova experiência eclesial, descentralizada, democrática e extremamente preocupada com as questões sociais. Tais práticas eram teoricamente iluminadas pelo que veio  a ser chamada "teologia da Libertação", pensada e difundida por teólogos como Gustavo Gutierrez, Hugo Asmann e Leonardo Boff, pensadores cristãos que propunham uma práxis cristã articulada com a ação de libertação dos pobres.
               A teologia da Libertação teve forte influência na política da América Latina, a ponto de um certo presidente norteamericano admitir que ela era mais perigosa que o comunismo. O que mais incomodava os donos do poder era o fato de existir um cristianismo que ao invés de prometer vida próspera no céu organizava os pobres para a vida digna aqui mesmo na terra e denunciava publicamente o sistema de produção como produtor de miséria e desigualdade social.
               O Vaticano se apressou em condenar o que eles consideraram uma "teologia Marxista". A aliança historica com os poderosos cegou a igreja para uma teologia que resgatava a simplicidade do evangelho e mostrava serem os pobres sujeitos de sua própria libertação.
               O centro desta teologia não é Marx, mas sim Cristo, acontece que como teologia nascente da vida concreta do povo é plausível que se busque ferramentas analíticas nas ciências sociais como orientação de atuação prática.  O marxismo foi o instrumento que mostrou a pobreza como resultado de relações sociais injustas e que por isso só seria eliminada com a construção de um outro ordenamento econômico, mais humano e solidário. Não há nenhuma contradição nisso, o cristianismo das CEBs (Comunismo eclesiais de base) organizavam suas lutas a luz do Evangelho e não do O Capital. Condenar a TL por ser ela marxista é no mínimo um reducionismo estúpido ou de má fé.
             Mas a cúpula católica enxergava nesta nova forma de organização eclesial uma afronta a sua hierarquia e valores tradicionais. João Paulo II e agora o Papa bento XVI trabalharam duro para enfraquecer qualquer expressão de fé que lembrasse a teologia da libertação. Para tal excomungou, perseguiu e condenou bispos, padres e teólogos que trabalhassem com este olhar teológico, caso conhecido foi do ex-frei Franciscano Leonardo Boff, condenado ao silencio obsequioso por denunciar em livro a "opção preferencial pelos ricos", historicamente praticada pela igreja.
             Hoje, depois de tantos ataques, a teologia da libertação e as CEBs praticamente desapareceram, em seu lugar um tradicionalismo frio e arcaico do vaticano e a pirotecnia alienadora da Renovação carismática. Ambos tem a benção dos poderosos.



terça-feira, 4 de outubro de 2011

Lutar por democracia é lutar pelo socialismo

Por Adelson Vidal Alves



             A consolidação das democracias modernas se deu em meio a luta de classes. A burguesia como classe dirigente, depois de alcançado seus objetivos, trabalhou duro para combater a expansão da democratização. Os primeiros governos ditos liberais resumiam a democracia a um caráter meramente representativo, com mecanismos elitizados de escolha e sufocamento dos espaços de participação popular. Conquistas como o sufrágio universal, o pluripartidarismo, a livre associação sindical e a liberdade de imprensa são frutos de luta das classes subalternas. 
           Há alguns marxistas que ainda hoje pensam a democracia como uma etapa estratégica para a conquista do poder proletário. Para isso se utilizam dos textos de Marx e Lênin, que caracterizam a democracia como uma ditadura disfarçada da burguesia, e que para tal deveria ser utilizada como forma de luta, mas suas instituições destruidas na medida em que os trabalhadores chegassem ao poder.
           As instituições democráticas modernas são resultados de uma longa batalha social por maior socialização do poder. O parlamento, os governos eleitos pelo voto direto, os sindicatos e a midia são orgãos de disputa pelas classes populares, organismos indispensáveis para a garantia da participação do povo nas grandes decisões da nação. Precisam ser amadurecidos, aperfeiçoados, repensados, mas jamais destruidos. A expansão do capitalismo não só criou as bases econômicas para a construção do socialismo como também estabeleceu alicerces políticos para a consolidação de uma nova ordem social em conformidade com uma democracia plena.
           Nossa luta pelo socialismo, assim, não deve ser contra a democracia, mas por dentro dela e com ela. Devemos lutar por reformas que cada vez mais dinamizem uma cultura de autogestão, de participação direta na esfera do poder das camadas excluidas e de uma democratização social, econômica e cultural.
           Descarta-se assim a possibilidade de uma revolução de tipo bolchevique, numa tomada abrupta do poder. O Estado moderno se difere do modelo que viveram Marx e Lênin, que teriam assim motivos de ver neles apenas um "comitê executivo das classes dominantes". Em sua forma atual ele se estende a uma esfera de ser social que Gramsci chamou de "sociedade civil", onde estão materializados a disputa hegemônica da ideologia, através dos "aparelhos privados de hegemonia", conceito gramsciano que engloba todos os orgão de difusão ideológica e de livre associação, tais como a igreja, a escola, midia, partidos politicos etc. Neste novo espaço estatal (já que percebemos claramente relações de poder) prevalece mecanismos de consenso, já que na complexidade das sociedades contemporâneas não se garante o poder apenas pela coerção. Gramsci observou bem que é na sociedade civil onde os socialistas devem travar a disputa primária pelo poder, tendo em vista que antes de ser classe dominante é preciso ser classe dirigente.
          As forças sociais ligadas aos setores populares devem colocar assim na ordem do dia o aprofundamento da democracia em todo mundo, respeitando as realidades e limitações locais. Motivo pelo qual se torna incompreensivel o apoio de parte da esquerda ao ditador Kadaffi. Mesmo que em situação contestável a chegada de valores democráticos a Líbia é de longe um avanço em relação a ditadura sanguinária das ultimas 4 décadas.
           No Brasil nossa jovem democracia precisa de ajustes e avanços, mas mostra significativa solidez, o que sugere que os lutadores de esquerda devam aproveitar estes avanços e travar uma luta por seu aprofundamento, que na prática significa uma luta pelo socialismo.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A direita está definhando?

Por Adelson Vidal Alves



           Há quem diga que desde a consolidação do PT no governo central brasileiro a direita passa por um processo gradual de decadência. Para isso se utilizam de números que demonstram o encolhimento eleitoral do DEM e as sucessivas derrotas presidenciais do PSDB, além da ausência de um discurso oposicionista que de alguma forma seduza as massas.
           Se reduzirmos a direita ao bloco partidário de oposição (PSDB, DEM e PPS) de fato é possível notar traços de esgotamento, mas tal definição seria no minimo reducionista, haja vista que a prática política assim como a cultura hegemonica ainda respira ares conservadores.
            Personalidades tradicionais da direita se dissolveram em vários partidos que compoe inclusive a base governista (PV, PP, PTB, PMDB, PSC e outros) o que de certo modo dá forma a governança conservadora da administração petista. Em traços gerais o governo Dilma reproduz a aliança com o grande capital e ignora reformas mais profundas que combateria as estruturas sociais injustas da realidade brasileira.
           A direita também se faz presente nos organismos da sociedade civil. Nas igrejas, sindicatos, imprensa e nas ONGs se percebe uma maioria ideológica que dá sustentação a base de consentimento da ordem estabelecida.
          Nem de longe podemos imaginar um definhamento da direita, antes devemos entender os arranjos estratégicos que nossas elites trabalham na pretenção de se manter dirigente no processo de dominação.
          O governo Dilma trabalha no sentido de administrar o país em aliança com os setores dominantes ao mesmo tempo que sinaliza para as camadas desorganizadas das classes subalternas. O consenso fabricado pelo governo petista contempla os interesses da nova direita, seja em aliança explícita com ela seja em reprodução maquiada através da comunicação com as massas via os movimentos sociais cooptados e politicas assistencialistas.
          A esquerda não consentida rompeu com o governo mas não encontrou um discurso que penetre as massas. Tem penetração na intelectualidade e nas classes médias progressistas e em parte dos trabalhadores organizados, mas sem nenhuma sedução dentre os excluidos, que estão na base da pirâmide do bloco social do governo petista.
          A idéia de uma derrota da direita parte dos partidos de esquerda governistas, que de forma simplista polarizam o governo Dilma e a oposição burguesa, sem entender substancialmente a derrota ideológica da esquerda e o "transformismo" operado pelo PT e seus movimentos sociais.
          Para a esquerda resta encontrar um ponto de acúmulo de forças e uma correta interpretação da situação da luta de classes no país. Não se trata de uma tarefa fácil, mas fundamental para apresentarmos um novo projeto politico de esquerda e pós-lulista.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A Sondagem Popular do MEP

Por Adelson Vidal Alves

            

           Meu querido amigo Zezinho me convidou para fazer uma análise da sondagem popular realizada pelo MEP entre os dias 1 e 7 de Setembro. Reconheço que me faltam credenciais científicas para uma análise estatística mais profunda, e certamente entre os quadros do MEP existem gente de capacidade ainda maior que a minha não só para avaliar como chegar em conclusões mais consistentes na verificação dos dados.
           Desta forma fico bem a vontade para analisar os números de forma a apresentar resultados que a meu ver estão aberto a questionamentos de todos.
           Os números (reproduzidos logo abaixo) trazem curiosidades substanciais que deveriam colocar os postulantes a cargos públicos de olhos atentos. Logo no inicio da pesquisa há um clamor grandioso por ética na política. 57 % dos entrevistados colocam como fator primordial de voto a ficha limpa. Há também um número significativo de entrevistados que cobrarão dos candidatos apresentação de discussão de projetos políticos.
           Ainda segundo a pesquisa, os voltaredondenses colocam a saúde como temática mais urgente em nossa cidade (23%). Ela chega a estar a frente na questão do emprego, um dos maiores clamores populares do país. Chama atenção a alta preocupação com questão da segurança pública e o respeito aos direitos humanos (18%), o que demonstra uma expectativa dos entrevistados em relação a politicas públicas que valorizem a vida e o ser humano.
           Sem surpreender muito está a rejeição do público ao trabalho do poder legislativo. 88% não acham necessário o aumento de cadeiras para a próxima legislatura, o que demonstra uma reprovação visivel do povo de nossa cidade ao trabalho de nossos parlamentares. Fecha-se os números com o também já esperado anseio dos consultados quanto a políticas de cunho ambiental, apontado como um dos fatores de degradação da saude humana.
           Um consenso gira em torno desta sondagem. A população de nossa cidade parece desenvolver uma certa dimensão critica em relação a prática da politica e ensaia cobranças mais fortes quanto a temáticas que deverão ser colocadas em pauta urgentemente pelos agentes políticos de Volta Redonda. Seja como for, esta pesquisa é um valoroso ponta pé para a construção de espaços maiores de debates em nossa cidade. Parabéns MEP !!



PROJETO ‘PENSA VR’ – SONDAGEM POPULAR

O MEP realizzou entre os dias 1 e 7 de setembro de 2011, uma Sondagem Popular sobre questões sócio-políticas ligadas ao meio ambiente e saúde em Volta Redonda. É a 11º edição relacionada ao tema. A metodologia utilizada foi de entrevistas através de questionário, nas praças e ruas, e também nas escolas e universidades, que abrangeu as regiões do Grande Retiro, da Área Leste, do Centro-Sul e a região macro do Conforto. Foram realizadas 500 entrevistas.

Resultados das respostas em %

1. Eleições Municipal 2012- O que é mais importante para sua decisão na escolha dos/as candidatos/as ?
(57) Escolha de pessoas com Ficha Limpa (10) Escolha de projetos
(05) Amplo debate com a população (23) Escolha de Projetos/Pessoas
(02) Não Sabe/NR (03) Outras respostas

2. Assinale o que é mais urgente para nossa cidade.
(23) Saúde e ambiente saudável
(11) Trabalho e emprego
(08) Construção de moradias populares
(09) Educação pública em regime integral
(18) Segurança pública e defesa dos direitos humanos
(02) Investimento em turismo
(04) Trabalho de prevenção ás drogas
(09) Preservação do Rio Paraíba e dos afluentes
(07) Fim no monopólio nos transportes e reengenharia no transito
(03 ) Politica salarial para o funcionalismo público
(03 ) Apoio ao Esporte e outras respostas
(03 ) Não sabe/NR

3. Você conhece pessoas na sua rua que tenham problemas de saúde relacionada à poluição?
(70) Sim (27) Não ( 03) Não Sabe/NR
Doença mais citadas: problemas respiratórios, câncer, leucopenia, alergias

4. O aumento de doenças em nossa cidade, como os infartos, AVC, câncer e alterações na tireódes entre outras, podem estar relacionadas com a poluição?
( 85) Sim (10) Não ( 05) Não Sabe/NR
5. A Câmara Municipal de VR atualmente conta atualmnte com 14 vereadores. Você acha que precisa de mais sete (7) vereadores em 2013 ?
( 09 ) Sim ( 88) Não ( 03 ) Não sabe/NR

6. Sexo:
(44) Masculino (55) Feminino (01) Não Informou

7. Faixa etária:
( 10 ) De 12 a 15 anos (25 ) De 16 a 22 anos (20 ) De 23 a 29 anos
( 15 ) De 30 a 50 anos (18 ) De 51 a 65 anos (10 ) Acima de 66 anos
( 02 ) Não informou

Volta Redonda 10/09/2011. MEP-VR

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Racismo as avessas

Por Adelson Vidal Alves



A prefeitura de Itatiaia “racializou” seu concurso público. No ponto 3 de seu edital é estabelecido uma cota de 20% das vagas para candidatos ditos “afrobrasileiros”, que segundo as regras são os “que assim se declararem expressamente no ato da inscrição, identificando-se como cor preta ou parda, não sendo assim sendo considerado aquele que, embora afrobrasileiro não tenha a pele de cor preta ou parda”. A bizarrice segue no ponto 3.4 com a criação de uma “COMISSÃO DE VERIFICAÇÃO DE AFRODESCENDÊNCIA” designada pela prefeitura de Itatiaia. Os membros da tenebrosa comissão (uma espécie de supremo tribunal racial) escolhidos sabe-se lá como, irão rotular racialmente cada candidato usando de uma “entrevista individual”, simples assim.
O desastroso edital infelizmente faz parte de uma cultura que vem se fortalecendo nos últimos anos, através de um nefasto processo de “institucionalização da raça”. Começou com a criação de uma Secretaria nacional de Igualdade racial, (onde sua ministra chegou a dizer que entendia a violência de negros contra os brancos, condenando porém o contrário) depois um Estatuto da (des)igualdade racial, e por fim o estranho reconhecimento do STF quanto a constitucionalidade do sistema de cotas raciais em Universidades Públicas, em total desrespeito ao artigo 208 de nossa carta magna que reza Ninguém será discriminado, prejudicado ou privilegiado em razão de nascimento, idade, etnia, raça, cor, sexo, estado civil, trabalho rural ou urbano, religião, convicções políticas ou filosóficas, deficiência física ou mental, por ter cumprido pena nem por qualquer particularidade ou condição."
A divisão do Brasil em raças constitui não só uma visível discriminação, como fortalece instintos de rivalidades raciais e segregação. Não reconhece a multiplicidade de nossa cultura, a diversidade étnica e muito menos serve para reparar os danos que o racismo ainda causa em nosso país. Ora, a história nos ensina que os regimes racistas do Apartheid na África do Sul e o Nazismo na Alemanha sustentavam-se exatamente numa idéia, cientificamente derrubada, de que os seres humanos se dividem em famílias raciais hierarquicamente subdivididas. Sem a certeza da existência de raças e suas particularidades mentais (negros inferiores e brancos superiores) seria impossível a legitimação de tais regimes. Ao invés de combater, o reconhecimento estatal da idéia de raça só perpetua o racismo, jogando gasolina para apagar incêndio, como certa vez ironizou uma liderança do movimento negro.
Há quem diga que as cotas raciais nos EUA melhoraram a vida dos negros. É bem verdade que parte das pessoa de cor negra norte americana ascenderam a posições sociais intermediárias, ainda que bem longe da realidade dos chamados “brancos”, mas tal política não serviu para construir uma idéia republicana de nação, antes montou guetos, e dá bases a existência ainda hoje de grupos racistas, que contam espantosamente com apoio em parte da opinião pública.
A realidade brasileira é bem diferente da norte americana. Nossa abolição não manteve leis raciais, reincorporadas ao Estado brasileiro paradoxalmente pelas reivindicações do movimento negro. Por aqui os elementos de “preconceito racial” aparecem em uma blitz policial, num restaurante ou numa entrevista de emprego, ainda que publicamente rejeitado pela maioria absoluta da população brasileira. Os mecanismos de acesso a serviços públicos através de formas diferenciadas baseada na cor da pele em nada combate o racismo, pelo contrário, o sustenta.
No dia em que sair o resultado do concurso público de Itatiaia, irão formar-se duas listas de aprovados, uma para os “brancos” e outra para os “afrobrasileiros”. Será que queremos reproduzir esta divisão também na sociedade brasileira? Se a resposta for não, devemos imediatamente assumir atitudes frente o “racismo as avessas”

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Traição anunciada

Por Adelson Vidal Alves

A filiação mais do que esperada do Sindicato dos Metalúrgicos da região à Força Sindical só confirma a trajetória decadente de seu mandatário maior, Renato Soares, outrora liderança combativa e hoje serviçal do “sindicalismo de negócios”.
A Força Sindical surgiu no inicio da década de 1990, com intuito único de fazer frente ao sindicalismo classista da CUT, tendo em suas entranhas o espírito neoliberal, de eliminação da luta de classes e de defesa de políticas privatizantes em todo o país. Em Volta Redonda a Central Sindical patrocinou excursões de trabalhadores a estatais privatizadas, na intenção de mostrar os trabalhadores a “lucratividade” das empresas privadas e a “falência” do serviço público. O Resultado foi trágico. A CSN que era centro econômico de nossa cidade demitiu imediatamente mais de 15 mil funcionários, terceirizou serviços, reduziu salários e eliminou tantos outros benefícios dos trabalhadores. Nossa cidade desde então sofre com a ditadura perversa do poder econômico, constituído com apoio explícito da central sindical que hoje Renato se filia.
O que está por trás de tamanha metamorfose de Renato? Em primeiro lugar o deslumbramento do poder que o retirou das bases operárias para o conforto dos gabinetes, e assim, uma mutação que lhe conferiu caráter de negociação ao invés de enfrentamento aos desmandos do capital. Renato chegou ao absurdo de retirar aumento real dos trabalhadores da pauta de negociação, preocupado que estava com a competitividade das empresas. Já ai ele expunha de forma clara sua conversão a negociata do sindicalismo de resultado, tristemente hegemônico no Brasil.
Em segundo lugar, sua ambição bizarra de virar prefeito. Completamente cego pelo poder, não consegue enxergar seu declínio como liderança, já que em todas as vezes que se meteu em eleição saiu desmoralizado, não conseguindo eleger nenhum de seus apoiados. Mas desta vez acredita que pode ir mais longe com os acordos espúrios que anda fazendo, chegando ao ponto de posar para foto ao lado de nada mais nada menos que Paulinho da Força Sindical, figura que dispensa apresentações, conhecido que é pelo envolvimento em várias denúncias de corrupção.
A filiação do SINDMETAL é um retrocesso no movimento sindical de nossa região, e a culpa não é apenas de Soares. O PC do B teve a chance de desmascarar os planos originais de Renato, mas por puro oportunismo absorveu os mesmos projetos, temeu a perda de um sindicato com altíssima arrecadação financeira e a perda de uma suposta referência política. Para isso, como nos tempos stalinistas, teve que calar militantes da base que há tempos denunciavam a traição de Renato. Hoje o partido colhe a rejeição ingrata de quem usou e descartou.
Concretizada a traição anunciada, agora é a vez dos trabalhadores se reorganizarem, montarem uma forte oposição aos planos da atual direção que por apoio político não hesitarão em colocar conquistas trabalhistas na mesa de negociação.