sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A direita está definhando?

Por Adelson Vidal Alves



           Há quem diga que desde a consolidação do PT no governo central brasileiro a direita passa por um processo gradual de decadência. Para isso se utilizam de números que demonstram o encolhimento eleitoral do DEM e as sucessivas derrotas presidenciais do PSDB, além da ausência de um discurso oposicionista que de alguma forma seduza as massas.
           Se reduzirmos a direita ao bloco partidário de oposição (PSDB, DEM e PPS) de fato é possível notar traços de esgotamento, mas tal definição seria no minimo reducionista, haja vista que a prática política assim como a cultura hegemonica ainda respira ares conservadores.
            Personalidades tradicionais da direita se dissolveram em vários partidos que compoe inclusive a base governista (PV, PP, PTB, PMDB, PSC e outros) o que de certo modo dá forma a governança conservadora da administração petista. Em traços gerais o governo Dilma reproduz a aliança com o grande capital e ignora reformas mais profundas que combateria as estruturas sociais injustas da realidade brasileira.
           A direita também se faz presente nos organismos da sociedade civil. Nas igrejas, sindicatos, imprensa e nas ONGs se percebe uma maioria ideológica que dá sustentação a base de consentimento da ordem estabelecida.
          Nem de longe podemos imaginar um definhamento da direita, antes devemos entender os arranjos estratégicos que nossas elites trabalham na pretenção de se manter dirigente no processo de dominação.
          O governo Dilma trabalha no sentido de administrar o país em aliança com os setores dominantes ao mesmo tempo que sinaliza para as camadas desorganizadas das classes subalternas. O consenso fabricado pelo governo petista contempla os interesses da nova direita, seja em aliança explícita com ela seja em reprodução maquiada através da comunicação com as massas via os movimentos sociais cooptados e politicas assistencialistas.
          A esquerda não consentida rompeu com o governo mas não encontrou um discurso que penetre as massas. Tem penetração na intelectualidade e nas classes médias progressistas e em parte dos trabalhadores organizados, mas sem nenhuma sedução dentre os excluidos, que estão na base da pirâmide do bloco social do governo petista.
          A idéia de uma derrota da direita parte dos partidos de esquerda governistas, que de forma simplista polarizam o governo Dilma e a oposição burguesa, sem entender substancialmente a derrota ideológica da esquerda e o "transformismo" operado pelo PT e seus movimentos sociais.
          Para a esquerda resta encontrar um ponto de acúmulo de forças e uma correta interpretação da situação da luta de classes no país. Não se trata de uma tarefa fácil, mas fundamental para apresentarmos um novo projeto politico de esquerda e pós-lulista.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A Sondagem Popular do MEP

Por Adelson Vidal Alves

            

           Meu querido amigo Zezinho me convidou para fazer uma análise da sondagem popular realizada pelo MEP entre os dias 1 e 7 de Setembro. Reconheço que me faltam credenciais científicas para uma análise estatística mais profunda, e certamente entre os quadros do MEP existem gente de capacidade ainda maior que a minha não só para avaliar como chegar em conclusões mais consistentes na verificação dos dados.
           Desta forma fico bem a vontade para analisar os números de forma a apresentar resultados que a meu ver estão aberto a questionamentos de todos.
           Os números (reproduzidos logo abaixo) trazem curiosidades substanciais que deveriam colocar os postulantes a cargos públicos de olhos atentos. Logo no inicio da pesquisa há um clamor grandioso por ética na política. 57 % dos entrevistados colocam como fator primordial de voto a ficha limpa. Há também um número significativo de entrevistados que cobrarão dos candidatos apresentação de discussão de projetos políticos.
           Ainda segundo a pesquisa, os voltaredondenses colocam a saúde como temática mais urgente em nossa cidade (23%). Ela chega a estar a frente na questão do emprego, um dos maiores clamores populares do país. Chama atenção a alta preocupação com questão da segurança pública e o respeito aos direitos humanos (18%), o que demonstra uma expectativa dos entrevistados em relação a politicas públicas que valorizem a vida e o ser humano.
           Sem surpreender muito está a rejeição do público ao trabalho do poder legislativo. 88% não acham necessário o aumento de cadeiras para a próxima legislatura, o que demonstra uma reprovação visivel do povo de nossa cidade ao trabalho de nossos parlamentares. Fecha-se os números com o também já esperado anseio dos consultados quanto a políticas de cunho ambiental, apontado como um dos fatores de degradação da saude humana.
           Um consenso gira em torno desta sondagem. A população de nossa cidade parece desenvolver uma certa dimensão critica em relação a prática da politica e ensaia cobranças mais fortes quanto a temáticas que deverão ser colocadas em pauta urgentemente pelos agentes políticos de Volta Redonda. Seja como for, esta pesquisa é um valoroso ponta pé para a construção de espaços maiores de debates em nossa cidade. Parabéns MEP !!



PROJETO ‘PENSA VR’ – SONDAGEM POPULAR

O MEP realizzou entre os dias 1 e 7 de setembro de 2011, uma Sondagem Popular sobre questões sócio-políticas ligadas ao meio ambiente e saúde em Volta Redonda. É a 11º edição relacionada ao tema. A metodologia utilizada foi de entrevistas através de questionário, nas praças e ruas, e também nas escolas e universidades, que abrangeu as regiões do Grande Retiro, da Área Leste, do Centro-Sul e a região macro do Conforto. Foram realizadas 500 entrevistas.

Resultados das respostas em %

1. Eleições Municipal 2012- O que é mais importante para sua decisão na escolha dos/as candidatos/as ?
(57) Escolha de pessoas com Ficha Limpa (10) Escolha de projetos
(05) Amplo debate com a população (23) Escolha de Projetos/Pessoas
(02) Não Sabe/NR (03) Outras respostas

2. Assinale o que é mais urgente para nossa cidade.
(23) Saúde e ambiente saudável
(11) Trabalho e emprego
(08) Construção de moradias populares
(09) Educação pública em regime integral
(18) Segurança pública e defesa dos direitos humanos
(02) Investimento em turismo
(04) Trabalho de prevenção ás drogas
(09) Preservação do Rio Paraíba e dos afluentes
(07) Fim no monopólio nos transportes e reengenharia no transito
(03 ) Politica salarial para o funcionalismo público
(03 ) Apoio ao Esporte e outras respostas
(03 ) Não sabe/NR

3. Você conhece pessoas na sua rua que tenham problemas de saúde relacionada à poluição?
(70) Sim (27) Não ( 03) Não Sabe/NR
Doença mais citadas: problemas respiratórios, câncer, leucopenia, alergias

4. O aumento de doenças em nossa cidade, como os infartos, AVC, câncer e alterações na tireódes entre outras, podem estar relacionadas com a poluição?
( 85) Sim (10) Não ( 05) Não Sabe/NR
5. A Câmara Municipal de VR atualmente conta atualmnte com 14 vereadores. Você acha que precisa de mais sete (7) vereadores em 2013 ?
( 09 ) Sim ( 88) Não ( 03 ) Não sabe/NR

6. Sexo:
(44) Masculino (55) Feminino (01) Não Informou

7. Faixa etária:
( 10 ) De 12 a 15 anos (25 ) De 16 a 22 anos (20 ) De 23 a 29 anos
( 15 ) De 30 a 50 anos (18 ) De 51 a 65 anos (10 ) Acima de 66 anos
( 02 ) Não informou

Volta Redonda 10/09/2011. MEP-VR

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Racismo as avessas

Por Adelson Vidal Alves



A prefeitura de Itatiaia “racializou” seu concurso público. No ponto 3 de seu edital é estabelecido uma cota de 20% das vagas para candidatos ditos “afrobrasileiros”, que segundo as regras são os “que assim se declararem expressamente no ato da inscrição, identificando-se como cor preta ou parda, não sendo assim sendo considerado aquele que, embora afrobrasileiro não tenha a pele de cor preta ou parda”. A bizarrice segue no ponto 3.4 com a criação de uma “COMISSÃO DE VERIFICAÇÃO DE AFRODESCENDÊNCIA” designada pela prefeitura de Itatiaia. Os membros da tenebrosa comissão (uma espécie de supremo tribunal racial) escolhidos sabe-se lá como, irão rotular racialmente cada candidato usando de uma “entrevista individual”, simples assim.
O desastroso edital infelizmente faz parte de uma cultura que vem se fortalecendo nos últimos anos, através de um nefasto processo de “institucionalização da raça”. Começou com a criação de uma Secretaria nacional de Igualdade racial, (onde sua ministra chegou a dizer que entendia a violência de negros contra os brancos, condenando porém o contrário) depois um Estatuto da (des)igualdade racial, e por fim o estranho reconhecimento do STF quanto a constitucionalidade do sistema de cotas raciais em Universidades Públicas, em total desrespeito ao artigo 208 de nossa carta magna que reza Ninguém será discriminado, prejudicado ou privilegiado em razão de nascimento, idade, etnia, raça, cor, sexo, estado civil, trabalho rural ou urbano, religião, convicções políticas ou filosóficas, deficiência física ou mental, por ter cumprido pena nem por qualquer particularidade ou condição."
A divisão do Brasil em raças constitui não só uma visível discriminação, como fortalece instintos de rivalidades raciais e segregação. Não reconhece a multiplicidade de nossa cultura, a diversidade étnica e muito menos serve para reparar os danos que o racismo ainda causa em nosso país. Ora, a história nos ensina que os regimes racistas do Apartheid na África do Sul e o Nazismo na Alemanha sustentavam-se exatamente numa idéia, cientificamente derrubada, de que os seres humanos se dividem em famílias raciais hierarquicamente subdivididas. Sem a certeza da existência de raças e suas particularidades mentais (negros inferiores e brancos superiores) seria impossível a legitimação de tais regimes. Ao invés de combater, o reconhecimento estatal da idéia de raça só perpetua o racismo, jogando gasolina para apagar incêndio, como certa vez ironizou uma liderança do movimento negro.
Há quem diga que as cotas raciais nos EUA melhoraram a vida dos negros. É bem verdade que parte das pessoa de cor negra norte americana ascenderam a posições sociais intermediárias, ainda que bem longe da realidade dos chamados “brancos”, mas tal política não serviu para construir uma idéia republicana de nação, antes montou guetos, e dá bases a existência ainda hoje de grupos racistas, que contam espantosamente com apoio em parte da opinião pública.
A realidade brasileira é bem diferente da norte americana. Nossa abolição não manteve leis raciais, reincorporadas ao Estado brasileiro paradoxalmente pelas reivindicações do movimento negro. Por aqui os elementos de “preconceito racial” aparecem em uma blitz policial, num restaurante ou numa entrevista de emprego, ainda que publicamente rejeitado pela maioria absoluta da população brasileira. Os mecanismos de acesso a serviços públicos através de formas diferenciadas baseada na cor da pele em nada combate o racismo, pelo contrário, o sustenta.
No dia em que sair o resultado do concurso público de Itatiaia, irão formar-se duas listas de aprovados, uma para os “brancos” e outra para os “afrobrasileiros”. Será que queremos reproduzir esta divisão também na sociedade brasileira? Se a resposta for não, devemos imediatamente assumir atitudes frente o “racismo as avessas”

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Traição anunciada

Por Adelson Vidal Alves

A filiação mais do que esperada do Sindicato dos Metalúrgicos da região à Força Sindical só confirma a trajetória decadente de seu mandatário maior, Renato Soares, outrora liderança combativa e hoje serviçal do “sindicalismo de negócios”.
A Força Sindical surgiu no inicio da década de 1990, com intuito único de fazer frente ao sindicalismo classista da CUT, tendo em suas entranhas o espírito neoliberal, de eliminação da luta de classes e de defesa de políticas privatizantes em todo o país. Em Volta Redonda a Central Sindical patrocinou excursões de trabalhadores a estatais privatizadas, na intenção de mostrar os trabalhadores a “lucratividade” das empresas privadas e a “falência” do serviço público. O Resultado foi trágico. A CSN que era centro econômico de nossa cidade demitiu imediatamente mais de 15 mil funcionários, terceirizou serviços, reduziu salários e eliminou tantos outros benefícios dos trabalhadores. Nossa cidade desde então sofre com a ditadura perversa do poder econômico, constituído com apoio explícito da central sindical que hoje Renato se filia.
O que está por trás de tamanha metamorfose de Renato? Em primeiro lugar o deslumbramento do poder que o retirou das bases operárias para o conforto dos gabinetes, e assim, uma mutação que lhe conferiu caráter de negociação ao invés de enfrentamento aos desmandos do capital. Renato chegou ao absurdo de retirar aumento real dos trabalhadores da pauta de negociação, preocupado que estava com a competitividade das empresas. Já ai ele expunha de forma clara sua conversão a negociata do sindicalismo de resultado, tristemente hegemônico no Brasil.
Em segundo lugar, sua ambição bizarra de virar prefeito. Completamente cego pelo poder, não consegue enxergar seu declínio como liderança, já que em todas as vezes que se meteu em eleição saiu desmoralizado, não conseguindo eleger nenhum de seus apoiados. Mas desta vez acredita que pode ir mais longe com os acordos espúrios que anda fazendo, chegando ao ponto de posar para foto ao lado de nada mais nada menos que Paulinho da Força Sindical, figura que dispensa apresentações, conhecido que é pelo envolvimento em várias denúncias de corrupção.
A filiação do SINDMETAL é um retrocesso no movimento sindical de nossa região, e a culpa não é apenas de Soares. O PC do B teve a chance de desmascarar os planos originais de Renato, mas por puro oportunismo absorveu os mesmos projetos, temeu a perda de um sindicato com altíssima arrecadação financeira e a perda de uma suposta referência política. Para isso, como nos tempos stalinistas, teve que calar militantes da base que há tempos denunciavam a traição de Renato. Hoje o partido colhe a rejeição ingrata de quem usou e descartou.
Concretizada a traição anunciada, agora é a vez dos trabalhadores se reorganizarem, montarem uma forte oposição aos planos da atual direção que por apoio político não hesitarão em colocar conquistas trabalhistas na mesa de negociação.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O drama do desemprego no Brasil

Por Adelson Vidal Alves


            O governo Dilma esbanja orgulhosamente os números do desemprego no Brasil, que segundo o IBGE é o menor desde 2002, fechando em uma taxa de 6% no mês de Julho. Os ideólogos petistas logo correm para tentar transformar tais estatísticas em votos nas eleições municipais do ano que vem. 
           É bom que se discuta este tema abertamente e com muito mais franqueza que os governistas pretendem. A realidade é uma: O desemprego no Brasil é altíssimo e é o principal responsável pela tragédia social que atinge os brasileiros, principalmente a juventude. Ele é responsável pela grande violência nos centros urbanos, na busca cada vez mais recorrente de nossos jovens ao uso de drogas, na epidemia de doenças mentais como a depressão e a síndrome do pânico etc.
           Existem basicamente duas formas de desemprego. O primeiro é o desemprego conjuntural, causado pela queda da produção de um país. No Brasil, o Governo mantém uma altíssima taxa de juros, que atrai capital especulativo e enriquece uma minoria de banqueiros sem precisar passar pelo processo produtivo. A politica econômica de FHC, Lula e Dilma repetem a fórmula neoliberal, desmontam nosso parque industrial destruindo milhares de postos de trabalho.
           A segunda forma de desemprego é o desemprego estrutural ou desemprego tecnológico, causado pelo avanço da tecnologia e o aumento dos lucros capitalistas através da mais valia relativa. Em outras palavras, as grandes empresas produzem mais e com menos gente, dispensando mão de obra que nunca mais conseguirá ser reincorporado ao mundo do trabalho, causando o aumento brusco do mercado informal. Popularmente falando, o operário é demitido de uma fábrica e logo depois compra um carrinho de pipoca para alimentar sua familia, trabalhando sem qualquer proteção social.
          Os governos do PT além de serem coniventes com os ataques ao emprego no Brasil, também tentou precarizar as relações nos contratos de trabalho. As reformas sindical e trabalhista propostas por Lula visavam flexibilizar os direitos sociais e desmontar a já fragil estrutura sindical brasileira, quebrando a espinha dorsal da resistencia dos trabalhadores. Fracassando em ambas o governo petista optou pela cooptação das lideranças sindicais.
          Para vencer o desemprego no Brasil é preciso de reformas estruturais fortes. Uma reforma agrária para desafogar os centros urbanos e criar mais empregos no campo através da agricultura familiar, bem diferente do que fez Lula e faz Dilma beneficiando o agronegócio. É necessário uma nova politica econômica, que desonere as pequenas e médias empresas e reduza drasticamente as taxas de juros como forma de incentivo a produção e ao consumo. É urgente medidas de incentivo ao mercado interno e ao consumo popular, cessar o pagamente da divida e(x)terna, realizando imediatamente uma auditoria. Criar mecanismos de viabilização de novas formas de organização da produção, como propõe a economia solidária por exemplo através das cooperativas. E por fim, reduzir imediatamente a jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais sem diminuição do salário, que segundo o Dieese geraria mais de 2 milhões de empregos imediatamente.
          Para alcançar tais objetivos é preciso vencer um congresso nacional reacionário, um governo central alinhado ao capital e a grande maioria de governos estaduais e municipais desinteressados ou sem condições de ir muito longe.
         Não há outro caminho senão a mobilização popular. A construção de fóruns e grandes mobilizações que pressione o governo a fazer reformas de estado e revogar leis de flexibilização do trabalho, como as aprovadas no governo tucano e mantidas vergonhosamente pelos governos petistas.
        Quando um operário subiu a rampa do Palacio do Planalto cresceu-se a esperança de um novo Brasil para os trabalhadores, mas paradoxalmente fez-se o céu para os capitalistas e o inferno para os trabalhadores.

sábado, 10 de setembro de 2011

O 11 de Setembro e o futuro dos Estados Unidos.

Por Adelson Vidal Alves

          


          Há exatos 10 anos os EUA sofriam o maior ataque terrorista de sua história, que tragicamente contabilizou mais de 2900 mortos e outros tantos feridos. Os ataques foram assumidos pela rede terrorista Al Qaeda.
           Desde então a politica externa norteamericana intensificou seu carater militarista. Países foram arbitrariamente atacados, torturas justificadas, civis bombardeados, muçulmanos perseguidos, tudo em nome da segurança nacional da América.
          Antes dos ataques há quem defendesse a gradual decadencia do império ianque, que pelo menos no campo militar foi desmentida. Os EUA triplicaram seu orçamento bélico e abriram várias frentes de guerra, demonstrando ao mundo que seu aparato de guerra está longe de ser comparado, paradoxalmente, entretanto, não conseguiu vencer nenhuma guerra, os fracassos no Afeganistão (apesar da captura de Bin Laden) e no Iraque comprovaram incontestavelmente o desperdicio de forças e o equivoco politico dos dirigentes norte americanos. Se por um lado o nacionalismo exacerbado reelegeu Bush em 2004, em 2008 ele foi derrubado,  e há indicios de que Obama perde forças nos últimos anos, o que pode assim abrir retorno para os republicanos a Casa Branca.
           Muitos especialistas costumam comparar o 11 de Setembro a uma nova Guerra fria. Se naquele momento eram os comunistas os inimigos a serem abatidos, desta vez são os terroristas árabes. Se trata de uma ideologia necessária para manter consetimento de um povo que se construiu sob a mentalidade de serem eles os responsáveis pela civilização do mundo, e pior, sempre embasado por uma ótica religiosa, entendida por sua colonização constituida por seitas protestantes ultrafundamentalistas.
           O fato é que os EUA não são os mesmos desde  o 11 de Setembro. A ameça terrorista mudou por completo o cotidiano das pessoas, obrigando novas estratégias de defesa, sem entretanto rever sua diplomacia com o mundo árabe e a América Latina. Barack Obama foi eleito sob promessas de uma nova relação internacional com o mundo. Fracassou!! Permanece o bloqueio econômico de Cuba, a guerra no Afeganistão, os prisioneiros pacifistas cubanos, Guantânamo e a IV frota, que demonstram claramente não haver mudanças de rumos. Soma-se a isso a brutal crise econômica do país, o que nos sugere uma profunda crise de hegemonia norte americana.
          Não significa, contudo ,que estamos diante de uma inversão de países hegemônicos na ordem global, o que para alguns poderia ser a China esta nova potência. Além de os EUA manterem fortes suportes hegemonicos militares, culturais e até econômicos, percebemos que o sistema mundial caminha para uma reconfiguração onde os estados nacionais cumprem papéis cada vez menores, abrindo espaço para atuação de redes internacionais descentralizadas, onde podemos incluir até mesmo a AlQaeda. É possivel que a hegemonia de nações tipicas do sistema que substituiu a Inglaterra pelos EUA na metade do século XX já não faça mais sentido diante de uma ordem mundial "desterritorializada" e globalmente conectada pela internet e por novas formas de dominio do capital.
        Não estou aqui defendendo o fim dos estados nacionais, eles cumprem papel central na atual organização internacional , basta ver suas atuações na crise financeira de 2008. E também se atentarmos para a multiplicação de estados independentes no século XX com as guerras de libertação nacional . Porém devemos estar atentos nas novas tecnologias, na livre circulação do capital e dos agentes produtivos e também da conecção global virtual, sintomas evidentes de uma internacionalização das forças  de dominação e também da luta dos excluidos, potencialmente globalizados. O futuro dos EUA pode ser o mesmo dos antigos impérios, como sendo uma simples substituição de Estado hegemônico, mas certamente inserido num contexto mais "globalista" que possa nos estar levando a uma ordem inclusive sem nações hegemônicas. Fiquemos de olho nos acontecimentos.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Sobre o Manifesto de 7 de Setembro

Por Adelson Vidal Alves



O 7 de Setembro, data da independência do Brasil, vem sendo nos ultimos anos centro de grandes mobilizações em todo o país. Na semana da pátria já se organizou vários plebiscitos populares, como o da ALCA, da divida externa e recentemente a da reestatização da Companhia Vale do Rio Doce.
Em Volta Redonda o povo sempre esteve presente. Pastorais sociais, partidos políticos, sindicatos e organizações de juventude lograram êxito em várias atividades de interesse nacional. Este ano pelo que me consta, está sendo chamado pelo facebook uma manifestação em frente a prefeitura com o slogan “Neto, VR não é sua, VR é nossa”. Não sou contra e nem a favor, até porque não consegui entender os verdadeiros objetivos. As redes sociais tem destas coisas, por um lado são dinâmicas, democráticas,  mais eficientes e rápidas em suas convocações, por outro lado, facilita o oportunismo, mostra confusão em suas reais intenções, demonstra falta de direção, o que cria riscos graves de potencializar forças para resultado nenhum.
Além do mais, atacar um governo não pode ser pauta de uma mobilização que se pretenda plural e com objetivos realmente maiores. O grito dos excluídos, por exemplo, acontece há 17 anos do Brasil e cobrou demandas seja nos governos de FHC como no de Lula, sem precisar direcionar seus ataques a determinado mandatário. Desta forma, conseguem mobilizar a complexidade dos vários sujeitos sociais, sejam eles simpatizantes ou não de determinado governo. O que vale é conquistar direitos.
O que acontecerá em frente a prefeitura no dia 7 de Setembro ainda é muito obscuro, obviamente reúne pessoas sérias e de excelentes credenciais ideológicas, mas pode servir de palanque eleitoral a quem já assumiu publicamente candidatura. Resta nos algumas perguntas sobre a real intenção de tais pessoas e repensar o risco de uma frustração coletiva se tanta força desaguar em discursos individuais e eleitoreiros, quando poderia estar nascendo aí condições favoráveis ao ressurgimento do protagonismo juvenil.
Grande parte de amigos meus que militaram na esquerda nos últimos anos preferiu ficar de fora e lamentar o “apequenamento” das ações, que retiraram o foco das demandas para se concentrar em um discurso genérico. O que está faltando é um pouco de pensamento estratégico, de mais abertura nas concepções políticas, para que a rebeldia juvenil não desemboque no vazio e não volte a passividade dos últimos anos.

sábado, 3 de setembro de 2011

O Socialismo que defendo

Adelson Vidal Alves


Participando hoje da II Conferência Municipal de Politicas Públicas de Juventude fui questionado quanto minha posição ideológica de comunista, exatamente no momento em que defendi a livre escolha do governo nos seus delegados a etapa estadual da Conferência. Em minha defesa afirmei que "democracia não pode ser ditadura da sociedade civil". Esta frase criou questionamentos de amigos que tenho e que militam em movimentos comunistas.
Bem, entendo que muita gente de esquerda ainda não conseguiu superar os traumas dos tempos totalitários do regime militar, quando o Estado se resumia quase que por completo ao uso da força como manutenção da ordem e a sociedade civil era extremamente controlada pelos mecanismos de coerção do governo. Talvez por isso muitos militantes valorosos ainda enxerguem o Estado como vilão e a sociedade civil como o reino das "liberdades".
Quando uso o termo "sociedade civil" sempre a uso no sentido gramsciano, ou seja, um espaço público de intensa luta entre os vários sujeitos sociais na busca por hegemonia. Obviamente que na sociedade civil de Gramsci há elementos progressistas, mas há também forças reacionárias que protagonizam uma intensa luta hegemônica. É possível perceber que se na Sociedade civil existe o MST, os sindicatos de trabalhadores e os movimentos populares, há também a FEBRABAM, a FIESP a rede Globo etc. Para Gramsci estes embates são embutidas de poder e por isso fazem parte de uma dimensão ampliada do Estado, está dentro dele e não fora. Quando falo de sociedade civil é a partir deste conceito que me faço entender.
O socialismo que defendo nada tem a ver com as experiências do mau chamado "socialismo real", onde a ditadura da burguesia foi substituída pela ditadura dos partidos, e tão pouco pertenço as tradições leninistas que ainda hoje adjetivam a democracia como sendo burguesa (representativa) e proletária (de base). Faço parte de uma corrente no qual defendemos que é preciso combinar as conquistas institucionais da democracia moderna (parlamentos, sufrágio universal, multipartidarismo etc.) com elementos progressivos da democracia de base. Esta combinação faz com que a luta pelo socialismo se trave por dentro das instituições democráticas e como diz Giuseppe Vacca "em total respeito as regras do jogo".
A sociedade civil é rica em pluralidade, em livres associações que representam as mais variadas demandas dos vários segmentos sociais. Um socialismo erguido estritamente sobre este pluralismo corre o risco de se tornar corporativista, haja vista, que é preciso garantir as liberdades particulares mas também (e isso falo como marxista) criar espaços de consolidação da hegemonia, o que Gramsci chamou de "Vontade coletiva nacional popular" e Rousseau de "vontade geral". Os parlamentos e os governos são expressões de uma sociedade em intensa busca por uma espécie de "unidade na diversidade", algo imprescindível dentro de um socialismo democrático.
Sendo assim, ao invés de tratar o Estado como "comitê executivo das classes dominantes" expressão defasada do manifesto comunista, é preciso enxergá-lo como um espaço permeável a conquistas graduais das classes subalternas e assim sensível a mudanças persistentes e moleculares. Esse é o socialismo que defendo.