segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

O Rio sem alternativas

Por Adelson Vidal Alves

 
Uma candidatura que represente o novo. Que seja capaz de recuperar a confiança dos cariocas e fluminenses nas instituições. Que assuma um projeto de estado de características progressistas e com responsabilidades especiais para com os setores mais vulneráveis da sociedade, que possa assumir o compromisso de governar sem ceder às pressões do poder econômico. Falta ao Rio de Janeiro este perfil para o governo estadual.

As pesquisas apontam na dianteira três nomes da velha política: Garotinho (PR), Lindbergh Faria (PT) e Marcelo Crivela (PRB). O primeiro tem sobre si uma série de condenações na Justiça, o jeito oligarca de fazer política e o personalismo demagogo. O segundo também tem condenações judiciais, com acusações de irregularidades na Previdência dos servidores de Nova Iguaçu, onde foi prefeito, e, ainda que posando de renovação, esteve até há pouco no barco do atual governo. Crivella é aquele tipo de candidatura que depende dos púlpitos religiosos e faz da sua fé, afronta ao Estado laico.

Na parte de baixo aparece Cesar Maia (DEM), Miro Teixeira (Pros) e Pezão (PMDB). O primeiro dispensa maiores apresentações. O segundo e o terceiro mostram elementos tímidos de contribuição para atualizar a política fluminense. Sendo que o último ocupou, como vice-governador, os 8 anos do governo Cabral. Ainda que tenha mostrado ser bom articulador, gestor eficiente e atento com os grupos de baixo, carrega o peso de ter sido, no mínimo, cúmplice do desgoverno atual, que afundou o estado numa crise social e política.

Surgem dois nomes: Jandira Feghali (PCdoB) e Alfredo Sirkis (PSB). A primeira é, sem dúvida, o melhor quadro para a governança. Peca pela indecisão de sua própria candidatura, que só se viabilizará caso as pesquisas mostrem, desde já, um improvável crescimento. Tudo indica que se manterá no parlamento ou pleiteará ser vice do PT. Sirkis entra sem muitas pretensões. Servirá como  palanque para Campos/Marina, mas também não dá garantias e recebe pouco entusiasmo dos seus pares.

Salvo alguma novidade que dificilmente aparecerá, são estas as candidaturas que as urnas nos apresentarão em Outubro. A cidade que carrega o símbolo de capital cultural do país, assim como todo seu estado, não conseguiram apresentar a seu povo algo de novo que renove a esperança fluminense. Pelo jeito, a única euforia ficará por conta da Copa do Mundo.
 

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Freixo, PSOL e a imprensa

Por Adelson Vidal Alves

Que Marcelo Freixo é um parlamentar corajoso e competente,  não há quem duvide. Que o PSOL é formado por pessoas íntegras e com sonhos libertários, também não. O que se coloca em questão neste momento é a relação do partido com a democracia, sobretudo com um dos principais pilares de sustentação desta: a imprensa.

Tudo por conta da acusação infundada do advogado Jonas Tadeu, que disse ter Marcelo Freixo ligação com o assassino do cinegrafista Santiago Andrade, morto depois de ser acertado por um rojão na cabeça, quando cobria manifestação contra o aumento das passagens no Rio de Janeiro. A imprensa, como deve ser, noticiou a denúncia. O suficiente para o parlamentar alardear um complô contra si. A militância do partido seguiu Freixo, montou campanhas na internet, fez ataques à imprensa, principalmente a Rede Globo, e até um ato de desagravo foi realizado.

Para os psolistas e freixistas, tudo não passou de manobra da “mídia burguesa” para ferir o partido e o deputado. Para estes, não fazia sentido os jornais darem capa a uma denúncia sem fundamentos, a única explicação seria a tentativa perversa de enfraquecer quem enfrenta o “golpismo midiático”. Não repararam que capas de Jornais não são exclusividades do PSOL. O PT ficou meses em manchetes, por conta do julgamento do mensalão. O PSDB rendeu várias páginas e reportagens, devido pagamento de propinas na prefeitura de São Paulo. Os tucanos ainda enfrentam acusações de um “mensalão” em Minas Gerais, abundantemente noticiado em telejornais do horário nobre. Se há um complô contra partidos e políticos, o PSOL não é a única vítima.

O comportamento do PSOL frente à mídia mostra que o partido precisa de ajustes para se integrar definitivamente ao jogo democrático. Denegrir e tentar desmoralizar um órgão de importante contribuição para democracia, dando a ele adjetivações de classe e responsabilidades para com tramoias golpistas, não só distorce a realidade como favorece um ambiente para relativizações da liberdade de imprensa que, na prática, pode nos legar um marco de regulação com feições de censura.

Freixo é homem público, e como tal deve responder por suas funções quando denúncias aparecem contra sua pessoa. À imprensa cabe noticiar, o julgamento fica por conta das instituições competentes. Comprovada a culpa ou inocência, esta mesma imprensa deve informar.  Até agora, na maioria dos casos, é assim que ela tem agido.

O PSOL parece querer estar acima do bem e do mal. Não aceita que seus membros sejam alvos de investigações, mesmo quando há evidências para que estas aconteçam, como no caso da deputada Janira Rocha. Convencido de sua superioridade moral e ideológica, usa de implacáveis ataques contra seus adversários, tratando, porém,  como calúnias os desvios éticos que lhe são atribuídos.

O Partido que parecia avançar para uma vocação parlamentar e de governo, ainda guarda resquícios sectários e messiânicos, elementos que o impedem de ingressar na atual ordem política como um genuíno partido democrata.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

O Golpe civil-militar de 1964

Por Adelson Vidal Alves

 

Prestes a completar meio século, o Golpe civil-militar de 1964 ainda desperta calorosos debates nos círculos acadêmicos. As leituras sobre as raízes do episódio que interrompeu um período de quase duas décadas de democracia brasileira, variam de acordo com correntes teóricas e interpretações próprias. Há os personalistas, que culpam o perfil vacilante e pequeno burguês do presidente João Goulart, que seria na verdade um populista sem talento para lidar com as contradições. Há os deterministas, que veem a inevitável necessidade de um regime autoritário em períodos de alto desenvolvimento das forças produtivas, a fim de sufocar os conflitos que surgem no seio da sociedade neste momento. No primeiro caso, um único individuo traçou os destinos trágicos de uma nação, e no segundo, a força das estruturas forçaram situações que não poderiam ser evitadas.  

Sozinhas, nenhuma das duas visões é capaz de solucionar o problema. Há de se avaliar os vários atores sociais presentes no Brasil no conturbado início da década de 1960. De forma básica, havia, por um lado, uma esquerda radicalizada, que pressionava insistentemente o governo em uma solução mais rápida para as chamadas reformas de base. De outro, grupos conservadores, que já há algum tempo vinham tentando ascender ao poder por vias golpistas. Aconteceu em 1954, 55 e 61. O próprio João Goulart só tomou posse no lugar de Jânio Quadros, que renunciou seu mandato presidencial, graças à pressão popular, ainda sim sob regime parlamentarista, só mais tarde substituído, em plebiscito, pelo presidencialismo.

O contexto internacional era de Guerra Fria, e nem as esquerdas e nem a direita estavam dispostos a se manterem fiéis a institucionalidade democrática. Da parte canhota, havia a acusação de que os parlamentos estavam corrompidos pelas oligarquias e que, assim, jamais poderiam atender as necessidades do povo. A reforma agrária, por exemplo, exigia do Poder Executivo uma indenização, em dinheiro, aos proprietários das terras desapropriadas. As esquerdas queriam pagamentos com títulos da dívida. O impasse fez Brizola sugerir o atropelamento do Congresso.  Mais tarde, o Serviço de Repressão ao Contrabando descobriu no interior Goiás um campo de treinamento militar das Ligas Camponesas, cheio de objetos com referência a revolução cubana. O clima era tenso

Manter-se equilibrado entre duas forças dispostas a romper com o contrato democrático não era tarefa fácil. Goulart tentou, em vários momentos do governo, construir consensos, mas era impossível. Ninguém se dispunha a fazer concessões de seus programas.

Em processo de isolamento, o presidente apostou nas esquerdas. Tomou as reformas de base como programa imediato de governo, acreditou na adesão popular em momentos de conflitos e, sobretudo, achou ter a seu lado parte suficiente das Forças Armadas caso houvesse tentativa de golpe.

Em 13 de março realizou-se Comício na Central do Brasil, Goulart discursou ao lado dos principais líderes das esquerdas, como José Serra e Brizola. Nele, apresentou à nação disposição para realizar as reformas. No dia 19 de março, setores conservadores da sociedade civil caminhavam na “Marcha da Família com Deus pela liberdade” pedindo intervenção contra um fantasioso “golpe comunista” que diziam estar em curso no país. Dos quarteis, as forças golpistas se organizavam para o enfrentamento, contando na retaguarda com apoio militar norte-americano. A resistência também tentou se organizar, mas tanto o apoio popular quanto das Forças Armadas não pareciam suficientes. O presidente se recusou a dar voz de comando para uma guerra civil, e rapidamente os golpistas obtiveram êxito. Goulart foi exilado em território nacional, e o Brasil aceitava, de forma relativamente pacífica, a imposição de uma ditadura pelos próximos 21 anos.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Ninguém reparou? Temos um cadáver

Por Adelson Vidal Alves

De sua alta pose ideológica, parte de nossas esquerdas calibrou sua artilharia contra a “imprensa burguesa”. Esta “malvada mentirosa”, que usa impiedosamente “acidentes” para criminalizar movimentos sociais.  

Convidadas a falar em horário nobre, estas esquerdas condenam a violência, defendem a democracia. Em seus blogs, justificam a fúria militante como sendo tão somente reação à rotineira violência do Estado. Os jovens pobres, estariam apenas devolvendo na mesma moeda a truculência que recebem cotidianamente.

Em meio a este duelo de ideologias, que contrapõe uma esquemática interpretação classista dos fatos a uma verdadeira caça às bruxas, está um cadáver. E não se trata do cadáver de um alto figurão da chamada mídia corporativa, mas sim um trabalhador, pai de família em exercício da busca pelo seu sustento. Não é a única e nem será a última vítima da violência estúpida que regularmente ascende em nossa arena social, mas é a vítima que ora nos fala. Em nada ajuda diminuirmos a gravidade de uma tragédia listando outras, denunciado a falta de lentes midiáticas para mortos que o antecederam. Deveríamos olhar para Santiago Andrade, e refletirmos por onde pretendemos seguir, com quais métodos, com quais valores. Medir o preço a ser pago por tentar, na marra, fazer desaparecer problemas históricos da nação.

O mais grave é o silêncio da política. O parlamento, os partidos, a presidência, deveriam todos ir além de pesares oficiais, e colocar em curso uma dura e rigorosa reflexão sobre este amontoado de acontecimentos que põe no centro da preocupação, a democracia. Teríamos mesmo conseguido fazer andar um caminho irreversível de democratização? Ou estaríamos com a barbárie avançando debaixo dos nossos narizes?

O rojão que atingiu e matou o cinegrafista da TV Bandeirantes poderia ter atingido um manifestante, um vendedor de pipoca, o pai de um black bloc. Teríamos de todas as formas um cadáver, mas com discussões por outros ângulos, talvez com as esquerdas subindo em palanques e falando do Estado capitalista assassino. De qualquer forma, seria a vida sendo subordinada a uma ideologia, a um interesse estratégico. Quando conseguiremos tomar a civilização como referência? Deixar de lado nossas diferenças e fazermos encorpar uma sociedade que resolva seus conflitos pela via da democracia e com o espírito pacífico?

É fato que tudo isso vai passar. As lágrimas só continuarão a correr nos rostos de amigos e parentes, que neste momento só pedem para ouvirem seu planto e tomarem medidas para que outras lágrimas não caiam no futuro.

Enquanto isso, seguimos trocando acusações, até mesmo fazendo contas eleitorais. Há de se perguntar: ninguém reparou? Temos um cadáver.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Gramsci e a esquerda democrática

Por Adelson Vidal Alves

Encarcerado por seu maior inimigo, o fascismo, Antônio Gramsci (1891-1937 ) desenvolveu sua obra de maturidade, os famosos Cadernos do Cárcere. Foi neles que o italiano trouxe sua maior e mais preciosa contribuição à renovação do marxismo. Foi neles que pode se conhecer, ou pelo menos interpretar, a proposta estratégica de Gramsci para se trilhar o caminho da revolução comunista, que dispensava assaltos ao poder e dava significativa valorização à direção cultural como fator de triunfo.
Aos que se achegam agora a nosso autor, Gramsci foi um dos principais teóricos e dirigentes do PCI, o saudoso Partido Comunista Italiano. Preso, mesmo que tendo imunidade parlamentar, pode, portando 33 cadernos de capa dura, elaborar, em forma de apontamentos, uma eficiente reflexão, ou reflexões, sobre variados campos, de literatura a filosofia.  Mas o que trouxe especial interesse foi sua inovadora teoria política.
Gramsci morreu e viveu grande parte de sua vida como um comunista. Um comunista herético, que apoiou a revolução bolchevique, mas soube, nos momentos apropriados, apontar críticas corretas ao caminho autoritário em que se desenvolvia a “Pátria do socialismo”. Foi com sua capacidade analítica de conseguir compreender as mudanças estruturais que as sociedades se desenvolviam sob a luta dos subalternos, abrindo espaços novos de intervenção política, que ele legou a seus contemporâneos a valiosa distinção entre “Ocidente” e “Oriente”, longe de se resumirem a questões geográficas, mas sim realidades econômicos-sociais do capitalismo que evoluíam sob sua atenta observação.
Seu cuidado para com a busca de consensos como comportamento político dos que se convenciam do esgotamento do modelo bolchevique de revolução, trouxe até nossos dias os elementos para construir uma esquerda democrática. Uma esquerda que não instrumentalize a democracia para fins da “ditadura do proletariado”, mas uma esquerda sensível a luta por uma nova hegemonia, sustentada e trilhada sob o caminho exclusivo do Estado de direito, que bem longe de ser uma instância burguesa, é fruto de conquista civilizatória de vários grupos sociais, sobretudo, os trabalhadores.
Gramsci ainda hoje incomoda os advogados de um anacrônico “marxismo-leninismo”, adjetivadores da moderna democracia. Conseguiu conciliar comunistas e liberais, sem jamais ter aderido ao segundo. Ganhou, em alguns países tardiamente, o lugar de clássico do marxismo, que como poucos, consegue desfilar por amplas correntes de pensamento, mesma as moderadas, que guardam respeito e obediência às normas constitucionais da democracia.
Todo autor corre o risco de ser traído. Em Gramsci o risco se eleva, principalmente por sua aparente fragmentação, embora sua obra de maturidade deixe sérios indícios de sistematização. O inegável, porém, é que sua elaboração teórica feriu seriamente as abordagens ortodoxas do marxismo do mal chamado “socialismo real”. Não só foi capaz de denunciar este por traição à dialética, como também salvou o pensamento de Marx de ser jogado injustamente no lixo da história, por conta do fracasso do sistema que ousou reivindicar sacra interpretação de sua obra.
O italiano do cárcere chega aos nossos dias revigorado, com contribuição indispensável para a esquerda democrática, esta que tenta corajosamente se erguer e apresentar-se como força capaz de modernizar os caminhos da construção de uma nova ordem social. Em tempos de crise de instituições e representações, os ventos que vem da Itália sempre serão bem recebidos no cumprimento desta árdua tarefa.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Por uma democracia plena, um reformismo democrático


Por Adelson Vidal Alves

Depois de 21 anos sob regime militar, o Brasil apontou sua trajetória para a redemocratização. Comum em sua história, o caminho se deu pelo alto, com controle das classes de cima e sem grandes mudanças nas estruturas econômicas e sociais. Erguemos instituições, fortalecemos nossa sociedade civil, reintroduzimos a liberdade na cultura nacional, assinamos a Constituição mais democrática de nossa história. Definitivamente, avançamos com a democracia política brasileira.

Mas democracia não é só as “regras do jogo”. Democracia (ou democratização, como dizia Lukács) é um processo no qual se permite a participação ampla da população na vida da sociedade em todas as suas dimensões. Para que as instituições políticas cumpram sua plena função democrática, há que garantir a cidadania de todo o povo, a condição material necessária para sua participação na vida pública. É aí que mora o problema. Mesmo diante da concretização institucional de nossa democracia, o Brasil guarda dívidas coloniais no campo, desigualdades alarmantes entre ricos e pobres, e entre inteiras regiões do país. No mundo do trabalho o maior salário chega a valer 175 vezes mais que o menor. Somos o 8º país em analfabetismo adulto do mundo e com cerca de 15 milhões de miseráveis. Como esperar a plenitude do funcionamento democrático diante deste quadro?

Faltaram em nossas “revoluções passivas” a presença de uma força aglutinadora capaz de organizar a luta por reformas de estado, e que pudesse pressionar pela ampliação de políticas universalizantes, pilares centrais para reorganização do país para realidades mais justas. Fincamos uma vida institucional relativamente forte, sustentada sob a égide de uma Carta Constitucional avançada, mas mantemos intactos os injustos indicadores sociais.

A esquerda hegemônica no poder não foi capaz de assumir uma feição reformista e democrática. Manteve com o Estado, relações preocupantes de aparelhamento, e abraçou como projeto único, o poder. Entre as esquerdas ainda há aqueles que preferem tratar a democracia de forma instrumental, instância burguesa a serviço dos poderosos. Querem zerar o processo, destruir o “Estado burguês” e instaurar uma “democracia operária”.

Nos falta ainda uma esquerda democrática forte, convencida de suas tarefas reformistas e de sua obediência constitucional. Uma esquerda com a capacidade de interferir nos conflitos do cotidiano com equilíbrio, fazendo alianças, aprimorando consensos, defendendo o Estado de direito.

Como nossa ocidentalizada sociedade não aceita assaltos ao poder, faz se urgente a construção de um bloco de forças que tome a missão de organizar o Brasil para reformas democráticas no quadro do Estado democrático de direito. Reformas guiadas pelo espírito republicano, com meta a equalizar as oportunidades dos cidadãos brasileiros e formar um país justo e pronto para viver a democracia plena.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Os gays e os Cristãos

Por Adelson Vidal Alves



É escandaloso ver pessoas que confessam a fé cristã orquestrando campanhas contra as lutas da comunidade LGBT. O pior é que já não se contentam apenas com seus púlpitos. Invadiram a TV e montaram bancadas parlamentares. Por conta disso, projetos de lei como a PL/122, que criminaliza a homofobia, vão sendo desaprovadas no Congresso Nacional.

Segundo estudo realizado em 2013 pelo Grupo Gay da Bahia, associação de defesa dos direitos humanos dos homossexuais, o Brasil está em primeiro lugar no ranking  mundial de assassinatos homofóbicos, com 44% do total de mortes de todo o planeta. No mundo, pelo menos 80 países mantêm dispositivos legais que proíbem relações homoafetivas, alguns deles com penas de morte. É, deveras, contraditório, que diante deste quadro discípulos de um homem que elegeu a prática do amor como critério de fidelidade a Deus, militem de forma tão empenhada na desconstrução de direitos dos homossexuais. Jesus não fez diferenças entre os que a ele se achegavam, pelo contrário, acolheu sem condenação todos a quem a sociedade de seu tempo excluía. Mais tarde, a Igreja que dizia falar em seu nome abonou a escravidão negra, foi cúmplice de genocídios indígenas, tratou os Judeus como culpados exclusivos de sua morte e hoje está na linha de frente na segregação dos gays.

Alguns recorrem à bíblia, dizem que a “palavra de Deus” abomina a homossexualidade. Ora, é visível a influência patriarcal nas escrituras. Percebam que nela Deus é pai e não mãe, os discípulos são 12 homens e os 10 mandamentos falam em não cobiçar a “mulher” do próximo, e não o “homem” da próxima, o que demonstra um direcionamento preferencial a comunidade masculina. Como esperar que um ambiente cultural como esse aprove a relação de pessoas do mesmo sexo?

Recentemente o Papa Francisco disse “não julgar os homossexuais” o que vindo de um Pontífice é um grande avanço. A Igreja Católica também incluiu em seu Catecismo a exigência de não discriminá-los. Mas ainda é pouco. É necessária a reformulação da visão da Igreja sobre os gays, de modo a não condená-los em sua condição. Ninguém pede pra ser homossexual, nasce-se assim. Lançar mão de uma teologia que os condene ao fogo do inferno por uma situação que não vêm de sua escolha é, no mínimo, injusto.

Precisamos de uma nova hermenêutica teológica, que dê conta da diversidade do mundo moderno. Tal teologia ainda parece estar longe do Vaticano e, principalmente, das novas Igrejas Pentecostais e seus líderes religiosos. Talvez Jesus estivesse certo ao falar sobre estes útlimos: “As prostitutas os precederão no Reino de Deus”