quarta-feira, 29 de maio de 2013

A chegada da REDE



Por Adelson Vidal Alves
 
Falta pouco para a criação oficial da REDE SUSTENTABILIDADE. Mais de 400 mil pessoas já assinaram as fichas de apoio, que ao chegarem a 500 mil darão ao movimento o direito à registro no TSE como partido político. Isso deve acontecer até 15 de Junho.

A REDE, como ficou conhecida, aparece como iniciativa principal da ex-senadora Marina Silva, mesmo que não exclusiva dela. Seus mais de 20 milhões de votos em 2010, fez da ex-seringueira uma liderança nacional, com capacidade comprovada de destaque eleitoral. Marina, no entanto, poderia ter escolhido o caminho mais curto para sua provável candidatura presidencial. Encontraria partidos e estrutura com facilidade, preferiu, entretanto, ingressar em uma difícil empreitada de fundar uma nova legenda, percorrer o território nacional atrás de assinaturas, enfrentar manobras no Congresso, ser difamada pelo governo. Sua opção se justifica pela justa preocupação de ajudar na refundação da política. Esta que se rendeu ao fisiologismo, corporativismo e egoísmo, deixando de ser ferramenta de construção do bem comum para promoção de interesses particulares.

A REDE ganhou rápido apoio de intelectuais, lideranças populares, artistas e políticos. A novidade de suas propostas está exatamente na sedutora idéia de construir um partido de novo tipo, alinhado com as transformações que ora geraram a sociedade em rede, virtualmente mais democrática e relativamente imune a burocratizações anacrônicas. O eixo programático do partido não propõe revoluções, não assume bandeiras de rupturas sistêmicas, não usa em seu vocabulário a “luta de classes”. Não é um partido socialista. Todavia, nota-se com facilidade que suas bandeiras encontram terreno fértil na pluralidade de nossa sociedade contemporânea, que resiste firme a maniqueísmos dogmáticos do tipo “marxista-leninista”. Não é toa que no seio de sua fundação convivem socialistas, comunistas, social-democratas, liberais moderados, ecologistas e empresários. Todos são chamados na ajuda da organização da nova legenda, mas com a consciência de se subordinarem aos mecanismos internos regimentais.

O novo partido não chega para ser alugado. Vencer eleições é sempre importante, mas jamais deverá nortear a vida partidária de quem tem a ambição de quebrar a letargia da pequena política, que dois blocos políticos condenam o Brasil a mais de 20 anos. Se a REDE sair em 2014 sem nenhum parlamentar, mas com a tarefa cumprida de provocar um debate mais qualificado na nação, já terá feito seu papel original. Ainda que riscos de degenerações sempre existam, vale apena arriscar um novo caminho. Desistir da política será sempre desistir da justiça, do sonho de um mundo melhor.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Porque sou a favor de legalizar as drogas



Por Adelson Vidal Alves

Um debate ainda soa como tabu em nossa sociedade: a legalização das drogas. Não há razões para adiar importante discussão, exceto pela atuação de setores desinformados e conservadores, seja no congresso, na igreja ou na mídia. Em países onde houve descriminalização, como na Holanda, o uso de drogas foi reduzido e controlado, assim como os números da criminalidade.

Em nosso país morre-se mais com o tráfico do que com o uso de drogas. Só na região metropolitana de São Luis, Maranhão, 80% dos homicídios do mês de maio tinham ligações com o tráfico de entorpecentes, e em todo país, de cada 120 mortes violentas, pelo menos 80 são conseqüência do mercado ilegal de drogas.

Legalizar as drogas quebraria a espinha dorsal do tráfico, e de quebra o financiamento do crime organizado. O consumo e distribuição estariam sob controle do Estado, que poderia não só aumentar seus ganhos tributários e assim investir mais em saúde dos viciados, como também baixar o preço da droga. Uma informação importante é que muito dos crimes cometidos no país, como roubo e furto, tem viciados como agentes na busca desesperada de comprar um produto caro que é a droga. Mais barato e de fácil acesso, diminuiríamos, e muito, tais crimes.

Há quem, ainda, acredite na repressão contra o tráfico como forma de acabar com as drogas. A se julgar pelo cotidiano e sem recorrer a generalizações, podemos afirmar que a polícia hoje reprime o viciado, e não o traficante. Infelizmente é a banda podre da polícia que facilita o abastecimento do tráfico, e é ela o fator principal de sucesso do comércio de drogas. Legalizando-as, até mesmo os policiais corruptos sairiam perdendo.

A meu ver, o tabu de tal tema está ligado ao medo da liberação incentivar o uso, ou mesmo criar desordem pública. Bem, como já citado, cidades como Amsterdã, na Holanda, tiveram o consumo de drogas diminuído quando legalizadas. E quanto a ordem pública, devemos ter em mente que sob regulação do governo, os usuários precisarão se adaptar as regras dos limites do consumo, assim como os locais permitidos ao uso. O excesso, obviamente, será combatido pelo próprio estado, assim como é feito com o consumo de álcool.

O fato, porém, é que o tráfico de drogas é braço econômico não só dos traficantes, mas também de políticos, policiais corruptos e figuras graúdas do Estado. É dever dos setores mais esclarecidos trazerem de volta a necessidade deste debate. Legalizar as drogas e investir em uma educação que conscientize seria a combinação ideal para enfrentarmos a barbárie das drogas e seu comércio irregular.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Porque Marina incomoda tanto?



Por Adelson Vidal Alves
 
Porque Marina Silva incomoda tanto o atual bloco no poder? Seriam os 20 milhões de votos da última eleição, obtidos com poucos recursos financeiros e praticamente sem tempo de televisão? Ou seriam as pesquisas de opinião que apontam a candidata na segunda colocação da corrida presidencial, mesmo sem palanques eleitorais ou máquinas partidárias a seu dispor? Ou quem sabe o fato de ser ela uma candidata pelo qual os governistas não poderão acusar de ser continuidade dos governos FHC, haja vista que foi Ministra de Lula? Talvez todos estes fatores ajudem a explicar porque o PT e seus satélites trabalham tanto contra a candidatura de Marina.

Nos últimos dias a ofensiva do Planalto tem se intensificado contra ela. Primeiro o PT e seu aliado ambíguo, o PMDB, tentaram articular na Câmara dos Deputados um projeto de lei que dificultasse a criação de novos partidos, numa tentativa clara de atrapalhar a criação da REDE SUSTENTABILIDADE, partido que a ex-senadora pretende fundar. Como não conseguiram emplacar sua iniciativa golpista, que parou no Senado e no STF, a estratégia agora mudou, passando para uma campanha nacional de difamação.

Recentemente, os governistas distorceram as palavras de Marina Silva, tentando aproximá-la do desgastado deputado Marcos Feliciano. Para o governo e sua mídia, as palavras de Marina davam apoio ao presidente da Comissão de Direitos Humanos, que recebe acusações de homofobia e racismo. Ainda que tenha deixado claro que Feliciano tem posições equivocadas, não faltaram manobras rasteiras para tentar fazer de Marina uma homofóbica.

A verdade, no entanto, é que Marcos Feliciano é da base governista, e só se tornou presidente da Comissão de Direitos Humanos graças a uma articulação do PT para assumir a Comissão de Justiça, e assim indicar os mensaleiros José Genoino e João Paulo Cunha para sua composição.

Marina Silva é uma ameaça ao partido do governo. Sua trajetória política é de apoio as lutas populares, motivo pelo qual é a única candidata com penetração no largo curral eleitoral montado pelo PT via bolsa família. Tem uma reputação ética impecável, experiência política, competência comprovada e carisma de sobra. Nada pior para quem ganhou as últimas eleições com uma retórica de terrorismo, dizendo que caso perdessem, os programas assistencialistas acabariam.

Ainda terão aqueles que dizem ser Marina útil aos projetos da direita para derrotar Dilma. Qualquer pessoa com um cérebro e bom caráter sabe o quanto tal tese é falsa. Foi do PT a iniciativa de criar um ambiente político que só se move por uma polarização mentirosa entre PT e PSDB, que ainda que guardem diferenças, governam com os mesmos paradigmas, com a exceção de que o segundo pelo menos se movimentou em respeito ao jogo democrático republicano, enquanto o primeiro fez de tudo para sabotá-lo.

Ainda vem muita coisa pela frente. O Partido dos Trabalhadores e seu amplo e híbrido leque de alianças usarão dos recursos mais espúrios para esvaziar o debate e garantir sua hegemonia absoluta no poder estatal. Restam as forças democráticas do país se organizarem para combater o que seria a maior das tragédias da República: a consolidação de um bloco político com visíveis interesses anti-republicanos.



                                                                        

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Gramsci e a América Latina



Por Adelson Vidal Alves


Gramsci deu pouca atenção a América Latina em seus escritos. Em uma das raras vezes em que citou países do continente, inclusive o Brasil, o fez usando da velha esquemática ortodoxa da III internacional. Em uma nota, datada de 1932, o comunista sardo lança mão da tese de que os países do Sul eram todos “semi-feudais”, e para usar de seu próprio conceito, países “orientais”, ou seja, países subdesenvolvidos e com uma frágil sociedade civil.

O continente estaria, assim, sob a orientação da “guerra de movimento”, isto é, exposto a estratégia de uma revolução insurrecional num curto espaço de tempo, com o objetivo final de tomar o estado de assalto.

Nosso autor não chegou a utilizar outros de seus preciosos conceitos, como o de revolução passiva, para poder interpretar a realidade não só da América Latina, mas de todas as sociedades do sul. Coube então a seus seguidores reinterpretarem nossa realidade. Não como sendo um continente abundante em orientalismo, mas sim de transformações pelo alto. Citamos assim a revolução mexicana, o peronismo e o varguismo como exemplos de revoluções passivas, e que apesar de se apoiarem no protagonismo do Estado, conseguiram se desenvolver para realidades “ocidentais” no qual se constituiu sociedades civis relativamente estáveis. Tal caracterização é extremamente importante, pois a partir dela podemos refletir processos de mudanças estruturais se utilizando da estratégia de “guerra de posição” onde as forças revolucionárias passariam a assim a se guiar por um processo molecular de mudanças, e não uma ruptura abrupta.

No entanto, o processo de “ocidentalização” do continente não significa a extinção de contradições nas particularidades de cada nação latino-americana. Muitas delas poderiam ainda ser caracterizadas como sendo “ocidentes periféricos” sendo ainda objetos de dependência econômica dos países do norte. Tal dependência, fruto do imperialismo contemporâneo, obedece a junção de coerção e consenso, haja vista que os países dominadores não se utilizam apenas da força para obter seu domínio, mas também ao propagar seu estilo de vida como sendo o mais avançado. Vejam só os EUA, que mantém a Quarta-frota ameaçando nossa soberania, mas por outro lado invade o cinema, a arte e influencia nossos comportamentos com via a obter consenso. Até aí os conceitos de Gramsci nos são úteis.

O fato, ainda que paradoxal, é que a América Latina acolheu com força o teórico italiano, sobretudo Argentina e Brasil. Nosso país hoje é um dos maiores leitores de Gramsci, e dificilmente veremos alguma força política se movimentando sem se utilizar de alguma conceituação gramsciana.

Podemos afirmar com toda certeza que as categorias gramscianas permanecem atuais para nossas análises contemporâneas. Vejam por exemplo as vitórias eleitorais de governos opositores aos modelos clássicos do neoliberalismo, como o de Evo Morales na Bolívia, Chavez na Venezuela e Rafael Correa no equador. A meu ver, seriam todos resultados de revoluções passivas.  E quanto ao Brasil? Não estariam os governos petistas sob forte impacto do “transformismo”?

Enfim, o espaço aqui é curto para entrarmos em um debate tão complexo. Mas de minha parte, não tenho dúvidas quanto a validade da teoria política de Gramsci para a América Latina, ou seja, o teórico das revoluções no ocidente recebeu abrigo prolongado em nossa terra. E tudo indica que sua estadia será longa por aqui.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Por uma esquerda reformista



Por Adelson Vidal Alves


As transformações sociais, políticas e culturais do mundo contemporâneo e suas conseqüentes reconfigurações no perfil dos atuais atores coletivos, impõem a esquerda o desafio de se renovar para continuar influenciando nos rumos das sociedades.

Não há receita pronta, apenas pistas. Não cabe, por exemplo, invocarmos em nossos dias a “ditadura do proletariado” como meta revolucionária. Onde foi implantada ela se transformou em ditadura, primeiro do Estado, depois do partido e por último de uma pessoa só. Não se aceita, também, a busca de uma revolução insurrecional que tome o Estado de assalto. Este já não é o espaço único da expressão do poder, e veio a se esparramar em meio a numerosas instituições da sociedade civil, que guardam na cultura a força central de construção de consensos políticos, e assim, de capacidade de governo.

Uma esquerda moderna deve, assim, apoiar-se numa luta gradual por dentro do ordenamento existente. É o Estado democrático de direito o palco exclusivo para se lutar por mudanças estruturais na sociedade, e a democracia política elemento indispensável para o aprofundamento do processo civilizatório.

No Brasil, não há outro caminho para alcançarmos vitórias contra o capitalismo senão lançando mão de um “reformismo forte” capaz de alterar o jogo de forças, forçando transformações mais significativas na espinha dorsal da vida política do país.

Quanto a Constituição federal de 1988, erguida sob forte presença da esquerda e de setores democráticos moderados, é ela o programa central a ser seguido por esta esquerda reformista, que tem agora o dever de obter vitórias graduais, porém, permanentes na construção de outra ordem social.

Uma esquerda reformista para o nosso tempo nada tem a ver com a timidez da social-democracia, que emplacou reformas dentro do sistema capitalista, mas quando este era ameaçado em suas estruturas contou com o recuo social-democrata. O novo reformismo é revolucionário. Obedece a estratégia gramsciana de guerra de posição, pretende-se romper a ordem capitalista, obedecendo a “ocidentalidade” das sociedades modernas, mas com a ambição de quebrar a hegemonia do capital.

Faltam recursos e forças políticas para darem conta de um projeto deste tamanho. Nossa esquerda ainda oscila entre cooptação conservadora e radicalismo sectário. Refletir, debater e conseguir organizar novos atores políticos para esta empreitada é um desafio a ser vencido.