sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O PPS e o Novo Reformismo

Por Adelson Vidal Alves


A proposta de se pensar uma nova forma de reformismo, que dê conta de transformações sociais mais profundas em profundo respeito ao ordenamento democrático, tem no PPS (Partido Popular Socialista) seu principal representante partidário no Brasil.
Foi dele a iniciativa de trazer para nosso país a obra de Giuseppe Vacca, intitulada “Por um novo Reformismo”. O autor, estudioso de Gramsci, propõe um caminho socialista que passe pelos espaços do Estado democrático de direito. Ou seja, um socialismo que conserve os valores democráticos em sua lógica de funcionamento.
O PPS nasceu em 1992 como herdeiro do PCB, contudo, se modificando internamente, afastando-se da tradição do “Socialismo real”, e propondo uma nova forma de socialismo, que garanta as liberdades civis e políticas. O caminho para a construção desta nova ordem social, segundo o partido, não deveria mais ser o assalto ao poder, mas sim uma luta prolongada alinhada às regras do jogo institucional democrático.
A estratégia socialista do PPS está assim, em total acordo com as propostas revolucionárias de muitos teóricos do marxismo democrático, como Max Adler e Antônio Gramsci.
A prática eleitoral do partido, entretanto, traz grandes questionamentos quanto a sua localização ideológica. Nas últimas eleições, o partido tem se rodeado de aliados conservadores, principalmente PSDB e DEM, os principais partidos da direita brasileira. Seu presidente Roberto Freire, respeitado parlamentar brasileiro, tem sido o principal defensor desta política de alianças, que afasta o partido dos movimentos sociais.
O PPS hoje atrai parte significativa da esquerda acadêmica, que o coloca em um patamar privilegiado no campo da produção cultural. A fundação Astrojildo Pereira, ligada ao partido, conta em seu conselho com gente de peso da vida intelectual, como o poeta ferreira Gullar, o cientista político Luiz Werneck Vianna e o ensaísta Luiz Sérgio Henriques, este último, importante tradutor da obra de Gramsci no Brasil. Em seu quadro nacional, o partido  conta ainda com economistas do tamanho de Luiz Gonzaga Beluzzo.
 No ano de 2012, o partido parece sinalizar para um deslocamento eleitoral mais ao centro, podendo lançar candidatura presidencial própria em 2014, ou talvez, buscar caminhos como o de apoiar Marina Silva. Se descolando do PSDB, o partido pode ansiar caminhos políticos mais progressistas, disputar a base social de esquerda dos organismos da sociedade civil, e também, se firmar como alternativa, tanto à direita tradicional como ao Petismo conservador.
 As próximas decisões do partido podem fazê-lo se aproximar de um reformismo forte, reafirmando assim seu compromisso com a luta pelo socialismo democrático, como pode fazê-lo se esgotar de vez como alternativa real na luta por uma nova ordem social, democrática e justa.

Hoje o PPS encontra um terreno fértil para repousar seu “novo reformismo” resta sua direção andar coerente com sua correta posição no campo teórico.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O marxismo de Gramsci

Por Adelson Vidal Alves

"O único elemento ortodoxo no marxismo é o método' 
Georg Lucácks


Há quem diga que Antônio Gramsci teria abandonado o comunismo antes de sua morte. Argumenta-se que ao deslocar suas preocupações revolucionárias para o campo da "Superestrutura", o pensador italiano teria rompido com o materialismo analitico do método marxista. Fala-se também que o teórico sardo se bandeou para a social-democracia ao rejeitar o assalto do poder estatal como estratégia de revolução. 

Contudo, qualquer leitura um pouco mais cuidadosa dos Cadernos do Cárcere, obra da maturidade de Gramsci, irá se perceber facilmente que o mesmo terminou sua vida como marxista. Nos seus trabalhos carcerários, Gramsci usará o pseudônimo "Sociedade Regulada" para designar o momento em que os mecanismos consensuais de decisão no poder absorvem os de coerção. Ou seja, a "Sociedade Civil" toma a "Sociedade Política", abolindo o Estado em seu sentido coercivo. Isso não é nada diferente do que Marx defendeu ser a sociedade comunista. O pseudônimo empregado pelo italiano, justifica-se pelo fato de que a prisão vigiava os seus apontamentos, de modo que essa foi uma estratégia genial usada por Gramsci para se desviar da censura fascista. 

Antônio Gramsci foi preso em 1926 levando consigo uma grande questão de caráter marxista: porque as revoluções socialistas triunfaram em países periféricos vindo a fracassarem nos mais desenvolvidos? Suas análises históricas e socio-econômicas, irão levá-lo a compreender que a tática do assalto ao poder do Estado, já não seria mais adequada em sociedades com estruturas mais sofisticadas. O italiano vai defender que as lutas sociais abriram um novo espaço de luta pela consolidação ou transformação de uma determinada ordem social. Gramsci tomará o conceito de "Sociedade Civil" para defender um novo lugar de disputa de poder, caracterizado pela busca intensa da direção ideológica e cultural de uma determinada sociedade. Se em Marx a sociedade civil aparece como momento de estrutura (as relações econômicas), em Gramsci ela aparece como superestrutura (conjunto de instituições e valores de uma sociedade).

Apesar de propor um novo caminho revolucionário nas sociedades "Ocidentais", onde a busca pelo poder passa pelo que veio a chamar "Guerra de posição", a saber uma luta prolongada onde se avança e se recua na batalha contra seu adversário de classe,  Gramsci em momento algum rompe com Marx em sua metodologia interpretativa. O teórico italiano permanecerá materialista, analisando o fator material como determinante na construção do ser social, vindo, porém, a expor uma visão dialética, no qual a luta por uma nova cultura criará as condições para o advento da sociedade socialista. Gramsci vai falar de "Reforma intelectual e moral", como condição indispensável na construção de outra ordem social.

Fiel a concepção histórica de Marx, Antônio Gramsci vai estabelecer uma relação de superação/conservação com os conceitos desenvolvidos pelo filósofo alemão. Permanecerá comunista, porém, avançando em muitos pontos no arcabouço teórico do marxismo. Uma renovação que foi responsável, sem dúvida, pela sobrevivência da teoria elaborada por Marx, hoje mais revigorada do que nunca.




quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O anti-comunismo visita Volta Redonda

Por Adelson Vidal Alves


No ano de 1935, parte dos comunistas brasileiros acreditavam que as condições para uma Revolução Socialista no Brasil estavam colocadas. Em intervenção na reunião da Internacional Comunista, um dos dirigentes do PCB na época, chegou a dizer que toda a sociedade brasileira ansiava por uma revolução, dos cangaceiros aos tenentistas. A tentativa de tomada do poder, no entanto, não poderia ter sido mais trágica. Além de facilmente derrotado, o levante serviu de pretexto para que o regime varguista endurecesse ainda mais as regras do jogo, que culminou com o Golpe do Estado Novo em 1937.

Erros de avaliação revolucionária à parte, o fato é que grande parte das narrativas oficiais, principalmente as difundidas em Escolas Militares, dão conta que o que houve por aqui foi uma ação desastrada dos comunistas, que queriam assumir o poder e impor uma ditadura comunista anti-nacionalista no Brasil. Ainda hoje se vê o uso debochado do termo "Intentona" Comunista, como forma de desqualificar o episódio.

Retomada a ordem democrática e afastada a tentativa de novos golpes militares, as vozes obscuras dos quartéis ainda não se calaram por completo. Em tempos de Comissão da Verdade, que pretende acertar os ponteiros do Brasil com sua história manchada por sangue durante a ditadura militar, a Câmara dos Vereadores de Volta Redonda abre as portas para que um coronel traga a público sua visão golpista do evento de 1935. Em um mesmo dia, 28 de vovembro, o Coronel Dylson dos Santos irá expor a visão militar sobre o levante de 1935, homenagear os militares que "defenderam a pátria" dos comunistas e ainda por cima desenvolver temas como a educação sexual cristã.

Não só os comunistas, mas todos que representam o campo da esquerda democrática-popular, deveriam reagir a essa afronta. Nossa atual composição parlamentar conta com 3 vereadores comunistas, nenhum deles se pronunciou até agora.O que preocupa ou simplesmente mostra o caminho das ideologias indo diretamente para o fisiologismo eleitoral.

Não é possível que aceitemos calados que as vozes do conservadorismo fardado invadam nossa cidade, tragam de volta o ambiente anti-comunista da guerra fria e saiam tranquilos difundindo manipulações e mentiras. Em tempos de crise econômica, estes estranhos sujeitos renascem das cinzas. Resta às forças democráticas impedirem que o fogo se reascenda.

Revisão textual: Regina Vilarinhos


terça-feira, 20 de novembro de 2012

Vida longa a Toca do Arigó

Por Adelson Vidal Alves



Em referência as aves migratórias, os trabalhadores que atuaram no processo de industrialização brasileira na primeira metade do século XX, recebiam o nome de "arigós". Na construção da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) em Volta Redonda, muitos operários se deslocaram de suas cidades de origem para construirem a siderúrgica. Muitos deles fixaram residência na cidade.

Hoje, as aves também emprestam seu nome a um dos mais importantes espaços culturais da cidade do aço: a "Toca do Arigó".

Tendo como um de seus idealizadores o professor de geografia e produtor cultural Felipe Raposo, o Fox, o Espaço se firma como um grande fomentador cultural. Por lá, convivem a diversidade artistica da cidade. De Saraus de Poesia ao Punk Rock. Consolida-se também como ponto de entretenimento a quem busca alternativa ao mercantilismo cultural, consagrado nas noites de Volta Redonda. 

A pluralidade de cultura da "Toca", também favorece um ambiente de debate da realidade social. Não são apenas o som das guitarras, acordeões e tambores que caracteriza a militância cultural do lugar. A Toca do Arigó se responsabiliza pela história e luta de nosso povo. Cine Clubes, discussões de datas importantes como o 9 de Novembro e tributos a artistas de nossa cultura nacional, demonstram que o lugar se torna instrumento importante de ocupação de espaços na construção do imaginário popular da cidade, atualmente Imerso em letargia, principalmente depois da privatização da maior industria da cidade.

Não é fácil manter um lugar como esse. O espaço físico responde pela expeculação imobiliária da cidade, que se oferece em aluguéis altíssimos. Pesa também a estrutura urbana da cidade, que coloca limites no relógio do funcionamento, sem falar nos problemas financeiros que naturalmente aparecem no processo de manutenção.

Contudo, os arigós vão sobrevivendo. Inovando, reiventando e resistindo, sempre alimentados pela paixão por uma nova forma de ser e fazer cultura na nossa cidade. Que as aves migratórias finquem os pés na cidade, e sigam cada vez mais fortes, pelo bem da diversidade cultural do municipio.

Vida Longa a TOCA DO ARIGÓ !!

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Brasil, um país racializado

Por Adelson Vidal Alves




O Brasil está em meio a um processo de racialização como jamais visto em nossa história. O consentimento constitucional, concedido por nossa Suprema Corte a leis de corte racial, abriu as portas para que o governo, ONGs racialistas e o movimento negro pudessem introduzir em nossa estrutura estatal, de forma duradoura, o falso paradigma da raça.

As ciências naturais não nos deixam dúvidas quanto ao fato de que raças não existem entre os seres humanos. Delimitar nossa espécie por grupos biológicos comuns é impossível, haja vista o processo de miscigenação histórica, que no Brasil se torna ainda mais forte. A construção de identidades raciais na atualidade, só passa a ser possível por manipulações de caráter racial, como propaga o chamado "multiculturalismo", ideologia que defende o agrupamento da raça em torno de uma suposta unidade cultural. No caso do movimento negro, não faltam tentativas de criar o mito da "Mãe África", com seu passado, sua arte, música e religião, que de modo quase que genético persegue seus descendentes, estes que nos dias de hoje estariam unidos na luta contra exploração branca.

Não acredito que em sã consciência qualquer pessoa de boa índole negue o racismo brasileiro. Não basta, entretanto, identificar a doença, há de se avaliar seu estágio e característica. Pessoas diagnosticadas com câncer vão ao médico para saber qual o tratamento adequado para seu tipo de doença. Os oncologistas não tratam todo portador de câncer com os mesmos medicamentos. 

O racismo brasileiro tem suas particularidades, que por sua vez é fruto de nossa história. Após a abolição da escravatura, não houve no Brasil leis raciais, pelo contrário, um século depois assinaríamos uma Constituição que proibia distinções raciais, e punia severamente praticantes de racismo. 

Não é a toa que inexistem há decádas expressões públicas de racismo, sem que se tenha uma resposta condenatória da opinião pública. Nosso imaginário coletivo não toleraria um politico, lider religioso ou artista, xingar algum negro de macaco. Haveria uma discordância consensual imediata de todos, e esta pessoa sofreria sérios constrangimentos. Não há também nenhuma organização racista que tenha expressão nacional, prova que a repressão ao crime de racismo é forte por parte de nossas autoridades, e que o ambiente para o êxito de tais orgãos não são os melhores.

Nosso racismo, abriga sim, contornos simbólicos. Está presente numa blitz policial, na fila do restaurante, nos presídios etc. Somos um povo que odiamos racismo, mas ao mesmo tempo cometemos ele cotidianamente. Não somos uma nação racista. Não temos em nós instituidos um racismo militante. Praticamos o racismo devido a uma idéia, ainda embutida em todos nós, que entre os humanos há raças diferentes, com inteligências, aptidões e vocações determinadas. A melhor forma de combate é trabalhar na construção de um ambiente de diversidade, mas que se concentrasse na cultura de que somos frutos de uma série de fatores, do qual se exclui uma determinação genética baseada na cor da pele.

Contudo, as políticas de cotas racias, estatutos raciais, privilégios raciais no mercado de trabalho e até em apresentação culturais, só reforça o falso paradigma da raça. Divide a nação, incentiva rivalidades e fortalece sentimentos de que a cor da pele interfere no destino de cada um de nós.

Infelizmente, parece que os rumos de nosso país seguem a lógica perversa de racialização. Cada vez mais o Estado brasileiro se torna instrumento divisor de nosso povo por critérios raciais. O racismo só tende a aumentar. 

sábado, 10 de novembro de 2012

ONGs, as filhas do neoliberalismo

Por Adelson Vidal Alves
  
O neoliberalismo alimenta essa idéia de que “temos de criar um terceiro setor”, como se a sociedade civil fosse alguma coisa situada para além do Estado e do mercado. Não é. Sociedade civil é Estado, é política.

Carlos Nelson Coutinho, filósofo

 

O neoliberalismo é um sistema de pensamento que se caracteriza pela defesa de um Estado menor, que interfira minimamente na vida dos indivíduos, que acredita na auto-regulação dos mercados livres e no desenvolvimento da sociedade pelo meio da competição. A América Latina foi palco e laboratório das principais experiências de governos neoliberais na década de 1990. Ainda hoje, mesmo com ascenção ao governo de um partido que adotava a crítica ao pensamento neoliberal, o Brasil segue mantendo intactos inteiras estruturas de funcionamento neoliberal na sociedade.

As ONGs (Organizações Não Governamentais) são filhas legítimas do sistema neoliberal, ao lado de Agências Reguladoras e Fundações de parceria entre poder público e capital privado. A maioria das pessoas que recorrem ao chamado terceiro setor, são pessoas de ótima índole, preocupados que estão com o abandono por parte dos governos a segmentos inteiros descobertos de proteção social. Existem ONGs de defesa dos direitos dos idosos, de pessoas com deficiências, de proteção aos direitos animais, de valorização da cultura etc. De modo que o que se coloca em questão neste artigo não é o caráter da maior parte dos dirigentes dessas organizações, mas sim a lógica de funcionamento desse setor, assim como sua existência e consequente comprovação da ausência do Estado no cuidado com a população.

Interessa ao neoliberalismo que cada vez mais ONGs apareçam, que as responsabilidades do Estado sejam distribuidas ao que se considera esfera não estatal. Tenta-se passar a falsa idéia que o terceito setor é um espaço despolitizado, apartidário e neutro nas contradições que pipocam na sociedade capitalista. 

Bem nos ensinou Gramsci, que a Sociedade Civil não é um ambiente morno, de harmonia entre os agentes que a compõe. Ao contrário. Para o teórico italiano, a Sociedade Civil é espaço de intenso confronto de valores e visões de mundo ligados a interesses de classe. E mais: Gramsci insistiu que a Sociedade Civil é um espaço estatal, já que permanece ali visíveis relações poder, pelo qual interferem nos rumos de conservação ou alteração de uma ordem social.

No que diz respeito as ONGs, podemos perceber que muitas delas estão deslocadas para o campo da esquerda, lutando pela Reforma Agrária, defendendo direitos indigenas ou trabalhando pela igualdade de direitos aos homoafetivos. Contudo, existem ONGs que representam interesses imperialistas, que trabalham pela expansão do agronegócio e fomentam valores conservadores, como o de defesa da propriedade privada. Fica claro que o terceiro setor não está para além do Estado e da política, mas inserido dentro das contradições de uma sociedade de classes.

Por fim, há que se corrigir uma grande injustiça do senso comum. Há quem diga que ONGs são instrumentos de corrupção, coisa de gente que quer se enriquecer com dinheiro público. Reintero que a maiorias das pessoas envolvidas no terceiro setor são pessoas comprometidas com uma causa nobre, entretanto, a lógica do finaciamento dessas, em grande parte contando com participação do Estado, coloca-se em risco a transparência das mesmas. Seria aconselhável que tais instituições conseguissem sua sobrevivência sem ajuda do Estado, o que, reconheço, é algo muito dificil.

O fato é que a existência do terceiro setor faz parte de uma concepção neoliberal de política, e como tal deve desaparecer. Para isso o Estado e suas instituições devem assumir seu compromisso com a sociedade, particularmente com os desprotegidos socialmente.


terça-feira, 6 de novembro de 2012

Quem se lembra do 9 de Novembro?

Por Adelson Vidal Alves



No próximo dia 9 de Novembro, militantes sociais, sindicalistas e participantes de partidos de esquerda irão se reunir em nome da memória dos três operários mortos pelo governo Sarney em 1988, quando estes reivindicavam em greve melhorias de salário e condições de trabalho. 

Os eventos que buscam lembrar a data, provavelmente serão matéria de capa de alguns jornais e motivo de comentários nas redes sociais. Nada mais que isso. O esforço para se manter de pé os valores de uma classe operária valente e combativa, está cada vez mais enfraquecido. As próximas gerações, a se medir pelo que vem acontecendo hoje, terão lembranças mínimas de um marco histórico do conflito de classes no país.

O poder público peca em não manter uma política cultural que resgate as tradições de luta desse povo, esse que praticamente contruiu nossa cidade. Falta um Centro Cultural dirigido pelo governo em parceria com os movimentos sociais e a intelectualidade, que dê conta de armazenar documentos históricos da greve. Hoje grande parte desse acervo está em poder da UNICAMP, e os pesquisadores de nossa cidade tem dificuldade no acesso. Falta também um trabalho mais forte nas escolas. E não me digam que estaríamos fazendo a cabeça de nossos alunos para formar militantes. A história escondida é que forma cidadãos divorciados da tradição de seu povo, o que na prática os fazem alienados da vida histórica de sua cidade. 

Os bancos da praça Juarez Antunes, de costas para o monumento, refletem um pouco os rumos da consciência coletiva pelo qual caminha Volta Redonda. Ou seja, o de virar as costas para sua própria história.

Já os trabalhadores se renderam completamente ao economicismo. Rejeitam a luta de seus antecessores, e se encolhem frente a necessária organização para suas lutas. Só cobram o sindicato em tempos de data base e PLR, afinal, a meta agora é trocar de carro e estender o final de semana para Saquarema. 

A privatização e a reestruturação produtiva enfraqueceu o sindicato, é verdade, que por sua vez, também não consegue retornar aos trabalhos de base, não se articula com as organizações populares e age dentro de uma política sindical conciliadora. Mantém-se verticalizado e sem discurso para trazer os operários para dentro de sua organização, salvo quando há bingos e sorteios de automoveis no 1 de Maio. 

A fragilidade dessa memória reflete na própria apatia de nossa sociedade civil. Os pouquíssimos movimentos sociais que ainda sobrevivem penam a falta de apoio popular, e quase não interferem nos rumos da política. Por aqui a luta de classes se esvaziou.

Nesses 23 anos do 9 de Novembro, é dever de todos nós, como cidadãos, repensar uma nova forma de resguadar a tradição de luta que caracteriza a vida de nosso movimento operário. Nesta empreitada devem caminhar juntos os partidosde esquerda, movimentos socias, o Sindicato dos Metalúrgicos e os setores progressistas do poder público.  É dificil, mas não é impossível.


sábado, 3 de novembro de 2012

Por um novo Partido Político, Reformista e Socialista

Adelson Vidal Alves





A chegada do PT ao poder, e sua consequente capitulação pelo statuos quo, desagregou uma importante ferramenta política de luta dos trabalhadores. O reformismo fraco, para usar um termo utilizado por André Singer, empregado pelo Partido dos Trabalhadores no governo, emperrou mudanças estruturais no país, com o agravante de anestesiar os atores sociais mais ativos da nossa sociedade. Movimentos sociais importantes como a CUT, a UNE e até mesmo parte do MST, se tornaram simples executores das diretrizes políticas do Palácio do Planalto.

Por sua vez, militantes honestos do PT, deixaram a legenda e se apressaram em criar novas legendas que fossem capazes de manter viva o programa original do Partido. A questão é que os tempos mudaram, a correlação de forças mudou, o movimento da luta de classes ganhou novos contornos, e os desafios de um partido político de esquerda são hoje muito mais complexos.

PSOL, PSTU e PCO, são dissidências petistas que trabalham duro para se manterem vivos como alternativas à esquerda do Partido dos trabalhadores. Os dois últimos com atuação quase que exclusiva no campo sindical e estudantil, ainda sim com pouca influência. Já o PSOL desenvolveu suas potencialidades parlamentares, ampliando a cada eleição sua atuação no legislativo. Este ano, conseguiu ainda vitória importante para o Executivo de uma capital: Macapá.

Ainda que importantes na luta dos trabalhadores, tais legendas pecam por suas constantes crises de sectarismo. Ao ocuparem o campo da oposição de esquerda ao PT, não são raras as vezes que o moralismo e o voluntarismo fazem com que espaços importantes na luta hegemônica sejam desperdiçados em nome de uma intransigência regada a mágoa e PTfobia. 

Diante de uma realidade onde o Lulismo absolve por completo as classes subalternas em seu projeto de poder,  que as classes médias evitam radicalismos e desembocam, ora em um PT moderado, ora no PSDB, se faz urgente a construção de um novo partido político, socialista, democrático, reformista e com habilidades para discutir um novo campo político de oposição, em diálogo com setores de centro do espectro político

Um partido que dialogue amplamente com o conjunto da sociedade, que mantenha uma política de alianças dinâmica, que vele pelo valor universal da democracia, e que lute pela construção de um socialismo democrático pelas vias do Estado de direito. Um partido fundado no consenso, no amplo debate de idéias, na estratégia gradualista de ocupação de espaços e uma correta articulação entre luta institucional e social.

Esse novo partido, com base social heterogênea e com critérios programáticos bem definidos, pode ser a médio e longo prazo uma alternativa ao lulismo social-liberal, a direita neoliberal e ao esquerdismo. 

A construção desse processo é exigência histórica do atual momento político do país, mergulhado na pequena política de caráter "americanista", no qual dois partidos disputam o centro do poder, sem se diferenciar essencialmente em suas formas de governar. Um novo partido com caráter de centro-esquerda, seria capaz de capturar para seu projeto parte importante da intelectualidade, da nova classe média, dos movimentos culturais, dos trabalhadores do setor de serviços e do funcionalismo público, assim como dos trabalhadores fabris. 

Um partido reformista, com projetos transformadores e estratégias flexíveis, seria com certeza uma alternativa interessante a anemia do atual debate nacional, que parece consolidar um preocupante quadro estático da disputa pelo poder.