sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Adeus ao MST

Por Adelson Vidal Alves



Todo movimento social nasce de uma determinada demanda social histórica. Quando esta demanda é atendida ele precisa se reinventar ou simplesmente desaparecer, caso contrário, irá subsistir com discursos anacrônicos e arcaicos. É o caso do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) que nasceu em 1984, e depois de viver seu auge no final da década de 80 e toda a década de 90, vê hoje sua razão de existir desaparecer.

O Brasil em que aparece o MST era um país em transição democrática, com a ebulição de uma sociedade civil que renascia com novos atores sociais. Os trabalhadores do campo, que ficaram fora do pacto varguista e foram pouco atendidos na modernização conservadora do regime militar, apareciam no cenário com significativa força, organizando-se em torno de um movimento que propunha a ocupação de terras improdutivas como forma de pressão sobre os governos. A estratégia até que funcionou, de 1995 até hoje foram assentadas  cerca de 1.262.127 famílias. Sem o MST, dificilmente isto teria acontecido.

O fato, porém, é que desde a criação do MST, o Brasil vem passando por um profundo processo de urbanização e modernização de sua produção agrícola. Neste período milhões de pessoas deixaram o campo e migraram para as cidades, deixando suas terras para trás. Isso porque nosso país reconfigurou seu perfil econômico, cultural e espacial. Não somos mais um país agrícola, há tempos nos concentramos nos grandes centros urbanos. A reforma agrária, pensada como democratização da terra, deixou de ser uma necessidade. A divisão das terras já foi feita, e se seguirmos tal distribuição, estaríamos apenas dando sobrevida as famílias beneficiadas com esta política pública, mas com o tempo, seu destino será o de abandonar a terra e se destinar a cidade.

O problema da pobreza rural já não se resolve mais no campo. Tivéssemos um governo inteligente, o INCRA e outros órgãos estatais responsáveis pela reforma agrária estariam trabalhando pela regularização fundiária dos assentamentos que deram certo, fornecendo condições técnicas e financeiras para permanecerem de pé. Caberia ao governo, ainda, trabalhar na reforma urbana, a fim de receber a população do campo que chega, garantindo-lhes mecanismos de adaptação à vida urbana.

Mas o governo federal pensa como o MST, prefere sair distribuindo terras às famílias pobres do campo mantendo-as no campo com programas sociais assistencialistas. Uma opção burra e ineficiente.

Sob a atual situação do país, o MST não tem por que existir. Se existe é porque vive a se amparar em outras bandeiras, como o uso do agrotóxico nos alimentos. Além do mais, sustenta-se na ilusão dos camponeses pobres, aproveitando dos seus sonhos para doutrinar e recrutar soldados para uma causa inexistente. No fim, acabam como massa de manobra, votando no PT e defendendo os interesses da cúpula do movimento.

O MST é hoje uma organização autoritária, inspirada no marxismo-leninismo, cupulista e com financiamento duvidoso. Sua existência é anacrônica, desnecessária e até prejudicial para o processo de amadurecimento democrático do país. Passou a hora de darmos adeus ao MST.


quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Saudades do Carnaval

Por Adelson Vidal Alves



Sinto saudades do carnaval. A festa originalmente cristã- no qual os cristãos se empanturravam de comida antes da abstinência da quaresma- mas que foi se tornando a maior festa popular do planeta. Saudade das marchinhas, que cantavam a tristeza da jardineira, o choro do bebê e a falta de sinceridade da Aurora, tudo na mais sofisticada simplicidade da festa.

Saudades de quando a rua era o palco principal, e não os camarotes milionários da Sapucaí ou os clubes fechados com ingressos caríssimos. Saudades de quando a falta de hierarquia da festa dispensava artistas e celebridades na frente das baterias, todos eram anônimos, festejando a abolição temporária da divisão de classes da sociedade.

Saudades do bloco das piranhas, que encarnava a inversão de valores, com pobres vestindo se de nobres e homens se vestindo de mulher. Saudades de quando as assimetrias físicas marcavam a celebração do humor festivo, hoje substituído pela paranoia de homens e mulheres modelados para um corpo perfeito a ser pateticamente exibido.

Saudades dos foliões e seus tambores, a se fazer parte de um todo, no mesmo chão. Hoje o que se vê são trios elétricos com suas alas VIPs, tocando músicas eletrônicas,  em disputa com carros sonorizados por funk e sertanejo, ritmos estranhos à festa.

Saudades de quando a referência da mulata brasileira não era vulgarmente erotizada por uma emissora de televisão, que troca suas modelos por muitas delas não terem o rostinho de princesa no qual o padrão estético hoje exige.

Saudades das serpentinas, das máscaras, dos confetes, dos abraços ao invés de vandalismos e acertos de contas de gangue. Saudades do carnaval que encarnava os valores comunitários, que festejava a alegria, que interrompia a dura realidade da vida socialmente injusta para encenar a verdadeira comunidade solidária.


Hoje, porém, esse carnaval se perdeu, virou apenas mais uma balada. Saudades, muitas saudades.