terça-feira, 30 de setembro de 2014

Dilma, a candidata dos banqueiros

Por Adelson Vidal Alves



Em Outubro de 2002, às vésperas das eleições, Lula lançou a famosa “Carta ao povo brasileiro”. Nela, comprometia-se em manter os contratos com o capital financeiro. Há quem diga que viajou para o exterior e negociou pessoalmente acordos que favoreceriam os grandes bancos em seu mandato. Logo após a posse, nomeou para o Banco Central Henrique Meirelles, ex-executivo do Bank Boston. Mais tarde, aprovou a Reforma da previdência, que favorecia o poder especulativo e prejudicava os aposentados do setor público.

O PT, desde então, dedicou-se a governar sob as bênçãos do sistema financeiro. Dilma, principalmente, foi a que mais encheu as burras dos banqueiros.  Estudo da consultoria Austin Asis, com base nos balanços do primeiro semestre de 2014, mostra elevação de 25,2% do lucro líquido dos bancos privados em comparação com o mesmo período de 2013. Nos três anos de Dilma, o sistema financeiro nacional lucrou R$ 115,75 bilhões. Quase o dobro dos R$ 63,63 bilhões somados em oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso.

Tanta generosidade da presidenta tem justificativa. Na atual campanha presidencial, são os bancos seus maiores financiadores. Em dois meses, segundo o TSE, Dilma arrecadou R$ 123 milhões de reais junto ao sistema financeiro. De todos os presidenciáveis, é a que mais recebeu. O resultado de tanta submissão está nas pífias previsões de crescimento. As mais otimistas apostam em 0,5% neste ano, resultado de uma política econômica que preserva as mais altas taxas de juros do mundo e segue sangrando grande parte do orçamento da União para pagamento da divida pública.

Dilma é a preferida dos banqueiros porque mostrou fidelidade em sua gestão, deixando o BC autônomo de fato. Seguiu com o câmbio flutuante, empossando em altos postos do Estado homens de confiança do capital especulativo.

Porque Dilma não fez a auditoria da divida externa, aliviando e renegociando o gasto anual com a amortização das dívidas? Se assim fizesse, sobraria ainda mais dinheiro para a educação, a saúde e a geração de empregos.  Por que não fez reformas que controlassem o fluxo dos lucros bancários, taxando sua movimentação e aumentando a arrecadação da União? Sua política econômica seguiu desindustrializando, precarizando os empregos, diminuindo os salários, fechando postos de trabalho e aumentando o desemprego.

Hoje aponta para seus adversários a acusação de serem eles os representantes dos bancos, mas os números mostram que, ao contrário do que diz Dilma, é ela a preferida de quem lucrou em seu governo como nunca lucrou na história. Definitivamente, Dilma é a candidata dos banqueiros.


quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O lugar de Deus

Por Adelson Vidal Alves


O filme “Deus não está morto”, com direção de Harold Cronk e roteiro de Cary Solomon e Chuck Konzelman relata a história do jovem estudante universitário Josh Wheaton, que encontra na Universidade um arrogante professor de filosofia. Este exige de todos os alunos  a escrita em um fichário do termo “Deus está morto”, obrigando-os a aceitar o ateísmo como verdade absoluta. Wheaton corajosamente se dispõe a defender Deus e aceita o desafio de debater racionalmente com o professor sua existência diante de toda a turma. No final do filme o jovem calouro derrota seu professor, que acaba morto em um acidente de carro, logo após aceitar Jesus. Os ingredientes da trama ainda incluem uma jovem muçulmana que é expulsa de casa logo após seu pai descobrir sua conversão ao cristianismo.

O filme tem tom apologético. Desta forma, não é justo que lhe exija uma crítica para além do que é: mais uma linha de frente de atuação do proselitismo cristão. Isto é, não se pode esperar do filme nada além do que puro louvor ao cristianismo, com o roteiro que repete os cansativos sermões que povoam o vocabulário protestante dominical.

O perigo, no entanto, é que ao alcançar as telas do cinema, filmes deste ramo não se propõem apenas a difundir sua fé, mas desqualificar e até demonizar outras crenças. Em “Deus não está morto” o ateu é apresentado como aquele que rejeitou Deus simplesmente por frustração diante de um fato pessoal. Por sua rebeldia, o personagem perdeu a vida e a esposa. O islamismo é tratado como naturalmente fundamentalista, que passa por cima de sentimentos paternais em nome de uma fé radical. E o pior: o filme tenta demonstrar que o a existência de Deus pode perfeitamente frequentar os laboratórios de ciência e os labirintos racionais da filosofia.

O título da trama, que ironiza a famosa frase de Friedrich Nietzsche “Deus está morto” consagra o caminho que sociedades, como a norte americana, tentam trilhar, ou seja, o de usar da ciência para provar Deus, de fazer das leituras literais da bíblia, em si uma obra com mitos perfeitamente explicáveis para seu tempo, compêndios científicos. A mensagem do filme é clara: a razão e a ciência provam Deus.

Bem longe de querermos fechar o debate sobre a divindade suprema, deveríamos garantir o lugar epistemológico da fé. No momento em que Deus adentra parlamentos, universidades e a medicina, o prejuízo é grande, testemunhos não faltam.  Temos que nos convencer que crer em um ente supremo é de escolha íntima e dispensa provas. Também a ciência não tem qualquer interesse em penetrar espaços metafísicos.

Se há ateus que de fato menosprezam a religiosidade como simples “delírio”, há também quem sofra por sua escolha pessoal. Se há crentes que só querem viver sua fé em conformidade com a diversidade cultural que o cerca, há também quem não se contente com seu rebanho, buscando ampliá-lo por métodos doutrinadores e perigosos. Os ideólogos de “Deus não está morto” pertencem a este último grupo.



quarta-feira, 24 de setembro de 2014

O erro de Aécio

Por Adelson Vidal Alves


Quando favorito no campo oposicionista, Aécio fazia apelo à união das oposições contra o PT. Bastou Marina entrar nas eleições para tudo mudar. O ex-governador de Minas Gerais se curvou a seu próprio personalismo, liderando uma campanha caluniosa que iguala Marina, e tudo que ela representa, ao PT.

Erra, pois tudo indica que a ex-senadora será a candidata das oposições no segundo turno, e que é ela a melhor candidata para derrotar Dilma. A contribuição de Aécio neste primeiro turno tem sido o de distanciar pontos convergentes das oposições, de promover desgastes e quebrar laços de alianças que deveriam ficar sólidos para um histórico enfrentamento de segundo-turno.

Falou mais alto o projeto cego do poder, que desconsiderou a necessidade de manter respeitoso diálogo no campo das oposições, a fim de que este consiga chegar saudável num momento no qual o que mais vale é encerrar o ciclo petista.

Ao atacar Marina raivosamente, Aécio fornece combustível para os governistas e enfraquece a figura de Marina, fragmentando a oposição e favorecendo até mesmo uma recuperação de Dilma nas pesquisas. Aécio deveria aceitar um debate equilibrado, de modo que o sentimento anti-Dilma e anti-PT decidisse melhor seu candidato, e não denegrir Marina, atirando-a para o lado governista quando esta sofre as maiores covardias vinda do Planalto.

Vivemos um momento de decisão, no qual o Brasil, majoritariamente, se coloca a favor das mudanças, e na maioria eleitoral comprova-se o esgotamento do atual governo. Mas nada cairá de maduro, e como dizia Gramsci, se o velho morre e o novo não nasce, vemos ressurgir fenômenos mórbidos. Se as oposições não afinarem seus objetivos, se não articularem suas convergências de olho na abertura de um novo ciclo político no país, é possível que o velho renasça, e o que se propõem novo e alternativo sofrerá uma derrota de proporções incalculáveis. Seria a perda de uma oportunidade histórica, para as oposições, para o Brasil e para a democracia.



quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A ruína moral e política do MST

Por Adelson Vidal Alves


O MST (Movimento dos trabalhadores rurais sem terra) nasceu na década de 80, período brasileiro marcado por significativa ascensão das lutas sociais. Propunha organizar a luta dos pobres do campo, por uma reforma agrária que democratizasse a terra e incentivasse a produção de alimentos para consumo interno. Hoje, três décadas depois, o MST se vê dentro de um Brasil diferente. Economicamente sólido, democraticamente avançado e em pleno desenvolvimento social. Motivo pelo qual pesquisadores do porte de Zander Navarro argumentam que a reforma agrária defendida pelo movimento já não teria razão de existir, assim como o próprio MST. Hoje, a existência desta organização só é possível ciscando em outros terrenos da luta social.

Seja como for, o que nos interessa neste artigo tem a ver muito mais com o atual comportamento do movimento do que com a profunda discussão sobre suas bandeiras de luta. Falo de um MST que vem se degenerando moralmente, e internamente regredindo para práticas autoritárias. Não cito apenas o confronto diário do movimento contra o Estado de direito, através das invasões de terras e depredações às propriedades públicas e privadas, mas, principalmente, do modelo ideológico que faz uso na doutrinação de seus membros. O MST atual recruta pobres do campo, que sonham com um pedaço de terra. Empurram goela abaixo sua doutrina, cria currais eleitorais, toma decisões de cima pra baixo e usa camponeses pobres como massa de manobra.

Suas lideranças, principalmente João Pedro Stédile, fazem parte de uma tropa da sociedade civil que protege os governos petistas. Este líder, por exemplo, ameaçou guerra caso Aécio vencesse a eleição, depois, prometeu protestos diários caso Marina virasse presidente. Por fim, ofereceu seu apoio a Dilma.

Estranho, porque números recentes do INCRA mostram que o governo Dilma foi o que menos desapropriou terras para a reforma agrária desde o governo Collor. A justificativa para o apoio vem dos cofres do Planalto, que patrocinam invasões de terras, megaeventos como o Abril vermelho e até mesmo o sustento de lideranças como Stédile.

A luta por uma nova reforma fundiária deve permanecer, mas deve respeitar a modernização da vida agrícola, do desenvolvimento da democracia institucional, dos avanços sociais e da mudança na estrutura econômica nacional e internacional. O MST se mostra incompetente para esta tarefa, não faz sentido insistir em seu programa arcaico e autoritário. Precisamos de uma nova pauta agrícola, moderna e combinada com o que exige nossa sofisticada ordem democrática.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Declaração de votos

Por Adelson Vidal Alves


Já decidi meus candidatos para estas eleições. Abaixo esclareço os motivos de minhas escolhas.

Para deputado estadual darei mais um voto em Nelson Gonçalves. Homem público de experiência comprovou competência e honestidade em seus mandatos. Trabalhou e trabalha arduamente pela região sul fluminense, sem deixar de honrar seus compromissos com todo o estado. Politicamente de centro, é obediente às diretrizes constitucionais do Estado de direito. Como parlamentar advogou as causas republicanas, tendo em seu comportamento a característica de ótimo articulador, integrando bases de governo sem jamais aderir ao governismo. Foi ponte de diálogo entre o poder público e a sociedade civil, o que o credenciou como um político sem dogmas, sensível aos problemas de todos os setores sociais.

Para deputado federal meu voto será de Stepan Nercessian. Conhecendo seu mandato percebi seu compromisso com a ética, a democracia e a cultura. Além do mais, representa o PPS - partido político que já há algum tempo tenho tomado como referência em minhas escolhas- e que é herdeiro da boa tradição comunista, hoje um defensor e lutador a favor da democracia.

Para o Senado vou de Romário. Como deputado federal o “baixinho” soube articular pautas interessantes, como o poder no futebol, os deficientes e também questões de interesse social e educacional. Foi uma grata surpresa. Mesmo errando ao se aproximar do PT, parece ser a melhor escolha para o senado no estado do Rio de Janeiro.

Ao governo do estado escolhi Pezão. Um homem de nossa terra, humilde, sincero e de sensibilidade para diálogos. Saiu de um governo que errou muito, porém, sendo muitas vezes voz progressista dentro deste, sobretudo, na questão educacional, onde foi exemplo de gestor como prefeito da pequena e charmosa Piraí.

Para presidente da República sou Marina Silva. Desejo iniciar um novo ciclo de governo, que se firme como um terceiro caminho frente a PT e PSDB, que se revezam no poder há 20 anos. Marina lidera uma coligação política heterogênea, com eixo progressista e democrático. Vem se propondo uma atualização da política e a construção de uma governança de corte nacional, quebrando a cultura de divisão estabelecida pelo ódio recíproco entre petistas e tucanos no poder, que deságua quase sempre em irracionalidade. Mesmo assim jamais se propôs a destruir tudo que foi feito até aqui, sua humildade republicana faz com que seja capaz de reconhecer os acertos de seus antecessores, sem pretensões de um discurso fundacional.

Estes são meus candidatos, escolhidos a partir de meus princípios realistas, sem apostas aventureiras ou radicalismos utópicos. Espero que, caso vençam, honrem os compromissos que ora fazem com seus eleitores.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Evangelicofobia


Por Adelson Vidal Alves

O cenário religioso brasileiro é de crescimento das igrejas evangélicas. Não falamos do protestantismo histórico, mas de segmentos pentecostais, que apimentaram sua liturgia com danças, milagres e promessas de prosperidade terrena. O credo evangélico que se concentra na salvação da alma não tem crescido, ou crescido de forma pequena.

Os neopentecostais, ainda, são os que se aventuram na vida política. Formaram uma bancada parlamentar poderosa, capaz de usar seu poder de fogo contra pautas polêmicas da vida política, como o casamento gay e o aborto. A eleição de parlamentares ligados a este setor depende exclusivamente de seus próprios rebanhos.

Tudo isso, porém, não nos autoriza a propagar um preconceito contra o protestantismo, proliferando um discurso de desqualificação, do tipo que trata todos os evangélicos como bitolados, fanáticos, ignorantes e obedientes de seus líderes. O mundo evangélico é complexo e diversificado. Tem, é verdade, uma significativa parte de pessoas com baixa educação, seduzidas com facilidade pelas palavras de suas lideranças. Mas já há algum tempo tem crescido a participação de professores, artistas, profissionais liberais, empresários, grupos bem mais esclarecidos com significativo pensamento crítico neste meio.

Como religião, fundada numa leitura literal da bíblia, apresenta ao mundo uma visão conservadora da política e da moral. Mas sabemos que não são apenas evangélicos que são contra a descriminalização do aborto e a legalização da maconha. O conservadorismo brasileiro tem raízes múltiplas, do qual o protestantismo vem contribuindo para seu fortalecimento, mas não é o elemento fundador.

Devemos reconhecer a existência de setores progressistas neste meio, perfeitamente interessados em debater temas da cidadania e da justiça social sem passar necessariamente por dogmas. Além do mais, mesmo os grupos mais à direita, tem o direito de se organizarem e atuarem no cenário público, desde que respeitando as regras da democracia laica. Não se pode uniformizar o “crente” como sendo o “homofóbico”, o “machista” e o “reacionário”. Nem se pode tolerar que rotulações como essa virem desculpa para ações autoritárias, do tipo “beijaço gay” na porta de templos religiosos. Nem todos que estão lá são contra a prática homossexual, e mesmo que fossem, devem ter garantido o direito de liberdade de culto, sem serem incomodados.

O Brasil, inflado por uma esquerda caduca, corre riscos de “evangelicofobia”, com os perigos que recaem a qualquer tipo de pré-conceito. Dá-se corpo a ideia de que onde estão os evangélicos está o pensamento obscuro, a intolerância e o fanatismo.

Ainda que sabendo da inclinada conservadora do neopentacostalismo, não é de bom grado colocar todos no mesmo saco. Evangélicos são cidadãos, e como todo segmento social, contém núcleos com posições discutíveis, mas o que esperamos é que sempre sejam discutíveis, sem que se tente fazer de tais posições algo proibido de se discutir. Quando isso acontece, empobrece-se a democracia.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Quatro mentiras sobre Marina

Por Adelson Vidal Alves


Primeira mentira: Marina é fundamentalista religiosa. A ex-senadora é evangélica, como poderia ser ateia, budista ou xintoísta. Tem suas convicções pessoais de fé, mas jamais fez delas norte para sua atuação política. O fundamentalista é aquele que olha suas ideias como verdades absolutas, sendo incapaz de reconhecer legitimidade em outras visões. Não parece ser o caso de uma candidata que formulou um programa de governo ouvindo todos os setores da sociedade.

Segunda mentira: Marina é homofóbica. Ora, Marina Silva foi a única dos presidenciáveis com condições de vitória que teve coragem de colocar em seu programa de governo temas relacionados às reivindicações do público LGBT. Mesmo quando “recuou”, manteve espaço aberto para fazer avançar conquistas deste segmento social. Nem Dilma e nem Aécio citaram algo sobre diversidade sexual em seus programas.  Ela pode ter sua opinião sobre a questão homossexual, é seu direito, o que não pode é fazer, desta, motivo para negar direitos aos gays. E isso ela jamais fez, pelo contrário, se mostrou disposta a dialogar democraticamente.

Terceira Mentira: Marina é inexperiente. Marina atou como senadora. Foi deputada e Ministra do Meio ambiente. Participou de lutas sociais no Acre, ajudou a fundar partidos e movimentos sociais. Chega à disputa presidencial com mais experiência que Lula em sua primeira candidatura.

Quarta mentira: Marina é da direita neoliberal. Marina Silva tem acenado para setores conservadores e o mercado financeiro. Isto, porém, não a faz um quadro da direita ou do neoliberalismo. A presidenciável reuniu em torno de si setores progressistas, ligados a mais avançada e democrática concepção de esquerda. O seu esforço vem sendo no sentido de tentar colocar em diálogo variados grupos sociais e políticos, capazes de estabelecer uma governabilidade moderna. Esta, capaz de resolver os conflitos do mundo atual de forma cívica, tendo na política o único terreno para o êxito desta tarefa. Não é, assim, representante seja da direita “pura” ou da esquerda “pura”. Talvez se localize no campo do centro-esquerda, com alta convicção democrática.

Estes quatro itens vem sendo utilizados como forma de desqualificação da candidatura de Marina Silva. Faz parte de uma estratégia eleitoral- das mais baixas- de quem teme o novo, de quem teme perder o poder.
Podemos e devemos escolher o novo governante com as devidas liberdades, porém, sempre atentos às informações distorcidas que se produzem em busca do seu voto.