Por Adelson Vidal Alves
O cenário religioso brasileiro é
de crescimento das igrejas evangélicas. Não falamos do protestantismo histórico,
mas de segmentos pentecostais, que apimentaram sua liturgia com danças,
milagres e promessas de prosperidade terrena. O credo evangélico que se
concentra na salvação da alma não tem crescido, ou crescido de forma pequena.
Os neopentecostais, ainda, são
os que se aventuram na vida política. Formaram uma bancada parlamentar
poderosa, capaz de usar seu poder de fogo contra pautas polêmicas da vida
política, como o casamento gay e o aborto. A eleição de parlamentares ligados a
este setor depende exclusivamente de seus próprios rebanhos.
Tudo isso, porém, não nos
autoriza a propagar um preconceito contra o protestantismo, proliferando um
discurso de desqualificação, do tipo que trata todos os evangélicos como
bitolados, fanáticos, ignorantes e obedientes de seus líderes. O mundo
evangélico é complexo e diversificado. Tem, é verdade, uma significativa parte
de pessoas com baixa educação, seduzidas com facilidade pelas palavras de suas
lideranças. Mas já há algum tempo tem crescido a participação de professores,
artistas, profissionais liberais, empresários, grupos bem mais esclarecidos com
significativo pensamento crítico neste meio.
Como religião, fundada numa
leitura literal da bíblia, apresenta ao mundo uma visão conservadora da política
e da moral. Mas sabemos que não são apenas evangélicos que são contra a descriminalização
do aborto e a legalização da maconha. O conservadorismo brasileiro tem raízes
múltiplas, do qual o protestantismo vem contribuindo para seu fortalecimento,
mas não é o elemento fundador.
Devemos reconhecer a existência
de setores progressistas neste meio, perfeitamente interessados em debater
temas da cidadania e da justiça social sem passar necessariamente por dogmas.
Além do mais, mesmo os grupos mais à direita, tem o direito de se organizarem e
atuarem no cenário público, desde que respeitando as regras da democracia
laica. Não se pode uniformizar o “crente” como sendo o “homofóbico”, o “machista”
e o “reacionário”. Nem se pode tolerar que rotulações como essa virem desculpa
para ações autoritárias, do tipo “beijaço gay” na porta de templos religiosos. Nem
todos que estão lá são contra a prática homossexual, e mesmo que fossem, devem
ter garantido o direito de liberdade de culto, sem serem incomodados.
O Brasil, inflado por uma
esquerda caduca, corre riscos de “evangelicofobia”, com os perigos que recaem a
qualquer tipo de pré-conceito. Dá-se corpo a ideia de que onde estão os
evangélicos está o pensamento obscuro, a intolerância e o fanatismo.
Ainda que sabendo da inclinada
conservadora do neopentacostalismo, não é de bom grado colocar todos no mesmo
saco. Evangélicos são cidadãos, e como todo segmento social, contém núcleos com
posições discutíveis, mas o que esperamos é que sempre sejam discutíveis, sem
que se tente fazer de tais posições algo proibido de se discutir. Quando isso
acontece, empobrece-se a democracia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário