quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Evangelicofobia


Por Adelson Vidal Alves

O cenário religioso brasileiro é de crescimento das igrejas evangélicas. Não falamos do protestantismo histórico, mas de segmentos pentecostais, que apimentaram sua liturgia com danças, milagres e promessas de prosperidade terrena. O credo evangélico que se concentra na salvação da alma não tem crescido, ou crescido de forma pequena.

Os neopentecostais, ainda, são os que se aventuram na vida política. Formaram uma bancada parlamentar poderosa, capaz de usar seu poder de fogo contra pautas polêmicas da vida política, como o casamento gay e o aborto. A eleição de parlamentares ligados a este setor depende exclusivamente de seus próprios rebanhos.

Tudo isso, porém, não nos autoriza a propagar um preconceito contra o protestantismo, proliferando um discurso de desqualificação, do tipo que trata todos os evangélicos como bitolados, fanáticos, ignorantes e obedientes de seus líderes. O mundo evangélico é complexo e diversificado. Tem, é verdade, uma significativa parte de pessoas com baixa educação, seduzidas com facilidade pelas palavras de suas lideranças. Mas já há algum tempo tem crescido a participação de professores, artistas, profissionais liberais, empresários, grupos bem mais esclarecidos com significativo pensamento crítico neste meio.

Como religião, fundada numa leitura literal da bíblia, apresenta ao mundo uma visão conservadora da política e da moral. Mas sabemos que não são apenas evangélicos que são contra a descriminalização do aborto e a legalização da maconha. O conservadorismo brasileiro tem raízes múltiplas, do qual o protestantismo vem contribuindo para seu fortalecimento, mas não é o elemento fundador.

Devemos reconhecer a existência de setores progressistas neste meio, perfeitamente interessados em debater temas da cidadania e da justiça social sem passar necessariamente por dogmas. Além do mais, mesmo os grupos mais à direita, tem o direito de se organizarem e atuarem no cenário público, desde que respeitando as regras da democracia laica. Não se pode uniformizar o “crente” como sendo o “homofóbico”, o “machista” e o “reacionário”. Nem se pode tolerar que rotulações como essa virem desculpa para ações autoritárias, do tipo “beijaço gay” na porta de templos religiosos. Nem todos que estão lá são contra a prática homossexual, e mesmo que fossem, devem ter garantido o direito de liberdade de culto, sem serem incomodados.

O Brasil, inflado por uma esquerda caduca, corre riscos de “evangelicofobia”, com os perigos que recaem a qualquer tipo de pré-conceito. Dá-se corpo a ideia de que onde estão os evangélicos está o pensamento obscuro, a intolerância e o fanatismo.

Ainda que sabendo da inclinada conservadora do neopentacostalismo, não é de bom grado colocar todos no mesmo saco. Evangélicos são cidadãos, e como todo segmento social, contém núcleos com posições discutíveis, mas o que esperamos é que sempre sejam discutíveis, sem que se tente fazer de tais posições algo proibido de se discutir. Quando isso acontece, empobrece-se a democracia.

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