Por Adelson Vidal Alves
O filme “Deus não está morto”, com
direção de Harold Cronk e
roteiro de Cary Solomon e Chuck Konzelman relata a história do jovem estudante
universitário Josh Wheaton, que encontra na Universidade um arrogante
professor de filosofia. Este exige de todos os alunos a escrita em um fichário do termo “Deus está
morto”, obrigando-os a aceitar o ateísmo como verdade absoluta. Wheaton
corajosamente se dispõe a defender Deus e aceita o desafio de debater
racionalmente com o professor sua existência diante de toda a turma. No final
do filme o jovem calouro derrota seu professor, que acaba morto em um acidente
de carro, logo após aceitar Jesus. Os ingredientes da trama ainda incluem uma
jovem muçulmana que é expulsa de casa logo após seu pai descobrir sua conversão
ao cristianismo.
O filme
tem tom apologético. Desta forma, não é justo que lhe exija uma crítica para
além do que é: mais uma linha de frente de atuação do proselitismo cristão.
Isto é, não se pode esperar do filme nada além do que puro louvor ao
cristianismo, com o roteiro que repete os cansativos sermões que povoam o
vocabulário protestante dominical.
O
perigo, no entanto, é que ao alcançar as telas do cinema, filmes deste ramo não
se propõem apenas a difundir sua fé, mas desqualificar e até demonizar outras
crenças. Em “Deus não está morto” o ateu é apresentado como aquele que rejeitou
Deus simplesmente por frustração diante de um fato pessoal. Por sua rebeldia, o
personagem perdeu a vida e a esposa. O islamismo é tratado como naturalmente
fundamentalista, que passa por cima de sentimentos paternais em nome de uma fé
radical. E o pior: o filme tenta demonstrar que o a existência de Deus pode
perfeitamente frequentar os laboratórios de ciência e os labirintos racionais
da filosofia.
O título
da trama, que ironiza a famosa frase de Friedrich Nietzsche “Deus está morto” consagra o
caminho que sociedades, como a norte americana, tentam trilhar, ou seja, o de
usar da ciência para provar Deus, de fazer das leituras literais da bíblia, em
si uma obra com mitos perfeitamente explicáveis para seu tempo, compêndios
científicos. A mensagem do filme é clara: a razão e a ciência provam Deus.
Bem
longe de querermos fechar o debate sobre a divindade suprema, deveríamos
garantir o lugar epistemológico da fé. No momento em que Deus adentra
parlamentos, universidades e a medicina, o prejuízo é grande, testemunhos não
faltam. Temos que nos convencer que crer
em um ente supremo é de escolha íntima e dispensa provas. Também a ciência não
tem qualquer interesse em penetrar espaços metafísicos.
Se há
ateus que de fato menosprezam a religiosidade como simples “delírio”, há também
quem sofra por sua escolha pessoal. Se há crentes que só querem viver sua fé em
conformidade com a diversidade cultural que o cerca, há também quem não se
contente com seu rebanho, buscando ampliá-lo por métodos doutrinadores e
perigosos. Os ideólogos de “Deus não está morto” pertencem a este último grupo.
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