quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O lugar de Deus

Por Adelson Vidal Alves


O filme “Deus não está morto”, com direção de Harold Cronk e roteiro de Cary Solomon e Chuck Konzelman relata a história do jovem estudante universitário Josh Wheaton, que encontra na Universidade um arrogante professor de filosofia. Este exige de todos os alunos  a escrita em um fichário do termo “Deus está morto”, obrigando-os a aceitar o ateísmo como verdade absoluta. Wheaton corajosamente se dispõe a defender Deus e aceita o desafio de debater racionalmente com o professor sua existência diante de toda a turma. No final do filme o jovem calouro derrota seu professor, que acaba morto em um acidente de carro, logo após aceitar Jesus. Os ingredientes da trama ainda incluem uma jovem muçulmana que é expulsa de casa logo após seu pai descobrir sua conversão ao cristianismo.

O filme tem tom apologético. Desta forma, não é justo que lhe exija uma crítica para além do que é: mais uma linha de frente de atuação do proselitismo cristão. Isto é, não se pode esperar do filme nada além do que puro louvor ao cristianismo, com o roteiro que repete os cansativos sermões que povoam o vocabulário protestante dominical.

O perigo, no entanto, é que ao alcançar as telas do cinema, filmes deste ramo não se propõem apenas a difundir sua fé, mas desqualificar e até demonizar outras crenças. Em “Deus não está morto” o ateu é apresentado como aquele que rejeitou Deus simplesmente por frustração diante de um fato pessoal. Por sua rebeldia, o personagem perdeu a vida e a esposa. O islamismo é tratado como naturalmente fundamentalista, que passa por cima de sentimentos paternais em nome de uma fé radical. E o pior: o filme tenta demonstrar que o a existência de Deus pode perfeitamente frequentar os laboratórios de ciência e os labirintos racionais da filosofia.

O título da trama, que ironiza a famosa frase de Friedrich Nietzsche “Deus está morto” consagra o caminho que sociedades, como a norte americana, tentam trilhar, ou seja, o de usar da ciência para provar Deus, de fazer das leituras literais da bíblia, em si uma obra com mitos perfeitamente explicáveis para seu tempo, compêndios científicos. A mensagem do filme é clara: a razão e a ciência provam Deus.

Bem longe de querermos fechar o debate sobre a divindade suprema, deveríamos garantir o lugar epistemológico da fé. No momento em que Deus adentra parlamentos, universidades e a medicina, o prejuízo é grande, testemunhos não faltam.  Temos que nos convencer que crer em um ente supremo é de escolha íntima e dispensa provas. Também a ciência não tem qualquer interesse em penetrar espaços metafísicos.

Se há ateus que de fato menosprezam a religiosidade como simples “delírio”, há também quem sofra por sua escolha pessoal. Se há crentes que só querem viver sua fé em conformidade com a diversidade cultural que o cerca, há também quem não se contente com seu rebanho, buscando ampliá-lo por métodos doutrinadores e perigosos. Os ideólogos de “Deus não está morto” pertencem a este último grupo.



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