segunda-feira, 31 de outubro de 2011

UMA NOTA: II Conferência Estadual de Juventude e a voz do Interior do Rio

Por Adelson Vidal Alves

           Participei neste fim de semana da II Conferência Estadual de Juventude do Rio de Janeiro. A exemplo da primeira faltou-se organização, democracia e cumprimento a horários, assim como maior rigor em questões organizativas que abriu espaços para credenciamentos duvidosos.
           Entretanto algo de novo emergiu das bases conferenciais. A capital carioca, sempre acostumada a ditar as regras e arrogantemente se posicionar como tuteladora do interior Fluminense, pode sentir na pele como nunca a organização dos municipios do Iiterior, que foram fiéis da balança na composição das chapas de delegados a nacional.
          Apesar da pressão das burocracias partidárias os delegados dos municipios do interior compreenderam a particularidade de suas demandas locais, quase nunca olhadas pelos delegados dos seus respectivos partidos, e assim se aliaram a um grande bloco de municipios que democraticamente consolidou a voz do interior na Conferência Nacional.
          A Conferência serviu também como alerta ao governo Estadual, reprovado em todos os aspectos de sua governança. Mesmo as juventudes organizadas em torno de partidos com base no governo apoiaram moções de repudio a Cabral e sua politica de segurança e educação.
          O saldo foi algo extremamente positivo e abre um novo ciclo na politica de Juventude Fluminense. Contaremos com a juventude organizada e com a compreensão dos governos para a concretização de um novo tempo juvenil no interior do Estado.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Orlando Silva e a retórica do golpismo

Por Adelson Vidal Alves

           
           A denúncia do desvio de mais de 20 milhões de reais no Ministério dos Esportes criou mais uma crise política no Governo Dilma. A acusação do Policial militar João Dias ferreira na revista Veja de que o próprio Ministro dos Esportes Orlando Silva comandava um esquema de desvio de verba em beneficio do PC do B logo caiu na mídia como mais um tema constrangedor de corrupção no governo da presidenta petista.
           O Ministro se apressou em prestar esclarecimentos no congresso nacional, afirmando não haver provas contra ele. No plenário um grupo de militantes do PC do B se adiantavam em garantir a inocência de Orlando e acusar mais uma vez a mídia de golpista e agir contra a estabilidade do governo.
            Não há provas contra o Ministro, assim como se presume não haver contra Maluf, Sarney, Antonio Palloci, João Paulo Cunha, livres da justiça inclusive para voltar aos cargos públicos. Há de se lembrar que ainda hoje o presidente Lula diz não haver provas da existência do mensalão.
            Não há duvidas do caráter parcial da mídia, principalmente em relação a revista Veja, historicamente empenhada em perseguir partidos e movimentos populares. Também não se questiona o uso político por parte da oposição e desta mesma imprensa como forma de ferir o governo de Dilma, que assim como o de Lula não nutrem simpatia alguma. Daí imaginar que um belo dia o senhor Dias acordou e montou sozinho toda uma história de garagens, ONGs e dinheiro desviado com o unico fim de se vingar das cobranças de devolução de mais de 3 milhões de reais que o Ministro cobra do PM, é no mínimo ingenuidade.
           Os dirigentes e militantes do PC do B invocam a negritude do Ministro, as raizes nordestinas assim como sua opção ideológica como forma de justificar uma injusta perseguição das "elites" a Orlando Silva. Em outras stuações cobraram investigação e punição, desta vez se antecipam a justiça quanto a inocência do Ministro.
           Com ou sem imprensa golpista, é fato que a cada dia se torna nu a sistematização da corrupção estatal que só vai parar em revistas de direita ou em jornais conservadores pela ausência de uma reforma política forte e democrática que de fato poderia inibir a ações de agentes públicos avarentos e comprometidos com beneficios próprios.
          Orlando Silva deve sim esclarecer as denuncias, e os governistas abandonarem a paranóia da imprensa golpista e cobrar ética de quem fora do poder tanto gritou e hoje se vitimiza como contra-discurso. Se Orlando silva é culpado ou inocente a sociedade precisa saber, através dos fatos e investigações, bem longe da retórica golpista do governo e da politicagem hipócrita da opósição e da imprensa.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Teologia da Libertação, O cristianismo que o Papa detesta

Por Adelson Vidal Alves

                



             Em meados da década de 1960 surge na América Latina uma interessante proposta de vivência de fé. Na base da igreja católica emergiram formas de religiosidade que colocavam os pobres como centro da prática evangélica. Neste momento aparece uma nova experiência eclesial, descentralizada, democrática e extremamente preocupada com as questões sociais. Tais práticas eram teoricamente iluminadas pelo que veio  a ser chamada "teologia da Libertação", pensada e difundida por teólogos como Gustavo Gutierrez, Hugo Asmann e Leonardo Boff, pensadores cristãos que propunham uma práxis cristã articulada com a ação de libertação dos pobres.
               A teologia da Libertação teve forte influência na política da América Latina, a ponto de um certo presidente norteamericano admitir que ela era mais perigosa que o comunismo. O que mais incomodava os donos do poder era o fato de existir um cristianismo que ao invés de prometer vida próspera no céu organizava os pobres para a vida digna aqui mesmo na terra e denunciava publicamente o sistema de produção como produtor de miséria e desigualdade social.
               O Vaticano se apressou em condenar o que eles consideraram uma "teologia Marxista". A aliança historica com os poderosos cegou a igreja para uma teologia que resgatava a simplicidade do evangelho e mostrava serem os pobres sujeitos de sua própria libertação.
               O centro desta teologia não é Marx, mas sim Cristo, acontece que como teologia nascente da vida concreta do povo é plausível que se busque ferramentas analíticas nas ciências sociais como orientação de atuação prática.  O marxismo foi o instrumento que mostrou a pobreza como resultado de relações sociais injustas e que por isso só seria eliminada com a construção de um outro ordenamento econômico, mais humano e solidário. Não há nenhuma contradição nisso, o cristianismo das CEBs (Comunismo eclesiais de base) organizavam suas lutas a luz do Evangelho e não do O Capital. Condenar a TL por ser ela marxista é no mínimo um reducionismo estúpido ou de má fé.
             Mas a cúpula católica enxergava nesta nova forma de organização eclesial uma afronta a sua hierarquia e valores tradicionais. João Paulo II e agora o Papa bento XVI trabalharam duro para enfraquecer qualquer expressão de fé que lembrasse a teologia da libertação. Para tal excomungou, perseguiu e condenou bispos, padres e teólogos que trabalhassem com este olhar teológico, caso conhecido foi do ex-frei Franciscano Leonardo Boff, condenado ao silencio obsequioso por denunciar em livro a "opção preferencial pelos ricos", historicamente praticada pela igreja.
             Hoje, depois de tantos ataques, a teologia da libertação e as CEBs praticamente desapareceram, em seu lugar um tradicionalismo frio e arcaico do vaticano e a pirotecnia alienadora da Renovação carismática. Ambos tem a benção dos poderosos.



terça-feira, 4 de outubro de 2011

Lutar por democracia é lutar pelo socialismo

Por Adelson Vidal Alves



             A consolidação das democracias modernas se deu em meio a luta de classes. A burguesia como classe dirigente, depois de alcançado seus objetivos, trabalhou duro para combater a expansão da democratização. Os primeiros governos ditos liberais resumiam a democracia a um caráter meramente representativo, com mecanismos elitizados de escolha e sufocamento dos espaços de participação popular. Conquistas como o sufrágio universal, o pluripartidarismo, a livre associação sindical e a liberdade de imprensa são frutos de luta das classes subalternas. 
           Há alguns marxistas que ainda hoje pensam a democracia como uma etapa estratégica para a conquista do poder proletário. Para isso se utilizam dos textos de Marx e Lênin, que caracterizam a democracia como uma ditadura disfarçada da burguesia, e que para tal deveria ser utilizada como forma de luta, mas suas instituições destruidas na medida em que os trabalhadores chegassem ao poder.
           As instituições democráticas modernas são resultados de uma longa batalha social por maior socialização do poder. O parlamento, os governos eleitos pelo voto direto, os sindicatos e a midia são orgãos de disputa pelas classes populares, organismos indispensáveis para a garantia da participação do povo nas grandes decisões da nação. Precisam ser amadurecidos, aperfeiçoados, repensados, mas jamais destruidos. A expansão do capitalismo não só criou as bases econômicas para a construção do socialismo como também estabeleceu alicerces políticos para a consolidação de uma nova ordem social em conformidade com uma democracia plena.
           Nossa luta pelo socialismo, assim, não deve ser contra a democracia, mas por dentro dela e com ela. Devemos lutar por reformas que cada vez mais dinamizem uma cultura de autogestão, de participação direta na esfera do poder das camadas excluidas e de uma democratização social, econômica e cultural.
           Descarta-se assim a possibilidade de uma revolução de tipo bolchevique, numa tomada abrupta do poder. O Estado moderno se difere do modelo que viveram Marx e Lênin, que teriam assim motivos de ver neles apenas um "comitê executivo das classes dominantes". Em sua forma atual ele se estende a uma esfera de ser social que Gramsci chamou de "sociedade civil", onde estão materializados a disputa hegemônica da ideologia, através dos "aparelhos privados de hegemonia", conceito gramsciano que engloba todos os orgão de difusão ideológica e de livre associação, tais como a igreja, a escola, midia, partidos politicos etc. Neste novo espaço estatal (já que percebemos claramente relações de poder) prevalece mecanismos de consenso, já que na complexidade das sociedades contemporâneas não se garante o poder apenas pela coerção. Gramsci observou bem que é na sociedade civil onde os socialistas devem travar a disputa primária pelo poder, tendo em vista que antes de ser classe dominante é preciso ser classe dirigente.
          As forças sociais ligadas aos setores populares devem colocar assim na ordem do dia o aprofundamento da democracia em todo mundo, respeitando as realidades e limitações locais. Motivo pelo qual se torna incompreensivel o apoio de parte da esquerda ao ditador Kadaffi. Mesmo que em situação contestável a chegada de valores democráticos a Líbia é de longe um avanço em relação a ditadura sanguinária das ultimas 4 décadas.
           No Brasil nossa jovem democracia precisa de ajustes e avanços, mas mostra significativa solidez, o que sugere que os lutadores de esquerda devam aproveitar estes avanços e travar uma luta por seu aprofundamento, que na prática significa uma luta pelo socialismo.