segunda-feira, 30 de maio de 2011

Deus nos Livre de um país evangélico

Pastor Ricardo Gondim

Belíssimo texto do Pastor Ricardo Gondim, um grande cristão

Começo este texto com uns 15 anos de atraso. Eu explico. Nos tempos em que outdoors eram permitidos em São Paulo, alguém pagou uma fortuna para espalhar vários deles, em avenidas, com a mensagem: “São Paulo é do Senhor Jesus. Povo de Deus, declare isso”.
Rumino o recado desde então. Represei qualquer reação, mas hoje, por algum motivo, abriu-se uma fresta em uma comporta de minha alma. Preciso escrever sobre o meu pavor de ver o Brasil tornar-se evangélico. A mensagem subliminar da grande placa, para quem conhece a cultura do movimento, era de que os evangélicos sonham com o dia quando a cidade, o estado, o país se converterem em massa e a terra dos tupiniquins virar num país legitimamente evangélico.
Quando afirmo que o sonho é que impere o movimento evangélico, não me refiro ao cristianismo, mas a esse subgrupo do cristianismo e do protestantismo conhecido como Movimento Evangélico. E a esse movimento não interessa que haja um veloz crescimento entre católicos ou que ortodoxos se alastrem. Para “ser do Senhor Jesus”, o Brasil tem que virar "crente", com a cara dos evangélicos. (acabo de bater três vezes na madeira).
Avanços numéricos de evangélicos em algumas áreas já dão uma boa ideia de como seria desastroso se acontecesse essa tal levedação radical do Brasil.
Imagino uma Genebra brasileira e tremo. Sei de grupos que anseiam por um puritanismo moreno. Mas, como os novos puritanos tratariam Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Maria Gadu? Não gosto de pensar no destino de poesias sensuais como “Carinhoso” do Pixinguinha ou “Tatuagem” do Chico. Será que prevaleceriam as paupérrimas poesias do cancioneiro gospel? As rádios tocariam sem parar “Vou buscar o que é meu”, “Rompendo em Fé”?
Uma história minimamente parecida com a dos puritanos provocaria, estou certo, um cerco aos boêmios. Novos Torquemadas seriam implacáveis e perderíamos todo o acervo do Vinicius de Moraes. Quem, entre puritanos, carimbaria a poesia de um ateu como Carlos Drummond de Andrade?
Como ficaria a Universidade em um Brasil dominado por evangélicos? Os chanceleres denominacionais cresceriam, como verdadeiros fiscais, para que se desqualificasse o alucinado Charles Darwin. Facilmente se restabeleceria o criacionismo como disciplina obrigatória em faculdades de medicina, biologia, veterinária. Nietzsche jazeria na categoria dos hereges loucos e Derridá nunca teria uma tradução para o português.
Mozart, Gauguin, Michelangelo, Picasso? No máximo, pesquisados como desajustados para ganharem o rótulo de loucos, pederastas, hereges.
Um Brasil evangélico não teria folclore. Acabaria o Bumba-meu-boi, o Frevo, o Vatapá. As churrascarias não seriam barulhentas. O futebol morreria. Todos seriam proibidos de ir ao estádio ou de ligar a televisão no domingo. E o racha, a famosa pelada, de várzea aconteceria quando?
Um Brasil evangélico significaria que o fisiologismo político prevaleceu; basta uma espiada no histórico de Suas Excelências nas Câmaras, Assembleias e Gabinetes para saber que isso aconteceria.
Um Brasil evangélico significaria o triunfo do “american way of life”, já que muito do que se entende por espiritualidade e moralidade não passa de cópia malfeita da cultura do Norte. Um Brasil evangélico acirraria o preconceito contra a Igreja Católica e viria a criar uma elite religiosa, os ungidos, mais perversa que a dos aiatolás iranianos.
Cada vez que um evangélico critica a Rede Globo eu me flagro a perguntar: Como seria uma emissora liderada por eles? Adianto a resposta: insípida, brega, chata, horrorosa, irritante.
Prefiro, sem pestanejar, textos do Gabriel Garcia Márquez, do Mia Couto, do Victor Hugo, do Fernando Moraes, do João Ubaldo Ribeiro, do Jorge Amado a qualquer livro da série “Deixados para Trás” ou do Max Lucado.
Toda a teocracia se tornará totalitária, toda a tentativa de homogeneizar a cultura, obscurantista e todo o esforço de higienizar os costumes, moralista.
O projeto cristão visa preparar para a vida. Cristo não pretendeu anular os costumes dos povos não-judeus. Daí ele dizer que a fé de um centurião adorador de ídolos era singular; e entre seus criteriosos pares ninguém tinha uma espiritualidade digna de elogio como aquele soldado que cuidou do escravo.
Levar a boa notícia não significa exportar uma cultura, criar um dialeto, forçar uma ética. Evangelizar é anunciar que todos podem continuar a costurar, compor, escrever, brincar, encenar, praticar a justiça e criar meios de solidariedade; Deus não é rival da liberdade humana, mas seu maior incentivador.
Portanto, Deus nos livre de um Brasil evangélico.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

A Foice, o Martelo e a Moto Serra

Por Adelson Vidal Alves

A Câmara dos deputados aprovou na noite de ontem o nefasto relatório de Aldo Rebelo (PC do B) que altera as regras do código florestal. O principal mecanismo legal de proteção das florestas brasileiras vem sofrendo sérios ataques por parte dos ruralistas que querem a todo custo estender sua produção sem nenhuma preocupação com o bem estar da natureza.
Reprovado por mais de 90% da população brasileira, pela comunidade cientifica e pela maioria absoluta dos movimentos de pequenos produtores, o novo código florestal se integralmente aprovado no Senado e sancionado pela presidenta Dilma já representa um dos maiores retrocessos brasileiros em questão de legislação ambiental. Por sua nova redação são flexibilizados a exploração de Áreas de Preservação Permanentes e Reservas Legais, que eram protegidas como forma de evitar desequilíbrios ecológicos e tragédias naturais. Anistia desmatadores e desresponsabiliza reflorestamentos. O pior e mais macabro é a descentralização da legislação sobre meio ambienta que passa a ser responsabilidade dos estados onde a pressão ruralista pode ser maior.
O deputado comunista, capacho das classes dominantes do campo, impôs não somente uma derrota a um modelo de desenvolvimento sustentável como expôs grande parte da militância de seu partido que não entende a metamorfose vergonhosa que levou um partido dito socialista a servir subalternamente aos interesses do agronegócio.
A luta ainda não acabou. O governo promete vetar parte do projeto e ele ainda tramitará no Senado. Resta recompor as forças, mobilizar a sociedade e denunciar os agentes públicos que de forma paradoxa discursam a favor do desenvolvimento e agem contra os pobres e a sustentabilidade do planeta. Aldo é este traíra e não merece nem mais um voto dos trabalhadores e do povo, sua nova base eleitoral agora é a mesma de quem mata por propriedade e é contra a PEC do trabalho escravo. A cúpula do PC do B vergonhosamente apóia tamanho descalabro.

domingo, 22 de maio de 2011

O triunfo do sindicalismo canalha

Por Adelson Vidal Alves



O ato de filiação do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos Renato Soares ao PDT coroou a triste tragetória de um ex sindicalista combativo que migrou para as fileiras do sindicalismo de negociata. A ida de Renato para o PDT nada tem a ver com trabalhismo, conceito que mal deve saber o significato , o que está por tras de tamanha manobra oportunista é o ingenuo e bizarro sonho de se tornar prefeito.
Dizem que o poder corrompe, mas acho que ele também cega. Será que Soares não percebeu que sua desastrosa gestão de sindicalista lhes descredenciou até mesmo para candidato a sindico de prédio? Será que não percebe sua trágica atuação como cabo eleitoral, onde todos que receberam seu apoio perderam feio as eleições que disputaram? Ou será que é incapaz de enxergar que entre sua patética história e a de Juarez Antunes vai um mundo  de diferença?
No ato de sua filiação, Renato só pode contar com seus bajuladores de sempre, nada e ninguém que respire algo de inovador em termos políticos derramará um pingo de credibilidade a possibilidade ridicula  de um dia virar prefeito.
Sua filiação recebeu condecorações de alguém a altura de sua nova familia. O Ministro do Trabalho que abonou sua ficha é o mesmo que despejou dinheiro publico para salvar empresas sem salvar empregos e que em outros tempos chamou Lula de traira para depois se acomodar a atividade ministerial. Teve a cara de pau ainda de dizer que o PDT é o unico partido com projeto de nação para o Brasil. Praticamente surtado e vomitando besteirol Lupi é a cara da nova casa de Renato, uma mistura de oportunismo e sindicalismo canalha.
Quando ainda era do PC do B fui um critico implacavel da traição de classe de Renato e sua turma. Vivi a decepção de ser tocaiado dentro da legenda por gente que  assim como Renato pensa politica com o bolso. Deixei o partido e hoje a história me faz justiça. A máscara caiu e não há quem possa dizer que não se cumpriu minha triste profecia de que Renato derrotou a Força Sindical e o sindicalismo pelego para depois devolver com os juros que lhe convém.
Sobre os rumos desta deprimente história posso dizer hoje: EU AVISEI.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Precisamos de Deus?

Por Adelson Vidal Alves

Há indícios de que nossos ancestrais Neandertal já mantinham certa ligação com o sobrenatural através de rituais fúnebres, o que sugere uma crença na vida após a morte já em tempos remotos. A presença de Deus e da religiosidade na vida humana ainda cria muitos debates, não podemos dizer com certeza como o Homem começou a crer numa entidade sobrenatural e nem quando ele passou a ganhar personalidade e atributos. O Filósofo David Hume chegou a questionar se foi Deus quem nos fez a sua semelhança, ou se vice versa.
O fato é que Deus atravessou os primórdios civilizatórios, ora com força suficiente para pautar toda uma vida social como na Idade Média , ora mais enfraquecido a partir de questionamentos filosóficos e científicos, como no Renascimento e na revolução tecnologica. É fato, porém que ele nunca desapareceu das mentalidades e permanece vivo mesmo diante de tantas teses que sustentam não haver mais a necessidade de atribuirmos ao mundo algum tipo de criador.
No período Renascentista Deus perdeu para o homem o centro das atenções humanas, com Darwin a seleção natural explicou como a vida se desenvolveu aleatoriamente durante milhões e milhões de anos e o astrofísico Stephen Hawking publicou recentemente uma obra no qual argumentava que o Universo poderia ter se auto criado, sem a necessidade de uma entidade metafísica, chegando a comparar a idéia de vida após a morte a um conto de fadas.
Tanta evolução cientifica deve ter praticamente eliminado Deus do centro de nossas vidas, certo? Errado. Recentes pesquisas demonstraram que apesar do crescimento do ateísmo ser visível, o grande criador permanece forte como regulador da vida social e parece que não irá embora tão cedo.
A ciência pode descobrir como o mundo funciona, mas nunca poderá dizer quem as faz funcionar e nem negar que alguém a faça funcionar. O alvo do conhecimento cientifico não é descobrir quem fez o mundo, tampouco dar sentido a ele, para isso existem a Teologia e a Filosofia. Veja que Hawking disse que não há necessidade de um criador para o Universo, o que não significa que ele não exista. Esta resposta vai depender da escolha de cada um de nós.
Nos tempos atuais podemos dispensar Deus das explicações sobre o funcionamento das leis naturais. Ficou provado que os relatos da criação, elaborados pelas religiões, não passam de mitos que mais explicam o caráter de cada povo que as escreve do que sobre o processo de criação em si. Se Deus fez mesmo o Universo, ele o fez pelos parâmetros evolutivos e das leis naturais descobertas pela ciência. A modernidade nos ensinou que dentro do laboratório Deus não tem espaço.
Contudo, a frieza cientifica não é capaz de sustentar um homem carente de sentidos existenciais, numa imensa solidão e sem respostas para questões relacionadas ao seu futuro, sem falar no duro cotidiano do mundo capitalista. Aí sim entra Deus. Seja Jeová, Buda ou Alá, ele aparece como o ser inominável, soberano de suas decisões e consolador de nossas aflições. A este Deus somos todos dependentes. Mesmo que por algum motivo o negamos a existência real, depositamos toda a nossa fé em qualquer outra coisa que concentre toda a nossa sede de vida. Seja o Deus de Einstein, Freud ou Jesus, ele sempre aparecerá, simplesmente porque em nossos genes há um rombo enorme de existência, que só cabe algo do tamanho que convenhamos chamar de Deus.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Apologia ao Racismo

Por Adelson Vidal Alves

No mês que lembramos os mais de 200 anos da abolição da escravatura republico um artigo que escrevi em 2010 e que trata das questões relacionadas as politicas afirmativas e o combate ao Racismo. Nele exponho as razões pelo qual sou contra o sistema de cotas raciais.


        Recentemente o STF organizou um ciclo de debates sobre a constitucionalidade e viabilidade do sistema de cotas raciais, ou seja, o ingresso em serviços públicos através de mecanismos diferenciados baseado na cor da pele.
        Os que defendem o sistema de cotas afirmaram se tratar de uma compensação histórica do Estado brasileiro aos negros, que teriam amargado séculos de escravidão, no entanto, sem ter tido políticas públicas de inclusão logo depois de esgotado o sistema escravista. Utilizam-se também de dezenas de gráficos e estatísticas que comprovariam a maioria negra nos grandes grupos excluídos do Brasil. A política de cotas seria assim uma correção estatal de injustiças históricas.
        A escravidão dos negros no Brasil foi realmente algo perverso, e permanece obviamente deixando resquícios na realidade social brasileira, mas é verdade também que não foi o único processo de exclusão social no Brasil, se assim o fosse, teríamos no país uma realidade de brancos ricos e negros pobres. Na realidade, o que reina por aqui é um capitalismo excludente, que divide nossa sociedade simplesmente em ricos e pobres.
        Os números estatísticos, utilizados pelos pró-cotistas também são extremamente falhos. Difícil saber o que cada um destes gráficos considera como sendo negro em um país cada vez mais mestiço como o nosso. Se a ciência nega a divisão racial dos seres humanos, é possível manipular estes números de acordo com os interesses de cada pesquisa, e utilizar metodologias esquizofrênicas para chamar alguém de negro e outra de branca. Se aprovadas, as cotas raciais estariam sob a mesma suspeita.
        Afinal de contas, como será possível definir quem é negro ou não é diante de tantos questionamentos científicos ao conceito de raça? Que metodologia usar? O provável é que apareça verdadeiros tribunais raciais para rotular racialmente pessoas de acordo com suas conveniências.
        Os defensores das cotas costumam também classificar de racistas seus opositores. Trata -se de uma retórica barata e cruel. De minha parte posso afirmar que reconheço o racismo brasileiro, contudo, me recuso a compará-los a qualquer realidade distinta da nossa, principalmente a dos EUA a quem os pro-cotistas teimam em tratar como exemplo. No Brasil o processo abolicionista destruiu as leis raciais, enquanto nos EUA elas existiram mesmo depois do fim da escravidão, basta lembrar a luta pelos direitos civis dos negros liderados por Martin Luther King. Os norteamericanos tiveram que conviver por anos e ainda hoje com expressões públicas e violentas de racismo, enquanto no Brasil elas praticamente inexistem há décadas.
        Há sim no Brasil um racismo cultural, caracterizados por preconceitos raciais simbólicos. Ele é percebido numa blitz policial, numa entrevista por emprego ou na mesa de um restaurante. Sua base de sustentação é exatamente o que os pró-cotistas insistem em manter, a crença da existência de famílias raciais entre os seres humanos. Em proporções diferentes foi exatamente esta crença em que se assentou o nazismo e o apartheid. Só poderemos vencer o “racismo a brasileira”, liquidando a mentalidade do senso comum que permanece racialista, ou seja, ainda acredita na existência de raças.
        Além de fazer apologia ao racismo e sustentar rivalidades raciais, o sistema de cotas é também profundamente injusto. Imagine uma sala de aula de escola pública onde convivam negros e brancos pobres. Passam eles pelos mesmos problemas sociais brasileiros, como o sucateamento da educação básica, as desigualdades sociais, a má remuneração dos professores etc. Estariam eles assim dentro de um mesmo ponto de partida na luta por uma vaga na Universidade Pública.
        As leis de cotas raciais ao contrário daria privilégios de ingresso a um aluno negro. Com qual argumento? Seria ele herdeiro do de seus ancestrais escravos de séculos passados, nutrindo assim vantagens de acesso a serviços públicos. Olhando por esta perspectiva, os alunos brancos pobres seriam penalizados pela ação de seus antecessores, os senhores de escravos. Quanta injustiça !
        Anacrônicas, perversas, racistas e injustas, as cotas raciais são muito mais que isso, são também inconstitucionais. Em seu artigo 19 reza a constituição federal "É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si” enquanto no artigo 208 "O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a CAPACIDADE DE CADA UM” e por fim o artigo 9 "Ninguém será discriminado, prejudicado ou privilegiado em razão de nascimento, idade, etnia, raça, cor, sexo, estado civil, trabalho rural ou urbano, religião, convicções políticas ou filosóficas, deficiência física ou mental, por ter cumprido pena nem por qualquer particularidade ou condição."       A constituição federal é assim zelosa com a igualdade jurídica de seus cidadãos, assim como deve ser qualquer constituição republicana. Se um governo garante acesso privilegiado de um determinado grupo social a serviços do Estado está ele agindo de maneira anti-republicana.
       Os governos apóiam cotas raciais exatamente por que elas não lhes compromete no dever de investir na educação pública universal de qualidade. Afinal, quem dirá que cotas raciais aumentariam o número de vagas nas universidades ou melhorariam o ensino. Pelo contrario, elas encobrem com um discurso de raça um problema que é de classe, promovido e aprofundado pelo sistema capitalista.
       Estamos a beira de dar caráter jurídico a um conceito batido, o de “raça” e continuar dividindo nossa sociedade pela cor da pele. Estaremos assim construindo um estado racial - racializador dos problemas sociais históricos do Brasil. Está na mão do STF impedir esta tragédia.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A crise da esquerda brasileira

Por Adelson Vidal Alves



           
A ascensão da esquerda brasileira ao governo central coincidiu paradoxalmente com o inicio de uma crise sem precedentes em sua história. Não se trata de perseguições e torturas como nos regimes autoritários, mas de uma desavergonhada cooptação, que praticamente eliminou a esquerda tanto nas perspectivas de poder quanto no campo da batalha das idéias.
Com espaços mínimos de debate público, reduzidos pela monopolização da mídia e a hegemonia da indústria cultural, os grandes embates ideológicos se refugiaram nas Universidades e em pequenos partidos e movimentos sociais. O povo brasileiro, desde a eleição de Lula, vive um processo de desmantelamento de suas representatividades sociais assim como um distanciamento das vanguardas de esquerda, incapazes de conseguirem falar a linguagem popular.
A esquerda brasileira que se recusou a participar do poder de forma subordinada ao capital, e que se convenceu acertadamente que o PT e os governos Dilma e Lula são administrações do grande capital, se esforçam ao máximo para manter viva o projeto democrático, popular e socialista, mas esbarram nas limitações que as condições históricas oferecem e em suas próprias limitações. Críticos ferrenhos ao governo, não conseguiram entender os mecanismos de popularidade montados pelo lulismo, e combatem de forma moralista sem perceberem que não basta ter as melhores propostas, é preciso convertê-las e viabiliza-las. Em total extremo estão as agremiações que se curvaram ao lulismo, perdendo completamente seu potencial transformador a ponto de fazer disputa interna por melhores cargos no Estado, sem se preocuparem com uma verdadeira disputa de projetos, há muito inviabilizadas pela hegemonia da dupla PT-PMDB.
Não há soluções em curto prazo. É preciso refazer caminhos, reelaborar estratégias, compreender o que é possível fazer de acordo com a conjuntura vigente, fugindo de ufanismos. O PSTU, por exemplo, testemunha uma pureza revolucionária ingênua, enxergando revolução em cada esquina, se isolando e inviabilizando a unidade. Mesmo que guarde disposição revolucionária, se torna pequeno diante da tarefa de reorganizar a esquerda a partir da construção de uma nova sociedade a partir de vitórias graduais no processo democrático. Sectários ainda acreditam na tomada do Palácio de Inverno.
No campo partidário é o Psol a grande esperança dos socialistas. Em pleno processo de construção, a jovem legenda já protagonizou grandes momentos de luta pela democracia, mas obviamente carrega riscos de burocratização e divisionismo.
Os rumos da esquerda pós-lulismo ainda são indefinidos. Ainda não podemos afirmar o papel de cada um dos partidos, dos movimentos não cooptados e da própria espontaneidade popular. Reconhecer a traição do PT e de sua conversão a ordem estabelecida já é um bom começo para se reconstruir o que Lula e seus co-partidários quase destruíram.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Os diferenciados

Por Adelson Vidal Alves



Quem são os diferenciados que tanto incomodam a elite paulistana, arrepiada só em pensar que poderão ser afrontados em suas mansões por ocasião da construção de uma Estação de Metrô?
São os pobres, mendigos, sem tetos, desempregados, gente que os fazem lembrar que sua riqueza ostentadora produz miséria a milhões de brasileiros longe de suas fortalezas.
Mas não é só o fato de convivência que incomoda tanto a granfinada paulista. Não suportam o fato de toda esta gente estar já há alguns anos fora de sua influência política , elegendo quem por puro preconceito de classe eles odeiam. Não suportam ver toda esta gente se organizando em movimentos legítimos como o MST, MNLT e pastorais sociais. Não suportam saber que sua mídia não monopoliza mais a opinião pública e perde cada vez mais leitores para as redes virtuais, que mobilizaram mais de 50 mil pessoas pelo facebook para uma manifestação contra o rosnar preconceituoso de madames e playbois da soberba Higieonópolis.
Estão desesperados pelo fato do Estado de São Paulo não ser mais a “locomotiva” brasileira, que os fizeram de forma pretensiosa tentar se separar do Brasil em 1932. O declínio econômico do Estado de São Paulo é fruto dos desgovernos tucanos, eleitos e reeleitos pelo voto racista dos ricaços da região mais conservadora, arcaica e atrasada do país.
O bairro de Higienópolis é onde mora o ex presidente FHC, um verdadeiro condomínio dos setores mais repugnantes da burguesia paulista, mentalmente retardada a ponto de achar que na porta de metrô só tem traficante e bandido.
Não sabem o que estão dizendo, afinal não usam metrôs, transbordam de carros luxuosos o trânsito paulista, não fazem a idéia dos trabalhadores que sofrem para chegar ao trabalho de metrô, bem diferente deles, um bando de parasitas e exploradores, enfornados em academias e clubezinhos prontos para receber sua cultura medíocre.
O churrascão convocado pelo “facebook” como forma de protesto deve mostrar para este bando, que pobre, apesar do jugo pesado do capitalismo que eles defendem, ainda sim é capaz de sorrir, dançar e festejar o cotidiano. Eles não, vivem com medo do produto social que eles mesmo produzem, se escondendo em restaurantes e festas sem graça que nós “os diferenciados” não temos a mínima vontade de copiar. Lá sobra dinheiro e falta alegria.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Abolir o Racismo

Por Adelson Vidal Alves


             No próximo dia 13 de Maio completam-se 203 anos da lei que pos fim a escravidão negra no Brasil,  em um artigo que resumidamente dava liberdade aos negros sem nenhuma reparação pelos mais de três séculos de atrocidades escravistas. Foi neste momento que a escravidão em nosso país foi oficialmente abolida.
            Três fatores basicamente contribuíram para este fato. O primeiro se dá no campo dos interesses econômicos, que teve a Inglaterra como protagonista, já que com o advento do capitalismo procuravam-se novos consumidores livres, e os escravos sem salários eram um obstáculo a esta expansão de consumidores. Em 1850 foi assinada a Lei Eusébio de Queiroz que abolia o tráfico negreiro, logo após ataques marítimos a navios brasileiros, a partir daí o número de escravos na produção foi gradualmente desaparecendo.
            O segundo fator foi o significativo crescimento do movimento abolicionista, que ganhava cada vez mais apoio na opinião pública e nos setores da política e da intelectualidade. Por fim a resistência dos próprios negros, que nunca aceitaram passivamente a violência que lhes eram impostas, entre as várias formas de resistência está a criação de Quilombos para organizar escravos que fugiam, o mais conhecido deles foi o de Palmares, que ficava onde é hoje o estado de Alagoas. Estes três elementos combinados foram responsáveis pela libertação das amarras escravistas no final do século XIX.
            Os mais de 300 anos de modo de produção escravista legaram ao Brasil uma realidade de injustiça social e um quadro racista sobre os ombros da comunidade negra. Assim como no período da escravidão, ainda hoje os negros se organizam para avançar em direitos, e ações que combatam o racismo. Mais que lembrar uma data que pos fim a um período de opressão da vida brasileira, o 13 de Maio é também momento de reflexão sobre as formas de se combater o racismo no Brasil.
            Antes de tudo devemos compreender que o racismo não assume formas homogêneas em todos os países, e nem as realidades nacionais pós-abolição assumiram a mesma feição. Vejamos por exemplo os EUA, que aboliu a escravidão logo após a guerra de secessão em 1865, mantendo porém várias leis de cunho racial e conviveu por muito tempo e ainda hoje com expressões públicas de violência racista. Por aqui as leis raciais inexistiram logo após a abolição e o nosso racismo é extremamente mascarado.
            O movimento negro brasileiro luta há anos e obteve várias conquistas, principalmente na criminalização do racismo. Também conseguiu colocar em pauta uma série de mecanismos de leis compensatórias aos negros que causam muita polêmica na sociedade. São as chamadas leis raciais.
            Estas leis não tem consenso nem mesmo entre o movimento negro, por serem consideradas incentivadoras de rivalidades raciais.
            A ciência já há algum tempo comprovou que os seres humanos geneticamente não podem ser divididos em famílias raciais, ou seja, raças não existem. Parte do movimento negro quer que o Estado aplique formas diferenciadas de acesso do negro aos serviços públicos. Como já foi dito o racismo brasileiro é um racismo disfarçado e assim como todas as formas de racismo, se sustenta sobre a crença comum de que raças existem. Se incorporarmos juridicamente o conceito de raça, ao invés de derrotarmos o racismo estaríamos dando a ele vida perpetua, apagando incêndio com gasolina, como certa vez disse um líder do movimento negro.
            O povo brasileiro está convencido que a democracia racial não existe e que é necessário considerar o racismo como um problema sério a ser resolvido, contudo as fórmulas deste combate devem ser múltiplas e respeitar as particularidades locais.
           

domingo, 8 de maio de 2011

União Homoafetiva e a histeria de Silas Malafaia

Por Adelson Vidal Alves



          Seguindo as diretrizes republicanas e democráticas, o STF decidiu esta semana pela legalização da União Estável em relações homoafetivas. A partir de agora os casais homossexuais poderão desfrutar de direitos como pensão, partilha de bens e adoção. Um avanço inquestionável para os parâmetros de democratização que o Brasil vem gradualmente passando nos últimos anos a partir da luta dos segmentos minoritários de nossa sociedade.
         Há contudo quem critique esta decisão histórica. O ultraconservador Pr Silas Malafaia, líder da Assembléia de Deus Vitória em Cristo, fez campanha em seu site para que a comunidade protestante enviasse mensagens ao supremo pressionando os ministros na votação. Quebrou a cara. O tribunal por unanimidade garantiu a extensão de direitos civis aos homossexuais e a comunidade evangélica não atendeu seu apelo, a ponto do jurássico líder religioso ir ao twitter atacar seus colegas de religião como as cantoras Ana Paula Valadão, Fernanda Brum e Aline Barros, que segundo o destemperado pastor estariam desobedecendo a bíblia ao não apoiarem sua iniciativa.
        Irritado, revoltado e totalmente desequilibrado, Malafaia continuou suas asneiras ao comparar união Gay a Zoofilia e necrofilia “Vamos colocar na lei tudo o que se imaginar. Quem tem relação com cachorro, vamos botar na lei. Eu vou apelar aqui. É um comportamento, ué, vamos aceitar. Quem tem relação com cadáver, é um comportamento, vamos botar na lei”.  Malafaia que no ano passado foi símbolo da criminalização das mulheres na questão do aborto e que fez campanha aberta para o direitista José Serra no Segundo Turno das eleições presidenciais quer agora protestar contra a decisão do tribunal. Está convocando pela Web um ato no próximo dia 29 de Junho em frente ao STF.
         É bom que se deixe claro que Malafaia não fala pela comunidade cristã. Muitos como Leonardo Boff, Frei Betto e vários pastores evangélicos apóiam a causa como sendo reconhecimento de cidadania a uma parcela da população visivelmente discriminada. Se o Pastor velasse pela ética cristã da inclusão e do não julgamento de valores certamente não estaria choramingando uma vitoria grandiosa da democracia.
        Bem disse o filósofo João Silvério Trevisan em entrevista ao Jornal o Globo deste domingo “Há muito tempo eu não sentia orgulho do Brasil”. Graças a Deus este orgulho vem da grande maioria dos brasileiros, inclusive de grande parte dos protestantes.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Como vencer uma Eleição

Por Adelson Vidal Alves



A hegemonia brutal do pensamento único neoliberal introduziu no mundo moderno um fenômeno extremamente paradoxal, a “despolitização da política”. Os grandes debates foram substituídos por conversas de corredor e acordos firmados sem nenhuma perspectiva estrutural ou critério, é a pequena política, no dizer de Gramsci.
Não significa, entretanto que a política se perdeu como ferramenta de orientação da vida social. Mesmo com a visível interferência do poder econômico é dentro da esfera política nas suas várias dimensões que ainda se tomam as grandes decisões. Por isso não se pode abandonar as lutas cotidianas, seja ela social ou eleitoral.
Houve tempos que a desilusão era tanta que muitos tinham por preferência ficar longe da atividade política, hoje poucos pensam desta forma. Mesmo o PT, que ousou reivindicar o monopólio da ética, perseguiu fanaticamente o poder nos últimos anos. Ocupar espaços na arena institucional da política faz parte de uma estratégia que visa o poder e sua utilização como instrumento de transformação social. Sendo assim, mais do que votar devemos participar ativamente da construção dos parlamentos e executivos em todo o país.
Ano que vem teremos eleições, elegeremos prefeitos e vereadores. Este artigo tem por finalidade contribuir para um debate estratégico eleitoral, que busque como principal diretriz a vitória política, sem entretanto cair no vale tudo das eleições.
Sem a pretensão de formular um tratado universal sobre eleições, pretendo analisar os caminhos que partidos e candidatos devam trilhar para obter êxito nos seus objetivos, sem perder as referências republicanas que qualquer representante do povo deve ter como forma de fortalecimento da nação e da democracia.

Porque votar em mim?

Na democracia qualquer cidadão em dia com suas responsabilidades cívicas e de acordo com os parâmetros constitucionais pode se candidatar a um cargo público. No Brasil não existe candidatura avulsa, é preciso estar organicamente ligado a um partido político, em tese é um avanço. Mesmo que o perfil individual conte muito na busca por um ideal prático de representante popular, é necessário que ele represente uma construção coletiva de programa político universal, apenas os partidos conseguem esta universalização. Cada uma destas legendas estará ancorada em um dos vários grupos sociais, que no capitalismo estão em constante disputa, já que o sistema de propriedade privada cria distorções sociais injustas.
O candidato deve assim representar o partido, que por sua vez, representa uma classe ou bloco de classes sociais e seus projetos para o poder. Entretanto, é bem verdade que o jogo eleitoral brasileiro deformou ideologicamente os partidos que passaram de “expressão da vontade coletiva transformadora” para agrupamentos de aluguéis para indivíduos fisiológicos e oportunistas. Mesmo que a cooptação seja uma triste realidade, ninguém consegue vencer uma eleição sem se posicionar politicamente. Todos sem exceção devem dizer o que pensam sobre questões básicas da realidade nacional. Devem falar sobre segurança pública, o caráter do Estado, o sistema político e propor soluções para problemas vitais como Saúde, educação, moradia e emprego.
Nos dias Atuais não se consegue votos com os velhos discursos genéricos e nem se compra de forma simples o voto dos pobres.
O discurso de cada candidato deve respeitar a coerência. O maior erro de qualquer candidatura é imaginar que se pode agradar gregos e troianos, Deus e o diabo ao mesmo tempo. Na ansiedade de ganhar votos de todos, muitos soam ser oportunistas no imaginário popular e por isso perdem eleições sem que nem mesmo seus assessores consigam explicar. A coerência do discurso deve obedecer as diretrizes programáticas de seu partido e do grupo social que se pretende representar. Centrar forças de consolidação no que hoje chamamos de “base eleitoral” é o primeiro esforço de qualquer candidato. Obtido o sucesso, deve ai então buscar ganhar dividendos eleitorais em outros agrupamentos, se recusando sempre a rebaixar seu programa ou alternar seu discurso.

Definir aliados e inimigos

No Jogo político não se pode agradar a todo mundo, e nem mesmo desagradar a todos. Como já vimos a realidade política expõe contradições sociais por várias perspectivas, sejam políticas, culturais ou sociais.
Dentro de uma estratégia eleitoral deve-se definir claramente os aliados e os inimigos.
Os aliados dividem-se entre aliados “pontuais” e aliados “programáticos”. O processo de alianças sempre deve respeitar a conjuntura vigente, é a partir das demandas imediatas e históricas que se constroem os acordos políticos. Os aliados pontuais são aqueles que minimamente estão de acordo com suas proposições, mas nem sempre estão alinhados no seu campo ideológico. Nem sempre eles estarão ao seu lado, mas são importantes para dar mais corpo a seus projetos. Dos dois lados busca se um programa comum que sozinhos não seria possível concretizar. Os aliados pontuais são importantes para romper as limitações eleitorais que um determinado posicionamento político possa ter de acordo com a conjuntura. Tomemos como exemplo a aliança de Lula (Classe trabalhadora) e José Alencar (burguesia produtiva). Nem sempre os dois estiveram no mesmo campo, porém, construíram um grupo unificado para um projeto comum, que futuramente pode-se desfazer.
Os aliados programáticos ou “naturais” são aqueles que mantêm projetos e objetivos bem semelhantes aos seus. Estes são importantes para uma governabilidade política no futuro e servem como suporte mais firme que os primeiros, pois dificilmente se divorciarão em outros contextos. Definir bem quem são os aliados é de suma importância para se descobrir adversários e formas de combatê-los.
Tomemos o exemplo acima citado. Lula e Alencar se uniram não por serem simpáticos um ao outro, mas porque identificou um inimigo comum, no caso o capital financeiro. As políticas de juros altos sangravam tanto o orçamento dos trabalhadores quanto atrapalhavam os lucros dos empresários do setor produtivo. A aliança então estabelecida centrou suas forças num projeto de derrotar a fração burguesa do capital especulativo. A definição de aliados e inimigos é fundamental na estratégia a ser usada.

Saber falar com o povo

Tendo um discurso político nas mãos, os aliados e inimigos decifrados e uma estratégia construída, resta agora saber como fazer estes esforços converterem em votos. Um dos pontos fundamentais é a comunicação. Não basta ter um projeto é preciso fazer chegar aos possíveis eleitores.
As últimas eleições demonstraram que a mídia tradicional perdeu força na construção do imaginário eleitoral. Utilizar a grande mídia como forma de ponte entre candidato e eleitor não tem sido a melhor estratégia. Alckmin e duas vezes Serra foram derrotados com todo o aparato midiático aliado. Lula soube como ninguém se comunicar com o povo, tendo obviamente seu carisma como fator preponderante , mas demonstrou claramente que as ruas, e o dialogo direto traz mais confiança ao povo, além é claro de evitar distorções.
Outro caminho contemporâneo de comunicação são as redes sociais da internet. Além de serem bem mais livres são bem mais rápidas e alcançam as camadas formadoras de opinião. Se lembrarmos das eleições presidenciais do ano passado iremos perceber que o escândalo Erenice e o tema do aborto levaram Serra ao segundo turno no exato momento que chegou ao mundo virtual. Lula entendeu e respondeu da mesma forma. A internet é ainda mais importante na medida em que enfrenta os avolumosos recursos financeiros das grandes candidaturas.

Conclusão

Este breve artigo não teve como pretensão servir como uma receita infalível para um sucesso eleitoral. Sabe-se da dinâmica política da complexidade da realidade brasileira e suas oscilações. Não seria científico atribuir uma estratégia como sendo universalmente certeira. É preciso além de tudo observar o decorrer dos acontecimentos e se preciso mudar estratégia no meio do percurso. O que não se pode perder de vistas são os elementos essenciais para um planejamento de ação no processo eleitoral.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Terrorismo

Por Adelson Vidal Alves



            A maioria das pessoas vê o terrorismo como um fenômeno recente. Mesmo que guarde significativas diferenças no tempo o terror como ação política tem raízes muito mais antigas. O Assassinato do Arquiduque Franscisco Ferdinando pelo grupo Mão Negra e que desencadeou a primeira guerra mundial em 1914, as sabotagens e ações anarquistas durante o século XIX e as brigadas vermelhas na Itália na década de 1970 são exemplos de que ações terroristas devem ser analisadas historicamente.
            O Terrorismo como ação política é algo extremamente complexo. Caracteriza-se basicamente por ações de violência que permitam criar um ambiente posterior de terror psicológico. Os grupos terroristas em geral não se preocupam com o nível de violência física ou o número de mortos , mas sim o clima de perplexidade e medo que irão deixar. Sabem em seu íntimo que jamais poderão derrotar seus inimigos pelo uso da força, por isso a estratégia do horror como forma de buscar caminhos para o atendimento de suas demandas.
            Há grupos terroristas que lutam por questões mais imediatas, são os casos de movimentos separatistas como o ETA e o IRA, na Espanha e Irlanda respectivamente. Nestes casos, à medida que o governo atende suas reivindicações tendem a começar a trilhar caminhos institucionais de luta, como aconteceu em ambos e com o Hamas na Palestina. Em outros casos quando os objetivos são maiores, como as FARC, que querem fazer uma revolução socialista na Colômbia através da guerrilha, as formas de desmantelamento passam a ser mais complexa, já que neste momento os grupos acreditam que podem vencer seus adversários com sua própria força e nutrem a confiança que alcançarão seus objetivos destruindo o inimigo. Apesar das diferenças, são todos eles grupos terroristas, pois buscam ações de impacto psicológico para as suas causas.
            O assassinato de Osama Bin Laden, mentor dos ataques de 11 de Setembro aos EUA, inaugura um novo ciclo na luta contra o terror. Simplesmente porque foi derrotado o símbolo maior do terrorismo contemporâneo e certamente abrirá um novo tempo, que poderá ser de mais diálogo global ou de mais tensão.
            O caminho da paz não logrará sucesso enquanto os EUA combaterem o terror em retórica e ao mesmo tempo manterem agressão imperialista no plano mundial. Não se pode cobrar paz enquanto se mantém a prisão de Guantânamo em total desrespeito aos direitos humanos e a resoluções internacionais. Não se pode falar de segurança se são os próprios norte americanos que bombardeiam alvos civis em guerras abertas contra a vontade internacional, e como se sonhar com o fim do sentimento antiamericano se são eles que vão as ruas comemorar um assassinato?
            O terrorismo de fato não combina com a construção de um mundo democrático, mas tão pouco a política militarista da maior potência global irá conseguir vencer o terror enquanto eles próprios não reconhecerem que é exatamente sua prepotência que dá vida a ações radicais.