quinta-feira, 5 de maio de 2011

Como vencer uma Eleição

Por Adelson Vidal Alves



A hegemonia brutal do pensamento único neoliberal introduziu no mundo moderno um fenômeno extremamente paradoxal, a “despolitização da política”. Os grandes debates foram substituídos por conversas de corredor e acordos firmados sem nenhuma perspectiva estrutural ou critério, é a pequena política, no dizer de Gramsci.
Não significa, entretanto que a política se perdeu como ferramenta de orientação da vida social. Mesmo com a visível interferência do poder econômico é dentro da esfera política nas suas várias dimensões que ainda se tomam as grandes decisões. Por isso não se pode abandonar as lutas cotidianas, seja ela social ou eleitoral.
Houve tempos que a desilusão era tanta que muitos tinham por preferência ficar longe da atividade política, hoje poucos pensam desta forma. Mesmo o PT, que ousou reivindicar o monopólio da ética, perseguiu fanaticamente o poder nos últimos anos. Ocupar espaços na arena institucional da política faz parte de uma estratégia que visa o poder e sua utilização como instrumento de transformação social. Sendo assim, mais do que votar devemos participar ativamente da construção dos parlamentos e executivos em todo o país.
Ano que vem teremos eleições, elegeremos prefeitos e vereadores. Este artigo tem por finalidade contribuir para um debate estratégico eleitoral, que busque como principal diretriz a vitória política, sem entretanto cair no vale tudo das eleições.
Sem a pretensão de formular um tratado universal sobre eleições, pretendo analisar os caminhos que partidos e candidatos devam trilhar para obter êxito nos seus objetivos, sem perder as referências republicanas que qualquer representante do povo deve ter como forma de fortalecimento da nação e da democracia.

Porque votar em mim?

Na democracia qualquer cidadão em dia com suas responsabilidades cívicas e de acordo com os parâmetros constitucionais pode se candidatar a um cargo público. No Brasil não existe candidatura avulsa, é preciso estar organicamente ligado a um partido político, em tese é um avanço. Mesmo que o perfil individual conte muito na busca por um ideal prático de representante popular, é necessário que ele represente uma construção coletiva de programa político universal, apenas os partidos conseguem esta universalização. Cada uma destas legendas estará ancorada em um dos vários grupos sociais, que no capitalismo estão em constante disputa, já que o sistema de propriedade privada cria distorções sociais injustas.
O candidato deve assim representar o partido, que por sua vez, representa uma classe ou bloco de classes sociais e seus projetos para o poder. Entretanto, é bem verdade que o jogo eleitoral brasileiro deformou ideologicamente os partidos que passaram de “expressão da vontade coletiva transformadora” para agrupamentos de aluguéis para indivíduos fisiológicos e oportunistas. Mesmo que a cooptação seja uma triste realidade, ninguém consegue vencer uma eleição sem se posicionar politicamente. Todos sem exceção devem dizer o que pensam sobre questões básicas da realidade nacional. Devem falar sobre segurança pública, o caráter do Estado, o sistema político e propor soluções para problemas vitais como Saúde, educação, moradia e emprego.
Nos dias Atuais não se consegue votos com os velhos discursos genéricos e nem se compra de forma simples o voto dos pobres.
O discurso de cada candidato deve respeitar a coerência. O maior erro de qualquer candidatura é imaginar que se pode agradar gregos e troianos, Deus e o diabo ao mesmo tempo. Na ansiedade de ganhar votos de todos, muitos soam ser oportunistas no imaginário popular e por isso perdem eleições sem que nem mesmo seus assessores consigam explicar. A coerência do discurso deve obedecer as diretrizes programáticas de seu partido e do grupo social que se pretende representar. Centrar forças de consolidação no que hoje chamamos de “base eleitoral” é o primeiro esforço de qualquer candidato. Obtido o sucesso, deve ai então buscar ganhar dividendos eleitorais em outros agrupamentos, se recusando sempre a rebaixar seu programa ou alternar seu discurso.

Definir aliados e inimigos

No Jogo político não se pode agradar a todo mundo, e nem mesmo desagradar a todos. Como já vimos a realidade política expõe contradições sociais por várias perspectivas, sejam políticas, culturais ou sociais.
Dentro de uma estratégia eleitoral deve-se definir claramente os aliados e os inimigos.
Os aliados dividem-se entre aliados “pontuais” e aliados “programáticos”. O processo de alianças sempre deve respeitar a conjuntura vigente, é a partir das demandas imediatas e históricas que se constroem os acordos políticos. Os aliados pontuais são aqueles que minimamente estão de acordo com suas proposições, mas nem sempre estão alinhados no seu campo ideológico. Nem sempre eles estarão ao seu lado, mas são importantes para dar mais corpo a seus projetos. Dos dois lados busca se um programa comum que sozinhos não seria possível concretizar. Os aliados pontuais são importantes para romper as limitações eleitorais que um determinado posicionamento político possa ter de acordo com a conjuntura. Tomemos como exemplo a aliança de Lula (Classe trabalhadora) e José Alencar (burguesia produtiva). Nem sempre os dois estiveram no mesmo campo, porém, construíram um grupo unificado para um projeto comum, que futuramente pode-se desfazer.
Os aliados programáticos ou “naturais” são aqueles que mantêm projetos e objetivos bem semelhantes aos seus. Estes são importantes para uma governabilidade política no futuro e servem como suporte mais firme que os primeiros, pois dificilmente se divorciarão em outros contextos. Definir bem quem são os aliados é de suma importância para se descobrir adversários e formas de combatê-los.
Tomemos o exemplo acima citado. Lula e Alencar se uniram não por serem simpáticos um ao outro, mas porque identificou um inimigo comum, no caso o capital financeiro. As políticas de juros altos sangravam tanto o orçamento dos trabalhadores quanto atrapalhavam os lucros dos empresários do setor produtivo. A aliança então estabelecida centrou suas forças num projeto de derrotar a fração burguesa do capital especulativo. A definição de aliados e inimigos é fundamental na estratégia a ser usada.

Saber falar com o povo

Tendo um discurso político nas mãos, os aliados e inimigos decifrados e uma estratégia construída, resta agora saber como fazer estes esforços converterem em votos. Um dos pontos fundamentais é a comunicação. Não basta ter um projeto é preciso fazer chegar aos possíveis eleitores.
As últimas eleições demonstraram que a mídia tradicional perdeu força na construção do imaginário eleitoral. Utilizar a grande mídia como forma de ponte entre candidato e eleitor não tem sido a melhor estratégia. Alckmin e duas vezes Serra foram derrotados com todo o aparato midiático aliado. Lula soube como ninguém se comunicar com o povo, tendo obviamente seu carisma como fator preponderante , mas demonstrou claramente que as ruas, e o dialogo direto traz mais confiança ao povo, além é claro de evitar distorções.
Outro caminho contemporâneo de comunicação são as redes sociais da internet. Além de serem bem mais livres são bem mais rápidas e alcançam as camadas formadoras de opinião. Se lembrarmos das eleições presidenciais do ano passado iremos perceber que o escândalo Erenice e o tema do aborto levaram Serra ao segundo turno no exato momento que chegou ao mundo virtual. Lula entendeu e respondeu da mesma forma. A internet é ainda mais importante na medida em que enfrenta os avolumosos recursos financeiros das grandes candidaturas.

Conclusão

Este breve artigo não teve como pretensão servir como uma receita infalível para um sucesso eleitoral. Sabe-se da dinâmica política da complexidade da realidade brasileira e suas oscilações. Não seria científico atribuir uma estratégia como sendo universalmente certeira. É preciso além de tudo observar o decorrer dos acontecimentos e se preciso mudar estratégia no meio do percurso. O que não se pode perder de vistas são os elementos essenciais para um planejamento de ação no processo eleitoral.

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