segunda-feira, 16 de maio de 2011

A crise da esquerda brasileira

Por Adelson Vidal Alves



           
A ascensão da esquerda brasileira ao governo central coincidiu paradoxalmente com o inicio de uma crise sem precedentes em sua história. Não se trata de perseguições e torturas como nos regimes autoritários, mas de uma desavergonhada cooptação, que praticamente eliminou a esquerda tanto nas perspectivas de poder quanto no campo da batalha das idéias.
Com espaços mínimos de debate público, reduzidos pela monopolização da mídia e a hegemonia da indústria cultural, os grandes embates ideológicos se refugiaram nas Universidades e em pequenos partidos e movimentos sociais. O povo brasileiro, desde a eleição de Lula, vive um processo de desmantelamento de suas representatividades sociais assim como um distanciamento das vanguardas de esquerda, incapazes de conseguirem falar a linguagem popular.
A esquerda brasileira que se recusou a participar do poder de forma subordinada ao capital, e que se convenceu acertadamente que o PT e os governos Dilma e Lula são administrações do grande capital, se esforçam ao máximo para manter viva o projeto democrático, popular e socialista, mas esbarram nas limitações que as condições históricas oferecem e em suas próprias limitações. Críticos ferrenhos ao governo, não conseguiram entender os mecanismos de popularidade montados pelo lulismo, e combatem de forma moralista sem perceberem que não basta ter as melhores propostas, é preciso convertê-las e viabiliza-las. Em total extremo estão as agremiações que se curvaram ao lulismo, perdendo completamente seu potencial transformador a ponto de fazer disputa interna por melhores cargos no Estado, sem se preocuparem com uma verdadeira disputa de projetos, há muito inviabilizadas pela hegemonia da dupla PT-PMDB.
Não há soluções em curto prazo. É preciso refazer caminhos, reelaborar estratégias, compreender o que é possível fazer de acordo com a conjuntura vigente, fugindo de ufanismos. O PSTU, por exemplo, testemunha uma pureza revolucionária ingênua, enxergando revolução em cada esquina, se isolando e inviabilizando a unidade. Mesmo que guarde disposição revolucionária, se torna pequeno diante da tarefa de reorganizar a esquerda a partir da construção de uma nova sociedade a partir de vitórias graduais no processo democrático. Sectários ainda acreditam na tomada do Palácio de Inverno.
No campo partidário é o Psol a grande esperança dos socialistas. Em pleno processo de construção, a jovem legenda já protagonizou grandes momentos de luta pela democracia, mas obviamente carrega riscos de burocratização e divisionismo.
Os rumos da esquerda pós-lulismo ainda são indefinidos. Ainda não podemos afirmar o papel de cada um dos partidos, dos movimentos não cooptados e da própria espontaneidade popular. Reconhecer a traição do PT e de sua conversão a ordem estabelecida já é um bom começo para se reconstruir o que Lula e seus co-partidários quase destruíram.

Um comentário:

  1. Concordo com a questão da esquerda que se resumiu no texto basicamente ao PSTU/PSOL- A prostração política do sectarismo apenas completa a prostração do oportunismo, sem abrir nenhuma chance às perspectivas revolucionárias. Sectarismo, oportunismo e centrismo caminham juntos. O risco não está no divisionismo de idéias, mas de práticas. E na prática, autor?

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