Por Adelson Vidal Alves
Sou a favor do voto
obrigatório. Para alguns, obrigar um cidadão a ir às urnas não é democrático.
Discordo. Entendo que a cidadania em uma República democrática deve se
sustentar com direitos e deveres individuais. Se a escolha obrigatória de
representantes políticos é antidemocrática, financiar o estado com nossos
tributos também o é. Porque teríamos a obrigação de manter o governo com nossos
impostos e sermos desobrigados na hora de escolher seus gestores?
Os maiores interessados no voto
facultativo são as classes dominantes. Diante de uma sociedade onde a cultura
de participação política ainda é muito baixa, sobretudo entre os mais pobres,
facultar o voto seria dar monopólio político nas mãos dos poderosos. Ainda que
consigam controlar o aparelho do Estado se utilizando da influência do poder
econômico nas eleições, as classes proprietárias precisam hoje conviver com o
incômodo da participação popular nos pleitos, mesmo que sob obrigação. Deixar livre
a iniciativa de votar seria abrir caminho para a total exclusão dos pobres na
socialização do poder.
É bem verdade que seria melhor
ter um pleito eleitoral onde o povo tomasse a iniciativa, sem a necessidade de coerção.
Assim o é na Venezuela e nos EUA. Mas
nossa nação, por uma série de motivos, ainda não ingressou de corpo e alma no
jogo democrático, apesar de o aceitarem como a melhor forma de organização do
poder. Carregamos um ranço autoritário de uma história moldada por acordos
entre os grupos “de cima”, dispostos a fazer concessões, mas sempre se
conservando como força dirigente. O povo atuou fortemente nos períodos
transitórios que nos levaram a modernidade, mas jamais conseguiram levar ao fim
seus projetos próprios. O estado foi o grande indutor de nossa modernização, servindo
como locomotiva dos interesses dos que ocupavam o andar de cima.
Além disso, a história
republicana do Brasil está repleta de tentativas e interrupções à democracia.
Quando enfim conseguimos sair dos mais de 20 anos de ditadura civil-militar,
adotamos um colégio eleitoral, que garantiu um pacto conservador entre as
forças dominantes e democráticas. Só mais tarde iríamos consagrar a vitória
democrática com nossa Constituição, que apesar de avançada encontra falta de
sustentação cultural e política para seu pleno funcionamento.
O voto obrigatório deve ser
visto como medida temporária, mas extremamente importante na atualidade. A
alienação que faz da política campo de profissionais e não espaço de construção
cidadã povoa grandemente a consciência. Fazer o processo eleitoral facultativo
seria um convite tentador a abstenção da vida política por parte das camadas de
baixo.
Nosso desafio é fortalecer uma
cultura democrática, incutir espírito cidadão á pátria, desenvolver o
pensamento crítico, educar para avançar nas consciências. O desafio, contudo, não
se resume ao Estado, a sociedade civil e suas organizações têm sua
responsabilidade, principalmente aquelas que pensam a política como palco de
construção do bem comum pelo qual são todos chamados a participar. As classes
dominantes, obviamente, preferem reinar sem o “mau cheiro” do povo. Enquanto o
voto for obrigatório, pelo menos, terão elas que conviver no mesmo espaço com a
ralé, inclusive dependendo dela para sua perpetuação no poder.
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