Por Adelson Vidal Alves
De tempos em tempos nosso país volta
a debater a redução da maioridade penal para 16 anos. A discussão vem sempre
envolta a comoção da sociedade perante crimes bárbaros cometidos por
adolescentes, e com forte intervenção da mídia, esta hegemonicamente disposta a
assanhar a opinião pública para o apoio a leis mais “severas” contra menores
infratores.
O Brasil acumula uma história
de descaso com as políticas públicas de juventude. Ainda que o início do nosso
século tenha testemunhado o aparecimento de uma série de instituições e
organismos estatais com fins exclusivos a atender as demandas juvenis, ainda
sim não se conseguiu articular uma ação eficiente que melhorasse os índices
sociais de nossos jovens. Números do Governo Federal e do Instituto Cidadania apontam que 51,4 % dos/as jovens do Brasil não freqüentam a escola; 1,2 milhões de
jovens brasileiros/as são analfabetos/as; e 17 milhões de jovem simplesmente
não estudam. Diante de tal situação cabe perguntar: com que direito o Estado pretende
punir jovens infratores quando estes são frutos de sua própria incompetência?
O governo
brasileiro deveria criar mais escolas, e não presídios. Somos o 4º país em
população carcerária, com índices medíocres de recuperação dos presos quando
são devolvidos a sociedade. Nosso sistema penitenciário funciona como um QG do
crime organizado, este apoiado e sustentado pela banda podre da polícia e da
Justiça brasileira. Introduzir adolescentes neste sistema só incharia ainda
mais a já precária organização prisional.
Mas o jovem
é responsável na hora de votar, porque não deve ser na hora de responder pelo
crime? Dizem alguns. Nossa nação aprendeu a pensar invertido, colocando a
punição na frente dos direitos, achando que o braço violento da política é capaz por si só de garantir a ordem. Ledo engano.
Há quem diga
ainda que é a certeza da impunidade que movem os menores criminosos. Ora,
sabemos que a maior parte dos crimes cometidos por adolescentes tem um adulto
por trás, induzindo e o controlando. Se baixarmos a maioridade penal para 16
anos, os bandidos irão aos de 15, se baixarmos para 15 procurarão os de 14 e
assim sucessivamente. Até onde chegaríamos? Prenderíamos o berçário todo?
O que
precisamos de fato é a ampliação e consolidação de direitos. Quanto mais investirmos
socialmente, menos gastaremos com polícia e cadeia. Quanto mais emprego, escola
e justiça social, menos bandido e menos crime. Só que o Estado brasileiro
parece ainda acreditar no ataque as conseqüências e não as causas.
Eu seria bem
mais a favor de construir novos presídios para políticos que desviam dinheiro
da merenda escolar, que quebram a previdência, que não cumprem leis sociais,
que empregam parentes, enfim, os verdadeiros agentes do descaso do poder público.
Excelente artigo, compartilho do mesmo pensamento.
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