terça-feira, 14 de maio de 2013

Por uma esquerda reformista



Por Adelson Vidal Alves


As transformações sociais, políticas e culturais do mundo contemporâneo e suas conseqüentes reconfigurações no perfil dos atuais atores coletivos, impõem a esquerda o desafio de se renovar para continuar influenciando nos rumos das sociedades.

Não há receita pronta, apenas pistas. Não cabe, por exemplo, invocarmos em nossos dias a “ditadura do proletariado” como meta revolucionária. Onde foi implantada ela se transformou em ditadura, primeiro do Estado, depois do partido e por último de uma pessoa só. Não se aceita, também, a busca de uma revolução insurrecional que tome o Estado de assalto. Este já não é o espaço único da expressão do poder, e veio a se esparramar em meio a numerosas instituições da sociedade civil, que guardam na cultura a força central de construção de consensos políticos, e assim, de capacidade de governo.

Uma esquerda moderna deve, assim, apoiar-se numa luta gradual por dentro do ordenamento existente. É o Estado democrático de direito o palco exclusivo para se lutar por mudanças estruturais na sociedade, e a democracia política elemento indispensável para o aprofundamento do processo civilizatório.

No Brasil, não há outro caminho para alcançarmos vitórias contra o capitalismo senão lançando mão de um “reformismo forte” capaz de alterar o jogo de forças, forçando transformações mais significativas na espinha dorsal da vida política do país.

Quanto a Constituição federal de 1988, erguida sob forte presença da esquerda e de setores democráticos moderados, é ela o programa central a ser seguido por esta esquerda reformista, que tem agora o dever de obter vitórias graduais, porém, permanentes na construção de outra ordem social.

Uma esquerda reformista para o nosso tempo nada tem a ver com a timidez da social-democracia, que emplacou reformas dentro do sistema capitalista, mas quando este era ameaçado em suas estruturas contou com o recuo social-democrata. O novo reformismo é revolucionário. Obedece a estratégia gramsciana de guerra de posição, pretende-se romper a ordem capitalista, obedecendo a “ocidentalidade” das sociedades modernas, mas com a ambição de quebrar a hegemonia do capital.

Faltam recursos e forças políticas para darem conta de um projeto deste tamanho. Nossa esquerda ainda oscila entre cooptação conservadora e radicalismo sectário. Refletir, debater e conseguir organizar novos atores políticos para esta empreitada é um desafio a ser vencido.

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