Por Adelson Vidal Alves
Depois de 21 anos sob regime
militar, o Brasil apontou sua trajetória para a redemocratização. Comum em sua
história, o caminho se deu pelo alto, com controle das classes de cima e sem
grandes mudanças nas estruturas econômicas e sociais. Erguemos instituições,
fortalecemos nossa sociedade civil, reintroduzimos a liberdade na cultura
nacional, assinamos a Constituição mais democrática de nossa história.
Definitivamente, avançamos com a democracia política brasileira.
Mas democracia não é só as “regras
do jogo”. Democracia (ou democratização, como dizia Lukács) é um processo no
qual se permite a participação ampla da população na vida da sociedade em todas
as suas dimensões. Para que as instituições políticas cumpram sua plena função
democrática, há que garantir a cidadania de todo o povo, a condição material
necessária para sua participação na vida pública. É aí que mora o problema. Mesmo
diante da concretização institucional de nossa democracia, o Brasil guarda
dívidas coloniais no campo, desigualdades alarmantes entre ricos e pobres, e entre
inteiras regiões do país. No mundo do trabalho o maior salário chega a valer
175 vezes mais que o menor. Somos o 8º país em analfabetismo adulto do mundo e
com cerca de 15 milhões de miseráveis. Como esperar a plenitude do
funcionamento democrático diante deste quadro?
Faltaram em nossas “revoluções
passivas” a presença de uma força aglutinadora capaz de organizar a luta por
reformas de estado, e que pudesse pressionar pela ampliação de políticas
universalizantes, pilares centrais para reorganização do país para realidades mais
justas. Fincamos uma vida institucional relativamente forte, sustentada sob a
égide de uma Carta Constitucional avançada, mas mantemos intactos os injustos
indicadores sociais.
A esquerda hegemônica no poder
não foi capaz de assumir uma feição reformista e democrática. Manteve com o
Estado, relações preocupantes de aparelhamento, e abraçou como projeto único, o poder.
Entre as esquerdas ainda há aqueles que preferem tratar a democracia de forma
instrumental, instância burguesa a serviço dos poderosos. Querem zerar o
processo, destruir o “Estado burguês” e instaurar uma “democracia operária”.
Nos falta ainda uma esquerda
democrática forte, convencida de suas tarefas reformistas e de sua obediência
constitucional. Uma esquerda com a capacidade de interferir nos conflitos do
cotidiano com equilíbrio, fazendo alianças, aprimorando consensos, defendendo o
Estado de direito.
Como nossa ocidentalizada
sociedade não aceita assaltos ao poder, faz se urgente a construção de um bloco
de forças que tome a missão de organizar o Brasil para reformas democráticas no
quadro do Estado democrático de direito. Reformas guiadas pelo espírito republicano,
com meta a equalizar as oportunidades dos cidadãos brasileiros e formar um país
justo e pronto para viver a democracia plena.
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