terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Não desejarei Feliz Natal

Por Adelson Vidal Alves



Cansei do Natal!
E antes que me chamem de ranzinza, mal humorado, pessimista ou mesmo hipócrita, deixem-me dizer que assim como me dou o direito de não ler as tantas mensagens natalinas que chegam, que apesar de bem intencionadas, são em sua maioria chatas e previsíveis, também entenderei se não quiserem prosseguir com a leitura deste texto. Caso optarem em seguir adiante, não me responsabilizo pelo trauma ou o choque que posso causar.
Pois bem, o Natal é uma festa pagã, incorporada ao calendário cristão e que por sua vez se incorporou ao calendário capitalista. Nesta data, o consumismo encontra seu ápice. Nos Shoppings, as pessoas batem cabeça, estouram cartões de crédito. Nas famílias e empresas, pipocam confraternizações regadas a bebidas e comida em abundância. As crianças são iniciadas no ritual sagrado do consumismo do deus mercado, sendo bombardeadas diariamente pelo marketing hipnótico da mídia comercial.
Pelas ruas os abraços e cumprimentos fantasiam uma sociedade solidária, e as campanhas filantrópicas realizadas anualmente despertam a sensibilidade dos burgueses que calam sua consciência "adotando" uma criança de orfanato. Nada mais medíocre que os milionários atores globais cantarolando um novo dia que sua emissora cotidianamente impede que nasça na realidade. E o que falar dos cantores consagrados da indústria cultural, repetindo refrões fáceis que ganham ecos de jovens que, de tão alienados, parecem zumbis sob efeito alucinógeno?
Até acho bonitinho os enfeites e cartõezinhos que ora lembram Jesus, ainda que Papai Noel seja mais lucrativo. Mas me enojam os sermões estúpidos e mesquinhos de auto-ajuda, que saem de gente como Arnaldo Jabor ou Pedro Bial, como se papagaios globais tivessem algo a ensinar sobre "como fazer do mundo um lugar melhor para se viver".
De fato, o Natal me faz triste. E olha que não me incomodo com tradições, até porque costumo me entupir de chocolate na Páscoa e não dispenso uma peixada na Sexta-feira Santa. Mas o Natal de fato estourou minha paciência! Talvez por motivos muito mais emocionais e íntimos do que uma tese racional e coerente.
Não desejarei Feliz Natal. E, por favor, não passem pela rua com olhar de piedade, nem me deixem de oferecer uma bela taça de vinho. Afinal, não sou um profeta anti-natalino, nem quero estragar a alegria que brota sinceramente do coração de tanta gente. Se não desejo Feliz Natal é porque do meu íntimo não sinto esta vontade e é de minha pessoa jamais fazer algo simplesmente por fazer.

Revisão textual: Regina Vilarinhos



Um comentário:

  1. Feliz bebedeira, mano! Também acho muito hipócrita a festa natalina, mas eu acabo curtindo devido a boa comida e as companhias, então está valendo!
    Abraços!

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