quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O movimento operário em Volta Redonda

Por Adelson Vidal Alves



No próximo dia 9 de Novembro completa-se 23 anos da morte brutal de 3 operários na histórica Greve da Companhia Siderúrgica Nacional, a CSN. A data se tornou marco de resistência operária e colocou Volta Redonda entre as cidades que lutaram bravamente contra as politicas perversas do Governo de José Sarney.
Mais de duas décadas depois muita coisa mudou no movimento operário da cidade do aço, e infelizmente, a memória da bravura de nossos trabalhadores a cada dia que passa fica mais ameaçada. Nossos jovens mal conhecem o episódio de 1988 e se desenvolvem dentro de uma cultura que praticamente elimina diariamente o imaginário de uma cidade berço da industrialização brasileira e palco de um dos mais violentos conflitos de classe da Nova Republica.
A década de 1990 significou uma inflexão no perfil classista da luta operária, momento que a Força Sindical vence as eleições do Sindicato dos Metalúrgicos e daí em diante estabelece um sindicalismo de negócios e conciliação. Em 1993 a CSN é privatizada, demite mais de 15000 funcionários e a igreja progressista, ponto de apoio aos movimentos trabalhistas, faz uma guinada eclesial conservadora com o Bispo Dom João Maria Messi. Os partidos de esquerda e os outros movimentos populares desapareceram ou sofreram metamorfoses ideológicas e assim sociedade civil voltaredondense se fragiliza e abre um ciclo de "despolitização" de toda a população, assim como um recuo dramático nas lutas sociais.
Os elementos que permitiram uma cultura de resistência nos movimentos sociais da década de 80 foram afetados pela derrota ideológica do ideário progressista, cedendo espaço para a hegemonia do neoliberalismo e seus valores de individualismo e competição. Os governos sucessivamente eleitos trabalharam duro na diminuição dos espaços públicos de debate, na consolidação do “pensamento único” e a na derrota das utopias alternativas ao domínio do capital. Volta Redonda não escapou a todo este processo e minguou anos de marasmo político-ideológico.
Uma luz, contudo, surgiu no ano de 2006. A nível internacional percebia-se certo esgotamento da hegemonia liberal e o aparecimento de novas alternativas se firmaram no plano institucional. Em Volta Redonda, o sindicalismo metalúrgico de resultado da Força Sindical sofreu derrota importante para as forças populares que construíram um amplo leque de alianças de caráter progressista. A vitória de Renato Soares, colocou teoricamente fim a uma era de 14 anos na cidade do aço de uma prática sindical em harmonia com o capital e abriu expectativa para um novo ciclo da luta operária em Volta Redonda.
Hoje, 5 anos depois desta vitória histórica, Renato Soares retrocedeu as práticas conciliadoras de seu antecessor pelego. Repetiu o autoritarismo e golpes eleitorais, se afastou das bases, se deleitou nas vantagens do conforto de gabinete, oferecidos pelos recursos volumosos da entidade, e pior, se assanhou na possibilidade de aumentar seu poder político candidatando-se a prefeito.
A mosca azul picou Soares, a ponto inclusive de devolver o Sindicato aquela mesma central sindical que ajudou a privatizar a CSN.
O 9 de Novembro deste ano repetirá a festança minguada do sindicalismo pelego e desconsiderará por completo a valorosa história da luta de classes.
Há de se travar uma luta pela memória dos trabalhadores, construindo espaços culturais e educacionais que resgate o imaginário operário, retorne ao trabalho de base, crie um novo foco de oposição a atual direção do Sindicato dos Metalúrgicos, além de um esforço acadêmico maior de nossos intelectuais no estudo da temática.
           Parafraseando Marx “a história se repete: primeiro em forma de tragédia (vitória da Força Sindical em 1992) e depois em forma de farsa (vitória de Renato Soares)”. Assim caminha o movimento operário de Volta Redonda.

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