segunda-feira, 2 de julho de 2012

Metamorfose ideológica ou a morte das ideologias?

Por Adelson Vidal Alves

Apesar do pragmatismo vazio de alguns partidos de esquerda, milhões de pessoas ainda lutam pela construção de um novo ordenamento social. A ideologia não morreu.


O norte-americano Francis Fukuyama publicou em 1989 um artigo intitulado O fim da história. Nele, o autor propunha que a história não poderia conhecer outra forma social de organização, senão a capitalista e sua democracia liberal. Narrava ainda a morte das ideologias e das utopias revolucionárias. Seu pensamento ganhou forte eco entre os intelectuais conservadores.
           Tamanho sucesso desta teoria se justificava pela forte hegemonia do neoliberalismo no mundo. Durante toda a década de 1990, a maioria absoluta dos governos aplicou um receituário fortemente marcado pela diminuição do Estado através de privatizações e do alargamento das relações de livre mercado. As teses fukuyamistas só começaram a perder folego, quando o próprio neoliberalismo entrou em crise, e vários governos alinhados a esta ideologia foram substituídos por outros de cortes mais progressistas e estatistas. Ali a história se vingaria, e daria razão a um velho barbudo do século XIX, que sempre olhou de forma dialética para mesma.
            Hoje Fukuyama não ganharia espaço nem mesmo nas páginas amarelas da revista Veja. Suas teses foram renegadas até mesmo pelos grupos mais reacionários de nossa sociedade. Contudo, a ressaca neoliberal ainda deixou alguns resquícios de seu discurso fatalista. Não falta gente dizendo pelos cantos que esquerda e direita já não existem mais, que a busca cega pelo poder resume a política em disputas oportunistas, esvaziadas de qualquer conteúdo ideológico. Apontam alguns acontecimentos atuais como provas de sua fala; O PT, que no governo deu continuidade ao núcleo das políticas neoliberais da era tucana, as alianças em todo território nacional que colocam do mesmo lado comunistas, trabalhistas, petistas, socialistas  e demo-tucanos, e é claro, a ausência de um programa e de uma militância que demarque objetivamente quem seja de esquerda e de direita.
            É bem verdade que o PT mantém essencialmente a governabilidade conservadora, e que a militância de rua tenha sido substituída por profissionais e militantes temporariamente pagos. Intriga maior é o abandono completo no critério das alianças. Gostaria de estar numa coletiva de imprensa e perguntar ao prefeitável de São Paulo, o petista Fernando Haddad, o que ele pensa sobre ética, enquanto este esteja sentado ao lado de Paulo Maluf. Gostaria de perguntar ao candidato a prefeito de Barra Mansa Jonas Marins, sendo ele comunista, o que acha de privatizar serviços públicos, enquanto gente do DEM e do PSDB ficam bem a vontade na mesma coligação.
            Estas coligações monstros, como as duas citadas como exemplo, nos colocam uma questão: Ou de fato as ideologias morreram, ou alguém anda mudando excessivamente de lado?
            De minha parte, tenho clareza de que as ideologias sobreviverão enquanto houver seres humanos andando sobre este globo, e que as utopias revolucionárias sobreviverão enquanto os problemas centrais de uma sociedade mais humanista não forem resolvidos.
           Mas se comunistas e demo-tucanos estão do mesmo lado eleitoral, então alguém fez concessão. Não imagino o DEM e o PSDB reivindicando uma sociedade sem classes, assim como a emancipação humana. De modo que concluo que o que vem acontecendo é uma profunda metamorfose dos partidos de esquerda, que desejam inescrupulosamente chegar ao poder.
           A lógica espúria da busca pelo poder, encerrou a vida ideológica destes partidos, hoje um aglomerado de esfomeados pragmáticos. Não digo, contudo, que seja regra. Há motivos de sobra para acreditarmos na integridade ideológica de muitos militantes, assim como a manutenção do sonho revolucionário no coração de muitos seres humanos.
           A metamorfose de algumas legendas eleitorais não encerra o ciclo da disputa pela hegemonia e a transformação radical da sociedade, tão pouco retira os partidos do seu protagonismo na luta por uma nova ordem social. Ela apenas traz novos desafios a quem continua lutando e acreditando que “Outro mundo é possível”.

Um comentário:

  1. meu caro, o pior é que tem gente se arvorando a se dizer presidente de partido sem ao menos o partido ter núcleo organizado nos municípios ondem existem tais alianças. É o caso do PSOL em Barra Mansa e Resende. Alguém (não autorizado pelo partido) está fazendo tais alianças e queimando o nome do partido! lamentável!

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