terça-feira, 3 de julho de 2012

O caráter de Lula e o silêncio dos intelectuais

Por Adelson Vidal Alves


             O sociólogo e professor emérito da USP, Chico de Oliveira, disse em entrevista ao programa Roda Viva desta segunda-feira, 02 de Julho, que o ex-presidente Lula “não tem caráter” e é “oportunista”.
            Chico que foi fundador do PT se desligou do partido no ano de 2003, e desde então vem fazendo duras críticas aos governos petistas. As declarações do acadêmico, entretanto, nunca tinham ganhado um tom tão duro como este. A repercussão das afirmações bombásticas de Chico ainda não provocou reação da intelectualidade petista, que mais uma vez parece recorrer ao silêncio.
            Em 2005, por ocasião do episódio do mensalão, vários intelectuais ligados ao PT se negaram a falar. Mais tarde, a filósofa Marilena Chauí viria a público reivindicar o direito ao silêncio. No mesmo período, Chico de Oliveira se pronunciou dizendo que o papel do intelectual é exercer a crítica, e como tal não pode se esconder diante dos grandes impasses da esfera pública.
            É lamentável que gente de história na esquerda como Paul Singer e Marilena Chaui, renunciem à função de intelectuais para servirem a um governo. Ambos recentemente também se negaram a falar sobre o episódio da aliança de Lula com Maluf em São Paulo.
            Os intelectuais petistas funcionam da seguinte forma: Quando o governo do PT vai bem, publicam artigos, dão entrevistas e palestras exaltando as façanhas governamentais. Também deslancham a falar na medida em que seu governo é ameaçado por uma eleição. Quando Serra ameaçou a vitória de Dilma, não faltaram entrevistas e declarações públicas de acadêmicos do partido alertando para o fim do mundo caso o tucano vencesse as eleições.
            Nem todos os pensadores petistas, é verdade, se silenciam. O sociólogo Emir Sader mantém um blog no site Agência Carta Maior, no qual expõe seu malabarismo teórico para defender o PT e seu governo. Sader sofre de “Tucanofobia”, reduzindo a complexa conjuntura nacional a uma disputa maniqueísta entre PT e PSDB. Para Emir, fora desta dicotomia nada mais existe. O sociólogo, na verdade, passou há tempos de intelectual para ideólogo. É suplente de um senador petista e recentemente chegou a cogitar o Ministério da Cultura e a Casa Rui Barbosa. Sua boca grande lhe ceifou dos dois espaços.
            As palavras de Chico contra o caráter do ex-presidente já teve uma versão bem mais agressiva, protagonizada por outro grande intelectual ex-petista.
            O Economista Cesar Benjamin, que foi vice na chapa presidencial de Heloisa Helena, escreveu um artigo no ano de 2009 em que acusava Lula de molestar um dos detentos enquanto esteve preso. O artigo, publicado no Jornal Folha de São Paulo, ganhou forte oposição de militantes de todo o bloco governista. O núcleo do poder logo trabalhou não só para desmentir o economista, como também para acabar com sua carreira. Benjamin que era funcionário do governo do Paraná foi perseguido até ter sua demissão consolidada e seus espaços de debate reduzidos. Mais uma vez os intelectuais do PT assistiram omissos a uma ação mafiosa do poder.
O intelectual tem o papel de trabalhar com a crítica, e usá-la sempre em favor de uma verdadeira ética pública. Quando estes recolhem suas palavras em nome da estabilidade de um grupo no poder, são rebaixados ao cargo de pobres ideólogos. Se transformam, de fato, em verdadeiros traidores da dialética.

Nenhum comentário:

Postar um comentário