Por Adelson Vidal Alves
Quando
o artesão usava de seu trabalho para produzir um vaso ele tinha em sua mente
todo o processo necessário, para que no final da produção, o objeto produzido
refletisse exatamente sua projeção. Marx já dizia que o que difere o homem dos
animais é exatamente a capacidade de projetar o fim do seu trabalho, enquanto
no mundo animal o que impera é o instinto de sobrevivência. É conhecida a
metáfora do filósofo alemão em que ele diz que o pior arquiteto humano será
sempre melhor que uma abelha, exatamente pela capacidade de seu trabalho
planejado.
O trabalhador dos tempos
capitalistas regrediu em seu aspecto humano, principalmente por um fenômeno que
Marx chamou de “alienação”. A alienação do trabalho consiste na “desumanização”
do ser humano.
A divisão social do trabalho
capitalista faz com que toda a produção seja executada por um número maior de pessoas, que por sua vez, cada um deles representa apenas uma parte do processo
produtivo, de modo que, no final a
mercadoria produzida é completamente estranha aos seus operários produtores,
reduzidos a pequenos braços do maquinário avançado da indústria capitalista., as vezes sem sequer poder adquirir o fruto de sua labuta.
A alienação invade o cotidiano dos
seres humanos e se expressa na configuração de sua consciência e instituições. Aliás,
em Marx a consciência não está separada da forma como o homem se insere
concretamente na reprodução de sua vida material. A economia, assim, estaria
dentro de uma dinâmica dialética com a vida espiritual dos homens, e seria
fator primordial na consolidação institucional da estrutura social.
A religião, por exemplo, pode expor
claramente a dimensão alienada do ser humano. Completamente alheio ao seu
protagonismo como sujeito histórico, ele se submete a uma autoridade
desconhecida, estranha (alienus), a
sua realidade. A religiosidade desvincula a autonomia do homem como produtor da
história, entregando a uma entidade metafísica (Deus) a sua realização como
próprio homem.
O ser alienado esta submetido a um
estranhamento de sua vida social. Ele se distancia da prática do poder,
delegando a um pequeno grupo profissionalizado a direção da sociedade em que
vive. Este fenômeno chamamos de alienação política, porque a esfera política
passa a ser espaço privilegiado do outro, perdendo seu caráter original de
participação universal. Ora, a política é tão somente o instrumento da vida
humana, inventada como forma de corrigir as distorções da existência em
comunidade e proporcionar o bem comum. Quando a política se torna exercício de
poucos, e não um espaço de participação de todos, temos claramente a presença
da alienação.
O capitalismo reproduz a alienação e
escraviza o homem em seu mundo, separando ele de sua autonomia como sujeito
histórico, fazendo-o se sentir de fora da realidade em que participa e produz.
A manutenção desta passividade se dá por um ordenamento de idéias que Marx
chamou de “ideologia”. Este importante conceito marxista seria assunto para
outro artigo.
O fato é que o capitalismo deve ser
derrotado na medida em que a alienação desapareça, e o espírito dos homens seja
liberto.
Seja liberto para participar
conscientemente das decisões da vida em sociedade. Liberto
para sua auto-realização humana na produção de sua vida material. Liberto para
se sentir dirigente dos rumos da sua história.
A construção de uma outra ordem
social sem alienação passa pela eliminação do capital como fator hegemônico.
Lutemos assim pelo socialismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário