quinta-feira, 5 de julho de 2012

Alienação em Marx


             Por Adelson Vidal Alves



             Quando o artesão usava de seu trabalho para produzir um vaso ele tinha em sua mente todo o processo necessário, para que no final da produção, o objeto produzido refletisse exatamente sua projeção. Marx já dizia que o que difere o homem dos animais é exatamente a capacidade de projetar o fim do seu trabalho, enquanto no mundo animal o que impera é o instinto de sobrevivência. É conhecida a metáfora do filósofo alemão em que ele diz que o pior arquiteto humano será sempre melhor que uma abelha, exatamente pela capacidade de seu trabalho planejado.
            O trabalhador dos tempos capitalistas regrediu em seu aspecto humano, principalmente por um fenômeno que Marx chamou de “alienação”. A alienação do trabalho consiste na “desumanização” do ser humano.
            A divisão social do trabalho capitalista faz com que toda a produção seja executada por um número maior de pessoas, que por sua vez, cada um deles representa apenas uma parte do processo produtivo, de modo que,  no final a mercadoria produzida é completamente estranha aos seus operários produtores, reduzidos a pequenos braços do maquinário avançado da indústria capitalista., as vezes sem sequer poder adquirir o fruto de sua labuta.
            A alienação invade o cotidiano dos seres humanos e se expressa na configuração de sua consciência e instituições. Aliás, em Marx a consciência não está separada da forma como o homem se insere concretamente na reprodução de sua vida material. A economia, assim, estaria dentro de uma dinâmica dialética com a vida espiritual dos homens, e seria fator primordial na consolidação institucional da estrutura social.
            A religião, por exemplo, pode expor claramente a dimensão alienada do ser humano. Completamente alheio ao seu protagonismo como sujeito histórico, ele se submete a uma autoridade desconhecida, estranha (alienus), a sua realidade. A religiosidade desvincula a autonomia do homem como produtor da história, entregando a uma entidade metafísica (Deus) a sua realização como próprio homem.
            O ser alienado esta submetido a um estranhamento de sua vida social. Ele se distancia da prática do poder, delegando a um pequeno grupo profissionalizado a direção da sociedade em que vive. Este fenômeno chamamos de alienação política, porque a esfera política passa a ser espaço privilegiado do outro, perdendo seu caráter original de participação universal. Ora, a política é tão somente o instrumento da vida humana, inventada como forma de corrigir as distorções da existência em comunidade e proporcionar o bem comum. Quando a política se torna exercício de poucos, e não um espaço de participação de todos, temos claramente a presença da alienação.
            O capitalismo reproduz a alienação e escraviza o homem em seu mundo, separando ele de sua autonomia como sujeito histórico, fazendo-o se sentir de fora da realidade em que participa e produz. A manutenção desta passividade se dá por um ordenamento de idéias que Marx chamou de “ideologia”. Este importante conceito marxista seria assunto para outro artigo.
            O fato é que o capitalismo deve ser derrotado na medida em que a alienação desapareça, e o espírito dos homens seja liberto.
            Seja liberto para participar conscientemente das decisões da vida em sociedade. Liberto para sua auto-realização humana na produção de sua vida material. Liberto para se sentir dirigente dos rumos da sua história.
            A construção de uma outra ordem social sem alienação passa pela eliminação do capital como fator hegemônico. Lutemos assim pelo socialismo.           

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