terça-feira, 24 de julho de 2012

Eleições e redes sociais


           Por Adelson Vidal Alves

Imagens como essa expressam a defesa de muitos pela despolitização das redes sociais.

           
           O modelo político brasileiro é marcado por desequilíbrios extremos. A interferência do poder econômico, assim como uma legislação que favorece as grandes legendas, faz da democracia brasileira um cenário injusto no debate de idéias no período eleitoral.
Veja por exemplo o caso do Rio de Janeiro. Marcelo Freixo do PSOL terá pouco mais de 1 min em cada 30 min do tempo de televisão na disputa pela prefeitura carioca, e contará quase que exclusivamente com recursos de militantes e simpatizantes de sua candidatura. O atual prefeito Eduardo Paes (PMDB) candidato a reeleição, tem apoio dos governos do estado e federal, e já anunciou que gastará cerca de 25 milhões em sua campanha, além de contar com mais de 16 min em cada 30 min de TV.
Dentre as formas encontradas pelas candidaturas alternativas para driblar estas distorções, enquanto não vem a tão necessária reforma política, está a utilização das redes sociais. Estas se mostraram eficientes em vários países, vindo a se tornar a principal ferramenta de mobilização no que veio a ser conhecida como “Primavera árabe”. Foi também peça fundamental nas mobilizações no Chile, Grécia, Espanha e no Ocupa Wall Street.
Entretanto, no Brasil, as redes sociais parecem receber mal a política em suas formas variadas. No primeiro processo eleitoral com o uso massificado do facebook, o maior das redes sociais, a recepção de grande parte das pessoas que o utilizam é de rejeição a qualquer ensaio de debate eleitoral. Há correntes virtuais para que as eleições não “contaminem” o facebook, deixando-o livre do que acham ser a “chatice” que se tornou a política.
Antes de qualquer coisa, é preciso ressaltar que as redes sociais são expressões da expansão democrática do uso tecnológico. Elas podem ser espaços avançados e horizontais na construção de discussões pertinentes ao cotidiano, assim como podem se tornar um simples ambiente de entretenimento. Podem se transformar num local importante pelos quais os grupos subalternos avancem na batalha das idéias, ou abrigar um conjunto de relações supérfluas e particulares.
Seria ingenuidade atribuir potencial revolucionário (no sentido de mudanças estruturais sistêmicas) a estas redes, muito menos candidatá-las a substitutas dos partidos políticos na luta por transformações radicais na sociedade. Mas é ao mesmo tempo estranho que a alienação das consciências seja tão grande a ponto de criar comportamentos de oposição ao uso político das redes sociais. O povo brasileiro parece levar para estas ferramentas virtuais a desilusão que criaram com a política tradicional. Erram feio ao exigir o direito à acomodação e à alienação. Esquece-se que enquanto estão se escondendo da disputa eleitoral, os donos do poder continuam usando de múltiplas formas de persuasão, utilizando do poder financeiro e de barganha que detém, com o fim de seguirem controlando o sistema econômico e social vigente.
Se quisermos as redes sociais isentas de política, saibamos que estamos abrindo mão de um dos poucos espaços de ação direta que os grupos de baixo têm na luta por mudança social e cultural.
Enquanto as classes proprietárias lutam para reduzir cada vez mais os espaços de participação popular no exercício do poder, nós, do andar de baixo, parecemos estar renunciando as brechas que estas ainda são obrigadas a ceder. Se confirmarmos a opção do desdém, estaremos confirmando mais uma vitória das classes dirigentes contra aqueles que sonham a construção de uma nova ordem social, mais justa e humanitária.

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