Por Adelson Vidal Alves
Imagens como essa expressam a defesa de muitos pela despolitização das redes sociais.
O modelo político brasileiro é
marcado por desequilíbrios extremos. A interferência do poder econômico, assim
como uma legislação que favorece as grandes legendas, faz da democracia
brasileira um cenário injusto no debate de idéias no período eleitoral.
Veja por
exemplo o caso do Rio de Janeiro. Marcelo Freixo do PSOL terá pouco mais de 1
min em cada 30 min do tempo de televisão na disputa pela prefeitura carioca, e
contará quase que exclusivamente com recursos de militantes e simpatizantes de
sua candidatura. O atual prefeito Eduardo Paes (PMDB) candidato a reeleição,
tem apoio dos governos do estado e federal, e já anunciou que gastará cerca de
25 milhões em sua campanha, além de contar com mais de 16 min em cada 30 min de
TV.
Dentre as
formas encontradas pelas candidaturas alternativas para driblar estas
distorções, enquanto não vem a tão necessária reforma política, está a
utilização das redes sociais. Estas se mostraram eficientes em vários países,
vindo a se tornar a principal ferramenta de mobilização no que veio a ser
conhecida como “Primavera árabe”. Foi também peça fundamental nas mobilizações
no Chile, Grécia, Espanha e no Ocupa Wall Street.
Entretanto, no
Brasil, as redes sociais parecem receber mal a política em suas formas
variadas. No primeiro processo eleitoral com o uso massificado do facebook, o
maior das redes sociais, a recepção de grande parte das pessoas que o utilizam
é de rejeição a qualquer ensaio de debate eleitoral. Há correntes virtuais para
que as eleições não “contaminem” o facebook, deixando-o livre do que acham ser
a “chatice” que se tornou a política.
Antes de
qualquer coisa, é preciso ressaltar que as redes sociais são expressões da
expansão democrática do uso tecnológico. Elas podem ser espaços avançados e
horizontais na construção de discussões pertinentes ao cotidiano, assim como
podem se tornar um simples ambiente de entretenimento. Podem se transformar num
local importante pelos quais os grupos subalternos avancem na batalha das
idéias, ou abrigar um conjunto de relações supérfluas e particulares.
Seria ingenuidade
atribuir potencial revolucionário (no sentido de mudanças estruturais
sistêmicas) a estas redes, muito menos candidatá-las a substitutas dos partidos
políticos na luta por transformações radicais na sociedade. Mas é ao mesmo
tempo estranho que a alienação das consciências seja tão grande a ponto de
criar comportamentos de oposição ao uso político das redes sociais. O povo
brasileiro parece levar para estas ferramentas virtuais a desilusão que criaram
com a política tradicional. Erram feio ao exigir o direito à acomodação e à
alienação. Esquece-se que enquanto estão se escondendo da disputa eleitoral, os
donos do poder continuam usando de múltiplas formas de persuasão, utilizando do
poder financeiro e de barganha que detém, com o fim de seguirem controlando o
sistema econômico e social vigente.
Se quisermos
as redes sociais isentas de política, saibamos que estamos abrindo mão de um
dos poucos espaços de ação direta que os grupos de baixo têm na luta por
mudança social e cultural.
Enquanto as
classes proprietárias lutam para reduzir cada vez mais os espaços de
participação popular no exercício do poder, nós, do andar de baixo, parecemos
estar renunciando as brechas que estas ainda são obrigadas a ceder. Se
confirmarmos a opção do desdém, estaremos confirmando mais uma vitória das
classes dirigentes contra aqueles que sonham a construção de uma nova ordem
social, mais justa e humanitária.
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