Por Adelson Vidal Alves
Inicia-se na próxima quinta feira, no STF, o Julgamento da ação penal 470, mais conhecida como "processo do mensalão". Muitos consideram que este julgamento seja o maior e mais importante da história de nossa Suprema Corte. Entre os réus estão dirigentes da alta cúpula do Partido dos Trabalhadores, e envolve diretamente a imagem de um dos mais populares presidentes da República brasileira. O resultado final da ação pode significar uma revolução no imaginário popular quanto o personagem Lula e seu partido.
A sentença do processo que tem mais de 50 mil páginas e que já ouviu cerca de 600 testemunhas desde que foi aberto em 2006, trará certamente consequências para o PT, que poderá ser sentido já nas eleições de Outubro deste ano.
O mensalão se trata de um escândalo de corrupção denunciado pelo então deputado Roberto Jeferson, onde envolve a a compra de votos parlamentares para aprovação de projetos de interesse do governo federal. Na época Lula negou conhecimento do esquema, teve sua figura arranhada e sofreu grande abalo na popularidade de seu governo. Acordos por cima, porém, blindaram sua imagem, e praticamente o isentou de culpa. O PT saiu fortemente atingido, mas com a ausência de condenações o partido conseguiu se recuperar do abalo e crescer eleitoralmente. Contudo, um novo capítulo trágico pode começar a ser escrito nos próximos dias.
O desfecho do julgamento não só pode trazer mudanças no cenário da luta política nacional, como alterar a correlação de forças internas do próprio PT. Caso se julgue procedente o envolvimento de figuras como José Dirceu e José Genoino, por exemplo, fortalece-se setores do partido ligados a Dilma, e enfraquece o campo que defende a volta de Lula nas eleições de 2014. Abre-se também a possibilidade de grupos mais a esquerda avançarem dentro do partido, com possibilidades reais de reincorporarem valores e programas próximos dos reivindicados na fundação da legenda.
É certo também que o PT sofrerá seríssimas perdas nas urnas e um abalo na sua imagem como partido de esquerda, fundado em valores éticos. O partido nasceu reivindicando pra si o monopólio da ética, e depois que ascendeu ao poder vem acumulando denúncias de corrupção sistêmica nos governos que dirige.
O uso político por seus adversários já vem afetando a vida política do partido, e pode comprometer muito o projeto petista de poder. Entretanto, é oportunidade para que se repense o vale- tudo em que se meteu a legenda, que desde que subiu as escadas do poder se distanciou de seu programa original e seus aliados na sociedade civil, para se apoiar exclusivamente no jogo instituicional.
Não que eu acredite numa reviravolta ideológica no partido, que já foi o mais importante da esquerda na América Latina. Mas é momento interessante na vida partidária, e pode significar um repensar histórico de suas mudanças de rumo, como também jogá-lo de uma vez por todas entre aqueles que se resumem a pequena política, rejeitando o pudor pelo exercício espúrio do poder. Ai sim ! Seria o seu fim.
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