Por Adelson Vidal Alves
O bispo Edir Macedo, da Igreja
Universal do Reino de Deus, publicou no site de sua igreja um artigo* no mínimo
bizarro. Nele o líder religioso recomenda aos fiéis que não se misturem “racialmente”.
O bispo diz que não é aconselhável pessoas de “raças” diferentes se casarem,
argumentando que os futuros filhos sofrerão preconceito por sua miscigenação.
Macedo parte do pressuposto
falacioso de que os seres humanos se dividem em “raças”. Conceito que só cabe
entre os animais, haja vista que a espécie humana não pode ser recortada por
paradigmas raciais, fato há muito comprovado pela ciência.
Mesmo que Macedo estivesse certo
quanto à classificação racial entre os homens, seu dever como cristão seria
combater o preconceito, e não punir o amor “inter-racial” em nome de um futuro
sem confrontos.
A orientação do líder maior da IURD
é um visível caso de racismo. Seu texto propõe indiretamente a eliminação dos “mestiços”,
colocando como solução para o preconceito racial a segregação matrimonial
baseada na cor da pele.
Um texto como esse merecia nosso total desprezo. Contudo, é inegável a influência poderosa de Macedo e
seus meios de comunicação sobre a vida de milhões de pessoas. Seria um erro
ignorarmos isso.
Não bastasse o Estado nos separar
racialmente em políticas públicas, agora um líder religioso, em nome de Deus, sugere
o mesmo retrocesso “racialista” à sociedade brasileira.
Pode ser que mesmo os fiéis da IURD
não acatem o conselho de seu líder, tamanho o absurdo de suas argumentações.
Mas o mal já foi lançado no momento em que a ideia de “raça” passa ser
difundida a partir do púlpito eclesial.
O mal que causa o racismo, ou seja,
o imaginário predominante da existência de famílias raciais humanas, ganha cada
vez mais força em vários organismos de difusão ideológica. Nossa cultura de “racismo
acanhado” e sem organização material explícita, corre o sério risco de regredir
a um preconceito aberto e violento. Basta a certeza de que somos racialmente
diferentes para que novos grupos passem a se organizar a partir de uma falsa
ideia de hierarquização de variados grupos biológicos.
Se
o racismo científico foi vencido, o nosso racismo pode estar ganhando força por
outros caminhos. Ou trabalhamos seriamente na construção de uma cultura que
valorize a espécie humana como única, e sendo assim, sem superioridade de um
grupo racial sobre outro, seja na sociedade ou nas políticas de Estado, ou
estaremos retornando aos tempos mais sombrios da discriminação como fenômeno racial.
* Publicado em: http://noticias.gospelmais.com.br/bispo-macedo-homens-casar-mulheres-raca-diferente-39342.html
* Publicado em: http://noticias.gospelmais.com.br/bispo-macedo-homens-casar-mulheres-raca-diferente-39342.html
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