segunda-feira, 16 de julho de 2012

O bispo racista


Por Adelson Vidal Alves



            O bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, publicou no site de sua igreja um artigo* no mínimo bizarro. Nele o líder religioso recomenda aos fiéis que não se misturem “racialmente”. O bispo diz que não é aconselhável pessoas de “raças” diferentes se casarem, argumentando que os futuros filhos sofrerão preconceito por sua miscigenação.
            Macedo parte do pressuposto falacioso de que os seres humanos se dividem em “raças”. Conceito que só cabe entre os animais, haja vista que a espécie humana não pode ser recortada por paradigmas raciais, fato há muito comprovado pela ciência.
            Mesmo que Macedo estivesse certo quanto à classificação racial entre os homens, seu dever como cristão seria combater o preconceito, e não punir o amor “inter-racial” em nome de um futuro sem confrontos.
            A orientação do líder maior da IURD é um visível caso de racismo. Seu texto propõe indiretamente a eliminação dos “mestiços”, colocando como solução para o preconceito racial a segregação matrimonial baseada na cor da pele.
            Um texto como esse merecia nosso total desprezo. Contudo, é inegável a influência poderosa de Macedo e seus meios de comunicação sobre a vida de milhões de pessoas. Seria um erro ignorarmos isso.
Não bastasse o Estado nos separar racialmente em políticas públicas, agora um líder religioso, em nome de Deus, sugere o mesmo retrocesso “racialista” à sociedade brasileira.
            Pode ser que mesmo os fiéis da IURD não acatem o conselho de seu líder, tamanho o absurdo de suas argumentações. Mas o mal já foi lançado no momento em que a ideia de “raça” passa ser difundida a partir do púlpito eclesial.
            O mal que causa o racismo, ou seja, o imaginário predominante da existência de famílias raciais humanas, ganha cada vez mais força em vários organismos de difusão ideológica. Nossa cultura de “racismo acanhado” e sem organização material explícita, corre o sério risco de regredir a um preconceito aberto e violento. Basta a certeza de que somos racialmente diferentes para que novos grupos passem a se organizar a partir de uma falsa ideia de hierarquização de variados grupos biológicos.
 Se o racismo científico foi vencido, o nosso racismo pode estar ganhando força por outros caminhos. Ou trabalhamos seriamente na construção de uma cultura que valorize a espécie humana como única, e sendo assim, sem superioridade de um grupo racial sobre outro, seja na sociedade ou nas políticas de Estado, ou estaremos retornando aos tempos mais sombrios da discriminação como fenômeno racial.




* Publicado em: http://noticias.gospelmais.com.br/bispo-macedo-homens-casar-mulheres-raca-diferente-39342.html
                

Nenhum comentário:

Postar um comentário