Por Adelson Vidal Alves
Nunca anulei meu voto. Não cheguei ainda
ao extremo pessimismo de pensar que na política todo mundo não presta. Sempre me esforcei para buscar em algum partido
ou pessoa, algo que valesse a pena ou que demarcasse posição na luta de classes
que se expressa no terreno eleitoral. Em outras palavras: Já votei por
convicção, e também para evitar um mal maior.
Corre pelas redes a notícia de que a
cidade de Bom Jesus de Itabapoana teria certa vez anulado a eleição para
prefeito, ao rejeitar todos os candidatos em 89% de seus eleitores.
Não
me dei ao trabalho de conferir a veracidade da noticia, tampouco em analisar o
contexto particular desta cidade. Mas confesso que me assusta o entusiasmo com
que muitos receberam a noticia. Para estes, a pequena cidade teria dado um
exemplo de cidadania ao rejeitar “a corja de bandidos inescrupulosos que povoam
em sua totalidade a política institucional”.
O
voto nulo não deve ser visto como voto perdido. Ele é a expressão de quem não
confia em determinados postulantes a cargos públicos, e não vê em nenhuma de
suas opções algum elemento que lhe seduza a confiar-lhe um cargo eletivo. Pode ser
também fruto de uma ideologia mais complexa. O anarquismo, por exemplo, não
confia no poder, e rejeita as eleições em todas as suas formas. Para estes, a
mudança só virá pela intervenção direta do povo contra qualquer expressão de
dominação.
Sou
marxista, de modo que minha utopia maior é a eliminação de uma sociedade dividida
entre governantes em governados. Luto pela construção de uma ordem social sem
alienação, sem classes sociais, sem propriedade privada. A sociedade comunista,
no dizer de Marx.
Entretanto,
nem o marxismo e nem o anarquismo se sentiriam representados no entusiasmo
destas pessoas que exaltam o acontecido na cidade citada. Não há uma
consciência de renuncia do poder como relação social , tampouco a visão crítica
de que em certas situações negar o voto serviria como estratégia de luta
política.
Há,
a meu ver, uma descrença generalizada na política oficial, e assim uma
universalização equivocada de que as pessoas que fazem política são todas
corruptas, e que assim que assumirem o
poder, irão se corromper.
As
democracias modernas nos oferecem espaços privilegiados de luta política, o
voto é um deles. Ter representantes éticos e comprometidos com a transformação
social nos aparatos estatais é ponto fundamental de mudança. Se retirar da
esfera pública lavando as mãos no exercício da política não é cidadania, é
ingenuidade.
Certamente
não teremos uma febre nacional de votos nulos, até porque não é verdade que a
política se resume a corrupção. Conquistas sociais importantes das classes
populares vieram pela ocupação parcial dos espaços de poder por partidos e
pessoas comprometidas com o bem comum.
O
fenômeno que coloca em lados opostos povo e política se chama alienação, ou
seja, uma transferência para privados um dever que é universal. As eleições por
sufrágio universal são fruto da luta dos trabalhadores, e utilizá-las como
pirraça contra os maus políticos não me parece ser a solução.
"O Filósofo, um artista, um homem de gosto, participa de uma concepção de mundo, possui uma linha consciente de conduta moral, contribui assim para manter ou para modificar uma concepção do mundo, isto é, para promover novas maneiras de pensar" Antonio Gramsci
ResponderExcluirÉ preciso reinventar as estruturas políticas no Brasil, porque essas estão totalmente corrompidas, não há representação efetiva e os partidos são incapazes de levar adiante um projeto para o povo. É preciso romper com a república Federativa e criar uma República Unitária.
O que seria uma República Unitária?
Excluircheguei aqui pois a imagem faz sucesso no facebook, e encontrei-a aqui atraves do google images. se voce nao se deu ao trabalho de conferir a noticia, eu o fiz (e foi bem facil). na verdade os dois candidatos principais tiveram a candidatura impugnada devido a irregularidades, portanto quem votou neles teve o voto anulado. isso depois de, no mesmo ano, a cidade ter prefeito e vice afastados do cargo. isso é totalmente o oposto de um exemplo a ser seguido.
ResponderExcluirAmigo, obrigado pela visita. Mas se vc reler o texto com mais atenção vai entender que o objetivo de minha análise não foi o cancelamento da eleição em si, como deixa bem claro o artigo. "Não me dei ao trabalho de conferir a veracidade da noticia, tampouco em analisar o contexto particular desta cidade. Mas confesso que me assusta o entusiasmo com que muitos receberam a noticia". O que quis expor é minha surpresa diante da reação que a rede social mostrou, uma reação de apoio ao suposto boicote eleitoral. O que aconteceu de fato não importa, não conferi a veracidade da noticia que circula e nem esta que vc ora me informa. abraços.
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