quarta-feira, 29 de junho de 2011

Fim dos Partidos Politicos?

Por Adelson Vidal Alves



          
          Entre os cartazes carregados por jovens que sairam as ruas para mobilizações populares nos países árabes e na Europa, um deles se destacava pela frase Os jovens saíram as ruas e subitamente todos os partidos envelheceram...!
          Os dizeres representam uma profunda crise dos partidos politicos, inclusive os de esquerda, incapazes de conseguir captar as mudanças comportamentais das novas gerações de juventude e a metamorfose dos novos sujeitos sociais. Organizados de forma piramidal, burocraticamente centralizados e com ouvidos tapados para o eco de suas bases, os partidos politicos precisarão se modificar para continuar sendo o organizador das demandas universalizadas dos fragmentos sociais.
         As últimas mobilizações do mundo mostraram lutas heterogêneas, organizadas por grandes redes sociais, sem participações de partidos ou lideranças carismáticas. Tudo aconteceu espontâneamente, com formas de participaçao horizontal, sem ordens dadas de cima e com plataformas múltiplas que se encontravam nas grandes multidões.
         Diante deste quadro complexo, resta nos perguntar que papel ocupa hoje as organizações politicas tradicionai. É possivel superar a crise dos partidos politicos ou devemos pensar novos instrumentos de luta política que estejam de acordo com a nova forma de luta e reivindicação dos novos sujeitos sociais?
         Tenho pra mim que pelo menos por enquanto é o Partido politico a unica ferramenta de luta universal capaz de absorver as demandas plurais dos varios segmentos da sociedade e convertê-las em um projeto politico em conexão com a luta pelo poder e a transformação da sociedade. O que não significa, entretanto, desprezar as mutações mundiais na luta social. Se os partidos continuarem velhos, também ficarão solitários e sem capacidade de intervir nas mudanças e abrir caminhos para formas de organização politica e social pelos paramêtros das classes dominantes. O fim dos partidos politicos serveriam apenas para desarmar as classes subalternas e favorecer a dominação do capital com seus tentáculos invisiveis.
         A crise dos partidos politicos ainda não parece ser terminal, mas seu papel no mundo moderno passa por processos de transformação. É preciso entender as novas realidades, formas de luta e a cabeça da juventude, resgatar o protagonismo de instrumentos politicos devidamente organizados com respeito a pluralidade de idéias e a democracia. As manifestações espontâneas geram mobilizações e são muito mais democráticas mas são incapazes de livremente caminharem para disputas hegemônicas que irão dar novas diretrizes para a construção de uma nova ordem social.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Porque descriminalizar a maconha

Por Adelson Vidal Alves

O debate sobre a descriminalização da maconha encontra várias barreiras na sociedade brasileira. Setores religiosos, conservadores e tradicionalistas se recusam a discutir o tema.
A temática de criminalização do uso de drogas deve ser inserida não só partir de um paradigma democratizante no qual se respeita as liberdades individuais, mas principalmente a partir de um eixo de politica pública de combate a violência decorrente do tráfico de drogas.
Os que são contra alegam questões de saúde e problemas sociais. O primeiro esbarra no fato de que cientistas comprovaram que a maconha traz menos danos a saúde que drogas com uso legal como o cigarro e o álcool. Quanto a segunda questão, há de se avaliar que os efeitos alucinóides da maconha, assim como qualquer outra droga, pode de fato criar comportamentos individuais que possam oferecer riscos a organização social, mas no que diz respeito a maconha, ela está bem atrás nas estatísticas comparada ao alcool, muito mais perturbador da ordem.  Então porque liberar o álcool e criminalizar a maconha?
Alguns dirão “há de se proibir os dois” o que seria até certo ponto coerente, entretanto incompatível com a realidade e regressivo no trato das questões culturais, levando em conta que as drogas não podem ser vistas apenas pela ótica criminalística, mas também cultural, no qual fazem parte da historia e vida de vários povos.
No Brasil, a descriminalização de drogas leves precisa estar em sintonia com um debate que responsabilize o Estado em questões de ordem de saúde e segurança pública. Por aqui a repressão dá-se sobre os usuários, em sua maioria pobres. A policia trata os consumidores como responsáveis pela proliferação do tráfico de drogas e suas terríveis consequências. Ignoram a corrupção das instituições Estatais, hoje um braço do poder paralelo do tráfico, sem pelo qual poderiam jamais existir. Imaginar que a simples coerção a usuários irá acabar com o uso das drogas é hipocrisia e ingenuidade.
A descriminalização das drogas leves quebraria parte da espinha dorsal econômica do tráfico, colocando sob regulamentação do Estado seu comércio e formas de consumo. A taxação de sua comercialização poderia gerar maior receita para o Estado, fazer a droga ficar mais barata e com formas muito mais fáceis de controle social.
Obviamente não estou fazendo apologia ao uso da droga, pelo contrário, entendo que seria dever do governo exercer permanente trabalho de conscientização sobre os riscos de seu consumo, contudo despenalizando os usuários e se responsabilizando por aqueles que fugirem aos traços comuns de uso da droga. A vantagem neste processo é que fica por parte das instituições legais a “disciplinarização” do uso e não mais do poder paralelo do tráfico.
O STF recentemente considerou legal as marchas pela legalização da maconha, o que historicamente reconhece uma legitimidade democrática no debate quanto ao parâmetro jurídico sobre uso de drogas leves. No entanto, devemos reconhecer que este debate ainda está engatinhando, seja pela imaturidade da sociedade brasileira, seja pela complexidade do tema, imerso em mitos, conservadorismo e desconhecimento.



quarta-feira, 22 de junho de 2011

Esquerda e democracia

Por Adelson Vidal Alves



              A democracia assume feições multiplas que podem variar em períodos históricos. Ela se concretiza através de instituições fundadas sobre consensos e são garantidas na medida em que se amplia a participação popular na esfera de poder.
             Os orgãos modernos de democracia estão em sua maioria inseridos numa realidade de hegemonia brutal do capital e por isso são bloqueados em sua função democratizadora. Vale reelembrar a velha lição marxista do carater classista do Estado, entretanto, é preciso ressaltar a complexidade que assumiu no mundo atual, onde o que era um simples "Comitê executivo das classes dominantes" se tornou mais ampliado e fecundo para avanços das classes subalternas, prova disso é da ampliação institucional da democracia, garantida através do sufrágio universal, liberdade sindical, midia operária etc. Todos frutos da luta dos trabalhadores contra as restrições burguesas.
            Parte da esquerda contudo ignora o carater universal da democratização. Créem na tomada violenta e rapida do poder, conforme as revoluções do século XX. Esta esquerda ignora a correlação de forças, as metamorfoses classistas, a complexidade dos novos sujeitos sociais e a sofisticação da luta social. Não se pode mais separar o mundo em Burgueses e proletários, como sugeria o Manifesto Comunista e nem ignorar a democracia como fez os ideólogos do mal chamado socialismo real. Há de se combinar a socialização dos meios produtivos com o exercicio do poder, quebrar vanguardismo, burocracia e sectarismo.
             Uma esquerda que responda a estes novos anseios não pode ser simplista, sectaria e dogmatica. Deve ser ampla, plural, tolerante, aberta a dialogos e alianças pontuais e programáticas, numa estratégia que Gramsci chamou de guerra de posição.
             Na guerra de posição se avança e retrocede, se perde e se ganha, se faz revolução no processo, por dentro das estruturas democráticas, respeitando a regra do jogo. Obviamente isso não significa que não haja rupturas, pelo contrário, o jogo democrático moderno necessita ser superado por rupturas no cerne do sistema, através de reformas estruturais, longas e moleculares.
             Carlos Nelson Coutinho certa vez alertou que a nova esquerda não deve-se contentar em ser testemunha dos valores justos e puros, mas principalmente ser grande e jogar peso na luta global. O sectarismo de alguns só atrasa o processo do acumulo de forças.
             Fora da democracia não é possivel socialismo e a democracia só é plena com a construção de uma nova ordem social, onde alienação e divisão social do trabalho desapareçam.


segunda-feira, 20 de junho de 2011

Fundamentalismo na política

Por Adelson Vidal Alves



           Podemos dizer que o fundamentalismo teve sua origem nos EUA quando teólogos de uma Universidade  lançaram um documento sobre os fundamentos do cristianismo, no qual  colocavam a necessidade da interpretação literal dos textos bíblicos. Daí em diante o fundamentalismo passou a ser sinonimo de doutrinas que associam-se a verdades absolutas.
            O fundamentalismo perpassa todas as formas de organização humana, apesar de seu habitat natural ser religioso. Na política ele é identificado com filosofias dogmáticas, incapazes de enxergar a pluralidade das concepções humanas e se concretizam com práticas de não convivência com a diferença, certo que a verdade está sempre do seu lado.
            A esquerda está cheio de fundamentalistas. Adeptos de São Marx, São Trotsky e outros tantos grandes teóricos, divinamente envolvidos pelo sectarismo, são na maioria arrogantes, avessos a ignorância alheia. Para eles ninguém presta, salvo suas minusculas e insignificantes seitas. Fora eles todo mundo é pelego, traidor, chapa branca. Participar de governos não é visto como uma estratégia politica em um quadro desvantajoso na correlação de forças, mas sim um governismo oportunista, coisa de gente que gosta de mamar na teta do Estado.
            Só olham para o próprio umbigo, se autoidolatram, olham o mundo ao redor como sendo um espaço de gente estúpida, distante do alto pedestal intelectual e moral que se assentam. Adoram apontar o dedo, julgar criticar e jamais fazem autocritica, certos de sua infabilidade.
           Em geral não constroem nada, se confinam em grupóides fechados e no cenário politico se vangloriam quando rompem com algo ao invés de construir alianças. PSOL, PSTU e PCB não lançaram candidatura unificada a presidencia na ultima eleição puramente pela vaidade de não ceder pontos divergentes. O resultado foi um blá blá vazio longe do povo e de seus anseios.
           Os fundamentalistas são amados pela direita, seus sectarismos ajudam a preservar o sistema, que agradece tamanha falta de competência e articulação.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

PSOL

Por Adelson Vidal Alves


     
       O Psol de Volta Redonda realizará  neste fim de semana, na Câmara Municipal de Vereadores, um ciclo de debates sobre a situação do partido. Na sexta-feira, dia 17 de Junho, estará presente o Deputado federal Chico Alencar.
       O Partido Socialismo e Liberdade nasceu de uma cisão do PT, que ao chegar ao governo central do país abandonou suas bandeiras históricas e implementou uma governança prioritariamente conservadora e em aliança com as classes dominantes do país. O Psol é assim uma reaglutinação dos segmentos progressistas e revolucionários que se desiludiram com os rumos do antigo partido e resolveram reviver a luta a partir de uma nova experiência.
       Há riscos inevitaveis ao tentar refundar uma esperança em um contexto completamente desfavoravel. Ao contrário do momento da fundação do partido dos trabalhadores, onde havia certa unidade da esquerda com ascenso das lutas sociais e participação efetiva de setores ativos das classes não proprietárias, o momento que ora se configura é de refluxo, que se agrava com o clima de encantamento e esvaziamento da luta de classes, patrocinada por práticas transformistas do governo federal e pela cooptação brutal de inteiros segmentos das classes subalternas. Pesa ainda a construção partidária feita por cima, com protagonismo de parlamentares e personalidades, sendo ainda pressionada pela agenda eleitoral.
       Desta forma é imprescindivel que encontros como o que será realizado esta semana debatam a fundo as contradições de todo este processo, ir fundo na autocrítica, reavaliar sectarismos e principalmente incentivar uma democracia interna centrada na pluralidade de idéias e na participação das bases. Erraria feio caso fortalecesse em seu interior praticas cupulistas, personalistas e vanguardistas. Não se pode pensar um partido socialista para nossos tempos sem se considerar a construção de consensos revolucionários que possam nascer do próprio seio partidário.
        O debate do Psol não interessa apenas a seus filiados, interessa todos que de alguma forma acreditam e lutam pela construção de um socialismo em perfeita harmonia com a ordem democrática.           


segunda-feira, 13 de junho de 2011

Violência no campo

         
Por Adelson Vidal Alves


           Os assassinatos envolvendo trabalhadores rurais do Norte do país nos últimos dias tem causado grande alarde na mídia, no Congresso Nacional e em toda a sociedade. Parece a primeira vista um fenômeno recente, mas infelizmente remonta um longo período da história brasileira.
           Tem culpa o poder Judiciário, reacionário, arcaico e conservador, rápido para emitir reintegrações de posse e absorver fazendeiros assassinos, lenta para investigar e punir criminosos no campo.
           Tem culpa os sucessivos governos, incluindo o de Lula e Dilma, que não fizeram a reforma agrária e mostram números tão mediocres quanto o de seus antecessores tucanos. São aliados preferenciais aos setores dominantes do campo.
           Tem culpa a grande mídia, mentirosa, oligárguica, caluniadora e parcial. Distorcem os fatos para mostrar o MST como um bando de baderneiros e ao mesmo tempo proteger entidades do agronegócio e esconder as maracutaias e crimes cotidianos dos donos do poder econômico e politico.
           Tem culpa o Congresso Nacional, que rejeita sucessivamente projetos de democratização da estrutura fundiária, financiados que são por recursos do agrobussines. Formam bancadas para defender a injustiça de nossa situação fundiária e armam leis para criminalizar quem luta por justiça no campo.
           Tem culpa Aldo Rebelo, deputado dito comunista que se curvou aos interesses ruralistas e relatou um código florestal que abre ainda mais espaço para exploração e destruição ambiental, ao preço que anistia desmatadores. Aldo e quem votou a favor do novo código florestal devem se sentir co-responsáveis pelo aumento da violência no país.
            Tem culpa a sociedade brasileira, que assiste atônita porém omissa a tamanho massacre de lutadores do campo. Tem culpa porque votam nos mesmos candidatos de sempre, e que sempre velaram pela injustiça  e se calaram diante da opressão que sofre tantos trabalhadores rurais abandonados a propria sorte. 
             Tem culpa o Brasil, historicamente generoso com os de cima, e implacável com os pobres.
           

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Racialização dos Concursos públicos

Por Adelson Vidal Alves

           

              Basta assinar uma declaração de que é negro ou indio, entregar aos organizadores dos concursos públicos e depois torcer para que uma banca veja em você traços de um negro ou indio. Se por acaso obter esta sorte estará a partir dali dando um passo a frente dos outros candidatos, podendo assim fazer parte dos 20% que terão uma vaga garantida para cargos estatais nos concursos públicos do Rio de Janeiro. O autor de tamanha aberração é o governador do Estado do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, que ultimamente tem demonstrado como trata os servidores públicos cariocas, seja com prisões para bombeiros ou bombas em professores.
            O principio da meritocracia nos concursos públicos do Estado do Rio de Janeiro passa a ter apenas 80% de validade, o restante estará na mão de juizes raciais, que com critérios decididos por eles mesmos irão decidir quem é ou não pertencente a "raça" negra e indigena.
             Antes mesmo de entrar em vigor, as cotas raciais ao contrario de combaterem o racismo estão incentivando estas rivalidades. O memorial de Zumbi dos Palmares foi pixado de branco e com dizeres racistas, além do mais várias crianças de escolas públicas e cursinhos começam a ver dentro de sua sala de aula que já não necessitam apenas vencer o cérebro de seus concorrentes, mas também a cor de seus concorrentes. Ser negro ou indio segundo os racializadores do tribunal racial é ter privilégios de acesso a serviços públicos, mesmo que estes se mostrem menos qualificados para servirem ao povo.
            O preconceito racial é alimentado com leis que dividem a partir de estruturas juridicas os brasileiros entre negros e brancos, penalizando não os ricos que com muito mais recursos ocupam altos postos no Estado e em serviços públicos, mas sim os pobres que por azar da vida e o bel prazer de tribunais de raça cumprem a pena por sua cor de pele e o passado perverso que nenhum deles participou ou teve culpa.
            Do ponto de vista pedagógico, leis como esta incentivam disputas de cunho racial, inculcam a hierarquia racializadora e revive em nosso país praticas públicas de racismo, quando o caminho deveria ser o de universalização dos serviços e a criação de uma cultura plural e tolerante entre os povos.
            O discurso raivoso de setores reacionários do movimento negro estão imbutidos de espirito de vingança por um passado que deve ser superado no que mais foi cruel: a dircriminação. Mas não se combate discriminação discriminalizando, não se inclui alguém excluindo outros, criando diferenças e barreiras com quem não foi sorteado pela loteria biológica. Como disse certo jovem carioca: Já tive azar em nascer pobre, e agora tive mais azar ainda em não nascer negro.
            Veja que tipo de sociedade carioca Cabral quer criar. Uma sociedade cheia de divisões étnicas e raciais, cheia de intolerancia e com serviços estatais constituidos a partir de seleções raciais.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

A refundação da UMES-VR

Por Adelson Vidal Alves


UNE e UBES foram aparelhadas pelo governo federal, o resultado foi uma atuação burocratizada, apática e sem nenhuma conquista para os estudantes.

         No último dia 1 de Junho foi realizado o Congresso de refundação da UMES-VR (União Municipal dos Estudantes Secundaristas). A entidade não atuava desde 2008 e reaparece como uma toupeira (pra usar a metáfora de Marx) em tempos de profunda crise dos movimentos sociais.
        Os desafios da nova diretoria são enormes. Vivemos um periodo de desmobilização do povo e um profundo desalento dos sujeitos sociais. Os estudantes que protagonizaram recentemente grandes mobilizações na Europa andam em reestruturação no Brasil, em parte graças ao que Gramsci chamou de "tranformismo", neste caso uma brutal cooptação dos sujeitos sociais ativos do movimento estudantil. Tanto a UNE quanto a UBES perderam grande parte de sua carga crítica ao se alinharem subalternamente as políticas do governo federal. Os projetos que ambas defendem são tímidos, fracos e quase sempre ganhando respaldo da burocracia estatal. Transformaram-se em correia de transmissão da politica governista.
        Em Volta Redonda o renascer da UMES traz esperança. Principalmente pelo silencio que o movimento secundarista pratica nestes ultimos anos, carente de sua entidade representativa. Há que se queimar fogos, festejar, mas também refletir sobre erros e se vacinar dos já conhecidos desvios.
        Não há nada pior para um movimento popular que sua burocratização. Existe uma direção que não é senhora das decisões de sua base. A ela cabe articular, organizar e mobilizar a categoria, jamais falar por eles, mas sim em nome deles e principalmente com respaldo deles. Para isso é necessário a construção de uma democracia interna, que respeite a pluralidade de idéias de suas bases e assim criar mecanismos constantes de debate entre todos os espaços de atuação do movimento. Se por simples pragmatismo prevalecer uma cúpula falante a despeito das bases, o movimento caminha para sua derrota.
         O segundo ponto tem a ver com sua própria independência. Nenhum governo ou partido tem o direito de tutela sobre o movimento. A entidade precisa pensar por si mesma, rejeitando o oportunismo politico de alguns que querem fazer dos jovens massa de manobras para seus projetos eleitoreiros. O movimento estudantil deve velar pelas demandas de suas bases e não a ganancia eleitoral de quem só ve politica pelos cargos que desejam ocupar.
         Segundo o Jornal Diario do vale, foi aprovada no Congresso de refundação da entidade um documento sobre a implementação do Passe Livre para estudantes no nosso municipio. Estão com toda a razão. As empresas de transporte coletivo lucram demais enquanto estudantes deixam de estudar por evasão escolar, além do mais, tanto a LDB quanto a constituição orienta politicas publicas de transporte como forma de assegurar o jovem na escola. A UMES deve sim trabalhar neste tipo de representação, porém, repito, deve ser respaldada pela opinião dos estudantes que precisam ser consultados antes de mais nada. Um projeto que saia de um gabinete direto para a plenária da câmara sem nenhuma preocupação de discutir com quem mais se interessa pelo assunto não é digno de ser respaldado pelo movimento.
         A UMES tem autonomia, competência e legitimidade para construir um projeto a altura de suas demandas e não precisa de tuteladores profissionais. Se assim o fizer teremos motivos de sobra para acreditar num novo ascenso da luta estudantil em Volta Redonda. É preciso estar de vigilia, com um olho nos lobos (são muitos) e outro nas galinhas.

Senhores do Regresso

Por Adelson Vidal Alves


Os mesmos que ano passado patrocinaram uma campanha difamatória, deseducadora e mentirosa contra a discriminalização do aborto, são os que hoje se opõem radicalmente a leis e programas de combate a homofobia.
O reacionário pastor Silas Malafaia, que virou a casaca nas eleições do ano passado a favor de Serra e hoje vem com pires na mão cobrando carguinhos no governo Dilma, liderou um protesto com milhares de pessoas contra o PL 122, que se aprovado irá criminalizar a homofobia. Malafaia e seus seguidores bitolados alegam que a lei irá incentivar censura a liberdade de expressão.
É bom ressaltar que não são apenas protestantes como Malafaia que criticam o projeto, a alta cúpula da igreja católica faz jus a sua historia de atraso e também se posiciona contra o projeto. Em comum o fato de ignorarem a hermenêutica e a exegese e interpretarem a bíblia literalmente sem considerar as imensas diferenças culturais do contexto de sua produção e os dias atuais. Seria impossível dentro de um ambiente extremamente religioso e machista alguém defender abertamente a defesa dos homossexuais. Mas se Malafaia e seus confrades tivessem um mínimo de sensibilidade quanto aos evangelhos iriam perceber a cumplicidade de Jesus para com os excluídos de seu tempo. O que a religião oficial discriminou e rejeitou, Jesus acolheu, coisa que pastores, padres e bispos não fazem nos nossos dias.
O Brasil é campeão mundial em homocidios cometidos contra gays, sem entretanto dotar de uma mínima estrutura jurídica que trate destas questões. A PL 122 seria um enorme avanço para os direitos humanos de nosso país, um exemplo para todo mundo. É preciso ser muito ignorante, alienado e preconceituoso para não entender isso.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Os dilemas do Governo Dilma

Por Adelson Vidal Alves

        

          Sustentado sob a popularidade de seu antecessor e da construção de uma maioria heterogênea no Congresso Nacional o Governo Dilma pode desfrutar de algumas vitórias políticas importantes em seus primeiros vezes, como no episódio do salário mínimo. Entretanto, as coisas parecem ter mudado, o governo vem tendo que enfrentar chantagem de setores de nossa sociedade, como a  da bancada evangélica no episódio do Kit homofobia. Além do mais, tem que assumir posições no que diz respeito ao que parece ser o inicio de uma crise de governabilidade com as denuncias sobre a elevação patrimonial do Ministro Antonio Palocci.
          Por fim teve que enfrentar um desgaste na votação do nefasto novo Código Florestal, rejeitado em massa pela sociedade, mas aprovado sob negociatas espúrias entre setores ruralistas e clientelistas do Congresso Nacional, comandados paradoxalmente por um dito comunista e aliado, o deputado Aldo Rebelo (PC do B). Se vetar o projeto Dilma sinalizará para setores avançados e fortalecerá um traço de personalidade politica, se ceder as chantagens mostrará suas fragilidades e abrirá caminhos para uma governabilidade condicionada pela fome de sua base governista.
           Os dilemas do Governo Dilma é explicado pelo arco de alianças que construiu com o unico intuito de vencer a eleição, sem se preocupar com a construção de um projeto comum. A aliança PT-PMDB constitui o núcleo desta governança e expoe de forma clara a incapacidade de assumir posturas mais fortes no que diz respeito a reformas estruturais que possam dar rumos de transformação social no país. A batalha sobre a tímida Reforma política já demonstra a dificuldade de traçar projetos sem poder contar com um nucleo programatico minimamente definido.
           A saída de Dilma seria uma reorganização de forças a partir dos movimentos sociais, o que causaria enormes problemas, dada a correlação de forças desfavoravel para uma governabilidade institucional. Até porque a própria postura do PT demonstra que não pretende mexer muito na realidade social brasileira, pensa-se fanaticamente em se manter no poder.
           Os dilemas do governo Dilma irão se pautar por uma postura de pequena politica, sem preocupações maiores para mudanças estruturais na nossa sociedade. O teatro institucional da politica brasileira não apresenta alternativas reais e o PT morreu como força de esquerda. O caminho da esquerda passa por fora do Governo Dilma, condição mínima para o resgate da utopia abandonada pelo PT.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Reformismo revolucionário

Por Adelson Vidal Alves



            Senão me engano é do sociólogo André Gorz o termo “Reformismo revolucionário” tão utilizado pelo cientista político brasileiro Carlos Nelson Coutinho para determinar um longo processo de transformação social sustentado sob reformas estruturais que golpeiem a ordem do capital e altere a correlação de forças a favor das classes subalternas.
            O reformismo revolucionário está de acordo com a maioria da realidade das democracias modernas, tão complexas e heterogêneas. Ele é uma estratégia de luta que substitui as táticas utilizadas pela esquerda socialista durante o século XX e que logrou sucesso em paises como Rússia, China e Cuba. No mundo atual não basta tomar o Palácio de Inverno, é preciso reconhecer os novos sujeitos sociais, a sofisticação da luta de classes e a nova natureza do poder, que combina coerção e consenso.
            Para que haja sucesso, o reformismo revolucionário deve estar inserido num contexto favorável, que combine eleição de governos progressistas com forte pressão das classes não proprietárias. A chegada do PT a presidência da Republica poderia ter aberto este ciclo no país, mas foi prematuramente bloqueado pela cooptação do principal partido do governo, seus satélites e a maioria dos movimentos sociais. O esvaziamento das lutas de classes fez com que o novo governo adotasse a agenda derrotada das classes dominantes, sem a implementação das reformas.
            O governo Dilma assim como o de Lula se recusa a debater reformas importantes como a agrária, tributaria, política, da educação e da mídia. Tamanho recuo se explica pelo caráter governista de cooperação social, sem força e vontade política para assumir um reformismo forte que poderia se contrapor aos interesses da elite econômica do país. Infelizmente parte desta elite ocupa espaços estratégicos na estrutura de poder estatal.
            A retomada de um novo acumulo de forças dos setores revolucionários e progressistas da sociedade deve passar pela ruptura com o governo petista e a aglutinação em torno de um novo programa de reformas. A pluralidade saudável dos setores da esquerda pode em principio apresentar desafios para a convergência de um novo bloco de forças anticapitalista que combine radicalidade revolucionária e prudência para interpretar corretamente as possibilidades reais de transformação em cada tempo.
            O reformismo revolucionário só pode ser estratégia das forças políticas democráticas, que entendam que não há caminho para o socialismo que não se combine liberdades individuais e políticas.