Por Adelson Vidal Alves
Os assassinatos envolvendo trabalhadores rurais do Norte do país nos últimos dias tem causado grande alarde na mídia, no Congresso Nacional e em toda a sociedade. Parece a primeira vista um fenômeno recente, mas infelizmente remonta um longo período da história brasileira.
Tem culpa o poder Judiciário, reacionário, arcaico e conservador, rápido para emitir reintegrações de posse e absorver fazendeiros assassinos, lenta para investigar e punir criminosos no campo.
Tem culpa os sucessivos governos, incluindo o de Lula e Dilma, que não fizeram a reforma agrária e mostram números tão mediocres quanto o de seus antecessores tucanos. São aliados preferenciais aos setores dominantes do campo.
Tem culpa a grande mídia, mentirosa, oligárguica, caluniadora e parcial. Distorcem os fatos para mostrar o MST como um bando de baderneiros e ao mesmo tempo proteger entidades do agronegócio e esconder as maracutaias e crimes cotidianos dos donos do poder econômico e politico.
Tem culpa o Congresso Nacional, que rejeita sucessivamente projetos de democratização da estrutura fundiária, financiados que são por recursos do agrobussines. Formam bancadas para defender a injustiça de nossa situação fundiária e armam leis para criminalizar quem luta por justiça no campo.
Tem culpa Aldo Rebelo, deputado dito comunista que se curvou aos interesses ruralistas e relatou um código florestal que abre ainda mais espaço para exploração e destruição ambiental, ao preço que anistia desmatadores. Aldo e quem votou a favor do novo código florestal devem se sentir co-responsáveis pelo aumento da violência no país.
Tem culpa a sociedade brasileira, que assiste atônita porém omissa a tamanho massacre de lutadores do campo. Tem culpa porque votam nos mesmos candidatos de sempre, e que sempre velaram pela injustiça e se calaram diante da opressão que sofre tantos trabalhadores rurais abandonados a propria sorte.
Tem culpa o Brasil, historicamente generoso com os de cima, e implacável com os pobres.
É perverso: a exclusão brasileira, a desigualdade alarmante e gritante da sociedade brasileira. A concentração de terra, renda, riqueza. A não distribuição dos bens. A crueldade da lógica mercadológica capitalista. Mas principalmente, a banalização de tudo isso, a naturalizaçao de tudo isso é deveras mais que perverso, é assombroso. Enfim, "de quem depende que a opressão prossiga? De nós. De quem depende que acabe, também de nós." (paráfrase de Brecht). Parabéns pelo texto, simples e direto. Esse é o eixo.
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