quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Os "Foras"



Por Adelson Vidal Alves


As manifestações, iniciadas em Junho, perderam volume, mas seguem Brasil afora. No Rio de Janeiro elas são quase diárias, e tem como alvo principal o governo Sérgio Cabral. A principal reivindicação? A renúncia do Governador.

Em São Paulo o fenômeno se repete, ainda que de forma menos violenta. Por lá também se houve pedidos de renúncia do chefe do executivo Estadual.

Os manifestantes carregam cartazes que exibem denúncias e críticas aos governadores. Pedem Fora Cabral ! Fora Alckmin! Consideram impossível a permanência de ambos, e por isso tomam a iniciativa de exigir que estes abandonem suas cadeiras.

Pois bem, não entremos no mérito da questão que envolve os governos. Se são bons ou ruins, não é esta a única questão. A pergunta que faço: até que ponto é saudável pressionarmos governos para que estes renunciem baseados quase que exclusivamente em nossas avaliações subjetivas? Seria correto que a pressão das ruas drible os aparatos constitucionais que regem nossa democracia? Aliás, seriam o grito das ruas medidores justos da insatisfação da maioria do povo, ou simplesmente recurso oposicionista de corte ideológico?

Lembro-me bem das manobras das oposições no governo FHC. Contrariados pelo caminho liberalizante da gestão tucana, petistas, cutistas e comunistas tomavam as ruas pedindo Fora FHC ! Recusando-se, inclusive, a atuar nos espaços democráticos do debate público no Estado de Direito. Pode parecer reacionário o que vou dizer, mas me soa golpista pequenos grupos exigirem queda de governantes, quando estes se equilibram na legalidade, mesmo que administrando de forma discutível.

Torço para que o Brasil incorpore, imediatamente em suas leis, o instrumento de revogação popular de mandatos, de modo que a maioria do povo decida pela permanência ou não de representantes legislativos. Enquanto isso não acontece, temo a ação golpista de pequenas vanguardas, que de forma oportunista tentam impor vontades próprias rejeitadas nas urnas.

Continuo apostando no processo democrático, regido pela Carta Magna de 1988. Fora dela ou contra ela, vejo riscos terríveis de retrocesso. A política deve ser cada vez mais ampliada a participação social, de modo que se evite construção de elites afoitas em falar pelo povo. Os “foras” que brotam das manifestações podem até vir da justa indignação de quem grita, mas a pretensão de fazer da opinião de uns o destino de todos é nocivo ao jogo democrático.

Sigo apostando nas leis e na disputa política por dentro do espaço público. Os que ficaram de fora das instâncias institucionais de poder devem trabalhar com a política para ocuparem tais espaços. Instrumentalizar “golpismos” é uma prática presente nos setores autoritários tanto da esquerda quanto da direita. De minha parte há condenação. Vou permanecer adepto das regras do jogo, ainda que nem sempre funcione como devia.

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