Por Adelson Vidal Alves
As manifestações, iniciadas em
Junho, perderam volume, mas seguem Brasil afora. No Rio de Janeiro elas são quase
diárias, e tem como alvo principal o governo Sérgio Cabral. A principal
reivindicação? A renúncia do Governador.
Em São Paulo o fenômeno se
repete, ainda que de forma menos violenta. Por lá também se houve pedidos de
renúncia do chefe do executivo Estadual.
Os manifestantes carregam
cartazes que exibem denúncias e críticas aos governadores. Pedem Fora Cabral !
Fora Alckmin! Consideram impossível a permanência de ambos, e por isso tomam a
iniciativa de exigir que estes abandonem suas cadeiras.
Pois bem, não entremos no
mérito da questão que envolve os governos. Se são bons ou ruins, não é esta a
única questão. A pergunta que faço: até que ponto é saudável pressionarmos
governos para que estes renunciem baseados quase que exclusivamente em nossas
avaliações subjetivas? Seria correto que a pressão das ruas drible os aparatos
constitucionais que regem nossa democracia? Aliás, seriam o grito das ruas
medidores justos da insatisfação da maioria do povo, ou simplesmente recurso
oposicionista de corte ideológico?
Lembro-me bem das manobras das
oposições no governo FHC. Contrariados pelo caminho liberalizante da gestão
tucana, petistas, cutistas e comunistas tomavam as ruas pedindo Fora FHC !
Recusando-se, inclusive, a atuar nos espaços democráticos do debate público no
Estado de Direito. Pode parecer reacionário o que vou dizer, mas me soa
golpista pequenos grupos exigirem queda de governantes, quando estes se
equilibram na legalidade, mesmo que administrando de forma discutível.
Torço para que o Brasil
incorpore, imediatamente em suas leis, o instrumento de revogação popular de
mandatos, de modo que a maioria do povo decida pela permanência ou não de
representantes legislativos. Enquanto isso não acontece, temo a ação golpista
de pequenas vanguardas, que de forma oportunista tentam impor vontades próprias
rejeitadas nas urnas.
Continuo apostando no processo
democrático, regido pela Carta Magna de 1988. Fora dela ou contra ela, vejo
riscos terríveis de retrocesso. A política deve ser cada vez mais ampliada a
participação social, de modo que se evite construção de elites afoitas em falar
pelo povo. Os “foras” que brotam das manifestações podem até vir da justa
indignação de quem grita, mas a pretensão de fazer da opinião de uns o destino
de todos é nocivo ao jogo democrático.
Sigo apostando nas leis e na
disputa política por dentro do espaço público. Os que ficaram de fora das
instâncias institucionais de poder devem trabalhar com a política para ocuparem
tais espaços. Instrumentalizar “golpismos” é uma prática presente nos setores
autoritários tanto da esquerda quanto da direita. De minha parte há condenação.
Vou permanecer adepto das regras do jogo, ainda que nem sempre funcione como
devia.
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