segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Vandalismo revolucionário?



Por Adelson Vidal Alves


A maioria dos brasileiros nunca tinha ouvido falar dos Black Blocs, o grupo que age violentamente nas últimas manifestações de rua. Estes pegaram carona nas Jornadas de Junho, que mobilizaram milhões de pessoas em todo o país, e hoje conseguem relativa popularidade junto a setores da extrema-esquerda e extrema direita. O uso da violência como forma de “ação direta” e propaganda, é defendida pelos seus membros. Dizem ser necessário quebrar bancos, multinacionais, considerados símbolos do capitalismo. A violência desmedida, no entanto, chega a danificar patrimônio público, pequenos bens privados e até mesmo propriedades comerciais de médio porte, como padarias, bancas de jornal e barraquinhas de Itapioca. Os “revolucionários” Black Blocs devem considerar todos representantes do capitalismo.

Lembro de um livro, escrito por Hannah Arendt, chamado “Sobre a violência”. A filósofa Judia, refugiada do Nazismo, escreveu esta obra no bojo das revoltas estudantis de 1968, e defendeu a separação absoluta de violência e poder. Discordando de uma frase de Mao Tse Tung, segundo o qual “o poder nasce do cana de uma arma”, Arendt estabelece a violência como o momento em que o poder, (entendida por ela como dominação pela via consensual) desaparece. Segundo a filósofa, onde há violência não existe poder, e onde há poder não há violência.

Antes dela um importante teórico marxista já havia escrito sobre os caminhos revolucionários por mecanismos de consenso. O Italiano Antônio Gramsci (1891-1937), afirmava que na medida em que o poder se tornou complexo e acessível às massas, faz-se necessário pensar mudanças não mais pelo uso violento de assalto ao Estado, mas sim uma busca constante pela hegemonia, isto é, a direção cultural de uma sociedade. Apesar de se distanciarem no campo teórico, tanto a filósofa alemã como o pensador italiano, sabiam distinguir o poder para além da equação: Poder=Violência.

Voltando aos Black Blocs, estes chegam a advogar um anarquismo, que mais se parece com uma espécie de neo-ludismo (o ludismo foi um movimento do século XIX que destruía máquinas culpando estas como o maior problema dos trabalhadores). No entanto, conseguem a simpatia até mesmo de quem se diz marxista. Debati com um colega, que me garantiu que em Marx é a violência a razão pelo qual as revoluções acontecem. Rebati dizendo que o pensador alemão considerava os processos revolucionários como fruto das contradições sociais, não da ação violenta. É verdade que este chegou a admitir que a violência pudesse preceder uma revolução, mas não podemos esquecer que também levou em conta a possibilidade de revoluções pacíficas em países mais avançados.

A proposta revolucionária dos Black Blocs, se é que ela existe de fato, vem de encontro aos interesses da burguesia, que se utilizam da mídia para jogar a opinião pública contra manifestações legítimas. Pichar e depredar patrimônio, mesmo os que respondem pela alta acumulação capitalista, não são ferramentas eficientes para mudanças significativas na ordem social. São sim, vandalismos, típicos de quem, pela esquerda ou pela direita, não engoliu o processo civilizatório do qual o estado de direito é sua maior expressão.


Um comentário:

  1. Primeiramente Adelson, antes de debater seu texto, deixamos claro que não existe “os Black Block”, não existe grupos, não existem pessoas Black block. O que existe é a tática Black block, difundida entre as manifestações desde os anos 70, com as lutas anti-nuclear de ativistas ambientais...

    Entrando no texto, não pegamos carona nas manifestações de junho. A tática se fez presente desde o inicio, na proteção dos manifestantes e em algumas ações diretas. Apenas cresceu o numero de pessoas que tomaram conhecimento da tática. Não teve carona em nada! Estamos juntos!

    Conseguir popularidade não é objetivo dos atos.

    Respeitamos o microempresários e pequenos comércio por serem tão vitimas do sistema capitalista quanto os demais cidadãos! Se quebraram pequenos espaços com certeza foram os infiltrados e os leigos do que é a tática.

    Nossa revolta não é contra agencias bancárias, a destruição destas são simbólicas, trata-se de um recado. O ato de quebrar é apenas uma forma de nossas estratégias, nossa tática se embasa no principio de intervenção urbana e ocupação dos espaços públicos e de direito comum a todos. Agimos de diversas formas e depredar, pixar, destruir é apenas uma de nossas formas de expressão, construimos tambem a segurança durante as manifestações, mas isto a mídia não divulga (por que não sabe): nosso objetivo maior é nos defender e defender a todos que da manifestação participam (inclusive a própria policia, como ocorreu no Rio) da opressão do estado e dos opressores. Somos a linha de frente de batalha! ISto sim é a tática black block. Construímos e destruimos, assim é a vida (uma constante entre os polos)

    E sim, não temos proposta. Temos ações baseadas nos princípios citados acima, apenas... Então não vamos de encontro a nenhum interesse burguês. E o que é manifestação não legítima? O que legitima isto ou aquilo é o nosso direito! E temos o direito a manifestação e ponto final, não tem esta de manifestação legitima.

    Não somos vândalos, e não engolimos mesmo este estado de direito que existe só no papel e é eficiente feito para minoria!
    Continuaremos!!!

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