Por Adelson Vidal Alves
A II Conferência de Cultura em Volta Redonda ficou estranhamente vazia.
O ano de 2012 em Volta Redonda,
sobretudo no segundo semestre, testemunhou uma série de encontros, reuniões e
debates sobre cultura. Quase todos organizados pela sociedade civil.
Mesmo com
debilidades, corporativismos e altas doses de sectarismo, não se pode negar a
importância da construção de um espaço privilegiado de discussão de idéias
quanto a política cultural de nossa cidade. A força do movimento chegou
inclusive na composição do novo governo Neto.
O início de 2013 foi bem
diferente. Os debates culturais são raríssimos, a intervenção dos artistas e dos
chamados “produtores de cultura” na esfera pública são cada vez mais frágeis, e
o resultado disso interfere imediatamente na construção de uma política
cultural democrática em nossa cidade.
A cultura não se resume ao
campo da arte e seus criadores, é a dimensão simbólica inerente a natureza
humana, e quesito fundamental na orientação comportamental de uma determinada
ordem social. Isto é, a cultura tem a força de garantir a manutenção de um
sistema social ou transformá-lo em realidades superiores.
Uma política cultural
democrática deve se basear nos paradigmas de respeito à diversidade e a
pluralidade das expressões de grupo. Tem a responsabilidade, ainda, de investir
nos agentes de cultura, garantindo condições materiais para a produção de sua
arte, inclusive como meio de vida. Entretanto, o centro de uma política
cultural alinhada aos valores da democracia, deve responder pela valorização da
cultura como incentivadora de novas vivências em sociedade, marcadas pela
promoção da solidariedade, cooperação e a justiça social. As mudanças reais no
núcleo de uma organização social passam indubitavelmente pela construção de um
novo paradigma de convivência social. Gramsci chamou de “reforma intelectual e
moral” esta série de ações que visam romper as estruturas que sustentam a lógica
sistêmica produtora de injustiças e desigualdades, e que encontram na cultura
seu habitat natural.
Ainda que possamos vislumbrar
avanços, Volta Redonda está longe de uma política cultural com estas
características. Não basta o governo e sua secretaria, faz se urgente a
recuperação da ação crítica da sociedade civil. Uma política cultural
democrática só pode ter êxito se respaldada pelo povo e suas organizações
coletivas. Pela atuação da intelectualidade, os artistas e os pensadores de
cultura. Se estes abandonarem o debate ou, na pior das hipóteses, sucumbir a
cooptação, nossa política cultural
permanecerá restrita a distribuição de recursos públicos a eventos culturais e
entretenimento, que ainda que tenham sua importância, por si só empobrece a
tarefa da cultura e do artista como intelectual orgânico na criação de um novo
mundo.
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