domingo, 27 de janeiro de 2013

PPS: 21 anos de política democrática

Por Adelson Vidal Alves




Em Janeiro de 1992, O PCB (o saudoso partidão) realizava na cidade de São Paulo seu X Congresso, convocado de forma extraordinária pela direção nacional do partido. Entre os debates promovidos no encontro, prevaleceu uma maioria partidária que entendia a necessidade de reformulação radical na política do partido, haja vista a nova realidade internacional, que tinha como centro da discussão o desmoronamento do “socialismo real” do Leste europeu, e a crise que atingia as bases do sonho socialista. Os congressistas em sua grande maioria (72%) vão dar aval a mudança de nome da legenda, que abandona também o símbolo da foice e o martelo. Cerca de 58% dos presentes aprovaram a nova sigla como PPS (Partido Popular Socialista), enquanto 38% preferiram PDE (Partido da Esquerda Democrática).  

O fato é que o X congresso do PCB só confirmaria uma guinada importante na vida interna dos comunistas brasileiros. Já há algum tempo, as influências do italiano Antônio Gramsci conferiam a linha partidária um compromisso com a democracia política, enquanto noutros tempos ela era vista como descartável quando chegada a “ditadura do proletariado”. O PPS desde então vai assumir a luta de construir uma nova ordem social em total respeito às liberdades democráticas conquistadas na modernidade. Vai se destacar pela forma renovada e responsável em que trava a luta política, sendo forte em suas críticas de oposição, mas sendo maduro para preservar os avanços complexos que ora aconteciam na vida política brasileira.

Só para se ter uma ideia, o PPS apoiou a frente democrática de Lula no segundo turno das eleições de 1989, mas fazendo a ressalva do equívoco de se adotar radicalismos, como o do discurso que condenava o Plano Real como um projeto das elites, quando na verdade ele lançava as bases para a estabilidade monetária do país.

No governo FHC o partido ocupou o lado oposicionista, mas recusando o simplismo de reduzi-lo a um governo “neoliberal, imperialista e de direita”. Compreendia a hegemonia conservadora no centro do governo, mas jamais caiu no sectarismo golpista da esquerda tradicional, que tentou derrubar pelas ruas o governo tucano, usando de gritos como “Fora FHC”. O PPS propunha a construção de um agrupamento político de centro-esquerda, que fosse capaz de impor reformas democráticas e fortalecer o campo progressista da sociedade e dos poderes republicanos. Suas teses foram derrotadas diante do maniqueísmo pobre da maior parte da esquerda brasileira, que não conseguia ver política além de sua visão estreita do bem contra o mal.

Mais tarde a aproximação do PPS com o PSDB e o DEM se tornou sua maior desgraça frente os olhos ortodoxos de uma parte cega da esquerda. Para estes o Partido assumia a sua traição frente ao comunismo, ao aliar-se a "direita neoliberal" brasileira.

É verdade que democratas e tucanos representam na sociedade uma parcela significativa de conservadores e moderados. Não são partidos revolucionários, entretanto, jamais renunciaram seu compromisso com Estado democrático de direito, ponto inegociável na política de alianças do PPS. Se por um lado respondem por suas bases conservadoras, PSDB e DEM apareciam como aliados pontuais e democráticos, quando do outro lado ouvia-se gritos que abalavam as estruturas de nossa ordem republicana. PPS/DEM/PSDB formaram um bloco de alianças que reivindicava a democracia política, o respeito a pluralidade e condenavam duramente o aparelhamento partidário que o PT fazia em seus governos. Nunca anotaram em seus programas um neoliberalismo puro e simples, apenas faziam concessões na medida em que o jogo de forças social exigia, desde que a ordem democrática fosse mantida e as regras do jogo respeitadas.

O PPS faz 21 anos defendendo um Brasil democrático, um reformismo forte como forma de combater as desigualdades, um desenvolvimento sustentável que dê conta de avançar o país sem ferir o equilíbrio ecológico. O PPS completa 21 anos defendendo o socialismo, alcançado pela política, sem violência e de forma plural. Um socialismo que tenha a democracia como fim, e não como meio.

5 comentários:

  1. Quem te viu e quem te vê Adelson, dizer que o PSDB-DEM "Nunca anotaram em seus programas um neoliberalismo puro e simples"?

    Afirmando isso você está sendo intelecutalmente desonesto.

    Dei uma olhadinha no seu blog antigo e olha o que você já disse por ai:

    "Cala a boca, FHC

    Entre 1995 e 2002 o Brasil foi governado por Fernando Henrique Cardoso. Sua desastrosa administração neoliberal entregou empresas públicas estratégicas ao capital privado se utilizando de privatizações fraudulentas como a ocorrida na Vale do Rio Doce, além do mais, sua política econômica recessiva endividou o Estado brasileiro, concentrou renda e aumentou a miséria.... "

    No mesmo endereço ainda temos:

    "Por fim entendo que a organização interna e sua política de alianças devem ser objetos sérios de análise. Sou um defensor da política de alianças desde que feita sob critérios programáticos e estratégicos, é inadimissível sob qualquer pretexto alianças com DEM, PSDB e PPS, inimigos do projeto mudancista do governo federal.É de se observar também o "cupulismo" em que se insere a organização interna do partido, infelizmente as bases não são ouvidas adequadamente e seus fóruns de discussão reproduzem na íntegra os desejos de seu Comitê Central."

    http://adelsonvidal.zip.net/arch2009-02-08_2009-02-14.html

    Mais pra frente temos:

    "Ou será que vão recorrer novamente a mentiras e maracutaias para encobrir que o primeiro país sulamericano a sediar uma olimpíada teve seus méritos porque hoje le é respeitado, ao contrario dos tempos tucanos quando éramos um quintal dos paises desenvolvidos? O que dirá os blogueiros de bico cumprido, os deputados do PSDB, DEM e PPS, todos contra o Rio de Janeiro neste momento?"

    http://adelsonvidal.zip.net/arch2009-09-27_2009-10-03.html

    "Como sabaemos o candidato apoiado por Lula terá que enfrentar a ditadura da mídia monopolizada, as organizações direitistas da sociedade civil como FEBRABAM, Partidos de direita e centro direita (PSDB, DEM, PV e PPS), as oligarquias regionais e os latifundiários arcaicos."

    http://adelsonvidal.zip.net/arch2009-06-14_2009-06-20.html

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    1. Amigo Romário. Vc tem ultimamente recolhido trechos de artigos meus no meu antigo blog, a fim de tentar me desqualificar com incoerência. Devo te dizer que de fato emiti essas opiniões, e simplesmente mudei de idéia. Não só de idéia. Mudei de partido, de referenciais teóricos e até mesmo de visão de mundo. E não vejo nada de errado nisso. Mudar é exigência da dialética, eu as faço sempre emitindo auto-críticas, e sem apresentar atestado de arrependimento, busco tentar contextualizar minhas posições. Continuarei mudando de opinião quando achar que devo, e acho que isso é o que deve fazer todos os homens comprometidos com o debate de idéias. Ou será que o senhor nunca trocou de opinião?

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  2. O PPS MILAGROSAMENTE DE PARTIDO DE DIREITA OU CENTRO DIREITA VIROU UM PARTIDO QUE DEFENDE O SOCIALISMO, NAS SUAS PRÓPRIAS PALAVRAS.

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  3. Opinião todos nós mudamos, e nesse ponto estamos de acordo é um direito seu.

    Mas... Afirmar com todas as letras que a dupla PSDB-DEM nunca anotaram em seus programas o neoliberalismo puro e simples é desonestidade intelectual pesada.

    Para defender a sua mudança de visão de mundo não precisa ser desonesto e destorcer os fatos, é simples.




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  4. "Só para se ter uma ideia, o PPS apoiou a frente democrática de Lula no segundo turno das eleições de 1989, mas fazendo a ressalva do equívoco de se adotar radicalismos, como o do discurso que condenava o Plano Real como um projeto das elites, quando na verdade ele lançava as bases para a estabilidade monetária do país."

    O plano real foi lançado somente em 1994 parceiro.

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