segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O PT e a democracia



Por Adelson Vidal Alves
O PT surgiu em meio a emergência de uma sociedade civil robusta e dinâmica. O aparecimento de uma série de organismos sociais consolidava nosso processo de “ocidentalização”, formado diante de um contexto de redemocratização “lenta e gradual”, porém, com intenso protagonismo dos atores coletivos organizados pelas classes subalternas, e mesmo seus aliados democráticos mais moderados. O impulso para construção do partido veio ainda das lutas operárias do ABC paulista, e também da incrível experiência progressista das igrejas populares.


Formatado dentro de uma concepção plural de partido, o PT aparece como grande força de esquerda, com potencial de se transformar na principal organização política de caráter revolucionário. Entretanto, as primeiras análises e ações do partido o colocavam em relação conturbada com o jogo democrático. 

Dentro de uma concepção “não-aliancista”, o PT vai concentrar sua atenção nas mobilizações de ruas, mesmo que sem abandonar a disputa institucional. O sectarismo de suas primeiras concepções da disputa política fará a legenda boicotar o colégio eleitoral, enfraquecendo as forças progressistas dentro dele. Vai também rejeitar a homologação da Carta de 1988, que ampliava e avançava os direitos sociais, civis e políticos do povo brasileiro.


As mudanças internas do Partido dos trabalhadores, principalmente em meado das décadas de 1990, caracterizarão uma guinada profunda na visão do partido em relação a luta política moderna. Em seus documentos percebe-se uma correta avaliação da complexidade de nossa realidade econômica e social, o que de fato lhe credenciará como uma força política potente na disputa pelo poder institucional. O preço, contudo, foi o afastamento de suas bases mais radicais, assim como o rebaixamento de seu programa. O crescimento eleitoral foi visível e intenso, que terminou com a eleição presidencial em 2002, dentro de um leque de alianças heterogêneo e de centro esquerda.


Como partido de governo emplacou uma gestão conservadora, distante da mobilidade da sociedade civil que o gerou e em total alinhamento com o status quo. Seu projeto empobrecido de poder revelou sua face autoritária e antirrepublicana, principalmente quando veio a luz os indícios de existência de um amplo sistema de corrupção, que garantia a governança petista através de subornos aos agentes de um dos poderes de nossa república. Pior, o partido recusou as evidências de corrupção, elegeu a imprensa como criadora da “farsa” e principal instrumento de calúnia contra o governo.


O PT tinha todo o direito de criticar a sentença dada pelo STF aos condenados na ação que julgou o episódio. Poderia também debater a cobertura midiática, sensacionalista e exagerada, mas jamais instigar sua militância contra os resultados de um julgamento que correu dentro das normalidades de um tribunal democrático. Não poderia, também, jogar nas costas da imprensa o peso de seus desvios éticos, atacando irresponsavelmente um dos pilares do funcionamento da democracia. Por fim, é inadmissível que um partido erguido sob a luta contra a ditadura aceite que um de seus parlamentares desobedeça publicamente a sentença de nossa Suprema Corte, fazendo de seu ato um desafio a harmonia dos poderes e o funcionamento da institucionalidade republicana. A historia do PT junto a democracia brasileira nunca foi de grandes amores.


Não há sinal de que nosso ordenamento democrático esteja ameaçado de cancelamento sob o atual governo, mas também não há uma segurança de que não vá ocorrer pequenas rupturas nas regras do jogo,  caso  o partido hegemônico seja ameaçado no poder.


Esperamos que o Partido dos Trabalhadores não vá agir como quem sendo o dono da bola só aceite seguir o jogo enquanto estiver ganhando. Esperamos que não levem a bola embora quando o jogo virar contra ele.

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