sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Manifesto Comunista: 165 anos depois


Por Adelson Vidal Alves
O “Manifesto do Partido Comunista”, ou simplesmente, “Manifesto Comunista”, é sem dúvida um dos documentos mais importantes da humanidade. Para usar as palavras do sociólogo Francisco de Oliveira, trata-se do texto fundador da modernidade, comparado a “Declaração Universal dos direitos do Homem” da Revolução francesa.

Encomendado pela Liga dos Comunistas, o Manifesto foi escrito por Karl Marx em 1847 e publicado em 1848, a partir de um esboço elaborado por Friedrich Engels intitulado “princípios do Comunismo”. No Manifesto já se percebe a utilização sistemática do materialismo histórico, método de interpretação da realidade desenvolvido por Marx e Engels em obras anteriores, como “A ideologia Alemã” e nas “Teses sobre Feuerbach”.

O curto e rico documento dos dois fundadores do socialismo-científico é mais que um simples programa revolucionário para as classes trabalhadoras. Suas análises e previsões mantém uma incrível atualidade. Quem se assusta nos dias de hoje com o processo acelerado de globalização da produção capitalista, não leu ou não percebeu que Marx-Engels já previam neste importante escrito a mundialização do mercado capitalista, como exigência da lógica do capital. É formidável também a elaboração teórica de nossa dupla em definir as contradições do sistema capitalista, elogiado por seu dinamismo, mas condenado por sua injustiça. Os autores identificam que o capitalismo produz não só as condições de sua própria destruição, mas principalmente os “coveiros” de sua morte, a saber, o proletariado. Este, aglomerado dentro das fábricas, unificados por uma organização comum, uma exploração comum, uma vida cultural comum. Potencialidades para o desenvolvimento de sua ação revolucionária.

Contudo, o Manifesto também apresenta limites, aliás, como qualquer outro texto de sua época. Ao elaborar a teoria do acúmulo do capital, o documento prevê um empobrecimento acelerado dos trabalhadores, devido a busca de lucros maiores por parte da burguesia através da “mais-valia absoluta”. Marx e Engels irão então construir a ideia de que o empobrecimento brutal dos trabalhadores acabaria por obrigá-los a um enfrentamento mais forte com as classes dominantes, o que culminaria em uma guerra civil, que por sua vez, acabaria com uma explosão violenta por parte do proletariado, que tomaria o poder de Estado.

Basta irmos à porta de uma fábrica moderna para percebermos que não foi isso que aconteceu. O avanço tecnológico possibilitou lucros maiores do capital através da “mais valia relativa”, que ao mesmo tempo permitiu aumento nos salários, e consequentemente, uma vida média de consumo a grandes setores do proletariado.

A concepção de Estado como “Comitê executivo das classes dominantes”, também parece superado pela história. As lutas populares modernas abriram caminho para Instituições estatais que possibilitam conquistas de espaço por parte das classes subalternas. O parlamento eleito por sufrágio universal, pressionado por organismos coletivos cada vez mais plurais, é uma novidade em relação ao tempo de Marx. Hoje as classes dominantes não podem se manter no poder apenas com o uso da força, é preciso negociar, garantir sua cultura como hegemônica. O poder se tornou mais complexo, o Estado ampliado e a luta por revoluções algo muito mais difícil.

Ainda sim, o Manifesto Comunista é um documento de suma importância para o mundo, particularmente para os que sonham a construção de uma nova ordem social. 165 anos depois, este documento guarda uma incrível fonte de reflexão e inspiração para a transformação da sociedade.  



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