terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Garvey, Rastafaris e o racialismo conservador



Por Adelson Vidal Alves 


O Jamaicano Marcus Garvey nasceu em 17 de agosto de 1887. Filho de maçon teve uma juventude regada a abundantes leituras, influenciado em muitas vezes por seu pai, homem de vasta cultura. Sua atuação intelectual e política, o coloca entre os chamados “Panafricanistas” (intelectuais de uma elite que defendiam a unidade africana a partir da identidade de raça).


Polemizando com Du Bois, outro militante do Panafricanismo, Garvey vai se tornar o mais radical do movimento. Em seus textos e ações, tenta viabilizar a construção de uma “África para os negros”, tendo por várias vezes recorrido ao preconceito racial para menosprezar muitos de seus adversários mestiços, a quem tratava como “negros colored”.


Bem diferente de Du Bois, que defendia a construção de uma sociedade múltipla, o Jamaicano fazia apologia por uma África exclusiva de negros, segundo o qual poderiam viver separadamente sua cultura, distante dos brancos. Na Convenção Internacional dos negros, Garvey é aclamado presidente provisório da África, adotando um hino e uma bandeira exclusivos para o continente negro. Para Marcus Garvey, o grande centro de sua luta devia se basear na raça, segundo ele, uma verdade incontestável da biologia humana.


Ainda que completamente desacreditado em suas teses, o jamaicano permanece como fonte de influência de um movimento de origem africana: o Movimento Rastafári. Muitas bandas de reggae exaltam a figura de Garvey como libertador, ainda que este tenha tido pouca influência na fundação do movimento. Os rastafáris acreditam que o Imperador Etíope Hailé Selassie I era a encarnação do próprio Deus (Jah), assim como Jesus Cristo, e foi por meio de um pregador popular chamado Leonardo Howell, que Selassie personificou o título de Messias, logo depois deste ser caracterizado como um dos grandes resistentes ao fascismo.


Garvey e os rastafaris se unem pela falsa concepção de “raça”. O movimento “rasta” nos dias de hoje se enfraqueceu e mudou, no entanto, seu caráter religioso e político ainda os faz crer em uma mística “racialista”, firmada em uma mãe racial comum: a África. Muitos rituais dos “rastas” tentam os colocar em união espiritual com seu continente de origem, no qual são fantasiadas grandes selvas, animais em combate e leões ferozes. Tudo fruto de uma realidade fundada na concepção separatista da cultura, que por sua vez, fortalece o vínculo da raça.


Popularizado por Bob Marley, um “mito” produzido pela industria cultural, o rastafarianismo mantém fiéis em todo mundo. As cores da bandeira da Etiópia, o cabelo dread, a imagem de Marley e o uso da Canabbis sativa consolidam o glamour do movimento, que esconde uma doutrina radical, conservadora, e até mesmo fundamentalista. Para muitos rastafaris, uma leitura literal da bíblia e outros escritos sagrados os proíbe de ingerir comida animal e se tratar por vias que não naturais. Por conta disso, Bob Marley teve sua vida abreviada, ao se recusar uma cirurgia tradicional de um câncer.


Ainda que devamos respeitar e incentivar a pluralidade cultural, é necessário debatermos o quanto nocivo pode ser para a civilização a existência de movimentos que segregam, seja por qual caminho for.

2 comentários:

  1. Talvez estudando e entendendo mais veja que nem tudo o que leu sobre o movimento está certo assim como verá que dentro de quase todos os movimentos e religiões, existam caminhos diferentes e posturas e práticas diferentes. e quando se fala em leões no movimento rastafari, não se fala dos leões da savana africana, mas do Leão de Judah. Até se fala de elementos da natureza e a religação com a mesma. alguns costumes vem da Bíblia, mas não o de não se alimentar de carne, porque na Bíblia não se prega o vegetarianismo mas outra forma de alimentação, onde se evitam alguns tipos de alimentos. Concordo com algumas questões como o conservadorismo, o machismo e o fundamentalismo. mas volto a afirmar que existem outras formas e caminhos para os rastafaris. Como no catolicismo exitem os FRANCISCANOS< os seguidores da TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO, os conservadores da RENOVAÇÃO CARISMÁTICA. Aconselho que se aprofunde mais para poder criticar com mais credibilidade e propriedade! Achei tão preconceituoso quanto os racialistas que aponta no texto. Ah! Glamour com negros de cabelos dreads imundos e fumadores de maconha? glamour onde? pros americanos que proibiram o uso da maconha justamente para criminalizar estes mesmos negros?

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  2. Como não tenho ainda um blog, responderei numa de minhas notas do "face"... Como sempre, seus escritos partem no contrafluxo dos avanços que resultaram da luta contra um mundo já racializado e preconceituoso, e a partir de problemática iniciada por racialistas de pele alva, que incrementaram suas ideias no auge do imperialismo... Para mim sempre soa estranho que quando traz a lume essas falas suas jamais o faz dentro de
    uma contextualização adequada, uma vez que, como historiador, isso deveria ser uma constante em toda defesa de tese, seja ela acadêmica ou meramente de viés jornalístico-livre
    .

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