quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Um Jantar imoral



Por Adelson Vidal Alves
 
Classificadas pelo PT como “injustiça”, as multas aplicadas pelo STF aos condenados da AP 470 não causarão danos financeiros aos petistas punidos. É que militantes do Partido dos Trabalhadores estão preparando para hoje, 17, um jantar solidário para arrecadação de fundos. Os convites vão de R$ 100,00 a R$ 1000,00.


A mobilização partidária em favor de corruptos comprovados por uma de nossas mais sólidas instituições democráticas confronta com a proposta originária do PT, que outrora reivindicava o monopólio da ética na política, e hoje se presta a proteger a quem viola de forma desavergonhada os padrões éticos da vida pública.


Houve tempos em que o partido montava rifas, bingos e sorteios, com o objetivo de levantar recursos para campanhas eleitorais, a fim de que não se dependesse do dinheiro de banqueiros, latifundiários e grandes capitalistas. Em seu novo formato, o financiamento de campanha lhe é garantido pelo poder econômico dominante, e seus jantares solidários servem como desoneração a quem comprovadamente se serviu como corrupto e corruptor do sistema republicano.


A AP 470, conhecida como AP do mensalão, foi uma oportunidade valorosa para que o PT pudesse acertar suas contas com sua metamorfose histórica. Era momento de se fazer autocrítica pública, expulsar os envolvidos em corrupção, cortar na própria carne, e assim recuperar seu capital ético frente às massas. Preferiu, porém, criar fábulas de uma “mídia golpista” interessada em derrubar o governo. Escolheu desafiar o ordenamento democrático afrontando suas instituições, jogando o povo contra nossa Suprema Corte, e ameaçando desestabilizar a harmonia dos poderes.


O espírito democrático e republicano do partido sempre foi questionado.  Em 1985 boicotou o colégio eleitoral, colocando em risco caminhos mais progressistas para nossa redemocratização. Recusou-se a homologar a carta de 1988, que visivelmente dava os alicerces para nosso moderno processo de institucionalização da democracia. Ainda sim, não se esperava que, no poder, o PT fosse capaz de renunciar em um período tão curto as credenciais mínimas de um partido localizado no campo da esquerda democrática.


José Genoino, Dirceu, Delúbio Soares e João Paulo Cunha não tirarão um centavo dos seus bolsos para arcar com as despesas de suas sentenças. O partido que dirige o Palácio preferiu anistiar a quem a Justiça e a opinião pública condenou.


Ao invés de abrir discussões internas, os petistas, ou pelo menos sua cúpula, preferiu comemorar a vitória eleitoral do partido em meio ao julgamento. Optaram por zombar de quem não fazia conta das urnas, mas exigia o preço a se pagar por quem tratou mal o dinheiro público. No fundo comemoraram a impunidade. No fundo se satisfizeram em não ter que pagar com perda de poder suas mutações éticas. No fundo, ignoraram sua própria traição. A traição de seus princípios, a traição de sua história.


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