segunda-feira, 11 de julho de 2011

Capitalismo Neopentencostal

Por Adelson Vidal Alves

            

            A reforma protestante do século XVI significou a quebra do monopolio da interpretação da fé cristã pela igreja católica. Significou também uma mudança no imaginário popular e uma "democratização" quanto as formas de se viver a fé a partir dos textos biblicos. Não significou apenas isso, a nova visão de mundo proposta pelos protestantes favorecia a ideologia burguesa, em plena ascenção no momento, e segundo o sociólogo Max Weber em seu clássico "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo" deu solida sustentação para o desenvolvimento do novo modo de produção. A reforma protestante naquele momento prestou importante serviço contra o autoritarismo eclesial da igreja católica e colocou a biblia sagrada nas mãos do povo, antes restrita a esfera clerical.
           Entretanto, com o fortalecimento do sistema capitalista a igreja protestante passou em sua maioria para o lado das classes dominantes. Com uma teologia conservadora, individualista e descomprometida com a praxis (já que a salvação viria da "fé" e não das obras) os chamados "evangélicos" contribuem hoje muito mais negativamente na luta por democracia, o que não significa contudo não haver protestantes progressistas, cito como exemplo o pastor Ricardo Gondim.
          O número de protestantes no Brasil vem aumentando a cada ano e com ele uma profunda modificação das praticas religiosas. O que cresce assustadoramente no país não são os chamados "protestantes históricos" (Batistas, presbiterianos, metodistas, luteranos...) mas principalmente seitas neopentencostais, embutidas de um discurso em total alinhamento com o consumismo e a avareza capitalista.
           Os novos evangélicos já não se preocupam com a salvação da alma, mas sim da própria pele. São seduzidos por promessas de enriquecimento rápido, curas milagrosas, recuperação de matrimônios e mantém um ritual religioso centrado no êxtase.
           Os neopentencostais investem pouco em teologia, preferem a expetacularização da fé do que seu entendimento intelectual. Tem força nos setores abastardos da sociedade e nos setores populares também, haja vista a promessa mágica de solução de problemas. A chamada teologia da prosperidade garante aos fiéis riqueza em troca de fidelidade religiosa e compromissos com a sustentação financeira da igreja. São estes evangélicos que inundam as televisões abertas e fechadas com programas em horários nobres.
          Com o neopentecostalismo o cristianismo perde sua dimensão libertadora. A opção histórica que Jesus fez pelos pobres é ignorada, a politica quando lembrada é feita por puro fisiologismo, sem considerar que para ser discipulo de Jesus se faz exigente uma praxis alinhada com a libertação dos pobres. O Cristo nunca prometeu soluções mágicas, antes morreu por um engajamento social em favor dos oprimidos.
As novas igrejas neopentecostais são hoje braço de apoio da ordem dominante e cumprem papel de anestesia na consciência libertadora do povo. Para estas serve a constatação de Marx pelo qual a religião é o ópio do povo.

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