terça-feira, 19 de julho de 2011

A concepção Leninista de Partido

  Por Adelson Vidal Alves


"...O Comitê Central aparece como o verdadeiro núcleo ativo do Partido e as demais organizações como simples instrumentos executivos"
Rosa Luxemburgo (Sobre a organização do Partido Leninista)



        A maioria dos partidos socialistas e comunistas brasileiros estão organizados na forma que convenhamos chamar de "Leninistas". Suas estruturas organizativas reproduzem em parte a experiência vivida em determinados momentos pelo partido bolchevique russo, teorizado por Vladimir Lênin, e que se estendeu a outros PCs do Leste Europeu, é bem verdade, deformados pelo Stalinismo.
           Pressionados por uma realidade de clandestinidade e com restrita participação das grandes massas na vida pública, Lênin teorizou uma organização disciplinada, com militantes profissionalizados e rigorosamente metódica para evitar discidências, foi assim que se estabeleceu o centralismo democrático como eixo de ação. Permitia-se longos debates, mas quando chegado a uma decisão por maioria todos os membros deveriam acatar. O próprio Lênin chegou a admitir em um texto posterior ao Que Fazer, que parte do que pensou sobre partido estaria superado pelas novas condições históricas, contudo, parcela significativa das organizações comunistas ainda conserva a concepção leninista de organização. Pergunto: O que é atual e o que é ultrapassado na teoria Leninista sobre Partido?
           Lênin partiu corretamente da premissa que as classes sociais existem e lutam de forma objetiva (Classe em si), ou seja, existem pela dinâmica histórica do sistema capitalista e expressam suas contradições de forma inconsciente, necessitando assim uma ferramenta de luta que crie consciência revolucionária. O Partido Comunista, segundo Lênin, seria assim o agente de elevação consciente das massas operárias, os sujeitos revolucionários do socialismo. O Partido seria o formador de uma classe centrada nos seus objetivos e ciente de sua missão histórica (classe para si). Antonio Gramsci, um pensador contemporâneo a  Lênin concorda com o teórico russo e admite que mesmo em sociedades complexas o Partido permanece sendo principal instrumento de elevação da consciência transformadora, passando, segundo o comunista italiano, de um momento "Econômico-corporativo" para um "Ético-politico".
           Após a morte de Lênin e a ascenção de Stalin ao poder na União soviética, estendeu-se por todo o mundo "socialista" uma forma de organização burocratizada, autoritária e violenta, erroneamente atribuida a teoria Leninista. O centralismo "burocrático" do Stalinismo atravessou os anos e sobreviveu como forma de organização anacrônica de luta socialista no mundo moderno. É possivel observar que já em meados do século XIX as lutas populares avançaram em conquistas democráticas (sufrágio universal, pluripartidarismo, midia livre, sindicatos fortes etc) que incorporou as massas na participação da vida politica. O poder assim deixou de ser um simples elemento coercivo na mão de uma classe dominante para se fragmentar em elementos consensuais cada vez mais firmada em uma hegemonia de consentimento.
           Um Partido organizado de forma centralizada não consegue incorporar as massas em suas decisões e se burocratiza. O Centralismo Democrático sufoca o espirito criativo do povo e restringe a pluralidade do debate em pequenas decisões tomadas pelo Comitê Central, a mercê de suas bases.
           Um Partido socialista para os dias de hoje não pode ignorar a democracia como regra do jogo e principalmente ser aberto e flexivel para obtenção de consensos e avanços significativos na construção de uma cultura socialista revolucionária.

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