quarta-feira, 13 de julho de 2011

Ainda os Partidos Politicos

Por Adelson Vidal Alves

"Os partidos politicos estão defasados, quem está na frente é o povo mesmo"
Milton Santos



         

         
Desde que me afastei do PC do B por questões de organização interna tenho me aproximado de alguns partidos de esquerda e centro. Triste constatação perceber que parece ser regra geral elementos burocratizadores e antidemocráticos em todos eles. Resolvi rever a polêmica tese de John Holloway. O pensador irlandês entende que os partidos políticos querem mudar o Estado reproduzindo internamente as velhas praticas burocráticas do mesmo. Para o autor de Mudar o mundo sem tomar o poder, os partidos políticos já não servem mais para esta tarefa, há de se buscar formas de transformação social sem tomar o poder de assalto. O próprio autor admite não saber como fazer isso.
          O fato é que o pensador chega a conclusões sedutoras. Vejam que mesmo os partidos de esquerda quando ascendem a governos são modificados ao invés de modificarem qualquer coisa, olhe o caso do PT no Brasil.
          De minha parte estou convencido de que ainda são os partidos políticos o único instrumento histórico de luta capaz de universalizar as demandas especificas dos vários segmentos sociais. Um sindicato, por exemplo, é extremamente importante para diminuir a exploração econômica dos patrões sobre os trabalhadores, mas não tem como função organizar um projeto de sociedade que incorpore mulheres, negros e outros segmentos oprimidos. Esta tarefa ainda é do partido politico.
        O mundo contemporâneo é muito mais complexo e os partidos de esquerda parecem não ter acompanhado esta evolução histórica. Organizados para tomar o poder de assalto e transformar as relações sociais  a partir de mudanças politicas e econômicas, desprezam a necessidade de intervir de forma educativa na consciência do povo. Vanguardistas, se acham auto-suficientes para poder guiar a massa "iletrada" a caminhos verdadeiros da revolução. Deveriam ouvir o conselho de Paulo Freire "É preciso educar/educando", ou seja, deviam deixar de tentar mudar somente a cabeça do povo, mas principalmente estar aberto a uma relação dialética, no qual também se admite a auto-modificação.
        Um dos motivos de deixar o PC do B foi exatamente o fato de insistirem no "centralismo democrático", um mecanismo de organização revolucionária datada e que era eficiente num contexto de clandestinidade e restrita participação do povo na esfera publica. A realidade moderna se caracteriza por uma ampliação da democracia, na importância da construção de consensos. Um partido centralizado de cima para baixo não consegue captar os anseios populares, a dor cotidiana de quem dizem representar, chega uma hora que o próprio povo cansa de falar sem ser ouvido e se organiza por si mesmo, é só percebermos os últimos acontecimentos da Europa e o mundo árabe. Por lá o povo está na rua e os dirigentes de esquerda nos gabinetes.
        Os partidos politicos se quiserem permanecer jogando papel importante na luta pela hegemonia deve se preocupar em estreitar laços com as massas, investir em trabalho pedagógico, ser eco do grito de suas bases, caso ao contrário serão soterrados pelo peso de suas burocracias.

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