quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Conectados

Por Adelson Vidal Alves

Recentemente, o mundo foi abalado por uma série de revoltas populares. Primeiro na Tunísia, depois no Egito, Iêmen, Bahrein, Líbia, Síria, Islândia, EUA, Espanha, Grécia, Chile e Brasil. Em comum está o uso da internet como principal ferramenta de mobilização.

Há diferenças, é verdade. Partes destes movimentos se deram contra ditaduras históricas, enquanto outros eclodiam em democracias parlamentares com relativa estabilidade. A reação dos governos, obviamente, se deu por variadas formas. Em casos como Líbia e Síria, instalou-se uma guerra civil. Nos demais o uso da violência policial só fez por fazer crescer o movimento.

Estes novos movimentos não só não foram organizados por partidos e sindicatos, como estes eram frequentemente hostilizados nos protestos. A organização dos atos se dava de forma horizontal e sem lideranças. Por um lado isso dificulta a repressão e a cooptação, por outro, cria problemas na hora de fazer suas reivindicações virarem concretas. Na maioria dos casos se reivindicava tudo e ao mesmo tempo nada. Na Tunísia conseguiu-se alguns avanços democráticos, na Islândia uma nova Constituição foi criada com participação virtual das pessoas. No restante, contudo, pouca coisa mudou. Seria a prova de que tais movimentos são pouco produtivos no processo de transformação social?

O fato é que o espírito indignado que tomou às ruas de forma espontânea rejeita categoricamente o sistema político institucional. Motivo pelo qual nenhum partido ou organização coletiva saiu destes processos. Os manifestantes traziam individualmente suas revoltas, mas propostas e reivindicações não conseguiram encontrar caminhos de mediação para sua realização. A internet mostrou eficácia ao inflar a revolta das pessoas, deixar nu a repressão do Estado, utilizando-se de vídeos no youtube, rapidamente reproduzidos nas redes sociais. Todavia, não serve como instrumento de transição da revolta para a realidade.

Muitos dizem que as mudanças começam a acontecer na cultura e nas mentalidades. Pode ser. Mas é também preocupante que a frustração tome conta da sociedade na medida em que tanto sacrifício não consegue sequer dar passos de melhorias na vida política, social e econômica de um país.

A sociedade conectada em rede tem um enorme potencial. Haja vista a forma rápida com que a informação circula. Deve-se, no entanto, reavaliar se ela está pronta para reorganizar o mundo dispensando os organismos coletivos tradicionais. Parece-me que não. Mesmo as mais descentralizadas formas de mobilização virtual carregam riscos. Como o de não conseguir se tornar real, de não se transportar do ciberespaço para o mundo urbano. Além do mais, ela ainda não conseguiu chegar às classes mais baixas da pirâmide social. Os excluídos ficam, assim, órfãos de uma organização que lhe dê voz. Não é a toa que o perfil da maioria destes novos movimentos é composto de universitários, jovens com curso superior e a classe média emergente. Os pobres ainda não estão conectados.

Talvez, o melhor caminho seja combinar toda esta energia que emerge das redes, com processos de construção de consenso trabalhados no espaço da democracia política. Com isso, é possível reinventar os órgãos de representação, fazendo-os mais democráticos, ao mesmo tempo em que viabilizará avanços reais nas demandas da sociedade. É preciso, assim, tomar a democracia institucional como lugar de resolução dos conflitos e construção de sínteses civilizatórias. Ignorá-la, como sendo esta, fonte de interesses exclusivos das classes dominantes é um erro estratégico no qual poderemos pagar caro no futuro.

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