Recentemente completaram-se 30
anos do histórico comício da Sé, que deu largada para a famosa Campanha das
Diretas Já. Em Outubro do ano passado a Carta Constitucional de 1988, fruto da
mobilização popular pró-democracia, completou 25 anos, e em Março deste ano
fará 50 anos que o Brasil sofreu um golpe militar.
Tais datas trazem hoje para
nossas reflexões o papel da democracia. Nossos tempos são de busca constante
pelo aperfeiçoamento institucional democrático, mas também de questionamentos.
Seja por setores assanhados da direita, como também de parte da esquerda, há
muito simpatizante de movimentos e articulações que tomam a democracia como um
momento tático transitório até o triunfo da “ditadura do proletariado”.
Nestes dias deveremos escolher:
procuraremos resolver nossos conflitos utilizando dos organismos modernos da
democracia política, ou direcionaremos nossa fúria contra eles? Acolheremos a
violência impositiva de mascarados, ou aceitaremos o caminho da busca de
consensos? Entenderemos os partidos políticos como mecanismos de mediação
coletiva da política, ou os desprezaremos como antro de degeneração ética e
moral, no qual devem ser hostilizados?
O sentido de todos estes
questionamentos está no aparecimento contínuo de estranhas formas de
intervenção urbana, caracterizados por uma violência nada criativa contra tudo
a que consideram “instância burguesa”. A imprensa, o parlamento, os partidos
políticos, conquistas da luta direta das classes subalternas, são tratados como
fonte de todo o mal que atinge a sociedade.
As recentes manifestações de
rua, um levante espontâneo de amplos setores da sociedade brasileira, permitiu
em seu meio o grito autoritário de amplas camadas sociais dispostas a sabotarem o
funcionamento das instituições da democracia. Buscam deslegitimar governos
eleitos democraticamente, assim como fazerem oposição inócua a várias situações,
que vão desde um “rolezinho anti-classe média” até protestos contra a Copa do
mundo.
As forças democráticas, mesmo
as conservadoras e moderadas, devem se unir pra fazer prevalecer a conquista
civilizatória que é a democracia. Não devem aceitar comportamentos autoritários
com a desculpa esfarrapada da “liberdade de ação dos oprimidos”. Devem fazer
valer vitórias históricas das classes de baixo, que abriram espaços importantes
em sua luta cotidiana.
Devem se posicionar
imediatamente contra a delirante filosofia dos black blocs, e de toda
manifestação que não se encaixe nas regras do jogo democrático. Deve interferir
nos temas que virão a tona neste ano, sempre reafirmando o Estado de direito
como palco exclusivo na construção de novas hegemonias. Deve se afirmar a
superioridade da democracia política a qualquer caminho que se pretenda
rebelde, mas que no fim, serve ao fortalecimento de uma cultura autoritária e
regressiva.
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