segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O CHEFE DA QUADRILHA



Por Adelson Vidal Alves

A Ação Penal 470, que ficou conhecida como Julgamento do mensalão, teve seu desfecho em 50 mil páginas processuais, com 600 testemunhas ouvidas, 53 sessões realizadas num período de oitos anos, 38 réus e 25 condenados. Tudo feito sob o maior rigor constitucional, e consumada com a sentença da mais alta Corte de um regime democraticamente sólido como o brasileiro.

Há quem ainda considere as condenações como sendo frutos de uma perseguição midiática contra o partido hegemônico no poder. Somente os incautos, os cínicos, os politicamente interessados e os “inocentes úteis” ainda sustentam tamanha fantasia. O PT e seus aliados bem que tentaram organizar protestos contra o STF, ameaçando a estabilidade institucional. Felizmente, a população não comprou a idéia, e os atos só contaram com a presença de sindicalistas burocratas, militantes profissionais e filiados fanáticos. Prova de que nossa cultura mantém relativa imunidade contra discursos golpistas.

O esperneio do poder se justifica pelo fato da condenação atingir significativamente a cúpula do partido da presidência. Figuras importantes da direção petista foram apontadas como operadores do esquema de corrupção que desviou dinheiro público na compra de votos de parlamentares para projetos de interesse do governo Lula. Entre os ilustres condenados estão José Dirceu, ex-Ministro da casa Civil, e José Genoino, ex-presidente do PT e deputado licenciado. Ambos são tidos como cérebros principais do esquema. Mas e Lula? O presidente da República teria sido enganado durante todo este tempo, desconhecendo por completo o complexo sistema de corrupção que envolveu vários órgãos do Estado? Não podemos ter certeza sobre estas questões.

É intrigante, no entanto, que o mandatário maior da República sequer tenha desconfiado de uma movimentação tão ampla e com envolvimento direto de seus aliados de confiança. Até porque, não falamos de um político ingênuo e de primeira viagem, mas sim de um líder talentoso, com experiência em articulações de poder e admirável inteligência política. É, deveras, estranho que tudo tenha acontecido por fora de sua vontade. O que ganhariam os principais operadores do esquema, aprovando projetos de interesse presidencial sem ganhar reconhecimento do patrão?

Lula reconheceu o mensalão. Pediu desculpas a nação e se disse traído. A presidenta Dilma preferiu não questionar a decisão, e só assumiu gestos simbólicos a favor dos condenados do seu partido. Não atenderam ao apelo de seus correligionários, que queriam posições mais firmes das estrelas maiores do partido a favor dos mensaleiros. O silêncio de ambos mostra cautela de interesse eleitoral. Mas sobre Lula pesa a dúvida de que não compensaria tomar protagonismo num episódio que envolve seu governo, e que poderia inclusive trazer seu nome para futuras investigações.

É verdade que denúncias diretas contra o ex-presidente não existam. Seu nome foi citado uma ou duas vezes por órgãos de acusação, mas sem muito peso. Não há provas e nem evidências que confirmem sua participação no esquema. Mas sejamos racionais. É sim possível que Lula não só soubesse como tenha sido o principal mentor intelectual do esquema. É pouco provável que subordinados políticos ao presidente se arriscassem sozinhos em uma operação tão grande. 

Enfim, o papel de acusação e denúncia é das instituições competentes. Mas é de bom grado não nos darmos satisfeitos com os resultados finais. A ausência de provas contra o ex-presidente o faz juridicamente inocente temporário, mas não significa que devamos recolher nossas suspeitas. Afinal, não é incomum que quadrilhas inteiras sejam desmanteladas poupando seus chefes.

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