sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Neoliberalismo ronda REDE-PSB

Por Adelson Vidal Alves

Até a decisão do TSE de negar seu registro eleitoral, a REDE SUSTENTABILIDADE (Partido que se cria em torno de Marina Silva) era uma espécie de núcleo de esperança para àqueles que sonhavam uma renovação na política. Era muito mais um ponto de convergência entre os que esperavam virar a página da velha política, do que verdadeiramente um Partido programaticamente pronto. Tinha ideias e propostas, mas faltou tempo para converter as várias opiniões de vários setores da sociedade em programa político.

Com a sentença do tribunal, coube aos “redistas” tomar uma decisão rápida sobre seu futuro e o de sua estrela maior, a ex-senadora Marina Silva. Decidiu-se pelo ingresso de Marina ao PSB de Eduardo Campos. A REDE e os socialistas têm muito em comum, mas também enormes diferenças, motivo pelo qual vão manter encontros permanentes que ajustem a “aliança programática” entre os aliados. Aguardamos a publicação dos primeiros pontos comuns do programa que poderá ser apresentado na eleição presidencial de 2014. Enquanto isso não acontece, buscaremos pistas nas movimentações de Campos e Marina na procura de alianças, assim como suas declarações públicas, para podermos tentar apostar num futuro perfil da dupla no próximo pleito majoritário.

Marina tem aparecido bem mais que Campos, e preocupantemente, apresentando um discurso nada renovador. Depois de rasgar sedas ao agronegócio, afirmou a necessidade de manter o tripé econômico neoliberal (meta de inflação, superavit fiscal e câmbio flutuante). Não deveria ser surpresa, já que Marina tem como guru o economista Eduardo Gianetti, conhecido por suas posições a favor do livre mercado.

A candidatura Campos/Marina precisa ir além, se quiser de fato firmar-se como uma terceira via eleitoral. Precisa distanciar-se do modelo econômico que caracterizou as gestões tucanas e petistas. Ainda que com acertos, ele serviu como acumulador de capital ao sistema financeiro, desindustrialização e endividamento público. É preciso pensar uma nova política de Estado voltada para o social e o meio ambiente. É estranho que neste momento é Aécio Neves que toma as posturas mais firmes em defesa de um Estado pró-ativo. Marina e Campos parecem estar seduzidos pelo canto do neoliberalismo, e com isso procura, erroneamente, disputar as bases conservadoras do atual bloco no poder.

Há um vácuo político a espera de uma alternativa à crise que se abate na política nacional, com a redução da mesma a questões corriqueiras, sem preocupação com demandas estruturais. Marina Silva apareceu como porta voz do sonho de refazer a administração pública a favor de valores nobres, como ética, gestão eficiente e compromisso ecológico. Se conseguir viabilizar um projeto a favor destas causas, sairá vitoriosa, mesmo que perca as eleições. Mas se o vale-tudo eleitoral a empurrar para conversões conservadoras, veremos consumada a velha tese de que o poder muda as pessoas, antes mesmo quando se têm ele em suas mãos.

 

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