domingo, 17 de novembro de 2013

Mensalão e democracia

Por Adelson Vidal Alves

A democracia não é coisa pronta, mas sim processo. Ela está exposta aos conflitos de uma sociedade, podendo assumir momentos de ampliação, de estabilização ou retrocesso. No Brasil, os últimos 25 anos representam um período de avanço democrático, inaugurado pela aprovação da mais democrática Constituição de nossa historia. Beneficiado maior deste momento foi o Partido dos Trabalhadores, que encorpou graças a adesão de setores importantes da sociedade brasileira a seu projeto político no período de redemocratização. Sua musculatura eleitoral cresceu e faz dele hoje o mais poderoso partido político do país.

Veio dele, no entanto, a maior sabotagem à história da República brasileira. A alta cúpula do partido comandou um esquema de corrupção que contaminou parte significativa do funcionamento estatal brasileiro. O famoso “mensalão” consistiu num arranjo de agentes públicos que viabilizou o abastecimento da compra de votos de parlamentares da base de apoio do governo.  As primeiras denúncias vieram a tona em 2005, e somente agora, 8 anos depois, os primeiros condenados começam a cumprir suas penas.

Emblemática as imagens reproduzidas pela imprensa no exato momento da prisão dos culpados. Com um histórico à esquerda no cenário político, alguns deles resolveram montar uma patética cena teatral de vitimização. O ex-guerrilheiro e deputado licenciado José Genoino se auto definiu preso político. Não tardou para que a militância virtual acolhesse o discurso fantasioso e espalhasse a tese mirabolante de que todo o julgamento foi movido por um sentimento de ódio e perseguição a militantes com história de prestação de serviços a democracia.  Seríamos tolos se levássemos a sério toda esta fábula, principalmente ao levarmos em conta todo o histórico do julgamento. Devemos nos atentar para o fato de que as sentenças não partiram de um tribunal arbitrário em um regime de exceção, mas sim da alta corte de um sistema democraticamente moderno que ofereceu aos réus todos os recursos de defesa a que se tem direito.

Não faz sentido dar ouvidos a vocabulários militantes que ignoram o real significado do funcionamento isento e competente do STF, que assumiu o protagonismo do processo que definitivamente entra para a história do direito democrático brasileiro.

Ainda que nos pese a compreensível desconfiança que tudo pode acabar em pizza afinal, não deixa de ser um alento para as forças democráticas o fato da Justiça pesar suas mãos sobre os poderosos. A Ação Penal 470 abre um novo momento na República brasileira, que faz temer a parte de cima da política, historicamente acostumada a impunidade. Nossa democracia dá mais um passo de maturidade, e nos dá um importante recado: nunca percam as esperanças.

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