No dia 10 de Novembro o Jornal O Dia noticiava: “Os conflitos começaram quando tropas avançaram pela Avenida Independência, centro da cidade. Os soldados começaram, então, a invadir casas, jogar bombas de gás lacrimogêneo e prender e bater em operários e pessoas que encontravam pelas ruas”. A narrativa parece uma operação de guerra ou então uma ação militar de um governo ditatorial. Mas tais acontecimentos se deram em plena redemocratização, dentro do esforço de um governo em reprimir uma greve de trabalhadores da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) localizada na cidade de Volta Redonda/RJ.
O tempo era o importante ano de
1988, que marcou com força nossa transição à democracia, momento em que
conquistamos a mais democrática Constituição de nossa história. No entanto, a
Carta cidadã, como ficou conhecida, não tinha ainda conseguido atingir o centro
de nossas instituições, sobretudo o exército, ainda de ressaca com as lutas que
finalizaram 21 anos de ditadura militar. O espírito de guerra que tanto norteou
nossas tropas permanecia vivo entre aqueles que usavam fardas, e com
truculência e violência levaram a fim trágico suas intenções de parar a greve.
Três operários foram mortos: William Fernandes Leite, Walmir Freitas Monteiro e Carlos
Augusto Barroso. O primeiro com um tiro pelas costas, o segundo com uma bala no
pescoço, e o terceiro com esmagamento de crânio. Nem mesmo os três óbitos foram
capazes de sensibilizar o comando das Forças Armadas. No dia seguinte aos assassinatos o general José Luiz Lopes da Silva, que comandou toda a operação, disse
ter lamentado as mortes, mas que elas deveriam “servir de exemplo”.
Neste ano completam-se 25 anos
deste fatídico episódio. Muita coisa mudou. Refirmamos nosso caminho
democrático, consolidamos instituições democráticas que regulam com relativa
competência nossa vida política, e o movimento sindical trocou sua orientação
combativa para uma bem mais conciliadora. O acontecimento, que durante anos
influenciou a formação do imaginário de nossa cidade, que trouxe à memória dos
mais jovens um sentimento de pertencimento a uma cultura de luta, parece aos
poucos cair no esquecimento. Faltamos com políticas públicas de cultura e
educação, com intervenções mais efetivas do Sindicato dos Metalúrgicos, com um
pouco mais de sensibilidade em relação aos monumentos, que teimosos tentam não
nos deixar cair no esquecimento. O memorial que lembra os três mortos, construído
pelo saudoso Oscar Niemayer e alvo de um ataque terrorista da extrema -direita
que quase o destruiu, vê hoje bancos de praça dando as costas a ele. É como se
uma cidade inteira dessem as costas para sua própria história.
Ao completar ¼ de século neste
9 de Novembro, a morte de William, Walmir e Barroso devem trazer a todos nós
pelo menos um sentimento de responsabilidade para com nossa memória, não apenas
pra lembrar o horror de ações que se dão às margens de uma cultura verdadeiramente
democrática, mas principalmente impedir que as novas gerações, mergulhadas em
twiter e facebook, se desenvolvam com a apatia que abate setores, que outrora
combativos, hoje se encolhem em suas comodidades, deixando a história ser
contada por aqueles que sempre nutriram ódio à luta dos trabalhadores.
Pô Adelson e você faz parte desse governo da cidade que falta com políticas públicas na cultura e educação, que mantem os bancos da praça de costas para o memorial e que ainda por cima OPRIME a classe trabalhadora, já que vamo combinar que o trato com o funcionalismo não é o forte do Neto.
ResponderExcluirCoerência, cade?