quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Em memória de William, Walmir e Barroso

Por Adelson Vidal Alves


No dia 10 de Novembro o Jornal O Dia noticiava: “Os conflitos começaram quando tropas avançaram pela Avenida Independência, centro da cidade. Os soldados começaram, então, a invadir casas, jogar bombas de gás lacrimogêneo e prender e bater em operários e pessoas que encontravam pelas ruas”. A narrativa parece uma operação de guerra ou então uma ação militar de um governo ditatorial. Mas tais acontecimentos se deram em plena redemocratização, dentro do esforço de um governo em reprimir uma greve de trabalhadores da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) localizada na cidade de Volta Redonda/RJ.

O tempo era o importante ano de 1988, que marcou com força nossa transição à democracia, momento em que conquistamos a mais democrática Constituição de nossa história. No entanto, a Carta cidadã, como ficou conhecida, não tinha ainda conseguido atingir o centro de nossas instituições, sobretudo o exército, ainda de ressaca com as lutas que finalizaram 21 anos de ditadura militar. O espírito de guerra que tanto norteou nossas tropas permanecia vivo entre aqueles que usavam fardas, e com truculência e violência levaram a fim trágico suas intenções de parar a greve. Três operários foram mortos: William Fernandes Leite, Walmir Freitas Monteiro e Carlos Augusto Barroso. O primeiro com um tiro pelas costas, o segundo com uma bala no pescoço, e o terceiro com esmagamento de crânio. Nem mesmo os três óbitos foram capazes de sensibilizar o comando das Forças Armadas. No dia seguinte aos assassinatos o general José Luiz Lopes da Silva, que comandou toda a operação, disse ter lamentado as mortes, mas que elas deveriam “servir de exemplo”.

Neste ano completam-se 25 anos deste fatídico episódio. Muita coisa mudou. Refirmamos nosso caminho democrático, consolidamos instituições democráticas que regulam com relativa competência nossa vida política, e o movimento sindical trocou sua orientação combativa para uma bem mais conciliadora. O acontecimento, que durante anos influenciou a formação do imaginário de nossa cidade, que trouxe à memória dos mais jovens um sentimento de pertencimento a uma cultura de luta, parece aos poucos cair no esquecimento. Faltamos com políticas públicas de cultura e educação, com intervenções mais efetivas do Sindicato dos Metalúrgicos, com um pouco mais de sensibilidade em relação aos monumentos, que teimosos tentam não nos deixar cair no esquecimento. O memorial que lembra os três mortos, construído pelo saudoso Oscar Niemayer e alvo de um ataque terrorista da extrema -direita que quase o destruiu, vê hoje bancos de praça dando as costas a ele. É como se uma cidade inteira dessem as costas para sua própria história.

Ao completar ¼ de século neste 9 de Novembro, a morte de William, Walmir e Barroso devem trazer a todos nós pelo menos um sentimento de responsabilidade para com nossa memória, não apenas pra lembrar o horror de ações que se dão às margens de uma cultura verdadeiramente democrática, mas principalmente impedir que as novas gerações, mergulhadas em twiter e facebook, se desenvolvam com a apatia que abate setores, que outrora combativos, hoje se encolhem em suas comodidades, deixando a história ser contada por aqueles que sempre nutriram ódio à luta dos trabalhadores.

Um comentário:

  1. Pô Adelson e você faz parte desse governo da cidade que falta com políticas públicas na cultura e educação, que mantem os bancos da praça de costas para o memorial e que ainda por cima OPRIME a classe trabalhadora, já que vamo combinar que o trato com o funcionalismo não é o forte do Neto.

    Coerência, cade?

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