Por Adelson Vidal Alves
O Pensador
italiano Antônio Gramsci dividiu a prática política em dois momentos distintos:
a pequena política e a grande política. A primeira se resumiria as questões
parciais do cotidiano, às conversas de corredor, às intrigas parlamentares. A
segunda trata dos pontos grandiosos da política, da refundação de estados, da
manutenção ou transformação da ordem.
No Brasil, percebemos com clareza
a hegemonia da pequena política. Basta abrirmos o jornal e veremos o noticiário
dando conta das articulações de partidos para nomeação de cargos comissionados
e comissões parlamentares, ou o preço dos castelos comprados por deputados,
isto é, questões que expressam o a diminuição da política. Temas urgentes da
nação são ignorados. As necessárias reformas de Estado, a reformulação de nossa
política macroeconômica e a democratização da estrutura fundiária são levadas a
segundo plano.
Nosso país
viveu seu último momento de grande política nas eleições de 1989. Lula e Collor
polarizaram dois projetos de sociedade, e disputaram nas urnas modelos de Estado
diferenciados. O primeiro capitaneou os grupos subalternos, os movimentos
sociais e as esquerdas. Collor venceu com as classes dominantes e as camadas
conservadoras. Neste momento a sociedade brasileira escolheu por um projeto sabendo
claramente sua distinção com o outro. Hoje em dia os dois blocos políticos que
controlam o jogo político partidário lutam entre si pelos lotes do poder
estatal, mas são ambos portadores dos mesmos paradigmas de governo. Nossa nação
há pelo menos 20 anos abandonou a alta política e se contentou com a letargia
da política pequena do dia-dia.
A tarefa de
resgatar a grande política fica por conta da organização consciente das classes
subalternas. Como bem lembrou Gramsci “é grande política fazer prevalecer a
pequena política”. Ou seja, os grupos dominantes se contentam em conservar a
ordem social, e para isso fazem de tudo para reduzir a vida nacional à pequena
política. Somente os movimentos de oposição sistêmica mantêm o interesse de
recuperar uma prática cultural de grande política. Pesa contra, no entanto, o
fato de vários destes movimentos terem aderido de forma acrítica ao atual bloco
no poder, rendendo-se ao “transformismo” governista, e esvaziando assim a dinâmica
de nossa sociedade civil.
O atual
governo, liderado pelo PT, fez muito mais mal ao nosso país do que seus
antecessores ditos de “direita”. Se antes havia um amplo leque de oposição progressista
aos ataques que ora sofria a classe trabalhadora, hoje estão todos se
acomodando em cargos governamentais, abandonando sua autonomia e servindo de
braço institucional do poder. Com a cooptação de setores, outrora de esquerda,
para o status quo, ficou ainda mais fácil aprovar projetos de ataques aos
direitos conquistados.
A recomposição
de um novo bloco político democrático é tarefa urgente, de modo que este possa
ser o núcleo de resgate dos grandes debates nacionais, e consequentemente da
derrota da pequena política. Recuperar uma linguagem política que assuma os
dilemas de uma nova cultura política se faz urgente na agenda nacional. O
caminho, no entanto, é espinhoso.
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