terça-feira, 4 de junho de 2013

O triunfo da pequena política

Por Adelson Vidal Alves


O Pensador italiano Antônio Gramsci dividiu a prática política em dois momentos distintos: a pequena política e a grande política. A primeira se resumiria as questões parciais do cotidiano, às conversas de corredor, às intrigas parlamentares. A segunda trata dos pontos grandiosos da política, da refundação de estados, da manutenção ou transformação da ordem.
No Brasil, percebemos com clareza a hegemonia da pequena política. Basta abrirmos o jornal e veremos o noticiário dando conta das articulações de partidos para nomeação de cargos comissionados e comissões parlamentares, ou o preço dos castelos comprados por deputados, isto é, questões que expressam o a diminuição da política. Temas urgentes da nação são ignorados. As necessárias reformas de Estado, a reformulação de nossa política macroeconômica e a democratização da estrutura fundiária são levadas a segundo plano.
Nosso país viveu seu último momento de grande política nas eleições de 1989. Lula e Collor polarizaram dois projetos de sociedade, e disputaram nas urnas modelos de Estado diferenciados. O primeiro capitaneou os grupos subalternos, os movimentos sociais e as esquerdas. Collor venceu com as classes dominantes e as camadas conservadoras. Neste momento a sociedade brasileira escolheu por um projeto sabendo claramente sua distinção com o outro. Hoje em dia os dois blocos políticos que controlam o jogo político partidário lutam entre si pelos lotes do poder estatal, mas são ambos portadores dos mesmos paradigmas de governo. Nossa nação há pelo menos 20 anos abandonou a alta política e se contentou com a letargia da política pequena do dia-dia.
A tarefa de resgatar a grande política fica por conta da organização consciente das classes subalternas. Como bem lembrou Gramsci “é grande política fazer prevalecer a pequena política”. Ou seja, os grupos dominantes se contentam em conservar a ordem social, e para isso fazem de tudo para reduzir a vida nacional à pequena política. Somente os movimentos de oposição sistêmica mantêm o interesse de recuperar uma prática cultural de grande política. Pesa contra, no entanto, o fato de vários destes movimentos terem aderido de forma acrítica ao atual bloco no poder, rendendo-se ao “transformismo” governista, e esvaziando assim a dinâmica de nossa sociedade civil.
O atual governo, liderado pelo PT, fez muito mais mal ao nosso país do que seus antecessores ditos de “direita”. Se antes havia um amplo leque de oposição progressista aos ataques que ora sofria a classe trabalhadora, hoje estão todos se acomodando em cargos governamentais, abandonando sua autonomia e servindo de braço institucional do poder. Com a cooptação de setores, outrora de esquerda, para o status quo, ficou ainda mais fácil aprovar projetos de ataques aos direitos conquistados.

A recomposição de um novo bloco político democrático é tarefa urgente, de modo que este possa ser o núcleo de resgate dos grandes debates nacionais, e consequentemente da derrota da pequena política. Recuperar uma linguagem política que assuma os dilemas de uma nova cultura política se faz urgente na agenda nacional. O caminho, no entanto, é espinhoso. 

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