Por Adelson Vidal Alves
A esquerda caduca é aquela que
bebe do envelhecido bolchevismo, que exalta revolucionarismos, que taxa tudo e
a todos de pelegos (fora eles, é claro!). Que acha que alianças “pluriclassistas”
são traições às classes trabalhadoras, que exalta “justiçamentos”, e espera a
revolução como os judeus esperam seu messias. São aqueles que consideram o
Estado tão somente burguês, a democracia uma ditadura disfarçada a serviço das
classes dominantes, e Marx um profeta com palavras divinizadas. Adoram falar de
imperialismo, neoliberalismo, capitalismo e tantos outros ismos, sempre para
denegrir seus adversários no debate de idéias. Com seu panfletarismo, não toleram
seus dogmas questionados. Pecar contra a doutrina sagrada do esquerdismo caduco
é padecer no castigo eterno de ser direitista, burguês e traidor.
No Brasil, esta esquerda caduca
já começa a se articular para a eleição de 2014. Já falam até de uma tal “Frente
de esquerda” que pretende abrigar três minúsculos partidos de ultra-esquerda,
convencidos de que apenas eles podem portar o título de esquerda. Os outros,
segundo palavras de um dos seus maiores sacerdotes, são farinha do mesmo saco.
Para que a tal frente saia, entretanto, é preciso aparar as arestas enormes de uma vaidade que coloca em disputa qual deles é o mais revolucionário. Por várias vezes, ficaram apenas na conversa, lançaram candidaturas avulsas porque não conseguiram consenso quanto ao programa de governo. Sobrou arrogância, faltaram votos.
Mas se tem uma coisa que une a
caduquice desta esquerda é sua aversão ás oposições que não caibam em suas
rígidas doutrinas. Não basta, a estes bastiões da verdade revolucionária,
denunciar a traição do PT e o neoliberalismo do PSDB, querem agora minar a
popularidade de Marina Silva e seu partido, a REDE, que em processo de fundação
é atacado como simples variação da direita.
Por preguiça ou simplesmente má
intenção, não se dão ao trabalho de comparar os programas e histórias dos que
hoje se apresentam presidenciáveis. Em seus critérios aloprados, não existe
diferenças substanciais entre os candidatos de oposição e o atual governo.
Marina, Aécio e Eduardo Campos são exatamente iguais aos candidatos do PT. Não
restaria alternativa ao nosso povo senão recorrer ao sagrado santuário da
esquerda caduca, auto-sacralizada e dona absoluta da verdade revolucionária.
Felizmente, falta a eles uma
catequese mais competente. O proselitismo raivoso e inquisidor de seus
discursos não vai além de seus previsíveis redutos radicalóides. Nas urnas
quase nunca passam de 1% dos votos, nos movimentos sociais ocupam lugar
subalterno, quase sempre para denunciar as direções pelegas. Suas mobilizações
mal enchem uma sala de reunião, e sua influência junto ao povo se resume a um
vanguardismo prepotente.
Se Marina Silva incomoda tanto
os caducos de esquerda, é porque consegue, com equilíbrio, apostar em novas
formas de política, e conta com os ouvidos atentos de uma sociedade plural e
sedenta de renovação. O carisma e o passado da ex-seringueira, por si só anula
a atuação raivosa de quem não vê vida fora de seu catecismo revolucionarista.
A esquerda caduca não tem para
onde crescer. Se o atual bloco no poder luta para esvaziar o debate, esta
perece por falta de criatividade e sensibilidade com a realidade do mundo
moderno. Enquanto brigam pelo monopólio da ética e da boa política, o trem da
sociedade vai passando, exigindo readaptações para enfrentar, de verdade, a
pequena política que o atual governo ora trabalha para perpetuar.
Marina, Campos e Aécio pelo
menos se esforçam para atingir o objetivo comum de quebrar a letargia que
legitima o autoritarismo do bloco no poder. Pelo que parece, a esquerda caduca
não pretende abandonar o comodismo de sua retórica lunática.
Muito interessante o seu texto. Dá o que pensar. Concordo com boa parte do que diz, mas acho que acaba radicalizando pro lado oposto - e, ao fazer isso, comete o mesmo erro -, como se toda a esquerda fosse composta por idiotas vaidosos e ultrapassados. Não acho que seja bem assim não. Mas, em tempos onde sequer criticar a esquerda parece um verdadeiro sacrilégio para tantos, acho fundamental para a democracia que hajam questionamentos como os seus sim, Adelson. Vejo as universidades, por exemplo, continuando com o mesmíssimo discurso de esquerda há décadas, simplesmente não aceitando outras pessoas, que buscam, por exemplo, fazer um mestrado ou doutorado, se esse sujeito não for de esquerda, o que fica evidente quando observamos as ideias que são ou não aceitas e incensadas no meio acadêmico. Isso leva a uma pobreza intelectual muito grande. Enfim... Parabéns pelo texto e pelo senso crítico! Um abraço.
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