Por Adelson Vidal Alves
Quem nunca foi abordado, em seu
carro, por policiais com AR 15 em mãos como se estivessem numa guerra? Quem
nunca passou constrangimento ao ser lançado aos muros para revistas abusivas e
agressivas da polícia? Qual mulher não teve violada, por policiais, a
privacidade de sua bolsa, sem que seja respeitada questões mínimas de resguardo
de suas intimidades?
Pois bem, a cultura militarista
da Policia Militar brasileira permanece viva nos tempos de consolidação
democrática. Nascida como aparato de guerra das oligarquias da primeira
República, nossas PMs ainda não se acomodaram aos valores e regulamentos de
nossa moderna República. De fardas militares, agem em sua maioria com
truculência e agressividade. Ao invés de agir como instrumentos de garantia da
segurança pública da sociedade, elegem inimigos e os combatem sem se atentar
pelas responsabilidades civis pelos quais estão subordinados.
Em Julho de 2012, os policiais
militares do BOPE fizeram uma vítima fatal no Rio de Janeiro: a menina Bruna
Ribeiro da Silva, de apenas 10 anos, moradora do Morro da Quitanda, atingida
por uma bala de fuzil na barriga, dentro de sua própria comunidade. No mesmo
mês, Bruno Vicente de Gouveia e Viana, de apenas 19 anos, já havia recebido 25
tiros no carro em que estava com mais 5 amigos, na comunidade do Morro do São
Bento, em Santos-SP. Estes são apenas alguns exemplos que caracterizam o perfil
de nossas PMs, considerada uma das mais violentas do mundo, principalmente por
conta do número de homicídios que comete.
Vários organismos
internacionais já condenaram o trabalho da Policia Militar brasileira. Em 2011 a Anistia Internacional, em relatório
anual dos direitos humanos, apontou a violência policial como um dos principais
fatores de violação dos direitos humanos. Ainda mais contundente foi a
recomendação do Conselho de Direitos humanos da ONU para que o Brasil
simplesmente acabe com sua PM. Segundo o órgão, a truculência e as execuções
sumárias cometidas pela Polícia trazem mais malefícios do que benefícios para
a segurança pública e garantia dos direitos humanos no país.
Por conta dos excessos visíveis
das PMs em todo Brasil, que trataram como guerra as recentes manifestações
sociais, voltou-se o tema da desmilitarização da Polícia. A proposta que já tem
até abaixo assinado na Web, sugere ao governo uma reformulação cívica na
instituição, de modo que faça desta, organismo subordinado a sociedade, e com
funções exclusivas de garantir a segurança pública interna do Brasil. Propõe-se
ainda uma verdadeira revolução cultural, de modo que a atuação policial esteja
de acordo com os referenciais de nosso modelo democrático.
Nosso desafio é criar
diretrizes republicanas para a ação da PM. Esta não pode agir como se estivesse
em um Estado de exceção, tomando o militarismo como paradigma. Sua função é
assegurar vida segura aos cidadãos, e não estimular espírito de guerra em
operações que visam estabelecer a paz interna. As atribuições de guerra são de
outros órgãos, a PM deve se converter em guardiã da segurança pública no país.
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