Por Adelson Vidal Alves
Qual o papel de um vereador?
Pergunta aparentemente simples, que deveria estar na ponta da língua de
qualquer brasileiro com idade suficiente de vida democrática. Entretanto, não
seria exagero dizer que grande parte dos próprios vereadores não compreendem
verdadeiramente sua missão frente à sociedade.
Bem, os vereadores compõem o
poder legislativo do município, cumprindo a função de legisladores de uma
cidade, sendo seu mandato outorgado pelo povo em forma de eleição direta, e em respeito
à legislação eleitoral do país. As Câmaras de vereadores, instituição
parlamentar municipal, são mais antigas que as assembleias legislativas do
estado, e até mesmo o Congresso Nacional.
A primeira Câmara foi
instituída ainda no período colonial, em 1532, na capitania de São Vicente,
motivo pelo qual ficou conhecida como “Câmara Vicentina”. Obviamente, as
mudanças políticas e sociais do Brasil, modernizaram os parlamentos municipais,
fazendo deles, hoje, espaço privilegiado de disputa político-institucional das
classes subalternas e seus partidos. Contudo, é verdade, o modelo político
brasileiro ainda conserva resquícios autoritários na composição da Câmara,
basicamente através da intervenção do poder econômico e da ausência de uma
cultura política democrática.
Ao olharmos os representantes
parlamentares de vários municípios, inclusive os de Volta Redonda, percebemos o
despreparo da maioria deles, muitos com formação educacional precaríssima. Suas
vitórias eleitorais não respondem por suas propostas, mas principalmente pela
relação que mantém com o poder financeiro e suas atividades diretas junto às
camadas populares. Em português claro, os principais cabos eleitorais da
maioria dos vereadores permanecem sendo os “favorzinhos” pessoais, seja através
de fornecimento de lajotas de construção, dentaduras, ou mesmo, dinheiro vivo.
Tais práticas são consideradas crimes eleitorais, mas permanecem acontecendo de
forma abundante em nossos tempos.
Logo depois de eleito, a
maioria dos vereadores ainda se utiliza dos recursos (agora parte deles
público) financeiros para perpetuar votos. Aliás, é triste ver parlamentares
municipais construindo currais eleitorais, e se desesperando com a simples
possibilidade de ver seus votos divididos com um concorrente. Faz-se lembrar os
episódios mais tristes do velho coronelismo.
Outro aspecto a ser abordado é
a movimentação partidária dos candidatos a vereador. Se os partidos políticos
são expressões de vontades coletivas diversificadas de uma sociedade plural,
deveriam eles fazer de seus representantes porta vozes de suas respectivas
ideologias e visões de mundo. Infelizmente, o que se percebe é a matemática
eleitoral sendo colocada no centro das estratégias eleitorais. Candidatos que
nunca leram Marx na vida viram comunistas, ateus se filiam a partidos de
orientação cristã. A ideologia partidária já não importa, tudo se subordina às
melhores possibilidades de vitória.
A triste constatação das
desastrosas atuações dos vereadores municipais justifica-se por uma infeliz
combinação de oportunismo eleitoral e deseducação política eleitoral. No fim,
consagramos uma cultura política clientelista e patrimonialista, e os “representantes
do povo” viram profissionais políticos, monopolistas do discurso da política e
comedores oficiais do dinheiro público. A reforma no sistema político
brasileiro é mais que urgente, mas se torna cada vez mais improvável na medida
em que quem está lá, se acomodou ao jogo espúrio do atual modelo político. Resta
ao povo se mobilizar e virar o jogo.
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